16

Winter's pov:

Na quarta-feira me sinto cansada quando entro no prédio da Suneung. A manhã foi agitada no café e só fiz uma pausa pouco tempo antes de vir para o cursinho. Ao menos o fim de semana está próximo e eu vou poder relaxar um pouco.

Jimin havia enviado uma mensagem dizendo que queria conversar comigo depois da aula e não consigo evitar um pequeno incomodo se formar no meu peito com a ideia que de que algo tenha acontecido. Logo antes de ir para a minha sala, vejo que ela está andando com aquela professora, Somi. Eu já vi as duas interagindo em outros momentos, mas a sensação sempre é desagradável. Só um cego não veria que aquela mulher está tentando abrir caminho para o seu coração. Tentando roubar o meu lugar...

Somi olha para a pasta em suas mãos por uma fração de segundo antes de se virar para Jimin e rir alto. Ela pousa a mão no braço dela, que parece não se incomodar. O jeito como joga o cabelo sobre o ombro e ri para minha namorada me deixa incomodada. A maneira como ela se aproxima e não esconde as intenções me deixa furiosa.

Ela está dando em cima dela, e Jimin parece acostumada com isso.

Cerro os punhos e saio dali. Quando eu estou a caminho da minha sala, Yuna corre até mim e me cutuca no ombro.

— Ei, Minjeong.

Abro um pequeno sorriso.

— Oi, Yuna.

— Não comentei antes — ela diz, sorrindo. — Mas me diverti bastante no fim de semana passado.

— Eu também me diverti, Yuna — murmuro.

— Então, eu estava pensando... — Ela continua me acompanhando, um pouco perto demais para o meu gosto. — Consegui ingressos para a apresentação de uma banda independente. E como Han não pode me acompanhar, você não estaria interessada em aparecer.

— Eu... — Faço uma pausa. — Eu não estou interessada, Yuna. — Percebo seu olhar vacilar e imediatamente me sinto mal. — Desculpe, é só que vou precisar trabalhar no fim de semana. Talvez numa próxima? — Abro um sorriso gentil e a cutuco no braço.

Ela sorri e assente com a cabeça.

— Tudo bem!

Entramos na sala e vamos para os nossos lugares.

— Vamos lá, senhoras e senhores! — Ao ouvir a voz de Jimin sinto meu coração errar uma batida. Já estou sentindo que assistir sua aula hoje não vai ser fácil. — Espero que tenham se preparado para a leitura e discussão do livro de contos que indiquei na última semana.

— Talvez eu esteja preparada sim — Yuna sorri.

— Isso que veremos... — Jimin ri. — Bem, quem quer começar a leitura?

Ninguém levanta a mão.

Jimin franze a testa, olhando ao redor. De repente, um sorriso ilumina seu rosto.

— Tudo bem, Han. Obrigada por se voluntariar! Pode abrir o livro no terceiro conto.

Han resmunga.

— Qual é, professora Yu? Eu não me ofereci. — Ele diz.

— Ah... bem. Então você teve a sorte de ser escolhido. Estamos aguardando.

Han procura o livro na sua mochila enquanto Jimin se rescosta na sua mesa, cruzando os braços. Ele é sempre brincalhão, e a ideia de ouvi-lo ler um conto teria me feito sorrir na semana passada. Mas hoje, minha mente está distante e eu estou incomodada. Totalmente irritada.

Han pigarreia e lê em voz baixa, indicando o quão despreparo está para isso.

Jimin deve ter percebido também.

— Tente outra vez, Han — ela pede da frente da sala. Não me viro para olhá-la. Han dá um suspiro, limpa a garganta, e começa a ler o conto.

Na maior parte do tempo, tento focar na discussão em sala. Mas não consigo me concentrar em nada. Fico imaginando o tempo inteiro o que está se passando na cabeça de Jimin, se ela está pensando em mim. Sinceramente, acho que se eu não tivesse presenciado aquela cena de mais cedo, não teria feito muita diferença. Mas este jogo que estou fazendo comigo mesma é cansativo. Queria ser capaz de encontrar uma maneira de exterminar esse incômodo no meu peito.

Fico aliviada quando a aula chega ao fim.

— Tudo bem, pessoal. Bom trabalho hoje. Tratem de ler os capítulos de um a três de O sol é Para Todos para amanhã. Há rumores de que pode haver uma avaliação surpresa.

Han resmunga enquanto coloca a mochila nas costas.

— Não é prova surpresa se você conta antes, professora Yu.

— Nem todos os rumores são verdadeiros, Han, mas é melhor se planejar como se fossem. — Jimin sorri.

Respiro fundo. Eu amo seus sorrisos.

Levanto-me da cadeira e coloco meu material dentro da minha mochila, exceto o livro que estávamos debatendo em aula. Quando passo pela mesa, escuto Jimin dizer meu nome. Eu não me viro, mas fico parada.

— Você estava distante durante a aula — sussurra. Sinto um aperto no peito. Escuto seu tom preocupado. — Aconteceu alguma coisa?

Viro a cabeça e encontro seus olhos castanhos.

— Está tudo bem.

Ela estreita os olhos, mas não comenta nada. Apenas pede para que eu a acompanhe até seu escritório. E embora eu queira recusar, não faço isso.

Seguimos em silêncio pelos corredores infinitos, passamos por salas de descanso, portas e mais portas fechadas, estamos na área destinada aos professores e funcionários e por onde passamos as pessoas imaginam que somos apenas uma professora e aluna dedicadas a discutir algo sobre o cursinho. Quando chegamos ao nosso destino, Jimin abre a porta e espera até que eu entre, em seguida fecha-a e se apoia nela como se assim pudesse evitar a minha fuga.

— Então, o que está incomodando você?

— Só estou em um dos meus dias ruins — respondo, sentando-me em uma das cadeiras em frente sua mesa.

— Minjeong... — ela me chama devagar, carregando em cada letra a tranquilidade que ela demonstra em seus olhos, ergo a cabeça e a encontro a poucos centímetros de distância. — O que você realmente está sentindo?

Medo. Insegurança. Ciúmes, tanto ciúmes que sinto vontade de chorar. Mas o pior de tudo, sinto que estou me deixando levar pelos meus sentimentos e não gosto disso.

— Nada — minto, olhando em seus olhos.

— Minjeong! — Ela me adverte como se soubesse que estou mentindo. E sabe, tanto fisicamente quanto emocionalmente sou transparente demais para ela.

— Eu não quero causar problemas para você. — Sou sincera porque estou tentando não chorar, me sinto incomodada e ela não tem absolutamente culpa nenhuma se não consigo lidar com a situação da forma correta.

Jimin abaixa a cabeça e seus cabelos caem escondendo seu rosto de mim, ouço-a respirar fundo como se tentasse manter o controle e quando ela volta a olhar para mim, sou pega desprevenida pela intensidade dos seus olhos. Ela está incomodada, assim como eu.

— Eu preciso que você me conte o que está acontecendo — Jimin me pede.

— Eu não quero ter essa conversa aqui no seu local de trabalho onde alguém pode entrar pela porta a qualquer momento — começo a falar sem pensar e Jimin me olha como se não compreendesse nada. — Aliás, aposto que aquela mulher ia adorar nos pegar nessa situação.

— Do que você está falando, Minjeong? — Ela pergunta, confusa.

— Da mulher que não esconde o quanto está interessada em você: a tal Somi — respondo, me sentindo ridícula por estar agindo assim.

Jimin finalmente parece entender. Ela se volta para a porta e a tranca, impedindo que sejamos interrompidas por alguém. Ela apoia as mãos na madeira branca e parece cansada, em seguida se vira, passando as mãos nos cabelos e caminha até a mesa. Ela retira seu blazer colocando-o no encosto da cadeira e volta até mim.

— Minjeong. — Ela puxa uma cadeira e se senta na minha frente. — Acho que precisamos conversar. Tem algo que eu preciso te contar.

— Eu não quero, por favor — imploro, mas ela ignora.

— Somi é minha ex — ela diz olhando nos meus olhos, com calma e pausadamente. — Nos conhecemos quando eu entrei para o corpo docente da Suneung. Ficamos juntas por uns seis meses e nos separamos porque simplesmente não funcionávamos mais. Você sabe que nunca me liguei emocionalmente a ninguém até conhecer você. E eu jamais estaria aqui tendo essa conversa com você se a Somi representasse alguma coisa para mim. Fui clara?

Ela termina de falar e me observa tentando encontrar em mim algum indício de que não acreditei em suas palavras.

Eu acredito.

Embora uma parte de mim não consiga esquecer a atitude de Somi.

— Mas ela parece não sentir a mesma coisa... — Me sinto ridícula e insegura no momento em que começo a falar.

— Esse é um problema dela, sou uma mulher adulta e sei muito bem o que eu desejo para mim.

Baixo meus olhos encarando meu colo, envergonhada por estar agindo dessa forma na sua frente.

— Eu não gosto de me sentir da maneira que estou me sentindo hoje, Jimin, não gosto de me sentir insegura — Confesso quase em um sussurro. — Não quero ser a ciumenta chata que vai criar um caso cada vez que te vir ao lado daquela mulher, e eu sei que serão muitas, caramba... vocês trabalham juntas!

— Eu sei que você é uma garota machucada, que já esteve em um péssimo relacionamento, mas aconteceu, Minjeong, eu aconteci na sua vida, e não adianta você negar, isso é muito mais do que um desejo, é muito mais do que atração ou seja lá como você queira chamar. Eu te amo.

Ela não espera uma resposta minha, apenas me segura em seus braços e me sustenta como se soubesse que, às vezes, é tudo o que preciso. Talvez ela saiba, talvez ela consiga ler o que está dentro do meu coração, já que a cada dia que passa ele se torna cada vez mais e mais seu.

Meu coração se acalma lentamente, enquanto sinto seu cheiro fresco mesmo depois de um dia longo de trabalho, enquanto ouço sua voz forte me dizendo para confiar nela como se isso fosse uma opção.

Nunca foi.

No momento em que a vi pela primeira vez eu soube que ela era diferente, não só por sua beleza, mas pela maneira com que ela me olhou, como se eu fosse alguém especial. Jimin tem uma doçura no olhar, ela me transmite paz e mesmo que eu não saiba dizer o motivo, eu me sinto segura ao seu lado. Passo meus dedos por seus cabelos, sentindo sua textura, seu corpo está entre minhas pernas e, mesmo que não estejamos fazendo nada além de se tocar, eu nunca estive em uma cena tão íntima com uma pessoa.

Afasto as lembranças ruins da minha mente e Jimin parece notar. Ela sempre nota quando algo me incomoda.

— Me desculpe, estou sendo ridícula... — digo encontrando o seu olhar. — Mas é que as vezes o sentimento de insegurança...

— Não seja boba, Minjeong, você é perfeita do jeito que é.

— Não ouse rir de mim, professora Yu! — Alerto, embora também esteja sorrindo.

Ela me beija suavemente, um beijo rápido, apenas sinto o toque suave de nossas bocas e então ela se afasta, apoiando sua testa na minha, enquanto diz:

— Por favor, acredite em mim.

— Eu acredito — falo, acariciando o seu rosto gentilmente.

Ela se afasta, mas o sorriso ainda permanece em seu rosto.

— Já que resolvemos essa questão, você lembra que eu queria conversar com você? — Ela pergunta.

Assinto com a cabeça, apesar de ter esquecido desse detalhe.

— Então, eu estava pensando em convidar você para jantar na casa da minha irmã.

— Isso é sério?

— Sim. Yeoreum gostaria de conhecer você. — Jimin acrescenta. — Se estiver interessada, eu vou combinar tudo com ela.

— Claro, tudo bem — respondo.

Ela se levanta e estende a mão para me levar a porta e sinto meu estômago se revirar na expectativa de conhecer a família dela.

— Jimin — sussurro, antes de sair.

— Sim?

— Eu também te amo.

\[...]

No caminho para casa, faço um desvio para organizar melhor meu plano de passar a noite relaxando. Ou seja, meu plano de ver filmes e comer besteiras na companhia de Ningning.

Quando chego, paro na varanda e olho pela janela. Minha amiga está andando de um lado para o outro no meio sala, com o celular na mão, como se estivesse segurando o bem mais precioso do mundo, e seu olhar parece igualmente ansioso. Quanto mais eu observo, mais percebo o que aconteceu. Ela aprontou alguma coisa.

Quando ela se vira e me vê, rapidamente muda de expressão e corre para abrir a porta.

— O que você está fazendo, Winter? — Pergunta.

— Ningning... — falo com os olhos arregalados. — O que foi que você fez dessa vez?

— Nada, imagina. Não sei porque você está pensando isso — retruca ela, alisando o moletom. — Eu só estava pensando em uma coisas relacionadas a faculdade.

Balanço a cabeça.

— Pois você realmente parece alguém que se meteu em mais uma jornada ao desconhecido. — Digo, indo até a cozinha e colocando as sacolas com as guloseimas no balcão.

Ela fica em silêncio, e eu vejo que não estou errada na minha suposição.

— Sério?

— Sério mesmo.

Me sento no sofá da sala e abro um sorriso para ela.

— Se você quiser compartilhar alguma coisa com sua amiga aqui, ela está a disposição.

Ningning passa a mão nos cabelos e se joga ao meu lado no sofá.

— Você tem que me prometer que não vai surtar — ela pede rapidamente. — Eu juro que não matei ninguém... Mas foi quase.

Arqueio uma sobrancelha.

— Como é?

— Eu quase atropelei uma pessoa com meu carro — Ningning diz, naturalmente.
Meus olhos se arregalam de surpresa e horror. Então me lembro de que estamos falando de Ning Yizhuo, então nada é impossível.

— E depois que você quase a atropelou? O que aconteceu?

— Descobri que ela era a amiga da Jimin. Fim da história. — Ela obviamente está com vergonha do que aconteceu depois do acidente, mas eu preciso saber de todos os detalhes.

— Agora você vai ter de contar — digo.

Ela respira fundo.

— Tá bom. Eu tinha alguns trabalhos para finalizar hoje, então decidi ir mais cedo para a faculdade. Você sabe que eu tenho um lado meio perfeccionista, então não gostei da maneira como o carro ficou na primeira vez que estacionei...

Ningning dá um sorriso estranho.

— Na segunda vez, eu estava determinada a acertar. Dei ré para ficar num ângulo melhor, e foi aí que aconteceu. A pancada. Eu me virei e não vi ninguém, então entrei em pânico achando que tinha batido no carro do meu lado, algo assim. Sai para ver se o carro tinha ficado amassado. Foi aí que a vi. Ela estava em pé do outro lado, mas alguns dos seus livros se encontravam debaixo do pneu do meu carro.

— Como foi que ela reagiu? — Pergunto, tentando conter a risada.

— Eu pensei que ela fosse me matar, mas na verdade até que lidou bem com a situação. Descobri que ela está fazendo pós-graduação na faculdade, mas não tem muitas aulas presenciais. Fiquei tão preocupada, com medo de que ela fosse me processar, que insisti para ajudá-la com a questão dos livros. Sendo sincera, esse definitivamente não era o primeiro encontro que eu queria... Mas não foi de todo ruim.

— Sorte sua ela não ter morrido — Digo, sorrindo. — Você estaria presa por atropelamento e homicídio culposo. E a coitada da Aeri seria apenas de história agora.

Ningning e eu estamos rindo tanto que tenho receio que os vizinhos se sinta incomodados. Enxugo uma lágrima, antes de lhe perguntar:

— Então, conseguiu conversar com ela? — Pergunto mesmo já sabendo a resposta. Fico imaginando qual vai ser a reação de Jimin quando eu lhe contar isso.

— Consegui o número dela. — Ela diz, erguendo o celular. Sua expressão se torna mais gentil. — Ela é tão linda, Minjeong. Por isso tenho que usar essa oportunidade para tentar chamar a atenção dela.

Sorrindo, olho para o teto acima de nós.

— Você parece bem animada com isso, não é? — Brinco. — Acho até que nosso programa de assistir filmes e não fazer nada vai ser jogado em segundo plano.

— Na verdade, não. Mas você vai precisar fazer algo em troca para mim.

Arqueio uma das sobrancelhas.

— Aonde você quer chegar com essa história?

— Bem, eu também descobri que Aeri é a dona da The Silent Bookshop, e estava pensando se você não quer me acompanhar durante uma visita...

Sorrio diante da cena mais improvável que eu poderia imaginar: Ning Yizhuo se sentindo intimidade por uma mulher. Ela sempre foi bem direta com todas as garotas com quem ficou que eu sinceramente não imaginei que agora fosse ser diferente. Entendo ela se sentir assim, mas Ningning não tem necessidade para isso. Ela tem aquele jeito de quem é “só mais um dos caras”, mas sem parecer um dos caras. É a garota dos sonhos de qualquer um.

— Eu posso fazer isso por você.

Ela dá um gritinho.

— Obrigada, obrigada mesmo! Você não faz ideia do quanto vai facilitar as coisas para mim, garota.

— Claro, claro — respondo. — Agora vou subir para tomar um banho enquanto você preparar tudo por aqui.

— Tudo bem, mas antes... Como foi no cursinho? — Ela pergunta, arqueando uma das sobrancelhas.

Sinto o rosto esquentar pelo jeito como ela faz a pergunta. Como se já soubesse o que acontece por lá.

— Vá tomar seu banho — Ela diz, sorrindo. — Mas volte preparada para conversar com sua melhor amiga.

Dou uma risada.

— Como se eu tivesse escolha.

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