17
Winter's pov:
Chego cedo ao café e me preparo para mais um dia de trabalho. O jeito como esse lugar atrai os mais variados tipos de pessoas e reúne incontáveis histórias sempre desperta o meu interesse. Dá para saber que um ambiente é incrível quando você não percebe o tempo passar.
A manhã passa tranquila, enquanto os ponteiros rodam sinto a ansiedade surgir com a aproximação da noite e do jantar na casa da irmã de Jimin. Por mais que eu acredite que vai correr tudo bem, sei no fundo do meu coração que não posso evitar o nervosismo, está além da minha vontade, além do que eu quero, e esse pensamento é o suficiente para que eu tenha certeza de que preciso me preparar.
Estou finalizando o café de um cliente, quando ouço alguém entrar.
Fico surpresa ao ver Jimin e Aeri se acomodando em uma das mesas. Ela não vinha aqui desde o início do cursinho. Nossos olhos se encontram no mesmo instante e ela abre um lindo sorriso para mim, meu coração aquece dentro do peito e consigo sorrir de volta, tentando me manter calma sem parecer patética. Ningning faz questão de ir até a mesa delas mantendo a cabeça erguida e o sorriso no lugar, mas eu sei que só quer uma desculpa para se aproximar de Aeri.
Volto ao trabalho, mas sempre encontrando um momento para olhar na direção da mulher que tanto me fascina. Jimin está ouvindo algo que Aeri conta, noto o quanto ela está linda, a camisa lisa e bem passada, o blazer feito sob medida e os sapatos impecáveis, o esperado de alguém com a qualificação dela. Seus cabelos castanhos estão soltos e caem perfeitamente por seus ombros, deixando-a com um ar de mulher de negócios e me induzindo a abraçá-la e tomar seus lábios num beijo.
— Nossa... chega a ser patético ver a forma como você olha para essa mulher — Ningning diz ao meu lado olhando para a dupla que conversa à nossa frente. — Você parece um cachorro na frente de um monte de frango assado.
Sorrio sem me incomodar com suas provocações, essa é a Ningning, a garota que muda de humor mais rápido do que troca de roupa e eu a amo assim mesmo.
— Eu não me importo de parecer um cachorrinho. — Balanço os ombros sem me importar realmente.
— Nem eu, se a amiga gata dela se interessar por mim eu também vou olhar para ela assim. — Ergo as sobrancelhas ao olhar para Ningning. Logo ela, a garota que sempre consegue quem ela quer, está caidinha por Uchinaga Aeri.
Volto a olhar para ela, Aeri é bonita, morena, com cabelos negros e olhos gentis que se fecham quando ela sorri. Doce, educada e muito gentil, ela parece o oposto do temperamento explosivo de Ningning.
— Você está mesmo caidinha pela Aeri, né? — Mordo o lábio para não sorrir.
— Não é nada disso. — Ela enrola uma mecha de seus cabelos no dedo e descansa o quadril de forma sensual no balcão. — É só que eu nunca fiquei com uma mulher mais velha e adoraria saber como é ser... — Ela me olha com uma cara que me deixa vermelha na hora. — Acho que você me entende.
— Ningning!
— O quê? Eu não vou mentir que adoraria ter essa experiência. — Ela morde a pontinha do dedo mindinho e olha para ela com intensidade. — Aquela mulher é perfeita.
Aeri parece sentir o que ela está fazendo, pois ergue a cabeça e sorri, sinto meu rosto arder e não sei o porquê, já que Ningning sempre tem um jeito peculiar de atacar suas presas.
Deixo minha amiga com as fantasias dela e volto a me dedicar ao meu trabalho no balcão. O tempo passa rápido e mal tenho oportunidade de olhar em torno do salão até ouvir uma voz familiar chamar meu nome.
— Bom dia, posso ajudá-la? — Brinco, ao me virar para Jimin.
Ela olha para mim de uma maneira especial, como se esse tipo de formalidade fosse necessário. Mas nós duas sabemos que não é, afinal de contas ela é minha namorada, aquela com quem tenho dividido praticamente tudo da minha vida.
— Na verdade, eu só queria ver você. — Ela coloca as duas mãos nos bolsos da calça em uma postura casual enquanto fala.
Sinto minha face esquentar.
— Você não precisava ter vindo até aqui só por isso, Jimin.
— Não foi nada, eu estava passando e... enfim, não precisa se preocupar.
Ficamos em silêncio por um tempo, apenas olhando uma para a outra: eu tentando controlar os efeitos que tem sobre mim; ela sorrindo como se para me lembrar de como é ter uma mulher dessa na minha frente todos os dias.
— Você está trabalhando e eu estou atrapalhando — ela diz olhando em volta.
— Ah, imagina... não está não — tento apagar o fato de que tem um número considerável de clientes.
— Eu preciso ir. — Ela retira uma das mãos do bolso, segurando as chaves da moto e se vira em direção à porta. — Sabe de uma coisa? — Ela volta a olhar para mim enquanto ergue uma sobrancelha divertido. — Eu realmente tinha razão... Você fica perfeita em qualquer ocasião.
E então ela se vai, antes mesmo que eu possa falar alguma coisa, e tudo o que consigo pensar é que eu estou vivendo um sonho.
\[...]
Horas se passam até que eu esteja finalmente em casa, andando de um lado para o outro no meu quarto com a noite que se anuncia. Chegou o momento — Jimin deve vir me pegar em uma hora e de então vamos juntas até a casa da sua irmã.
— Eu estou mesmo fazendo isso? — Murmuro, olhando para cima. Às vezes, eu me perco nas situações bem mais do que consigo descrever. Respiro fundo e olho diretamente para meus olhos refletidos no espelho. — Mantenha. A. Calma.
— Você não precisa se preocupar — aconselha Ningning, entrando no meu quarto. — Tenho certeza que hoje as coisas vão correr muito bem.
Sigo o conselho dela e paro de ficar me estressando muito.
— Ainda não acredito que isso está mesmo acontecendo. — Ela diz, recostando-se no batente da porta com um grande sorriso nos lábios.
— O que foi? — Pergunto, encarando-a.
— Nada. É só que é tão bom ver você assim... feliz.
Sorrio, entendendo.
— Você acha que estou exagerando em relação a tudo isso?
Ela balança a cabeça.
— Acho que você tem o direito de se sentir assim. Pode acreditar em mim, as vezes é bom se permitir ser feliz.
Dou um meio-sorriso enquanto ela sai do meu quarto.
— Obrigada, Ningning!
— Sempre que precisar, garota! — Ela grita do corredor.
Pego o meu celular sobre a escrivaninha e confiro as últimas mensagens de Jimin, secretamente desejando que a noite seja agradável.
\[...]
Eu ainda não acredito que estou fazendo isso. Olho para a mansão que Jimin fez questão de chamar de casa e tento me manter calma, mas não consigo. Eu estou mesmo fazendo isso?
— Você parece estar prestes a desmaiar. — Ela sorri, divertindo-se à minha custa.
— Quase isso — respondo sem sorrir. Estou nervosa demais para isso. Quando ela me convidou para um jantar na casa da irmã há alguns dias, eu não achei que seria um jantar familiar.
Minha nossa... eu nem ao menos sei o que a irmã dela pensa sobre mim, não tivemos oportunidade de conversar sobre isso, nem sei se está na hora de falar sobre isso. A verdade é que eu mal sei como agir, desde que estabelecemos uma nova rotina tudo se tornou tão simples e prático. E agora estou aqui, em frente a uma construção maravilhosa, prestes a entrar para conhecer a sua família. A sua rica e linda família.
— Isso não é engraçado, Jimin
— digo, entregando meu capacete para ela enquanto respiro todo o ar que sou capaz. — Eu não sei se consigo fazer isso.
Jimin se afasta da sua moto e me puxa para ela.
— Minjeong. — Ela segura meu rosto em suas mãos fazendo-me olhar dentro dos seus olhos castanhos. — Não precisa ter medo, ninguém vai te tratar mal e eles estão ansiosos para te conhecer.
— Eles estão ansiosos para me conhecer? — O pânico se intensifica e o sorriso dela também. — Como assim eles? Eu pensei que deveríamos manter o nosso relacionamento em segredo...
— Minjeong... — E meu nome se desmancha mais uma vez em seus lábios.
— Não se preocupe, se você não se sentir confortável podemos voltar.
— Não, tudo bem, eu vou.
Ela me olha pacientemente como se eu fosse uma garotinha em seu primeiro dia de aula.
— Eu vou ficar bem.
— Tem certeza? Porque podemos fazer outra coisa se você preferir. — A proposta dela parece extremamente tentadora, mas preciso ser corajosa. Se ela está disposta a me apresentar para as pessoas que importam, então eu estou disposta a conhecê-los.
— Tenho sim.
— Essa é a minha garota. — Ela diz, beijando o topo da minha cabeça.
Entramos no que considero uma das casas mais modernas em que já estive. Não tem nada da ostentação esnobe aqui. A sala é espaçosa e tem janelas do chão ao teto com vista para o externo, uma grande bancada de mármore negro separa o cômodo em uma cozinha moderna. E uma larga escada de madeira que dá acesso ao piso superior. Não há quase nenhuma decoração excessiva, o que funciona muito bem. Frescuras demais desviariam a atenção da beleza natural da madeira exposta.
— Olha só quem resolveu aparecer — Uma morena se aproxima assim que nos avista. — Jimin, eu nem acredito que vocês vieram.
— Eu prometi que viria, não prometi?
— Como se isso significasse muito. — Ela revira os olhos antes de sorrir e abraçá-la. Ela tem os cabelos presos em um coque relaxado no alto da cabeça e usa uma cara roupa casual. — E você deve ser a Minjeong. — Ela me estende a mão e eu a cumprimento. — Sou Yeoreum, é um prazer conhecê-la.
— Obrigada. — Digo sentindo-me um pouco desorientada com todo essa interação.
— Parabéns, maninha, sua garota é realmente linda. — Ela pisca para Jimin e nesse momento descubro que eu já devo ter sido pauta de reunião familiar outras vezes. Jimin me puxa para seus braços e deixa um beijo no topo da minha cabeça.
— Eu falei que ela era linda — ela diz cheia de si enquanto caminhamos para a parte de trás da casa que mais parece um cenário de drama.
— Você falou. — Yeoreum sorri enquanto nos acompanha e me sinto um pouco mais tranquila depois dessa recepção tão acalorada.
Ao nos aproximarmos da cozinha, vejo um rapaz preparando o que julgo ser o jantar. Ele é moreno, tem uma aparência de capa de revista, é alto e, embora esteja usando roupas casuais, posso perceber que é alguém do mundo dos negócios. Ele tem um ar de príncipe encantado e um sorriso tão perfeito quanto o possível.
— E esse é meu namorado, Jackson Wang — Yeoreum aponta para o rapaz, que ergue a mão em um cumprimento de longe, e me dá um sorriso tímido antes de voltar para o que estava fazendo.
Ao passarmos por uma sala maior do que sou capaz de descrever, finalmente consigo avistar a piscina iluminada. E caramba. Que piscina.
Ela é enorme e tem um formato sinuoso que acompanha o desenho da casa, em uma extremidade há uma cascata e na outra uma espécie de hidromassagem. Há uma área verde disposta por todos os lados, Yeoreum caminha por ela com uma fluidez admirável. Deus, como pode duas únicas pessoas fazerem filhas tão lindas?
Sentamo-nos em uma mesa que está um pouco afastada da piscina, Jimin e Yeoreum começam a falar sobre a empresa da família e fico admirada com o fato delas não conseguirem relaxar nem mesmo em uma linda noite de luar à beira da piscina.
Jimin mantém sua mão em mim o tempo todo, em minhas pernas, nas minhas mãos ou em minha cintura... ela faz questão de me tocar e isso me deixa mais relaxada.
— Você quer alguma coisa? — Ela pergunta. — Vou pegar uma bebida para mim.
— Não, está tudo bem. — respondo, observando ela se levantar. — Não precisa se preocupar.
— Tem certeza? — Ela se inclina na minha direção, segurando o espaldar da cadeira e deixa seu rosto a centímetros do meu.
— Tenho sim, pode ir.
Ela sorri enquanto me olha por um tempo e me beija.
— Não canso de olhar para você, sabia? — sussurra em meu ouvido causando arrepios em minha pele. — Já volto, preciso de um drink. — Ela se afasta em direção à cozinha.
Tento parecer indiferente a sua presença, mas tenho a sensação de que toda a população interessada a trezentos metros está de boca aberta para a visão de Yu Jimin.
— Então, Minjeong, está gostando da estadia em Seul? — Yeoreum me distrai do meu objeto de admiração e sou obrigada a lidar com o fato de que estou sozinha com a irmã da minha namorada.
— Estou adorando — digo e sorrio para a ela, tentando ignorar a situação onde me encontro.
— E o cursinho? O que tem achado? — Ela pergunta e não me deixa responder, continua falando sem parar. — Confesso que não sou muito ligada nessa área, mesmo minha irmã sendo uma professora, mas sei de algumas coisas... — Ela sorri e balança a cabeça. — Eu já fiz a Jimin me prometer que esse não vai ser o único assunto sobre o qual vamos conversar quando estivermos juntas.
Respiro fundo e olho para a piscina.
— Yeoreum... Tem certeza que não é um problema eu estar aqui agora?
Ela arqueia uma sobrancelha.
— E por que isso seria um problema, Minjeong?
Dou de ombros.
— Eu sou aluna da sua irmã, talvez você ache estranho que nós duas estejamos em um relacionamento.
— Tem razão, isso definitivamente é estranho.
Ela sorri. Eu sorrio. Não um sorriso constrangido, não um sorriso entre pessoas com intimidade, mas um sorriso verdadeiro.
— Não é problema algum, Minjeong — Ela diz em tom gentil. — Mas isso não apaga o fato de que vocês estão lindando com algo arriscado e precisam tomar cuidado.
Assinto com a cabeça.
— Estamos fazendo o possível para lidar com isso da melhor forma possível.
Yeoreum fica em silêncio enquanto olha para a piscina de águas cristalinas.
— Sei que é um tanto inesperado eu ser tão tranquila quanto a isso. Mas vi como minha irmã está diferente depois que te conheceu. Ela parece feliz, Minjeong... — Ela faz uma pausa e respira fundo. — Jimin deve ter comentado com você sobre o acidente que matou os nossos pais, certo?
A lembrança do que ela me contou quando saímos juntas pela primeira vez é algo que vai ficar comigo por muito tempo.
— Conversamos brevemente sobre isso — respondo.
— Acho que aquela noite marcou minha irmã muito mais do que ela consegue admitir.
— Como assim?
— Jimin não estava em Icheon quando o acidente aconteceu. Ela tinha uma relação incrível com nossos pais. Depois que eles morreram, acho que uma parte dela morreu também, o que é muito triste. Ela os amava muito, e perder alguém tão próximo de você é o suficiente para fazer sua mente ficar sombria.
Não sei o que eu poderia dizer num momento como esses, então fico em silêncio enquanto ela continua.
— O fato de ela vir aqui hoje acompanhada de você significa muito para mim. Mesmo que ela não fale sobre o assunto, é quase como se eu pudesse olhar para minha irmã novamente. Tenho certeza de que nossos pais iam gostar disso. É o que eu teria desejado para Jimin se eu tivesse morrido. Alguém para cuidar do coração dela.
— Você é uma ótima pessoa, Yeoreum.
Ela sorri.
— Você também é. E fiquei feliz em saber que aceitou acompanhá-la nesse jantar.
— Eu jamais recusaria esse convite — Digo, sendo sincera. O fato de Jimin me trazer aqui, de permitir que eu a esteja ao seu lado em um momento tão especial, é mais do que um pequeno gesto. Ela está fazendo uma declaração para todos com quem se importa do quão importante é o relacionamento que temos.
Eu amo isso e amo o fato de ser eu a estar ao seu lado.
— Eu espero muito que as coisas entre vocês deem certo, Minjeong — Yeoreum diz, trazendo-me de volta a realidade. — Mas, por favor, continuem tendo cuidado até o seu cursinho terminar, está bem?
— Claro, você não precisa se preocupar.
Yeoreum me agradece mais uma vez, então pede licença saindo para verificar se o jantar está pronto.
Fico em silêncio enquanto a vejo trocar algumas palavras com uma Jimin maravilhosa que está caminhando de volta para onde estou.
— Posso saber sobre o que você e Yeoreum estavam conversando? — Ela pergunta quando se aproxima.
Dou de ombros.
— Sua irmã estava me contando umas coisinhas sobre você — digo, contendo um sorriso.
Ela arqueia uma sobrancelha.
— Não me diga que ela compartilhou alguma história vergonhosa da minha infância?
— Não se preocupe, sua pose de mulher ideal ainda está intacta — brinco.
Ela revira os olhos antes de aproximar-se de mim e pegar minhas mãos. Abraço seu corpo e puxo-a para perto, sentindo seu cheiro, seu perfume. Ela.
— Aparentemente você e minha irmã se deram muito bem. — ela sussurra.
Abro um meio-sorriso.
— É, eu acho que sim.
Jimin me puxa para um beijinho, e eu deixo.
— Ei, garotas! — Yeoreum chama. Nos viramos para encará-la. — o jantar vai ser servido, então venham se juntar a nós.
Nós nos sentamos na sala de estar ao lado dela e do seu namorado, o clima agradável de outono tornando tudo melhor. Jimin e Yeoreum continuam falando de trabalho, enquanto Jackson e eu tentamos mudar o foco da conversa por várias vezes. Isso rende dois pares de revirar de olhos e muitas risadas.
Nessa noite, cada um de nós se permitiu aproveitar o momento. Pelas mágoas do passado e pelas dores do presente.
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