05

Winter's pov:

Saímos do bar, e nossas mãos estão entrelaçadas enquanto ela me guia até o estacionamento. Só percebo que estou sentindo calor quando o ar frio de Seul entra em contato com minha pele. É revigorante. Adoraria que as últimas duas horas da minha vida pudessem ficar se repetindo eternamente.

— Você não quer mesmo esperar pela apresentação da noite? — Pergunto.

— Ai, meu Deus... não me diga que a música está mais interessante do que meu papo? — Levanto a cabeça e vejo Jimin olhando para mim. Como em um sonho, ela sorri, e eu paro de respirar. — Está vendo, é por isso que eu deveria ter trabalhado melhor no quesito impressionar.

De repente sinto minha face esquentar, e respiro fundo.

Ela coloca a mão livre no bolso. Dá para ver que a leve brisa em seu rosto provavelmente a faz se sentir bem depois de ter estado sob as luzes quentes no bar.

— Eu pensei... — Ela faz uma pausa e sorri. Imagino que esteja rindo de si mesma, pois eu não fiz nada engraçado. — Deixa pra lá. Foi só um devaneio.

— Duvido que isso seja verdade — Digo, sorrindo.

— Eu deveria ter seguido os conselhos da minha mãe — Ela dá uma risadinha, esfregando o queixo com a palma da mão. — Ela sempre disse que a melhor forma de impressionar alguém é mostrando suas habilidades na cozinha.

Me esqueço de piscar enquanto observo seus lábios formarem as palavras, e a curiosidade abala todo o meu ser.

— Acho que você vai ter que trabalhar melhor nesse quesito — falo, contendo um sorriso.

— Então, vou me empenhar nisso.

O silêncio volta enquanto caminhamos em direção a moto. Desvio o olhar e fico encarando o chão por um bom tempo. Quando ergo o olhar de novo, ela ainda está sorrindo, e vasculho meu cérebro em busca de algo para dizer, algo que não seja desinteressante aos olhos dela.

— Você também tinha razão sobre eu gostar desse bar — comento. — Ele é bem diferente do que eu tinha em mente. Isso ficou bem perceptível durante a apresentação das bandas, as pessoas pareciam se entregar a isso de corpo e alma.

— Bom, isso me deixa feliz — Jimin olha para o céu. Suas palavras, quase num sussurro, saem de sua boca. — Não trabalho com música, mas ela está presente em vários momentos da minha vida... Então, sim, é uma coisa que levo em bastante consideração antes de escolher um ambiente para frequentar.

— A maioria das pessoas acha estranho que eu consiga gostar de gêneros músicais tão diferentes ao mesmo tempo. Minha mãe é a única que realmente me entende, ninguém mais.

Ela não sorri com os lábios, mas seus olhos brilham de interesse.

— Como é a relação com sua mãe? — Jimin pergunta. — Digo, com base no que você me falou da última vez.

— Eu não poderia querer outra além dela — Isso é tudo que consigo dizer. Eu não sei o que mais posso dizer, e só de pensar em minha mãe, e em como minha vida era difícil antes de conhecer ela, já sinto a aproximação da onda de tristeza.

Com nossas mãos ainda unidas, ela dá um passo mais para perto.

— Meus pais morreram há cerca de dois anos.

Fico boquiaberta.

— Por que você não comentou nada enquanto conversávamos?

— Algumas coisas eu prefiro guardar para mim — ela sussurra. Sei bem como é isso. — Mas como você compartilhou algumas informações pessoais, queria fazer o mesmo. E sabe, as pessoas dizem que com o tempo vai ficar mais fácil, mas...

— Só fica mais difícil — completo, entendendo totalmente e me aproximando dela.

— E a história vai ficando velha para todo mundo ao seu redor. E por mais que algumas pessoas ainda queiram te ouvir, você sabe que elas jamais vão entender. — Ela faz uma pausa, olhando para mim com carinho. — Bom, mas eu sempre soube que não estava só. Sempre tive ao meu lado alguém que entendia perfeitamente pelo que eu estava passando.

Jimin sorri de forma singela.

— Quer ouvir algo que parece loucura? — Vejo seu olhar encher-se de melancolia. — Eu nem estava presente quando o acidente aconteceu. Na época eu já morava em Seul por conta da faculdade, então nem pude me despedir.

Suas palavras saem quase como um sussurro, e posso ver como isso ainda lhe causa dor. Isso me faz se sentir mal por vê-la nessa situação. Uma pessoa como ela não deveria passar por isso.

— E você aprende que não pode ficar revivendo isso para sempre. Então, você age como se não doesse mais. — Ela aperta minha mão na sua. — Mas a verdade é que as vezes ainda dói bastante.

E ali, enquanto escuto ela falar sobre sua perda, sinto que estamos absorvendo as informações em largos goles. Mas o modo como essas histórias se desenrolam, com suas piadas e anedotas paralelas, fazem-me perceber que estamos realmente nos conhecendo daquele modo intenso que ocorre quando as pessoas passam um bom tempo convivendo juntas, como em um sonho.

Até agora, tudo no encontro está sendo fácil. Estou gostando do senso de humor dela. E do fato de eu estar rindo perto dela com tanta facilidade após ter passado tantos meses sem rir. Estou gostando do fato de ela não ter se preocupado em manter aparências. Até gosto do fato de ela não ter elogiado o que estou vestindo, pois isso parece ser o esperado quando duas pessoas se encontram para sair. Até agora estou gostando de tudo na noite.

Sorrindo, coloco as mãos nos bolsos da calça e olho para o céu escuro. Tudo parece tão simples e igualmente tão único.

Ficamos em silêncio. Nunca achei que o silêncio pudesse ser tão aconchegante. Ela não consegue parar de sorrir, nem eu. Eles são intensos, sorrisos bobos, mas naturais.

Jimin se aproxima da sua motocicleta em passos largos e faz uma reverência.

— Pronta para fazer o caminho de volta?— brinca.

Ela é tão perfeita.

Minhas emoções passam a tomar conta das minhas ações. Estico os braços, seguro as mãos dela, e ela entrelaça seus dedos aos meus. Não estou compreendendo esta ligação que sinto entre nós duas. Tudo parece tão rápido, mas tão certo. Ela levanta minha mão direita e a aproxima da sua boca, então beija delicadamente minha palma enquanto olha diretamente para mim. De repente, passamos a ser as únicas pessoas no estacionamento; todos os ruídos externos desvanecem a distância.

Jimin desliza uma mecha de cabelo para trás da minha orelha. Fecho os olhos e inspiro, tentando acalmar o impulso que toma conta de mim, o impulso de querer beijá-la. Não sei como ela tem tanto autocontrole. Ela se afasta e desliza a mãos pelos meus braços. Abro os olhos e a encaro.

Ficamos trocando olhares por mais alguns segundos até Jimin sussurrar:

— Acabei de lembrar de uma coisa.

— o que? — Pergunto.

— Lembro de ter prometido fazer desta, uma noite inesquecível — Ela diz e morde o lábio inferior. Aproxima-se de mim e segura meu rosto com a mão. — Acho que já sei exatamente como tornar isso possível.

Quando ela diz isso, arqueio uma sobrancelha

Ela sorri da minha reação. Quando seu rosto fica mais perto do meu, respiro fundo, roçando meus lábios nos dela. A sensação é de que nossas bocas ficam uma eternidade a milímetros de distância, mas sei que são apenas alguns segundos.

Então nossos lábios se conectam de uma forma completamente única para mim. É preciso criar um novo adjetivo para esse tipo de beijo, porque nenhum dos que conheço podem ser aplicados a ele. Nenhuma garota nunca me beijou do jeito que ela me beija. Eu nunca soube que beijar poderia ser tão simples e tão complexo. Ela faz todo o trabalho, explorando meus lábios com os seus.

Jimin me abraça com mais força e minha mão mergulha em seus cabelos. Sinto sua língua separar meus lábios, encontrando minha língua pronta para se tornar bem íntima da dela enquanto tudo dentro de mim se torna parte dela.

Quando finalmente paramos, nossos lábios ainda ficam se tocando enquanto hesitamos em nos separar. Quando abro os olhos, encontro o seu olhar, e ela sorri para mim.

— Bom... — sussurro. — Acho que você conseguiu cumprir o prometido.

Se inclinando para a frente, sinto os lábios de Jimin em meu queixo antes dela sussurrar:

— Eu sempre cumpro minhas promessas.

Dou um passo para o lado. Olhando em seus olhos, pisco rapidamente, para não perder muito desse momento.

Ela me dá um meio sorriso, como se estivesse esperando que eu dissesse algo. Como não falo nada, coloca a mão no meu rosto, percorrendo a lateral da minha bochecha com o polegar.

Não imaginei que isso fosse possível. Não imaginei que uma pessoa pudesse entrar na minha vida de uma forma tão intensa e inesperada. E não posso deixar de me questionar: Será que vale a pena continuar por esse caminho?

— Isso tudo é novidade para mim — confesso, segurando sua mão. — Na verdade, nunca imaginei que pudesse vivenciar uma experiência como essa. Então não sei o que esperar de tudo isso.

Jimin entrelaça nossos dedos e estuda o meu rosto sem falar nada. O sorriso que ela abre devagar preenche o silêncio como um discurso perfeito. Seus olhos invadem minha alma antes dela dizer:

— Quero que saiba que isso não é um jogo, Minjeong. Muito menos estou aqui para usar você. Sou uma pessoa correta e costumo honrar a educação que recebi dos meus pais.

— Por que está me dizendo isso?

Ela aperta minha mão na sua.

— Porque sinto que você não merece ficar insegura por conta disso.

Algumas palavras. Algumas palavras de uma garota e simples toques me trazem uma sensação de vida que eu nunca havia experimentado antes. Meus olhos encontram ela sorrindo para mim.

— Você não sabe o quanto estou me sentindo bem nesse momento — sussurro, querendo poder beijá-la mais e mais.

Ela se afasta um pouco e me olha, sorrindo.

— Isso é maravilhoso, mas vou parar de prendê-la aqui e levá-la para casa.

Ela me entrega o capacete, mas, antes de eu prender a fivela, suas mãos se ocupam dessa função. Eu poderia até terminar me acostumando a isso, o que é uma sensação completamente nova para mim. Sempre fui tão fechada. Esse jeito dela traz à tona um lado meu totalmente desconhecido.

Quando saímos do estacionamento, ainda me sinto insegura com nada além de um assento estreito sob mim, mas ignoro esse sentimento e encosto a cabeça nas costas de Jimin, observando as ruas movimentadas de Seul passarem depressa por nós.

Ao chegarmos a rua da minha casa, eu imediatamente observo as luzes apagadas. Jimin vai com a moto até a entrada da garagem, desliga o motor e saltamos. Tiro o capacete e o coloco de lado quando ela se recosta na moto e puxa meu corpo contra o seu. Ela põem os braços ao redor da minha cintura, eu levanto os meus e coloco ao redor de seus ombros. Um arrepio percorre meu corpo inteiro enquanto a respiração dela aquece meu pescoço. Não dá para acreditar que nos conhecemos há apenas uma semana; parece que estamos juntas há anos.

— Olha só — brinco. — Conseguimos chegar em um bom horário. Então acredito que você não vai ter problemas com minha melhor amiga.

Ela ri e me puxa ainda mais para perto.

Se conheço Ningning, ela está acordada, trabalhando em algum projeto da faculdade, então fico aliviada quando seu beijo de despedida é apenas um beijinho bem rápido na bochecha. Jimin monta na moto e vai lentamente em direção a rua. Respiro fundo e sinto-me tentada a correr até ela e beijá-la de novo. Em vez disso, resisto à tentação e dou meia-volta para entrar em casa.

— Minjeong!

Eu me viro, e encontro uma garota linda sorrindo para mim.

— Estava esperando o melhor momento para dizer isso... — Jimin diz, olhando fixamente para mim. — Você está linda hoje.

Ela acena uma última vez e desaparece pela rua silenciosa.

E nesse momento percebo que talvez eu estivesse errada mais cedo quando pensei que gostava dela não ter me elogiado.

\[...]

Eu deveria estar preparada, mas não estou!

Ningning está sentada na minha cama aguardando eu contar com quem cheguei na noite passada. Ela já citou pelo menos uns cinco nomes e não passou nem perto do que estou prestes a dizer. Sinto-me como uma garotinha boba que nutre uma paixão platônica por um astro de filme e não como a mulher de vinte anos que eu deveria ser.

— Ningning, por favor, você deve ter algum trabalho da faculdade para fazer — digo vendo minha coragem desaparecer a cada segundo.

Faz apenas uma semana desde que a vi pela primeira vez, mas nossa rotina havia se estabelecido de uma forma única, às vezes, quando estou em casa, conversamos um pouco sobre nenhum assunto em especial, ela sempre me faz rir, corar e também faz o meu coração acelerar... Esse já tenho certeza, nunca mais baterá de maneira correta. Não na sua presença.

Sinto-me boba, leve, livre e, acima de tudo, sinto-me feliz.

Uma felicidade crua, simples e verdadeira.

— Trabalho da faculdade? E por que eu faria isso em pleno domingo de manhã? — Sua expressão me deixa nervosa. — Ah, meu Deus! — Ela coloca as mãos na boca. — Não vai me dizer que esta saindo com uma mulher comprometida?

— Credo, Ningning, que nojo! Claro que não!

Ela dá uma gargalhada e se joga em minha cama.

— Estou brincando, sua boba, eu sei que você não é dessas. Eu te internaria se fosse, agora fala, fala logo que tô perdendo a paciência.

E eu a coragem! É tudo tão insano, demais até mesmo para Ningning. Até ela sabe que Jimin é um pouco demais para nós. Tanto que até agora ela nem sequer cogitou a possibilidade de ser ela.

— Na verdade, eu não sei nem como te falar isso. — Levo a mão a nuca, me sentindo sem jeito.

— É um cara? Você está interessada por um cara... — Ela se levanta, encarando com um olhar atento.

— Não, eu não gosto de caras. Na verdade... Não é nada de mais, eu só... — Minha voz vai sumindo e coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha.

— Fala logo que você está caidinha pela gata que frequenta o café — ela termina a minha tortura da pior forma possível e tudo o que eu consigo fazer é ficar ainda mais vermelha.

— Na verdade não é nada de mais
— repito. — É só uma quedinha...

Começo a me arrepender no momento em que vejo a expressão na cara de Ningning. Depois de respirar fundo ela olha para mim e diz:

— Okay então, se é a gata estrangeira que você quer, então vamos trabalhar para isso acontecer.

— O... O quê? — Me surpreendo com sua resposta, eu esperava que ela me chamasse de maluca, que desse risada da minha cara ou que não me desse ouvidos, mas jamais imaginei que ela fosse comprar minha história e criar um plano. O que é totalmente errado da minha parte. Essa é Ning Yizhuo, a garota imprevisível.

— Se você quer que seu lance com aquela mulher dê certo, garota, você vai ter que trabalhar duro para conquistar, além de linda, ela tem jeito de mulher rica e eu não estou falando do tipo com quem costumo sair, mas daquelas nascidas em família de renome.

— Não exagera, Ningning. Se ela fosse tão rica, o que ela estaria fazendo no café? — Digo tentando não pensar no que ela é de verdade.

— Isso é um mistério, mas que ela é rica, ah, isso ela é. Ela cheira a mulher rica. — Ningning fica um tempo em silêncio, imersa em seus pensamentos. — Vamos ter que criar um plano bem legal. Algo que a deixe sem ar e não resista a sua beleza.

Ela se levanta e começa a andar no meio do meu quarto de um lado para o outro falando sozinha, e tenho certeza de que isso não vai terminar bem.

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