15

Karina's pov:

Nunca vi tanta alegria nos olhos de alguém tão jovem que está se preparando para entrar para o inferno. A garota sentada à minha frente se parece muito comigo, a diferença é que eu demorei alguns meses para descobrir que a faculdade de literatura é intensa em questão de ensino. Ela nasceu sabendo disso.

— Espero conseguir passar no exame nacional, professora Yu. — Ela estende a mão para mim e a aperto delicadamente recebendo de volta um aperto firme e confiante de alguém que sabe o que quer.

— Eu tenho certeza de que você vai. — Levanto-me e contorno a mesa indo ao seu encontro, seus olhos claros e expressivos não se intimidam com minha altura, ela continua me olhando da mesma forma, mesmo que agora com a proximidade precise erguer a cabeça.

— Obrigada pelo apoio, sua orientação é muito importante para mim — ela diz. — Sem as suas aulas, realizar o meu sonho seria mais difícil.

— Sempre que precisar de algo pode contar comigo — digo, sendo sincera enquanto espero que, ao ingressar na faculdade, ela continue com esse mesmo brilho no olhar. Acho difícil, pois a grade curricular intensa e os prazos cada vez mais apertados tendem a interferir na vida de todo estudante.

Acompanho-a até a porta com a sensação de dever cumprido. Minha irmã diz que me dedico tanto aos meus alunos que ainda não entende porque não trabalho como tutora particular, cobrando altos valores por algumas horas de trabalho. Sei que é uma brincadeira, no fundo ela está feliz em me ver tomar outro rumo em minha carreira, mesmo assim no meu último aniversário ela me presenteou com um apartamento na área comercial. Disse que eu poderia montar um escritório nele, mas tenho certeza que a intenção inicial era que eu montasse uma equipe especializada para trabalhar para mim.

Só que não me vejo fazendo isso em um futuro próximo. No momento estou focada em levar o ensino não só para aqueles que podem pagar. E o programa online da Suneung possibilita que isso se torne uma realidade. No fim das contas, é bem mais gratificante acompanhar o crescimento de um aluno realmente dedicado à um aluno que só comparece as aulas porque os pais estão pagando.

— Quando a diretora Bae disse que você estava disposta a ajudar quase não acreditei... Posso chamá-la de você? — A garota diz enquanto seguimos até a porta. Sorrio, pois ao seu lado me sinto ainda mais velha do que os meus 26 anos.

— Claro, fique à vontade.

— Você é jovem demais para ser chamada de senhora — ela diz e sorri.

— Obrigada, é bom ouvir isso, às vezes me sinto como uma centenária.

— Imagina! Acho que você é a professora mais jovem que já conheci. — Ela faz uma careta antes de continuar: — E acredite, eu conheço muitos professores.

— Agora você me deixou um pouco convencida — brinco e ela sorri novamente colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha, sua leveza e confiança me contagiam e me sinto feliz por ter aceitado ajudar no seu sonho de entrar numa boa universidade.

— Obrigada mesmo, professora Yu, nem sei como agradecer. — Ela volta a apertar minha mão.

— Passe no exame nacional — respondo e ela assente com a cabeça ao colocar a mochila nos ombros e sair.

— Com toda a certeza farei isso!

Permaneço na porta observando a jovem destemida que carrega nas costas um sonho coletivo, desejo poder vê-la em breve e enquanto a observo se afastar começo a traçar planos para o futuro, anoto mentalmente programas de aula que preciso montar. Estou quase fechando a porta, perdida em meus pensamentos, quando a vejo parada no outro lado do corredor. Os cabelos escuros iluminados pelo sol de fim de tarde que entra pela janela, como se necessitasse tocá-la, caem em seu rosto escondendo-me seus olhos.

— Minjeong! — Eu a chamo como se precisasse garantir que ela é real, pois não me lembro de nada mais perfeito do que a imagem dela nesse momento. Ela ergue os olhos ao me ouvir chamá-la e, para minha surpresa, não hesita em se aproximar, quase como se não nos víssemos há uma vida inteira.

— Jimin... — ela sussurra.

— O que houve? — Pergunto analisando-a à procura de algo errado, mas ela só parece cansada.

— Não foi nada de mais. — Minjeong diz, segurando a alça da mochila. — Só acabei de sair de um teste do cursinho de inglês e espero que tenha me saído tão bem quanto nas suas aulas.

Assinto com a cabeça e abro a porta da minha sala, esperando até que ela entre antes de fechar.

— Sua professora de inglês é a Yeji, certo? — Pergunto, lembrando de já ter trocado algumas palavras com ela durante as reuniões. — Ela é uma das profissionais mais qualificadas da Suneung, mas sei que tem a fama de ser um tanto rigorosa durante as aulas.

— Está tudo bem. Sério mesmo. Acho que as coisas poderiam ser piores. Tipo, eu poderia enlouquecer e começar a usar de métodos ilegais para aprimorar meus conhecimentos. — Ela sorri, e isso é lindo. — Mas tenho consciência de que esse não é o melhor caminho a se seguir.

— Apenas confie em si mesma, Minjeong — sussurro, chegando mais perto dela. — Eu já disse que você é uma aluna brilhante e não falava exclusivamente das minhas aulas.

Eu amo o jeito como o corpo dela reage quando eu me aproximo. Então me lembro de onde estamos e percebo que tocá-la aqui, mesmo que de leve, seria inadequado.

Minjeong morde o lábio e olha para o corredor silencioso, como se lesse meus pensamentos.

— Aposto que você está adorando ficar sozinha comigo aqui.

— Eu posso deixar você ir — acrescento rapidamente, não querendo ser um problema para ela.

— Não, não. Tipo assim, a gente não está fazendo nada demais mesmo, não é? Além disso, somos aluna e professora debatendo sobre um tema em comum. Posso até dar um pouco de corda para isso.

— Cuidado — aviso. — Quando você começa a andar por esse caminho, as coisas podem se tornar perigosas.

— A minha vida andou parada por muito tempo. Eu vou me arriscar um pouco por esse caminho.

Sem pensar, puxo Minjeong contra o meu corpo e encosto minha boca na sua, envolvendo seu pescoço com uma das mãos. Ela retribui o beijo, apoiando as mãos no meu peito. Dou um passo a frente e a pressiono contra a parede. Mergulho os dedos por baixo da barra da sua camisa e escuto um arfar escapar de seus lábios em minha boca, enquanto ela finca as unhas nas minhas costas.

Paro quando escuto vozes vindo do corredor. Me afasto de Minjeong e me recosto na minha mesa, atenta para o caso de alguém bater na porta. Mas isso não acontece.

Minjeong olha para mim de forma travessa e pega a mochila que havia deixado cair no momento que a puxei em meus braços. Ela sorri para mim.

— Você é mesmo maluca, professora Yu — sussurra.

Dou de ombros.

— Está tudo bem. Como você pode ver nós não fomos pegas.

Seus olhos castanhos encontram os meus quando ela se aproxima, colocando uma mão de cada lado da mesa e prendendo-me ali antes de dizer:

— Mas talvez esse pequeno susto fique de lição caso você queira dar uma de impulsiva outra vez.

— E talvez eu não aprenda essa lição — provoco.

— Não? — Ela se inclina, mordiscando meu lábio inferior lentamente. — Então vamos precisar repetir isso mais vezes...

— Minjeong...

Ela sorri antes de se afastar.

— Acho melhor eu ir antes que minha próxima aula comece. — Diz, assumindo uma expressão mais séria. — Vejo você depois? Sei que deve ficar ocupada pelas próximas horas.

— Eu aviso quando estiver livre — digo.

Ela assente com a cabeça e sai, deixando-me ansiosa para o momento em que vamos estar juntas novamente.

Caramba, eu estou perdida.

Logo eu, a mulher que nunca sentiu necessidade de criar laços com ninguém, estou aqui sentindo meus batimentos acelerados e uma estranha sensação de que as coisas estão finalmente corretas.

Eu não estou entendendo mais nada. E estou cansada demais para tentar entender.

Volto para o trabalho e foco nisso por tanto tempo que quando olho para o relógio, já passa das sete da noite. Pego meu celular, há dezenas de mensagens e a grande maioria são da minha irmã querendo conversar sobre a empresa. O telefone toca antes mesmo que eu consiga pensar e atendo enquanto ouço a agitação ao fundo.

— Olá, professora, como você está?
— Giselle grita ao telefone com uma voz animada.

— Bem cansada — admito, porque só de ouvir a agitação do outro lado da linha já fico com dor de cabeça.

— Como estão as coisas por aí? — Ela pergunta e conto tudo o que posso deixando de fora a parte técnica, ela suspira aliviada. — Isso significa que já pode se juntar a sua melhor amiga?

Tento negar, digo que estou cansada e preciso dormir, mas Giselle começa a fazer aquele velho drama de melhor amiga que se sente trocada e não posso dizer não.

Assim que chego no 19th encontro ela sentada no bar. Aeri não parece em nada com a mulher de negócios de sempre. Está com um sueter largo cinza, jeans escuros e botas. Seus olhos castanhos voltam-se para mim e, a princípio, ela parece surpresa ao me ver a seu lado. Lentamente, seu rosto relaxa.

— Jimin... Não vi quando você chegou.

Deslizo para o banco ao lado dela, para que possamos conversar, mesmo que ela não pareça estar tão animada quanto imaginei. Suas mãos seguram um copo de líquido âmbar. Ela parece perdida em pensamentos. Por um momento, me pergunto se aconteceu alguma coisa que não me contou.

— E então porque me chamou para vir a um bar em plena semana? — Pergunto.

— Ah, só queria sair pra me divertir um pouco — Ela sorri. No entanto, eu sei que é muito mais do que isso. Os anos de convívio com Uchinaga Aeri me fizeram reconhecer quando ela está escondido alguma coisa de mim.

Respiro fundo.

— Aconteceu alguma coisa? — Solto.

Ela fica em silêncio por alguns instantes e esfrega o polegar na borda do copo.

— Bem... estou cansada. — Ela toma um gole de sua bebida. — Você já deve imaginar o motivo, mas equilibrar minha pós-graduação com o trabalho está sendo bem mais exaustivo do que gostaria de admitir.

— Eu posso imaginar. Você está precisando de alguma coisa? — Pergunto, me sentindo um pouco mal por ela ainda precisar enfrentar mais alguns meses de muito estudo, pesquisa e reuniões com seu orientador na faculdade.

— Um cérebro novo talvez. — Ela bate dois dedos na cabeça. — Precisei ler tantos artigos na última semana que já nem consigo mais manter o foco por muito tempo.

— Sinto muito, Giselle — digo sendo sincera, sei o quanto essa pós-graduação é importante para ela. Mesmo vindo de uma família bem sucedida, Aeri decidiu trilhar o seu próprio caminho, o que faz com que eu a admire ainda mais por nunca ter desistido de nenhum dos seus sonhos. Sei que o que parece fácil para os outros é uma tarefa árdua para ela.

— Está tudo bem, eu só preciso terminar minha maldita tese e então tudo vai ficar bem.

— Por que não me disse que as coisas estão tão difíceis? — Pergunto, me sentindo péssima por não estar tão a par das coisas, vejo o quanto a minha melhor amiga está cansada e o quanto estou ausente da sua vida.

— Por quê não é nada com o que eu não possa lidar — Ela diz, dando de ombros. — Além disso você parecia tão bem nas últimas semanas que não achei justo te incomodar com meus dramas acadêmicos.

— Aeri, por favor, me prometa que se algum dia precisar de ajuda não vai hesitar em me chamar. — Seguro suas mãos forçando-a a me olhar.

— Eu prometo, mas você não precisa se preocupar.

Penso em rebater, mas apenas assinto com a cabeça, absorvendo suas palavras. Não faço mais nenhum comentário sobre isso. Mudo de assunto:

— Que tal deixarmos os problemas de lado enquanto eu te atualizo sobre minha agitada vida de professora?

Seus olhos brilham de interesse e ela dá uma risada.

— Com aquela sua aluna especial, eu não tenho dúvidas de que as coisas estão agitadas.

Passo as mãos nos cabelos, sorrindo.

— Acho melhor você pedir outra bebida, porque tenho muito o que compartilhar.

\[...]

Entro em casa e espero encontrar minha irmã no escritório ou em um dos quartos, já que mais cedo ela avisou que ia passar a noite aqui. Mas para minha surpresa encontro ela no chão da sala, sentada de pernas cruzadas em seu tapete de ioga. A música que toca tem os sons de uma floresta tropical. Ela inspira profundamente e expira pela boca entreaberta. Só de ver essa cena estranha, um pequeno sorriso surge em meus lábios.

— É... Yeoreum? — sussurro, fechando a porta.

— Shh! — Ela murmura, batendo no tapete de ioga vazio ao lado dela.

Tomo isso como um convite e aceito. Tirando meus sapatos e jogando meu casaco e minha bolsa no sofá, sento-me no tapete de ioga.

— Feche os olhos — instrui Yeoreum, os olhos já fechados. Arqueio uma sobrancelha e olho para ela como se fosse uma maluca, e ela dá um leve sorriso. — Não me venha com esse olhar de você-é-totalmente-louca. Apenas feche os malditos olhos.

Fecho-os e respiro fundo. A sala está fria, e meus braços se arrepiam. Olho para minha irmã e observo-a ainda inspirando fundo e exalando com alívio.

— Você sente a diferença depois de alguns segundos deitada reconectando-se ao mundo? Toda essa energia negativa saindo pela ponta dos dedos das mãos e dos pés? — Pergunta Yeoreum antes de voltar para o seu mantra.

— Humm, não? — falo, confusa. Só sinto que estou sentada num tapete de ioga na sala de estar, ouvindo os sons da natureza de um aplicativo de música.

O mantra de Yeoreum para e ela olha para mim, apoiando-se nos cotovelos.

— Eu também não. Vou te contar, já tentei essa coisa de meditação por um bom tempo, mas eu simplesmente não consigo.

Dou uma risada e me apoio no tapete, estirando as pernas.

— Então por que você faz isso?

— Jackson... — Ela me lembra de seu namorado antes de se deitar novamente, colocando as mãos atrás da cabeça. — Como foi seu dia?

Meus lábios se curvam num sorriso. Yeoreum nota.

— Você encontrou com a sua garota! — Ela sussurra. Eu me viro para ela, chocada.

— Como...?

— Jimin, você sempre volta do trabalho sem ânimo para nada. Isso só não acontece quando dá aulas para Minjeong ou encontra com ela pela Suneung.

Ela não está errada; Minjeong realmente torna meus dias melhores. Deito-me no tapete de ioga, olhando para o teto branco, ouvindo o som dos pássaros do aplicativo.

— Tive um dia muito bom.

Minha irmã sorri.

— Você, meu bem, está mesmo seguindo por um caminho perigoso. Nunca imaginei que aquela garota prática que não se envolvia com ninguém seria capaz de arriscar tanto para ficar com uma garota.

— Não é bem assim — pronuncio as palavras de forma instintiva. Só depois de dizê-las me questiono quanto são verdadeiras. Nunca me interessei seriamente por alguém. Isso até Kim Minjeong entrar na minha vida.

— Você ama aquela garota, Jimin — Yeoreum diz, como se fosse uma coisa óbvia. — Não estamos falando de algo casual aqui. Você definitivamente não agiria assim por alguém com quem só quer se divertir.

Arqueio uma sobrancelha, em dúvida.

— Arricar tudo por uma garota que me fascina, por quem sou capaz de dar o mundo, isso é amor?

— Você está mesmo me perguntando isso? Para alguém tão inteligente você é bem lenta quanto a reconhecer seus próprios sentimentos.

— Ah — digo com um tom cheio de sabedoria. — Acho que tudo isso só é novo para mim.

Yeoreum da uma risada baixa e olha para mim.

— Jimin, até eu sei que você era uma das garotas mais populares do departamento de literatura na faculdade. Todo mundo queria uma chance de terminar nos seus braços, mas você não se apegava a ninguém. Então, sim, esse sentimento definitivamente é novo para você, maninha.

— Você é mesmo um anjo. — Brinco.

Ela me lança uma piscadela.

— Já que estamos falando sobre esse assunto, porque não leva Minjeong lá em casa? — Pergunta. — Podemos marcar um jantar.

Olha para ela, surpresa.

— Você está falando sério?

— Estou, sim. Quero conhecer a garota que roubou o coração da minha irmã.

Sorrio.

— Está bem. Eu vou falar com Minjeong e te aviso.

Conversamos por mais algum tempo antes de minha irmã ficar cada vez mais sonolenta. Depois de um tempo deitada no tapete, ela decide subir para o seu quarto. Eu me levanto, pego minhas coisas e faço mesmo.

Quando entro no meu quarto, meu celular se ilumina e sorrio quando vejo o nome de Minjeong.

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