04

Winter's pov:

Uma nova rotina se estabelece em minha vida desde que nos encontramos pela segunda vez. Depois de passar algum tempo ao seu lado percebo que, embora Jimin seja ainda mais bonita do que eu imaginava, também é uma mulher encantadora. Tenho me sentido mais livre comigo mesma no pouco tempo que passo ao seu lado do que nos últimos meses da minha vida.

E isso é ruim... Na verdade isso é péssimo!

Na manhã de sexta-feira ela volta a aparecer, sempre acompanhado da sua amiga: Aeri. Ao me ver ela sorri expondo a covinha em seu rosto e pisca para mim.

Elas ainda se destacam entre os clientes do café, mas com o passar do tempo o que era novidade passa a se tornar algo comum, normal e já não tem mais o efeito devastador que teve nos primeiros dias.

Mentira. Claro... Na verdade era isso o que eu queria que tivesse acontecido.

Queria que meu coração não acelerasse a cada sorriso de despedida que ela me lança, queria que a sua voz não tivesse o poder de mexer com meus pensamentos e queria que Ningning não tivesse percebido o efeito que aquela mulher tem sobre mim.

Mas, infelizmente, as coisas nem sempre são fáceis. Ao contrário do que eu desejava, me sinto cada dia mais boba na sua presença, sempre me perco nos seus olhos castanhos, minha rosto está sempre quente pela timidez, e eu já decorei cada movimento do seu corpo. O jeito que ela passa a mão pelos cabelos enquanto fala algo engraçado é a coisa mais atraente que já vi na vida, e a maneira com que ela enruga a testa toda vez que algo importante é dito a deixa com um charme todo especial.

Embora tenhamos passado um bom tempo juntas na livraria e trocado várias mensagens no decorrer da semana, eu ainda não sei onde mora, onde trabalha ou por que vem neste café praticamente todos os dias da semana, na verdade eu não sei de quase nada, mas uma coisa eu tenho certeza: eu estou completamente interessada em descobrir mais sobre ela.

Ainda são dez horas da manhã, mas nesse momento enquanto Jimin se dirige para o caixa, eu me preparo para me despedir dela. Antes de sair, ela me dá seu já habitual sorriso com direito a covinha e pisca com seus olhos sobrenaturais antes de ir embora.

— Será que eu posso saber o que está acontecendo aqui? — Ningning me pergunta de um jeito divertido, mesmo que no fundo já saiba a resposta.

— Nada, Ningning — respondo sem olhar para ela. As vezes odeio o fato de que minha amiga me conhece tão bem, porque não tem como esconder nada dessa garota.

— Nada? E essa carinha boba significa o quê? — Ela se inclina no balcão e começo a contar o dinheiro pela segunda vez.

— Significa que eu estou cansada e não vejo a hora de ir para casa.

— Você está interessada naquela mulher? — Ningning pergunta parada na minha frente como se fosse a minha mãe.

— Claro que não — respondo sem olhar para ela.

— Ah, não? Então me explica por que você sempre fica vermelha na presença dela, e prende a respiração toda vez que ela se aproxima?

— Não sei do que você está falando, Ningning — respondo ainda evitando seus olhos.

— Ah, não sabe? — Ela cruza os braços no peito. — Justo você, a garota que diz que gosto de brincar com fogo? Minjeong, você está seguindo por um caminho completamente surpreendente. Eu te conheço e sei o que estou falando.

Finalmente paro o que estou fazendo e olho para ela.

— Fica tranquila, Ningning, eu não me envolveria com ela, mesmo que quisesse. Somos diferentes demais para isso — assim que admito isso em voz alta sinto uma tristeza sem sentido me invadir. Eu sou uma garota muito realista e, ao contrário de Ningning, não estou em busca de aventuras de uma noite só, mas a ideia de não poder me envolver com ela me deixa deprimida de uma forma que não compreendo.

— Ai, meu Deus! — Ela põe as mãos no rosto dramaticamente, e reviro os olhos irritada com esse assunto. — Eu já sei onde isso vai terminar.

— Ah, por favor! — Digo ignorando sua brincadeirinha, assim como ignoro meu coração que aumenta a frequência cardíaca desde que Jimin entrou em minha vida.

\[...]

Por volta das 20hrs, paro em frente ao espelho e fico olhando para o meu reflexo. Como Jimin falou que vamos a um lugar casual, optei por um sueter largo, jeans e tênis. Respiro fundo, como se para confirmar que estou mesmo fazendo isso.

Ningning ligou mais cedo, avisando que ia estender a noite com alguns amigos da faculdade e agradeci silenciosamente por isso. Ela já passou a manhã inteira me atacando com suas brincadeiras e insinuações, não preciso que comece com um interrogatório quando Jimin aparecer na entrada de casa.

Como se esperasse uma deixa, sinto meu celular vibrar no bolso da calça e levo alguns instantes para conferir a mensagem dela avisando que acabou de chegar.

Olho uma última vez para o espelho, dizendo a mim mesma que vai correr tudo bem nessa noite, então vou para a sala de estar e olho pela janela. Para minha total surpresa, Jimin está recostada em uma Hyosung Bobber. Sem conseguir evitar, fico observando-a, mesmo de longe. Ela está usando uma jaqueta marrom, jeans escuros e enquanto se recosta na moto cruza os braços de forma muito atraente. De tempos em tempos ela passa a mão em seus cabelos colocando-os no lugar, embora os fios castanhos não sejam rebeldes e permaneçam perfeitamente alinhados.

Confesso que acho isso lindo.

Quando finalmente saio de casa, ela olha para a frente e percebe minha presença, abrindo um sorriso gentil.

— Uau. Bela moto — afirmo quando me aproximo. O que não é uma mentira, mas tampouco apaga a sensação de que estou diante de uma máquina mortífera reluzente. Eu jamais andei de motocicleta. Não tenho certeza se estou pronta para experimentar hoje. — Adoro a sensação do vento no meu rosto — prossigo, esperando que minha pretensa coragem mascarasse o terror de me deslocar em velocidades superiores a 90 quilômetros por hora sem algo me protegendo da estrada.

Há um capacete reserva, e Jimin me oferece. Aceito.

Seus olhos encontram os meus e então ela sorri para mim, um sorriso discreto, contido, de agradecimento, mas é o sorriso mais lindo do mundo, ela tem dentes perfeitos, lábios cheios e rosados e uma pintinha no queixo que faz com que todo o ar do ambiente desapareça... E eu sei neste momento que esses detalhes nunca mais sairão da minha cabeça.

Ela coloca o seu capacete, monta na motocicleta e faz um sinal com a cabeça, na direção do assento do carona.

— Pode subir.

Passo a perna sobre a moto e percebo como me sinto insegura com nada além de um assento estreito sob mim. Enfio o capacete sobre a cabeça e o prendo sob o queixo.

— É difícil de dirigir? — Pergunto. O que eu quero dizer na verdade é: isso é seguro?

— Não — diz Jimin, respondendo à pergunta formulada e à imaginada. Ela ri suavemente. — Você está tensa. Relaxe.

— Onde fica o 19th? — Pergunto, realmente interessada, já que ela não me deu nenhuma informação complementar sobre isso.

— É surpresa — diz, trocando um rápido olhar comigo. — Descobri muito sobre você nos últimos dias, então, está noite quero mostrar a você um pouco do meu mundo.

— Bom, estou intrigada — digo. E estou mesmo.

Quando ela começa a se afastar da vaga, a explosão de movimento me assusta. Estava segurando de leve a jaqueta dela, apenas o suficiente para manter o equilíbrio. Agora eu a envolvo com os braços em uma espécie de abraço de urso pelas costas. Jimin acelera para pegar a estrada. Minhas coxas a apertam. Espero ser a única a perceber.

Quando chegamos ao nosso destino, eu imediatamente observo a fachada do moderno bar em Gangnam. Jimin vai com a moto até o estacionamento, desliga o motor e salta. Tiro o capacete e o entrego cuidadosamente a ela. Abro a boca para comentar algo sobre o percurso, mas fico surpresa quando os dedos dela se encontram com os meus no meio da escuridão. Ela segura minha mão e me leva em direção à entrada.

— Isso está bom pra você? — Pergunta.

Levanto meus olhos para o rosto dela e depois analiso os arredores, observando o lugar pela primeira vez. Jimin com certeza estava sendo modesta quando me convidou. O 19th é um... bar? E isso é o mínimo que consigo dizer sobre esse lugar sofisticado.

— Você está se exibindo, não é?

Ela me presenteia com uma risada, um som maravilhoso.

— Com certeza estou.

Depois que passamos pelo segurança, seguimos em direção a área interna com vista para o palco e para o público geral logo a frente. Sem nenhuma surpresa, o lado de dentro é tão sofisticado quanto a fachada. As paredes dividem espaço com janelas que vão do chão ao teto, dando uma visão privilegiada para as pessoas sentadas nas mesas dispostas no piso superior. A decoração é composta por arte moderna e a iluminação é baixa, o que dá um ar aconchegante ao ambiente.

— Alguém vai se apresentar? — Pergunto, olhando para os instrumentos posicionados sob o palco próximo ao bar.

— Hoje sim. Este é um evento que acontece ao menos duas vezes por mês — Jimin responde, nos levando a uma área VIP, isolada, perto do palco. — A visão daqui é melhor.

Será que isso está mesmo acontecendo? Essa mulher que é linda e me faz sorrir está mesmo aqui agora? Acho que estou precisando de um beliscão.

Ou não... Vai ver é melhor não acordar.

— O que eles vão tocar? — Pergunto, observando o fluxo de pessoas aumentar e preencher as mesas restantes.

— Bom, depende muito do estilo da banda. — Jimin diz, enquanto nos acomodamos nas cadeiras. Como a mesa fica de frente para o palco, me sento no meio para ficar com a melhor vista. Ela senta do meu lado. — Mas cada pessoa que se apresenta aqui tem alguma espécie de conexão única com a música.

Percebo que tem conhecimento sobre o esquema de apresentações pela forma que fala sobre o assunto.

— Você parece vir bastante aqui, não?

— Sempre que tenho tempo livre. Gosto do ambiente que esse bar proporciona. — Ela recosta na cadeira acolchoada, acomodando-se confortavelmente. Suas palavras, quase num sussurro, saem de sua boca. — Falando nisso... É sua primeira vez em um lugar como esse?

Eu gostaria de poder impressioná-la por algum motivo. Deslizando minha mão sob a palma da outra, sorrio. Queria poder afastar de sua mente todas as suspeitas de que ela está diante de uma garota sentada em um bar que não teve muitas oportunidades de ser livre na vida.

Pigarreando, me preparo para passar vergonha.

— Na verdade, é sim — falo, de repente decepcionada com o fato. — Já estive em ambientes semelhantes, só que... Não é todo dia que tenho a oportunidade de vir a um lugar como esse. Meu círculo de amigos era bem impressionante, mas não me rendia muitas experiências marcantes.

Ela passa as mãos pelo cabelo e se inclina para a frente.

— Então vou garantir que essa noite seja inesquecível. — brinca. Eu estou meio que considerando isso também. Os lábios de Jimin se separam, e juro ter suspirado apenas com essa visão. — Então me diga, Minjeong. O que você faz da vida?

— O que eu faço ou o que quero fazer? Acho que são duas coisas diferentes.
Atualmente sou uma estudante de cursinho na esperança de um dia entrar para uma faculdade de renome.

— Não! Sério? — Ela parece realmente interessada.

— Sim, sério. Tive alguns problemas e precisei adiar o meu sonho universitário por um ano.

Ela assente com a cabeça. A forma como o seu sorriso se expande me faz pensar que ela está realmente encantada pelo que eu tenho a compartilhar.

— Bem, então faça isso. Vire uma universitária.

É a minha vez de sorrir.

— Claro. Porque é fácil assim passar no exame nacional.

Ela balança a cabeça para trás e para a frente. De repente fica séria, com um olhar triste.

— Eu não disse que seria fácil. Só disse para ir em frente. Eu tenho experiência com esses cursinhos, então sei como a grade de estudo é intensa. Mas também sei que com esforço e dedicação você é capaz de fazer cada minuto valer a pena e assim ser capaz de trilhar o caminho acadêmico que deseja. Além do mais, as melhores coisas da vida não são fáceis.

— Sim, é só que... — Minha voz some, mas Jimin ainda parece engajada na conversa, sem demonstrar tédio pelos meus pensamentos. — As vezes eu ainda sinto que perdi um tempo precioso.

— Mesmo? — Ela questiona.

— Mesmo. Em um país onde a situação e a renda que uma pessoa tem aos 60 anos geralmente são determinadas pela faculdade que ela tenha feito aos 18, fica difícil evitar certos pensamentos quando você tem 20 anos e ainda não ingressou em uma.

Jimin balança a cabeça.

— Você está errada, Minjeong. Não existe um tempo certo para nada nessa vida, tudo é uma questão de saber agarrar as oportunidades. Talvez o segredo seja você parar de pensar tanto no que nossa sociedade dita como certo e apenas seguir seu próprio caminho.

— Talvez você tenha razão.

Ficamos em silêncio por alguns instantes enquanto observamos a movimentação à nossa volta. Como em sincronia, sua mão encontra a minha sob a mesa. Mas nossos dedos não se entrelaçam desta vez. Em vez disso, as pontas de seus dedos começam a percorrer a lateral do meu pulso, seguindo as linhas e curvas da minha mão. Sinto como se as pontas de seus dedos fossem pulsações elétricas na minha pele.

— Minjeong — ela diz baixinho, enquanto contorna meu pulso, indo até os dedos com um movimento fluido. — Não sei o que você tem... mas gosto de você. — Os dedos dela deslizam entre os meus, então ela segura minha mão, voltando a atenção para o palco.

Eu inspiro e olho para nossas mãos unidas. Gosto muito da facilidade desta transição, é como se estivéssemos acostumadas a ficar de mãos dadas há anos.

— Você sabe do que mais gostei em você? — Pergunto, me ajeitando na cadeira. Ela me faz sentir como se não houvesse nada mais importante no mundo do que o agora.

— O quê?

— Tudo. — Quando digo isso, o rosto dela se ilumina, me presenteando com a mais encantadora das visões. Fico olhando para ela fixamente. Ela deve estar me achando meio esquisita, mas não sei mais o que fazer. Mantenho o olhar nela, incapaz de desviar.

Jimin sorri e se vira para ver a banda que acaba de subir ao palco.

Eu me recosto um pouco mais na cadeira e decido que, pelo resto da noite, vou ser uma pessoa livre de questionamentos. Viro na direção do palco para assistir à apresentação da banda, já me apaixonando por sua vibração.

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