11
Winter's pov:
— Ela te beijou! — Ningning grita, num misto de surpresa e felicidade.
Assinto com a cabeça, e, embora ainda esteja tendo dificuldades em acreditar, estamos mesmo trilhando por esse caminho. E gosto disso.
— Tudo bem. Você merece, né, amiga? Depois de tudo o que passou, mesmo eu achando que as duas estão fazendo uma coisa bem arriscada, mas nossa! Ela finalmente te beijou.
Ela se joga em minha cama exageradamente e sorrio, aliás, isso é tudo o que venho fazendo desde o momento em que cheguei em casa. Estou sorrindo igual uma idiota apaixonada.
Ningning me obriga a descrever o que aconteceu mais umas duas vezes e, em seguida, começa a fazer planos impressionantes que eu, é claro, não irei realizar. A última vez que caí em sua maluquice consegui um pulso lesionado. Tudo bem, nós éramos adolescentes e completamente despreocupadas, mas vai que essa história de lei da atração não sei do quê atrai coisas ruins também? Prefiro não arriscar. Mesmo assim assinto a cabeça para todas as ideias que ela tem só para que pare de falar logo.
— Quando é que você vai encontrar um jeito de me apresentar a amiga dela? — Ningning pergunta enquanto agarra meu travesseiro.
— E por que eu deveria fazer isso? — Retiro o travesseiro da sua mão e o coloco de lado.
— Para que eu também tenha chance de embarcar numa aventura.
— Isso é sério, Ningning? — É uma pergunta retórica porque é claro que eu sei que Ningning está falando sério, ela mesma deixa claro o quanto está caidinha por Aeri. Mas achar que eu tenho talento para bancar o cupido é demais, até mesmo para ela.
— Qual é? Vai me dizer que ela é hetero.
Deito-me ao seu lado, preferindo ignorar sua pergunta. De repente, penso sobre o assunto e percebo que de fato nunca vi Aeri acompanhada de nenhuma garota nas vezes em que nos encontramos. Mas isso não quer dizer nada, ela pode ser apenas uma pessoa reservada.
Balanço a cabeça.
— Eu não tenho como te responder essa pergunta, Ningning. Além disso, ela deve ter outras prioridades na vida. Então vamos deixar isso para lá.
— Nossa, Minjeong, eu sou sua melhor amiga. Tente descobrir isso para mim. Por favor? — Ela implora como uma garotinha de 5 anos. Faz o olhar de cachorrinho abandonado que sabe que eu odeio.
— Não faça isso.
— O quê? — Ela pergunta em tom de inocência.
— Não olhe para mim com esses olhos suplicantes, Yizhuo. — resmungo, colocando as mãos no rosto. — Está bem, está bem. Mas não garanto que vou conseguir informações úteis.
Ela se aproxima e joga seus braços em meu pescoço, abraçando-me de modo fraternal.
— Você é a melhor, garota.
\[...]
Minha tarde de sábado é regada a muitos sorrisos bobos provocados por uma certa professora de olhos castanhos e voz grave que me liga a cada uma hora para dizer coisas doces e fazer o meu coração esquecer o compasso certo no qual deve bater.
— Ah não, aí já é demais — tento não rir, mas a sua risada me contagia.
— Eu juro a você. — Sua voz parece mais animada e fico feliz.
— Katano Kako? — repito o nome mais ridículo que já vi na minha vida. — Que raio de nome é esse, Jimin?
— Era o meu professor mais detestável da faculdade, ele é o culpado por grande parte do meu estresse, minha insônia e por meus pesadelos — ela lamenta e começo a rir novamente.
Sento-me na cama segurando o celular no ouvido, o assunto termina e posso ouvir o barulho de vozes ao fundo, já passa das duas horas e ela está na Suneung desde as nove da manhã. Se eu achava que vida de um professor era fácil, hoje tenho outra visão, é uma espécie de escravidão de luxo.
— Estou com saudades — ela confessa baixinho como se fosse algo errado e mesmo estando sozinha em minha casa sinto meu rosto aquecer.
— Eu também — admito, mas a verdade é que saudade já não define mais o que sinto.
— Eu sei que é fim de semana e que sua amiga provavelmente está em casa, mas eu posso te ver? Pode ser apenas alguns minutos, mas eu queria muito te ver.
Meu coração acelera no peito e me sinto uma garotinha imatura, mordo o lábio pensando em algo maduro para dizer, mas só consigo pensar em beijá-la novamente.
— Pode. — A palavra sai afobada de meus lábios e antes mesmo de terminar de falar já estou correndo para o banheiro para me arrumar.
Vinte minutos depois, Jimin está na minha porta e não sei como me comportar na sua frente, ela parece mais cansada do que sua voz demonstrou e ainda mais bonita, o moletom da antiga faculdade, o gorro sobre os cabelos soltos e um ar de garota que ela se força a esconder quando está trabalhando.
— Oi, onde está a professora Yu? — brinco com ela, que franze o nariz antes de sorrir.
— Deixei ela em casa, mas posso voltar para pegar caso deseje. — Ela dá um passo para trás apontando na direção da sua moto e seguro sua mão trazendo-a para dentro.
— Acho que por ora serve apenas a Jimin.
Ela se deixa levar e fecha a porta com o pé ao entrar. É a primeira vez que ela entra em minha casa e, embora seja uma residência confortável, sei que é simples. Simples demais para alguém como ela, mas Jimin parece não se importar enquanto tira o seu calçado.
— Você já almoçou? — Pergunto, lembrando do quão ocupado foi o seu dia.
— Comi alguma coisa no trabalho — ela diz aproximando-se de mim. — Você não precisa se preocupar.
— Bom, então você não vai conseguir provar uma maravilhosa iguaria culinária. Foi Ningning quem fez e, embora ela tenha aquela personalidade despreocupada, cozinha muito bem.
Jimin se encolhe ao ouvir o nome de Ningning, e sorrio.
— Ela está em casa agora? — Ela pergunta, sentando-se no sofá de frente para mim. — Por um momento acabei me esquecendo desse detalhe. Devo me preocupar?
— Não, ela foi à um almoço em família. E se for para se preocupar com alguém, faça isso em relação a minha mãe — brinco.
Jimin arregala os olhos.
— Ela sabe sobre nós?
Estremeço ao lembrar-me disso.
— Não. E não pretendo mudar isso no momento — admito. Aposto que ela está levemente surpresa com isso. — Não faço ideia de como minha mãe vai reagir diante de toda essa situação. Ela mal confia em mim para governar minha própria vida, iria automaticamente pensar que...
— Que você está sendo usada? — Jimin sussurra.
Na verdade, há uma dúzia de razões e esta certamente não é uma delas.
— Eu não acho isso — acrescento imediatamente. — Minha mãe só é muito protetora por conta de um relacionamento fracassado que eu tive.
Ela arqueia uma sobrancelha, interessada.
— Do que você está falando?
Esfrego meus dedos na têmpora e respiro fundo. Eu definitivamente não entendo essa facilidade que tenho de compartilhar histórias da minha vida com ela.
— Bom, minha última namorada me usou até encontrar outra. — Paro e penso em Yujin e em como ela me fez sofrer.
— Minjeong, isso é... — ela sussurra.
— Eu tinha 16 anos. Quando era mais nova, eu era muito burra. Não extremamente burra, mas do tipo “sou só uma criança e não sei nada sobre a vida”. Dormi com Yujin pensando que aquilo significava que ela me amava... Então, descobri que ela estava fazendo a mesma coisa com uma colega de turma. Minha mãe se sentou ao meu lado na minha cama, acariciando meus cabelos enquanto eu chorava, me dizendo que Yujin era uma idiota monstruosa e que provavelmente era péssima na cama. Ela estava certa sobre isso.
Jimin dá uma risadinha.
— Então o que aconteceu?
— Yujin me ligou um tempo depois, dizendo que sentia muito a minha falta e que queria tentar resolver nossos problemas, mas embora eu não conseguisse parar de chorar durante o telefonema, coloquei um ponto final na nossa história. Minha mãe havia me dito que eu não deveria voltar com ela porque ela não gostava de mim de verdade, e estava mais interessada no meu corpo do que nos meus sentimentos.
O suspiro dela é quase inaudível.
— Sua mãe parece ser uma pessoa maravilhosa.
— A melhor — respondo baixinho. — Agora chega de falar nisso, tá?
— Eu não vou te magoar, Minjeong
— ela diz e suas palavras saem sérias demais.
— Não me prometa algo que não pode controlar.
— Mas eu posso. — Ela se aproxima, segura minhas mãos acariciando-as e olhando dentro dos meus olhos. Eu adoro quando ela me olha dessa maneira, sinto como se pudesse me perder em seu olhar. — Eu não vou te magoar — ela promete mais uma vez e sinto um calafrio percorrer toda a minha espinha.
— Não há como controlar isso, Jimin, amanhã seu fascínio por mim pode acabar e então você vai acabar me magoando. Essas coisas acontecem. — Sinto meu peito doer com essa realidade que conheço tão bem, mas a verdade é que há coisas que são mais difíceis de aceitar quando a pessoa em questão é quase como um sonho. Ser magoada por Jimin será uma dessas, com certeza.
— Minjeong. — Ela solta uma das minhas mãos e coloca uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha. — Eu não vou te magoar, porque hoje você é a coisa mais importante no meu dia. É a primeira pessoa que penso quando acordo, a última antes de dormir, eu penso em você o dia inteiro e se você acha que estou bem com isso, saiba que não estou, eu estou apavorada. Então acredite em mim quando digo que não vou te magoar, porque se eu te magoar, Minjeong, eu estarei magoando a mim mesma.
— Não faça isso... — Sinto minha voz sumir dos meus lábios a medida em que começo a falar, porque as palavras dela invadem o meu ser.
— Me perdoe, mas não posso evitar, você me fascinou antes mesmo de me conhecer. Eu nem ao menos sabia quem era você e já sentia que estava perdida, portanto não se preocupe, eu não vou magoá-la. Porque isso significa ficar longe de você e não estou disposta a lidar com isso.
Tento argumentar, dizer a ela que pare de dizer essas coisas bonitas para mim, mas não consigo, ela se inclina para mim, seu rosto tocando o meu, seu hálito me aquecendo, seus lábios encontrando os meus quando me beija. Tudo parece tão certo, ter ela na minha casa, sentir seu cheiro e perfume, ouvir sua respiração pesada enquanto prova meus lábios. Sinto uma calmaria estranha, uma tranquilidade até então desconhecida para mim, e mesmo com meus lábios sendo provados por ela não consigo me impedir de sorrir.
Jimin me beija com mais intensidade, sua língua separa meus lábios e ela volta a explorar a minha boca conforme minha respiração se acelera. Então sua boca viaja para o meu pescoço, onde ela começa a chupar e mordiscar. Sinto meu coração acelerar e sua boca está na minha outra vez. Minhas mãos correm pela barra de seu moletom e levanto-o, sentindo seu físico perfeito sob o leve tecido.
— Minjeong... — ela sussurra meu nome, é lindo, forte e sensual.
Sua mão mergulha em meus cabelos, mantendo-me no lugar; com a outra ela percorre meu corpo, descendo por minha coluna, chegando a minha cintura, fixando-se em meu quadril, e suspiro baixinho, adorando o jeito como ela me segurava, o jeito como ela me toca, o jeito como ela me conhece.
De repente, meu celular toca. Volto a realidade quando Jimin se afasta e procuro-o desajeitadamente em meu bolso.
— Olá, querida — diz minha mãe em tom animado.
— Posso ligar para você daqui a pouco?
— Claro. O que está acontecendo?
— Ah, nada demais, só estou estudando para uma matéria do cursinho.
Jimin sorri de forma travessa quando digo isso.
Desligo o celular e o jogo de lado ao mesmo tempo em que ela se inclina sobre mim, deitando-me sobre o sofá.
— O que está fazendo? — Pergunto, sorrindo.
— Estou aproveitando um tempo com você antes que tenha que voltar para os estudos. Sério, eu não fazia ideia de que tinha vindo aqui para te dar aulas particulares.
— Eu estava esperando o melhor momento para esclarecer isso. — brinco.
Ela dá uma risadinha e torna a beijar meus lábios.
— É, acho que vou precisar lidar com isso.
Eu me dissolvo em risadas quando ela desliza as mãos por baixo da minha camisa e começa a fazer cócegas nas minhas costelas.
— Jimin — digo, tentando segurar suas mãos —, posso saber o motivo disso?
Ela olha para o teto e depois me lança um olhar terno.
— Gosto de ouvir a sua risada.
Observo seus olhos, duas esferas castanhas, que estão extraordinariamente límpidas e emocionadas, mas não consigo decifrar suas emoções.
Ela se afasta, me tirando desse transe. Então olha para o seu relógio de pulso e se vira. Dá para perceber que sua mente está preocupada com outra coisa, e que ela está ficando agitada.
— Você precisa ir embora? — Pergunto.
Ela assente com a cabeça, resoluta.
— Preciso finalizar meu cronograma de aula para a próxima semana.
— Então vou parar de prender você aqui — Digo, levantando do sofá e a acompanhando até a porta. — Acho que agora eu entendo porque você estava aproveitando tão bem seus dias de folga.
Jimin sorri, entendendo a mão e puxando-me em sua direção. Ela põem os braços ao redor da minha cintura, e eu percebo que estou mesmo me acostumando com isso.
— Ser professor de cursinho em Seul é como entrar numa competição — ela responde. — E acredite, aqueles que não se destacam são descartados.
— Eu acho que você não precisa se preocupar com isso, Jimin.
— Minjeong, não precisa ser tão informal... Melhor me chamar de professora Yu mesmo — ela brinca, e eu reviro os olhos.
— Tchau, Jimin. Vejo você no cursinho na segunda-feira.
— Tchau, Minjeong.
Observo ela se afastar e montar na sua moto enquanto coloca o capacete, então me viro para entrar em casa.
— Ei, Minjeong! — Ela chama, e eu me viro. Espero por seu comentário, com uma expressão de curiosidade no rosto. — Gostaria de ter outro encontro muito estranho comigo um dia desses? Tipo, talvez quinta-feira a noite?
Ela nem precisava perguntar.
— Sabe de uma coisa? Acho que consigo encaixar você na minha agenda.
— Você conhece o ponto turístico em Cheonggyecheon?
Não. Eu não conheço. Mas vou procurar na internet assim que entrar em casa e descobrir onde fica.
— Vou descobrir.
— Legal. Vou te mandar mensagem combinando o melhor horário para a gente se encontrar.
— Vou contar os minutos. — Percebo minhas palavras e faço uma pausa, batendo a mão na lateral do corpo. Minhas bochechas coram e boto as mãos na cintura. — Quer dizer, é um... A gente se vê.
Ela ri e dá partida na moto.
— Beleza.
Jimin vai embora.
E eu estou oficialmente perdida.
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