𝕻𝖗𝖔𝖑𝖔𝖌𝖔

- HATHAWAY -

Fogo

Era a única palavra que rondava minha mente, eu a via escrita em letras garrafais atrás de minhas pálpebras enquanto todo o meu corpo ardia.
Podem ter sido alguns minutos talvez, mas pra mim foram como horas, horas naquele sofrimento eterno aonde eu só me sentia queimar.

Poucos eram os momentos em que eu estava consciente, e eles eram terríveis, eu só queria ser puxada para a escuridão novamente.

Até que tudo parou.

Senti um leve formigamento tomar conta de meu corpo, fora isso, eu conseguia ouvir tudo. Os grilos, os sapos, o barulho dos carros, uma criança chorando, e um cheiro de alfazema tomava conta de meu olfato.

- A transformação terminou, como se sente? - Uma voz macia e grave falou ao meu lado, virei o rosto e enxerguei o homem mais bonito da face da terra.

- Quem é você? - Perguntei enquanto me sentava, eu me sentia... Bem... Revigorada. Mas de que transformação ele estava falando?

- Não importa quem sou eu. - Ele se levantou de sua cadeira e andou com uma graça e leveza que me fez questionar se aquele cara era realmente humano, foi quando me dei conta de onde eu estava, era um quarto bem luxuoso, chão de mármore e móveis que pareciam ser do século XIX, o quarto de um aristocrata. E eu estava na cama dele.

O homem bonito que eu não sei o nome se aproximou de mim e olhou diretamente dentro de meus olhos, não desviei o olhar em nenhum segundo.

- Me parece que seu corpo não rejeitou a transformação, que bom. - Ele estalou os dedos perto de meus dois ouvidos, me encolhi com o som absurdamente alto. - Bons reflexos.

- De onde está vindo esse cheiro de alfazema? - O homem olhou pra mim e deu de ombros.

- Dizem que é meu cheiro natural, só outros como nós podem sentir. Você reagiu bem.

- Você pode me explicar o que está acontecendo? - Fiquei de pé e senti o mundo girar, antes que eu pudesse mover um músculo o homem já tinha atravessado o quarto e me colocado sentada de novo.

- Você quase morreu, eu te transformei, você está viva. Esse é o resumo. - Olhei para minhas mãos, elas estavam mais claras, eu não tinha esse tom de pele antes com certeza, e nem esse... Brilho... Olhei para o homem e percebi que ele tinha o mesmo brilho que vi em mim mesma.

- Você me transformou no que? - Perguntei temendo a resposta, não era possível, era?

- Você agora é uma vampira, querida. Mas antes que comece o discurso de "você me transformou contra a minha vontade!" e blá blá blá. Vou logo avisando que, se você não se alimentar nas próximas duas horas seu corpo não completa a transformação e você morre. Escolha logo o que você quer, lembrando que estaria morta de qualquer jeito se eu não tivesse lhe transformado.

- Eu não posso nem saber seu nome?

- Essa é a menor coisa que você tem que se preocupar agora. - Ele voltou a se sentar na cadeira perto da cama aonde eu estava e cruzou os braços.

Eu era uma vampira

Ele também se levarmos em conta a lógica.

- Eu vou precisar matar pessoas? - Ele bufou, vampiros podem bufar?

- Só a escória da sociedade vampirica mata pessoas, humanos matam humanos também não é? Você não precisa matar ninguém se não quiser.

- Se eu escolher viver, o que eu faço?

- Não se preocupe, eu vou te ensinar. - Ele se levantou e foi até um frigobar que estava no canto do quarto. - Eu tenho O- e AB+, eu sinceramente prefiro O-, ele é mais salgado, eu deixo o outro aqui por causa do meu irmão. Qual você quer?

- Você tem sangue estocado? - Perguntei, talvez, alto demais.

- Eu não mato pessoas. - Ele disse simplesmente. - Escolha, um dos dois, ou a morte.

Eu senti o cheiro no momento em que ele abriu a porta do frigobar, então eu senti aquela queimação de novo, em minha garganta.

- O que você gosta, me dê o que você gosta, está queimando, por favor! - Eu praticamente implorei, ainda estava decidindo se queria viver realmente, mas quando senti o cheiro de sangue eu tomei minha decisão. Minha fome era mais importante.

- Você vai aprender a controlar a queimação, depois de um tempo não será mais que um incômodo. - Ele se sentou ao meu lado na cama e me estendeu uma bolsa de sangue, senti algo pontiagudo em meus lábios e cheguei assustada a conclusão de que aquilo eram minhas presas.

Peguei a bolsa de sangue e levei o pacote até a boca, mas antes que pudesse rasgar e beber o vampiro tomou ele da minha mão.

- Não é pra fazer sujeira no meu quarto. - Ele se afastou com a bolsa de sangue e eu me levantei e pulei nele, eu não estava me importando com nada além de colocar minha boca naquela bolsa.

O vampiro segurou meus braços a uma velocidade impressionante, me jogou no chão e subiu em cima de mim, me empurrando contra o chão até que eu parasse de me debater.

- Me dá! - Eu rosnei, senti minhas presas perfurarem minha boca.

- Você não é um animal garota, tem um cano por onde você pode sugar o sangue, beba por ele, não rasgue a bolsa como ia fazer, vai sujar o quarto. Auto controle.

Ficamos no chão por alguns minutos, até que eu me acalmei, mesmo que aquela ardência estivesse me matando. Quando ele viu que eu já estava mais consciente e menos instintiva ele me soltou e me entregou a bolsa de sangue.

- Beba. - Coloquei a boca no cano que ele havia falado e suguei o líquido em segundos, como ele havia dito, era salgado, e era bom, muito bom.

- Mais!. - Joguei a bolsa vazia no chão. Ele sorriu e foi até o frigobar de novo.

- Vou te dar outro tipo, me diga qual prefere. - Ele pegou outra bolsa e jogou pra mim, eu a peguei no ar e já coloquei o cano em minha boca, senti um gosto doce, como se fosse divino, tão rápido quanto veio ele foi embora, eu já havia engolido tudo.

E a queimação passou.

- Esse é mais doce, não tenho um preferido, gostei dos dois.

O tal homem sentou ao meu lado de novo e voltou a me encarar.

- Do que se lembra? - Puxei na memória tudo o que havia acontecido comigo, mas a maior parte dela só se lembrava do sofrimento que parecia ter sido a transformação.

- Eu estava indo pra faculdade, e então... Tudo começou a queimar... E eu acordei aqui. - Ele assentiu.

- Você foi atropelada, pensei em leva-la para o hospital mas uma de suas costelas havia perfurado seu pulmão direito, então eu a trouxe pra cá e a transformei.

- E você sai transformando pessoas assim? - Ele me olhou com uma cara de poucos amigos que me fez me arrepender do que eu perguntei.

- Você é a primeira que eu transformo em cinquenta anos.

Decidi mudar de assunto.

- Qual o seu nome? Não acha meio injusto eu não saber? - Ele deu um meio sorriso.

- Eu também não sei o seu. - Abri a boca em surpresa.

- Desculpe, meu nome é Victória. - Ele continuou me encarando com aquele meio sorriso.

- Você ainda que esse nome? Depois de transformada você é outra pessoa, pode mudar se quiser. - Pensei um pouco no que ele havia dito, realmente, era algo a se levar em conta.

- Tori. - Falei depois de pensar um pouco. - Meu nome agora é Tori.

O vampiro me estendeu sua mão, eu a apertei.

- Como me deu a honra de saber seu nome humano eu deixarei que saiba o meu também. Nasci como Kim Taehyung, agora sou conhecido como Vante, é meu nome vampírico.

- Alguém lhe chama de Taehyung? - Soltei sua mão e olhei dentro de sua íris vermelha.

- Só meu irmão, que está comigo desde que eu era humano. Mas não me chame assim, meu nome pra você é Vante, assim como o seu pra mim a partir de agora é Tori.

Eu assenti e Vante se levantou.

- Você ficará um tempo aqui comigo, pra se acostumar com seu novo corpo, seus olhos agora são vermelhos, você é mais forte, não tem marcas no corpo a não ser a da transformação, mordi você no ombro direito, quase não dá pra ver. E nós podemos sair no sol, só somos mais fracos quando estamos expostos.

- Eu posso... Comer?

- Comida normal? De humanos? - Eu balancei a cabeça afirmando.

- Pode, tem o mesmo gosto, mas você só fica saciada com sangue. Uma boa alimentação te deixa acesa por uma semana, quando sentir a queimação é sinal de que seu corpo precisa de sangue urgente, o indicado é que você beba o suficiente para não sentir de novo.

- Se eu vou ficar aqui com você "um tempo", depois desse tempo eu vou pra onde?

- As férias vão acabar e todos estarão voltando para a Academia Luminus, você vai pra lá estudar.

- Mas, e minha faculdade? - Falei indignada, eu tinha minha rotina.

- Você morreu pra esse mundo Tori. - Vante foi até o frigobar e se serviu de sangue. - Agora terá que se acostumar com sua nova realidade, você precisa passar pelo ensino básico, depois decide o que fazer com sua longa vida. Você é imortal, vai viver o quanto desejar.

Ele ficou lá, escorado no frigobar enquanto eu tentava absorver toda a informação que me foi passada, até que algo que eu não tinha prestado atenção veio em minha mente.

- Você disse que tem um irmão... - Antes que eu pudesse terminar de falar a porta abriu.

- Você demorou. - Vante disse para o vampiro que entrou no quarto.

- Foi mal Tae, a enfermeira não estava colaborando. - Ele colocou uma sacola em cima do frigobar e se virou pra mim. O vampiro era mais baixo que Vante, mas tão belo quanto. - Sim Tori, ele tem um irmão. - Me assustei ao ouvir ele falar o nome que eu havia escolhido a alguns minutos, será que Vante falou pra ele e eu não ouvi?. - Meu nome de nascimento é Park Jimin, mas permaneci só com o Park depois de transformado, pode me chamar assim.

- Chim? Pra que você trouxe B-? Era O ou AB.

- A enfermeira só tinha B, você não viu?

- Eu estava ocupado tentando fazer ela não rasgar a bolsa de sangue com os dentes.

- Verdade, me lembro dessa parte.

O que? Eu com certeza estava ficando maluca.

- Os vampiros dormem? - Perguntei, fazendo os dois pararem de conversar.

- É relativo - Park respondeu. - Nós não precisamos dormir, mas se quisermos, podemos apagar por um tempo.

- Tem tanto tempo que eu não apago. - Vante comentou.

Olhei para onde eu estava sentada.

- Se vocês não dormem, então pra que a cama? - Os dois vampiros se olharam, foi Vante que me respondeu.

- Não se usa a cama só pra dormir.

Aahh, okay, eu não era nenhuma puritana pra não saber do que ele estava falando.

- Como faz pra apagar? Eu quero dormir. - Desconversei, eu precisava me desligar disso tudo.

- Deitei e feche os olhos, depois é só mandar o comando pra o seu cérebro, ele vai lhe obedecer. Nós lhe acordamos se precisar. - Acenei a cabeça agradecendo o Park e fiz como ele disse.

E exatamente como ele disse que aconteceria, eu apaguei.

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