09
Karina's pov:
Sinto-me perdida e cansada, embora consiga disfarçar isso na maior parte do tempo. Estou tentando encontrar uma maneira de tornar tudo mais fácil, mas é como tentar me mexer em areia movediça, quanto mais eu tento, mais me afundo. Olho para o lado e vejo meu celular. Tão silencioso que o ergo para me certificar de que está ligado. E está.
Faz quatro dias desde que nos encontramos no corredor da Suneung e percebemos que o nosso destino não estava em nossas mãos. Tentei entender o que estava acontecendo, busquei uma forma de lidar com aquilo da forma menos dolorosa possível, mas não consegui pensar em nada. Prometi a mim mesma que não entraria em contato, que manteria nosso relacionamento estritamente profissional. Mas os dias estão se passando e eu estou ficando tentada a quebrar minha promessa. O que eu sei que é errado. Tudo isso é errado.
Não há dúvida; professores não namoram alunos. A ética por trás disso é forte, algo que repassam sempre que possível para nós na faculdade. Nunca na minha vida eu cogitei estar numa situação dessas.
Mas isso foi antes de Kim Minjeong aparecer.
Agora minha mente está considerando coisas impensáveis. Minjeong me faz pensar em desobedecer às regras, em encontrar brechas, em segurá-la nos braços em corredores ocultos, e em beijá-la na minha sala.
Quando chego em casa depois de mais um dia de trabalho, encontro minha irmã trabalhando no escritório. Cumprimento ela antes de subir para o meu quarto e tomar um banho demorado. Agora estou sentada à janela, olhando para a varanda. O céu está escurecendo com a aproximação das nuvens. O cheiro do ar anuncia que uma chuva se aproxima.
Fico sentada ali por um bom tempo, o suficiente para testemunhar a primeira gota de chuva cair lá fora. Tempo suficiente para testemunhar um relâmpago cortando o céu noturno.
Por mais inusitado que pareça, climas assim sempre me recordam meu pai. Não por conta do ar melancólico, mas por que ele adorava correr, mesmo na chuva. Quando eu ainda morava em Icheon, ele sempre encontrava um tempo livre para me arrastar para suas aventuras. Sempre dizendo que estava escrito no "código dos pais e filhos" o dever de criar memórias juntos para toda uma vida.
Fico dividida, pois quero chorar por sentir sua falta e sorrir por lembrar do seu jeito divertido.
Não importa quanto tempo passe, eu sempre encontro uma forma de me lembrar de momentos da minha vida que nunca vão retornar. Dobro os joelhos contra o corpo e fico olhando fixamente para a varanda, permitindo que as lembranças me inundem.
— O que faz aqui sozinha? — Diz Yeoreum, entrando na sala com uma xícara de chá em mãos.
— Lembrando — murmuro, ainda olhando para a varanda.
Ela se aproxima, colocando a xícara sobre o parapeito antes de sentar ao meu lado.
— Estou bem... — Digo, ainda que não seja verdade. Não quero deixá-la preocupada, então tento me manter neutra, mas quando ela me olha e inclina a cabeça para o lado, estreitando os olhos, sei que sabe que estou mentindo.
— Não, você não está. — Minha irmã sussurra. Ela se aproxima, envolvendo os braços em minhas costas, puxando-me para um abraço. — O que acha de conversarmos um pouco?
Ergo o olhar para ela enquanto me afasto.
— Eu bem que gostaria de conversar sobre algo com você — murmuro, colocando uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. — Mas não tenho certeza se esse é um bom momento.
Ela sorri.
— Você está com saudades das minhas broncas? — provoca, pegando sua xícara. — Eu posso começar a brigar com você agora mesmo, pois não compareceu a mais uma reunião da diretoria.
Reviro os olhos.
— Você sabe que eu estava ocupada com meu emprego. Mas prometo que vou comparecer na próxima.
— Quantas vezes eu já ouvi isso, hein?
— Está bem — digo, dando-me por vencida. — Como estão os negócios da família?
— Não é sobre isso que vamos falar hoje. — Ela passa a mão por meus cabelos afastando-os do meu rosto e ajeita minha franja. — É sobre você e esse tal assunto do qual quer conversar.
Respiro fundo. Eu sabia que Yeoreum não aceitaria mudar de assunto assim tão rápido.
— Bom, você já sabe sobre o que é. — Vejo o exato momento em que seu olhar se torna mais sério. — Acredito que não vou conseguir ser apenas professora da Minjeong.
Suspiro ao me dar conta de que tenho pensado muito nisso. É claro que não vou conseguir ser apenas a professora dela. Não depois de todos os momentos que compartilhamos na última semana. Não há uma única parte de mim que queira simplesmente ser a professora dela.
— Eu já imaginava isso, Jimin — Minha irmã diz. Então acontece. Vejo a mudança em sua personalidade. Ela fica mais atenta. — Acho que esse é o momento em que opto pela razão e digo para você esquecer aquela garota — ela diz com suavidade, e a culpa inunda minha corrente sanguínea. — Você deve estar ciente dos riscos que vai correr se seguir por esse caminho. Das consequências que pode sofrer se algo assim vier ao conhecimento público.
Apoio meu rosto nas mãos, sentindo-me extremamente frustrada, mas Yeoreum toca meu ombro.
— Não estou dando bronca em você. Escute. Tudo isso é verdade, mas eu também não esperava que alguém como você fosse se envolver daquela forma com outra pessoa. É perceptível o quanto você parece diferente depois que a conheceu.
— Eu sei. Eu sei.
— Mas, tentando ser otimista, vamos supor que as coisas funcionem entre vocês — ela diz. — Ainda assim, vocês vão ter que lidar com todas as questões envolvendo a Suneung. Afinal, pelos próximos meses você ainda vai ser a professora dela.
— Acho que é isso que mais me assusta — digo a ela. — Minjeong já vem passando por tantas coisas. Não sei se ela vai estar disposta a lidar com mais essa situação no momento. Na verdade, nem sei se eu teria coragem de fazer isso com ela.
— Você não tem como saber disso. Tudo o que pode fazer é continuar acreditando. — Minha irmã diz e se levanta. — Ah, e você vai jantar comigo hoje. Mas não se preocupe, essa questão eu posso resolver.
Ela vai para a cozinha, e eu fico ali, olhando para a chuva enquanto tento organizar meus pensamentos conflitantes.
\[...]
Na tarde seguinte, chego antes do meu horário a Suneung. Deixo minha moto no estacionamento e entro no prédio. Depois de um jantar e mais conversa com minha irmã, decidi que o melhor é focar exclusivamente no trabalho, mas nós duas sabemos que estou apenas me enganando. É quase impossível focar em outra coisa que não seja a garota linda que senta na minha sala todos os dias.
E quando a vejo no corredor, isso se confirma. Mas ela não está sozinha, Yuna a acompanha.
Eu sei que isso não deveria me incomodar, mas incomoda. Percebi nos últimos dias que Yuna esta cada vez mais próxima dela. Sinto-me como uma adolescente boba enquanto folheio minha papelada, agindo como se estivesse ocupada quando não estou.
— Como está sua nova turma, Jimin? — Alguém pergunta, trazendo-me de volta a realidade.
Bae Joohyun é uma pedagoga de renome e diretora da Suneung há pelo menos quatro anos. Ela é bem bonita. Veste um blazer feito sob medida e calças de alfaiataria que lhe caem muito bem. Sapatos pretos e um cordão de cruz arrematam o visual impecável. Não fico surpresa com o fato de alguns alunos e funcionários se sentirem atraídos por ela.
Mas Joohyun não é esnobe e conversa atentamente com cada pessoa que transita por esse edifício. Lembro que ela foi uma das pessoas mais receptivas quando comecei a trabalhar aqui. Apesar de estarmos quase sempre ocupadas com o trabalho, sempre nos encontrávamos durante os intervalos e reuniões, então meio que acabamos nos aproximando.
— Estamos seguindo bem o esquema de aulas — respondo, entregando uma pasta a ela, que a abre, correndo os olhos de um lado para o outro.
— Nossa, você tem um cronograma apertado, levando em consideração alguns dos seus alunos.
Sorrio.
— Eu já sabia que alguns alunos estariam menos preparados do que os demais, foi exatamente por isso que aceitei a vaga para trabalhar aqui.
— Você realmente gosta de um desafio. — Joohyun revira os olhos, mas um sorriso é perceptível em seus lábios. — Devo preparar uma reunião com o grupo de professores na próxima semana. Acho incrível como, independente do ano, a responsabilidade continua a mesma. — Parece que ela está dizendo isso mais para si mesma, então prefiro não comentar.
— Ainda não consigo acreditar que você também fez um cursinho na Suneung.
— Ah, sabe como é. Quando a vida te dá uma oportunidade, você deve saber agarrá-la — ela sorri antes de devolver minha pasta. — Agora preciso ir, tenho trabalho me esperando na minha mesa.
Observo Joohyun sair apressada pelos corredores. Quando me viro para ir embora, vejo que Minjeong ainda está parada ali. Nossos olhos se encontram por um ou dois segundos. É só uma questão de instantes em que olhamos uma para a outra, mas posso ver todo o significado por trás desse gesto.
Eu pensava que a intensidade do que sentia diminuiria se não interagíssemos em um ambiente mais íntimo. Mas não. Meus sentimentos só crescem cada vez que a vejo entrar na minha sala de aula. E é por isso que não suporto a ideia de vê-la sofrer por minha causa.
Quando finalizo minha aula, peço a ela que fique na sala mais um minuto para que possamos conversar. Seus olhos parecem pesados; ela parece cansada.
— Você está sentindo alguma coisa? — Pergunto.
— Está tudo bem — Ela diz, guardando seus livros. É mentira. Ambas sabemos disso.
— Você está desanimada.
Ela abaixa a cabeça e assente devagar.
— É só que... estamos tão próximas, mas não podemos fazer nada.
Ao ouvir isso, um nó se forma na minha garganta. Toco sua mão com as pontas dos dedos e sinto um suspiro agitar seu corpo.
— Sinto muito, Minjeong.
— Não é culpa sua. — Seus olhos enchem-se de lágrimas. — Só estou tendo um dia ruim. Só isso.
Escuto o que ela diz, mas sei que sente falta de como as coisas eram antes de nos cruzarmos no corredor no início da semana. Por que eu também sinto. Mas antes que eu tenha a oportunidade de dizer alguma coisa, escuto uma batida na porta e me afasto dela.
— Desculpe atrapalhar... — Diz Han, entrando na sala. Vejo a surpresa em seus olhos ao ver Minjeong. — Ah... Oi, Minjeong! — Ele se aproxima da minha mesa. — Queria tirar algumas dúvidas com você professora Yu, mas posso voltar mais tarde se preferir.
— Não, está tudo bem, Han — diz Minjeong com um tom de voz suave. — Eu já estava mesmo de saída.
Por uma fração de segundo, eu penso em pedir para que ela fique e que continuemos a conversar, mas então percebo que esse não é o melhor lugar para isso. Desconfortável, mudo o peso de um pé para o outro e observo ela ir embora antes de voltar minha atenção para Han.
Discutimos algumas coisas sobre o cursinho antes que eu possa ir embora. Enquanto sigo pelo corredor até a saída, olho para o meu relógio de pulso e percebo que já passa das sete horas da noite. Pego meu celular, há dezenas de mensagens e a grande maioria é de Giselle exigindo que eu passe em sua casa já que faz dias que não nos vemos.
Vou até o estacionamento pegar minha moto e alguns minutos depois, estou em frente a sua casa. Sorrio ao ver o rosto amigável da minha amiga me esperando na varanda.
— Oi, Giselle — cumprimento, seguindo até ela, que está segurando dois copos do meu café preferido.
— Oi, Karina — ela retribui.
— Há quanto tempo você está aqui?
— Tempo suficiente para pensar que você não iria aparecer e eu seria obrigada a tomar esse dois copos e apagar logo em seguida.
— Ah, então meu pensamento sobre a procedência dessa bebida esta certo.
Ela ri e me entrega um copo.
— Se eu me lembro bem, você era a garota que curtia coca-cola com um pouco de uísque.
Quando estávamos no primeiro semestre da faculdade, sempre pedíamos copos grandes no Café local quando queríamos nos embebedar e não queríamos que ninguém soubesse que a filha perfeita dos Uchinaga sabia o que era uma bebida alcoólica. Claro que aquilo sempre era ideia da Aeri. Ela era ótima em me levar para suas aventuras.
Pego o copo e dou uma risada.
— Isso mesmo. — Tomo um gole e faço uma careta. — Caramba, Giselle!
— Eu talvez tenha pesado um pouco no uísque — ela explica.
— Acho que isso aqui está mais para uísque puro.
— Confissão: você está completamente certa. — Ela pousa a mão no meu ombro e aperta de leve. — Se tem alguém nessa cidade que merece tomar uísque puro, esse alguém é você. Como você está?
— Eu poderia estar melhor.
— Quer sair para curtir com sua melhor amiga aqui? Tenho uma reunião na livraria apenas amanhã a tarde, então posso fazer esse sacrifício por você — ela brinca. Bem, achei que estivesse brincando até ver a seriedade em seus olhos.
— Não, Giselle. Nós não vamos sair para curtir.
— Mas que tal a gente dar uma volta pelo bairro? Podemos tocar as campanhias das casas vizinhas. Seria como voltar no tempo. — Ela morde o lábio inferior. — E uma coisa única para o currículo de uma administradora e uma professora.
Dou uma risada, o que parece estranho. Mas Aeri tem essa capacidade de fazer a pessoa mais triste do mundo encontrar um segundo de riso.
— Acho que vou adiar um pouco essa aventura peculiar. E talvez tomar posse do copo em suas mãos.
— Ainda bem que eu estou completamente bem, e você não vai precisar fazer isso.
— Obrigada, Giselle. Por ser você mesma.
— É só o que eu sei ser — ela retruca, dando uma batida no meu ombro. — Agora, se você quiser ficar sentada aqui em silêncio, podemos fazer isso. E se quiser conversar, também podemos fazer isso. Podemos fazer o que você precisar.
— Eu simplesmente odeio toda essa situação... — confesso. — Sei que não deveria porque aprendi durante os anos de faculdade que não devo misturar o pessoal com o profissional, mas eu odeio. Eu odeio tanto tudo isso.
— Você não está sozinha no seu ódio, Jimin. Eu já passei por situações bem complicadas na minha vida. Entendo o sentimento de impotência quando não podemos viver a vida como desejamos.
Quando olho para minha amiga, vejo o sofrimento no seu olhar. Dou um sorriso triste e balanço a cabeça.
— Desculpe. — Eu sempre me esforço para manter minha batalha contra os meus problemas só para mim. Eu sempre tento manter um sorriso no rosto na frente dos outros, mas, às vezes, eu sofro um deslize.
Principalmente quando minha melhor amiga está disposta a me ouvir.
— Não precisa se desculpar. Você tem o direito de estar assim — diz Aeri com a voz mais gentil que nunca. Ela deve ter visto a relutância em meus olhos ao ouvir seu comentário, porque se apressa a acrescentar: — Escute, eu não quero me intrometer, mas quero que você saiba que não está sozinha. Se precisar conversar com alguém... ou simplesmente alguém com quem compartilhar sua raiva, eu estou aqui.
— Obrigada, Giselle.
— Sempre que precisar. Eu sei quanto essa estrada pode ser solitária e com todo o resto que ainda está acontecendo na sua vida... — Suas palavras morrem e ela sorri. — Só quero que você saiba que se precisar de uma amiga, estou aqui.
Aceito suas palavras e me apego a elas com toda força.
— Tudo bem. Eu estou bem.
Ela franze a testa.
— Você está cansada.
— Estou — sussurro, respirando mais devagar. — Estou exausta.
Ela me puxa para um abraço. Tão apertado que eu não conseguiria me soltar nem se quisesse.
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