12

Karina's pov:

Alguns dias se passam desde que Minjeong e eu criamos a nossa nova realidade. Quando a quinta-feira chega, fico chocada com o quanto estou ansiosa por esse dia. Achei que a intensidade do que eu sentia diminuiria com o passar do tempo. Mas não. Meus sentimentos só crescem cada vez que a vejo entrar na minha sala de aula.

Eu adoro o jeito como Minjeong parece mais bonita a cada dia. Eu adoro o fato de que, quando a vejo pelos corredores, ela já estava em meus pensamentos. Adoro que ela não participe de todas as discussões em sala, mesmo sabendo que vai ter todas as respostas corretas.

Eu adoro não ser tendenciosa quando corrijo seus trabalhos. Ela é simplesmente um gênio. Adoro como, quando eu chego em casa, ela se junta a mim em uma ligação. Adoro como às vezes a flagro em sala de aula olhando para mim com admiração. Eu adoro o quão linda é ela sem fazer esforço.

Eu adoro quão distante estamos, e quão próximas nos sentimos.

Um bater suave na porta da minha sala chama minha atenção, ergo a cabeça e encontro Somi parada na porta com seu sorriso nos lábios.

— Então você finalmente conseguiu entrar para o hall de professores populares, não é? — Ela me provoca e sinto uma pontada incomoda a cada brincadeira nova que ela faz comigo.

Jeon Somi e eu nos conhecemos há cerca de dois anos, trabalhamos juntas, nos aproximamos e por um tempo acreditei que havia encontrado a mulher com quem eu poderia finalmente me envolver, afinal somos iguais: ambiciosas, esforçadas, confiantes, arrogantes... E esse foi o ponto. Somos parecidas demais e com o passar do tempo percebi que ao olhar para ela eu estava me vendo, não havia a surpresa de ver nela algo que não tenho, o confronto da diferença, o aprender a admirar e respeitar aquilo que não sou.

Como professoras, nosso assunto era sempre acerca do novo artigo que saiu, ou sobre uma nova forma de ensino, ou sobre a dinâmica das nossas turmas... éramos duas colegas de trabalho dividindo a mesma cama. E foi quando percebi que o que vivíamos não era um relacionamento e sim uma maneira prática de manter a cama aquecida. No final do ano passado terminamos nosso relacionamento de seis meses. Como uma mulher orgulhosa, Somi concordou quando eu disse que nosso lance não passava de algo casual, mas, apesar de não estarmos mais juntas, o passado parece pairar sobre nós.

E desde então todas as vezes que a encontro sinto um misto de tranquilidade por ver que ela continua tão prática quanto me lembro, mas também me sinto incomodada por saber que ainda não sou uma página virada na sua história.

— Você está com medo que eu tome o seu lugar? — Pergunto provocando-a de volta. — Eu posso começar a me dedicar a isso agora mesmo, pois já estou sabendo que alguns dos seus alunos estão interessados nas minhas aulas.

Somi revira os olhos e entra na
sala.

— Professora Yu, você precisa saber qual o seu lugar.

Ela se aproxima e senta na beirada da minha mesa, as pernas estendidas e cruzadas nos tornozelos.

— Como você está? — Faço essa pergunta todas as vezes que nos encontramos. Mesmo que meu interesse seja estritamente profissional, ainda tenho o bom senso e a educação.

— Não é sobre mim que vim falar hoje. — Ela passa a mão por seus cabelos afastando-os do seu rosto. — É sobre você e essa sua tentativa irritante de viver pelo trabalho.

Apoio-me na cadeira, cruzando a perna direita na esquerda e girando a caneta no ar. Eu sabia que Somi não aceitaria minha causalidade assim tão rápido.

— Não comece, Somi — resmungo.

— Só estou apontando alguns fatos — ela se defende.

— Eu estou bem, Somi, sério.

Ela sorri e sei que não acredita em minhas palavras.

— Você parece ainda mais indiferente do que antes, Jimin.

— Pegou pesado agora, hein? — Tento parecer divertida, mas ela se mantém firme e séria.

— Quando foi a última vez que você saiu para curtir? — Ela pergunta, procurando os meus olhos. Sei exatamente onde essa conversa vai terminar, mas nesse momento estou cansada demais para isso.

— Ah não... por favor, não comece com isso. Acho que já passamos dessa fase há muito tempo.

— Aposto que abandonou até os exercícios físicos que tanto amava — ela continua a falar e me surpreendo com a insistência dessa mulher quando decide algo.

— Eu não posso sair para curtir neste momento, Somi. — Embora o que quero dizer é que não posso sair para me curtir com ela. — Há muito para fazer aqui na Suneung, ainda preciso fazer algumas pesquisas, reunir material, preparar minhas aulas, incluindo corrigir todos os testes que não posso deixar nas mãos dos outros enquanto fico de pernas para o ar — tento fazê-la entender, mas ela parece não compreender o que digo e se inclina, colocando sua mão em meu joelho.

— Eu sempre gostei desse seu lado responsável, sabia? — Ela diz isso naturalmente, mas consigo perceber uma insinuação velada em sua voz.

Será que ela não vê? Como é desconfortável que continue agindo dessa forma quando claramente não vou corresponder à altura.

— Eu não vou entrar nesse jogo com você, Somi — aviso.

— Tudo bem, então, está claro que você está mais interessada no seu trabalho. — Ela diz, erguendo as mãos e parecendo se divertir. — Mas o pessoal vai se reunir naquele bar que você gosta hoje a noite — Seu tom de voz volta a ter a leveza de sempre enquanto ela me explica os planos. — Apenas apareça lá quando terminar aqui. — Ela vai para a porta e me lança um dos seus sorrisos sedutores: — De preferência disposta a aproveitar uma boa companhia.

Assim que Somi vai embora me jogo novamente na cadeira, mais exausta do que meia hora atrás e olho para meu celular. Talvez ela tenha mesmo razão, eu devo aproveitar a noite em boa companhia.

\[...]

Assim que chego à Cheonggyecheon, abro um sorriso. Há uma energia nesse lugar que faz com que eu me sinta viva. Seul é famosa por ter vários pontos interessantes para os turistas, mas Cheonggyecheon é onde a magia dos moradores locais acontece. O pequeno rio corre dentro da cidade, sendo iluminado por cores vibrantes enquanto uma música de qualidade preenche o ambiente. É incrível o fato de que uma revitalização possa reunir tanto talento e sentimento em um só lugar.

Quando me aproximo de onde os músicos estão tocando, eu a vejo.

Minjeong parece absorver a música a sua volta. Seus cabelos estão soltos. Está de tênis, jeans e um casaco com capuz xadrez. Adoro isso — o fato de ela me proporcionar os mais diversos visuais. Ela é tão linda, e eu não me canso de me perguntar como isso é possível. Vivi a vida inteira cercada pelas mais variadas pessoas, mas nunca conheci alguém como ela.

Como se sentisse que está sendo observada, ela ergue o rosto e quando olha para o lado, encontra meu olhar. Não o desvio, eu não posso. Ela esboça um sorriso enquanto acena para mim. Isso me faz sorrir.

— Bem, vejam quem resolveu dar o ar da graça — Minjeong diz no instante que me aproximo. — Achei que você fosse furar comigo.

Sorrio enquanto ela envolvia minha cintura com os braços.

— Eu disse que vinha, não disse?

— Sim. Mas vai que tinha acontecido algum imprevisto na Suneung — Ela se inclina e deposita um beijo casto em minha boca. — Esse lugar é incrível.

Suspiro e assinto com a cabeça.

— É aqui que a magia acontece — declaro.

— Então você deveria ter me trazido aqui no nosso primeiro encontro? — Ela brinca.

— E permitir que o meu encanto fosse ofuscado? Nem pensar — respondo, fazendo com que ela revire os olhos.

Ficamos algum tempo paradas ali, sentindo a música tocar a nossa pele. Os acordes e o compasso do saxofone são completamente arrepiantes. O jeito como as notas dançam pelo ar, de uma forma tão perturbadoramente linda, faz com que isso tudo pareça mágica.

Olho para o lado e vejo que Minjeong parece igualmente encantada. Os fios de cabelo em seu rosto caem sobre os olhos castanhos que tanto me fascinam e não consigo desviar o olhar, mesmo que ela não esteja olhando para mim.

As pessoas começam a fazer um círculo em volta dos músicos, jogando notas e moedas no estojo aberto à frente deles. Pegam os celulares para registrar o espetáculo. É uma experiência e tanto assistir ao show que eles fazem ali.

Depois de um tempo, convido Minjeong para caminhar pela calçada ao longo do rio. Não sei por que, mas começamos a compartilhar histórias sobre nossas vidas. Minjeong me conta de seus pais biológicos, como nunca os conheceu. Então Taeyeon entrou na sua vida, e ela perdeu qualquer interesse que podia nutrir por isso. Ela para por um momento e respira fundo. Olhando para o céu, parece se perder nos próprios pensamentos. Eu a observo silenciosamente, porque é tudo o que posso fazer nesse momento.

— Minha mãe é a única família de que realmente preciso. — As palavras saem mais firmes do que qualquer coisa que eu tenha ouvido dela antes. Não comento mais nada sobre o assunto.

Continuamos a conversar e compartilhar histórias — sobre minha família e o império corporativo no qual estou obrigatoriamente inserida, quais livros realmente gosto, lugares para onde viajei nas férias. Conto a Minjeong sobre minha irmã, como costumamos sair para correr todos os domingos pela manhã; um dos únicos dias em que estamos livres e podemos aproveitar juntas. Ela parece engajada na conversa, sem demonstrar tédio pelos meus pensamentos.

— O que acha de irmos a um café aqui perto? — Pergunto quando saímos de Cheonggyecheon. — Não é nada comparado ao Coffe Bar, mas prometo que você não vai se decepcionar.

Minjeong sorri.

— Você sabe que eu tenho domínio quando o assunto é café, então vou poder comprovar isso.

Seguimos em silêncio pelas calçadas movimentadas. Esse é um hábito do qual compartilhamos, mas sei que hoje há algo maior por trás do silêncio: o fato de estarmos juntas. Minjeong é uma ótima pessoa, eu sou uma ótima pessoa. Como nossos encontros mostraram, damo-nos muito bem.... mas sei que ainda estamos digerindo o fato de que estamos mesmo fazendo isso.

Observo nossas mãos unidas e, em resposta, Minjeong aperta seus dedos nos meus.

— Você está bem? — Pergunto a ela.

Sobressaltada com o som da minha voz, ela volta a atenção para o meu rosto. O nariz dela está avermelhado e adorável. Quanto mais olho para ela, mais percebo o quanto isso parece certo. Mesmo que vá contra tudo o que deveríamos estar fazendo.

— Estou, claro... — Ela sorri vagamente. — Estava apenas pensando sobre tudo isto.

— Está arrependida? — Pergunto.

— Não, é mais... — Minjeong faz uma pausa, olhando para mim. — Você está bem? Digo, em fazer isso?

Olho para ela, que parece mesmo preocupada com essa questão. Estamos a menos de meia quadra de distância do The Lounge agora. Uma vez que entrarmos ali, todos poderão nos ouvir e vão certamente ver minha viagem pelo "Estou mesmo saindo com minha aluna?"

Paro, chamando a atenção dela.

— Você não precisa se preocupar com isso, Minjeong. — Digo com firmeza. — A vida nem sempre gostou de sorrir para mim, mas quando te conheci percebi que ela resolveu me presentear e a melhor opção é aproveitar.

Sua face ruboriza com meu comentário, e juro ter ficado ainda mais encantada com essa visão.

— Ontem a noite, pensei no nosso último encontro. Pensei no que disse... Eu só não quero ser a garota egoísta que...

— Minjeong — Digo, segurando seu rosto com a mão. — Quero que saiba que eu estou muito ciente do que estamos fazendo. Eu descobri que sou louca o suficiente para me arriscar desse jeito. Mas jamais irei machucar você. Prometo.

Ela dá um passo para trás e olha para mim.

— Obrigada — diz, sorrindo, antes de olhar para o céu. — Obrigada por fazer isso. Por estar dando uma chance para nós.

— Está de brincadeira? A coisa mais louca que já fiz foi ser cúmplice de Giselle enquanto ela trocava a data no seu cupom de uma loja para conseguir cinquenta por cento de desconto. Essa com certeza vai ser uma experiência inesquecível para mim.

— Espera. Você está falando sério? — Ela pergunta, erguendo uma sobrancelha.

Dou uma risada, assentindo com a cabeça.

— Dá para acreditar? Esse era mais o estilo de Giselle do que o meu — respondo. — Ela tem aquela pose de garota certinha, mas na verdade é a responsável pela maioria das minhas aventuras universitárias.

Ela sorri antes de atravessarmos a rua até o café. Como o clima tem estado mais frio, nos apressamos para entrar enquanto seguro a porta para ela. Uma rajada de ar morno nos acerta, e o calor é tão fantástico que precisamos de alguns segundos para aproveitar.

Do lado de fora, o The Louge parece um resort. As vigas de madeira contribuem para um clima acolhedor e familiar, enquanto o letreiro na entrada deixa claro o que eles vendem.

Sem nenhuma surpresa, o lado de dentro também é acolhedor. A iluminação é baixa, há algumas mesas espalhadas pelo salão principal e um balcão na lateral. Ao fundo encontra-se uma pequeno palco, onde um violonista toca uma música acústica.

Conduzo Minjeong até uma mesa perto da janela e nos sentamos. Fico observando enquanto ela pega o cardápio, olhando as opções com toda a concentração.

— O que você sugere? — Ela pergunta.

— Eles têm uma variedade considerável de cafés e iguarias aqui. Acho que você deveria provar algo que ainda não conhece.

— Aposto que você também vai provar algo novo. — Ela diz. Esse sorriso adorável deveria ser proibido, porque me faz concordar o que quer que ela esteja dizendo.

— Bem, sim. E o seu pedido é por minha conta. — Acrescento, olhando para ela.

— Você não precisa fazer isso.

Coloco as mãos sobre a mesa, entrelaçando os dedos e me inclino na direção dela.

— Nem adianta discutir. Já tomei minha decisão.

Sem surpresa alguma, é fácil para nós ficarmos à vontade durante todo o tempo — temos uma conexão inexplicável desde que nos conhecemos semanas atrás. E tão logo fazemos os nossos pedidos, a conversa flui com facilidade, como sempre acontece quando estamos juntas.

Quando saímos do café, nos reunimos na calçada. Preciso insistir um pouco, mas finalmente Minjeong concorda que eu a leve até em casa. A ideia dela perambulando sozinha pelas ruas de Seul durante a noite não me é nenhum pouco agradável.

Acelero minha moto pela principal e sorrio quando ela envolve os braços em minha cintura, numa espécie de abraço apertado. Eu não sabia que precisava ser abraçada assim até conhecer Kim Minjeong.

— Eu vou ficar bem — ela diz, entregando-me seu capacete quando chegamos. — Acho que já dou conta dessa coisa de chegar em casa em segurança.

Sorrio, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha dela e beijando seus lábios de forma casta.

— Sua amiga deve estar adorando essa nossa pequena interação — brinco, notando que algumas luzes da casa estão acesas.

Minjeong da uma risada baixa.

— Eu não posso discordar. — Ela ainda está parada. — Isso é empolgante, não é? Essa coisa de estarmos fazendo algo proibido? — Ela franze o nariz e coloca a língua para fora.

— Estou vendo que você é tão louca quanto eu. — Digo, sorrindo. — Totalmente louca.

— Só por você. — Ela diz, e me perco mais um pouco na sua existência.

— Boa noite, Minjeong — digo, tocando levemente a ponta dos seus dedos, arrancando outro sorriso seu.

— Boa noite, Jimin. — Meu coração está se perdendo em um mundo de desejo, e permito que ele viaje para esse território desconhecido. — Ah, e só para você saber... Espero que esteja preparada para o debate de amanhã.

— Estou mais do que preparada. — Ela pisca para mim, e sinto meu mundo estremecer.

Passando as mãos pelos cabelos, ela abre um largo sorriso e se despede. Fico observando até ela entrar em casa, então dou partida na moto e saio.

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