𝕮𝖆𝖕𝖎𝖙𝖚𝖑𝖔 31

- HATHAWAY -

Tentei não pensar no corpo de Yuna jogado no chão com Jin gritando ao seu lado ou no fato de que Yeonjun era apenas um demônio disforme em sua total essência. A cidade finalmente poderia voltar ao normal, mas como em todo o conflito, nós saímos com sequelas.

Cheguei perto de Jungkook no meio de todo o caos e lhe dei um abraço apertado, aquele tipo de abraço que garantia que tudo iria ficar bem, ele envolveu seus braços ao redor de minha cintura e espalmou uma de suas mãos em minhas costas, me passando um conforto tão grande que me deu vontade de chorar na hora.

Toda aquela situação estava me dando vontade de chorar.

Jungkook me soltou e segurou meu rosto entre suas mãos, tocando nossas testas enquanto seus lindos olhos, agora vermelhos, me encaravam com ternura.

- Acabou, meu amor. Toda a tensão, todo o perigo, o medo de descobrir quem será o próximo, tudo acabou. ­- Coloquei minhas mãos em cima das dele.

- Eu sei, mas... - Desviei o olhar, mas sem fugir do seu toque. - Eu ainda não estou bem.

- Nenhum de nós está, mas pelo menos esse conflito chegou ao fim. - JK soltou meu rosto e me abraçou de novo.

Park e Vante estavam um de frente para o outro conversando, soltei Jungkook e fui pra perto deles, os dois ainda estavam com as asas grandonas e as escamas na pele.

- Vocês vão me explicar o que aconteceu? - Então apontei para seus corpos enquanto Jungkook parava ao meu lado, olhando para os dois irmãos também.

- É uma habilidade que você adquire após algumas centenas de anos, a minha despertou primeiro, a de Jimin despertou hoje. - Vante olhou para o irmão como se estivesse orgulhoso dele, e ele com certeza estava.

- Pensei que, quando eu conseguisse me transformar, minhas asas seriam negras como as de Taehyung. Nunca imaginei que eu viraria uma espécie de passarinho branco.

- O branco cai bem em você, Park. - Jimin olhou para Jungkook e seus olhos se acenderam.

- Olha meu pupilo aí, desculpa por ter fugido de você, mas eu precisava entrar naquela batalha. Vamos dar uma volta, JK. - Park passou o braço por detrás dos ombros de Jungkook e saiu com ele, então eu fiquei sozinha com Vante.

- O que aflige você? - Vante olhou pra mim e depois desviou o olhar pra frente, me incitando a caminhar com ele.

- Eu sinto que não estou preparada pra viver nesse mundo como uma vampira, são tantos conflitos, tantas... Dores. - Pouco a pouco o corpo de Vante foi voltando ao normal, sem as asas e o cabelão.

- É o preço que a gente paga, querida. Tem que começar a se acostumar, é quem você é agora. Já te contei parte do que Jimin e eu tivemos que passar depois que nos transformamos, pelo menos você está aqui, está sendo educada e, agora, não corre mais perigo.

Pensei em todas as histórias que ele e Park nos contaram, o tempo com os vampiros servindo de alimentadores, a fuga, a transformação dolorosa, a guerra contra humanos e fadas, as torturas.

Sou extremamente sortuda por ser criação do Vante e, por mais que ele seja ranzinza e cabeça dura, ele já demonstrou de diversas maneiras sutis que se importa e muito comigo.

- Obrigada, Vante. - Ele parou de andar e olhou pra mim, parei de andar também.

- Obrigada pelo que? - Dei dois passos pra frente e o surpreendi com um abraço, Vante ficou um pouco desconfortável, mas depois enrolou seus braços ao meu redor.

- Por ter se esforçado tanto pra me dar uma transformação e uma adaptação tranquila, tenho orgulho de dizer que você é meu criador.

Depois de mais alguns segundos de abraço, Vante me soltou e me olhou com aquele meio sorriso dele de sempre, o vampiro parecia mais leve. Fiquei feliz por ter sido o motivo disto.

- Ser uma vampira não é a única coisa que está te deixando assim. Pode colocar pra fora, sei que não sou a melhor pessoa pra dizer pra você se expressar melhor, mas posso tentar ajudar se falar pra mim o que está acontecendo. - Eu sorri por alguns segundos por causa de suas palavras, mas logo depois minha fisionomia abatida voltou.

- Não consigo imaginar as aulas voltando e não ter mais o Yeonjun pelos corredores.

Vante balançou a cabeça, finalmente entendendo.

- Eu gostava bastante do demônio, apesar das palhaçadas dele fora de hora. Me perdoa Tori, mas Izzie já veio atrás de mim pra tentar trazer Jaemin de volta, eu realmente não sei o que fazer. - Ele colocou uma mão em meu ombro, tentando me confortar.

Eu já sabia que ele não poderia fazer nada por mim, ninguém sabia o que fazer, apenas ficamos tristes pela ausência de Yeonjun.

Chamei ele pra perto de mim e de Vante e fiquei olhando seu espectro sem forma, eu podia comandar Junnie a fazer o que eu quisesse, menos fazer ele voltar a ser ele mesmo.

- Vante, precisamos reunir o conselho pra saber como vamos lidar com essa tensão na cidade, se as fadas vão permanecer, se vamos mandar elas embora, fazer o funeral dos que morreram em batalha e todas essas burocracias. - O pai de Jungkook se aproximou lentamente de nós, como se tivesse medo de nos interromper em um momento importante.

Ou talvez ele tivesse medo do demônio que estava ao meu lado.

- Temos que tirar Lillith da cadeia, ela vai ficar uma fera. - Vante comentou com Jeon.

- A mulher vai nos infernizar por séculos, aguarde. - O senhor Jeon comentou sorrindo um pouco, depois olhou pra mim.

- Tori, eu consegui seu diploma de medicina, depois que a tensão passar, seria um prazer tê-la trabalhando conosco. - Acredito que, pela primeira vez naquele dia, eu senti uma felicidade genuína.

- Meu diploma? Você conseguiu meu diploma? - Ele sorriu.

- Consegui o seu TCC e um meio de fazer alguns professores avalia-lo, depois foi só uma burocracia besta que conhecidos meus no meio humano resolveram de forma rápida.

- Muito obrigada, senhor Jeon ­- Curvei um pouco o meu corpo em respeito.

- Não precisa agradecer e nem ser tão formal. - Ele olhou pra longe, onde Jungkook conversava com Park. - Acredito que já posso considera-la parte da família.

Um constrangimento enorme me consumiu, mesmo assim eu acenei concordando, então Jeon se voltou pra Vante.

- Eu irei à prisão libertar Lillith, vou preparar meus ouvidos. E você Tori, depois que as coisas se acalmarem eu farei um almoço lá em casa junto com meus dois filhos, tem tempo que nós não nos reunimos dessa forma, apareça por lá, é bom que podemos conhecê-la mais também.

- Estarei lá. - Jeon acenou e depois foi embora encarar Lillith. Senti um puxão na ligação.

"Quer dizer que alguém vai conhecer oficialmente minha família?"

Jungkook perguntou divertido em minha mente.

"Devo ter medo?"

"Quem deve ter medo sou eu, não por causa da minha família, mas por causa da sua. Ter que pedir sua mão para o Vante? Não acredito que exista algo mais assustador do que isso."

"Se for por essa lógica eu tenho que ter a aprovação do Park."

"Park te ama, seu lado é fácil, eu que estou meio lascado."

Eu sorri e Vante me encarou com a cabeça meio curvada.

- Conversando com Jungkook pela ligação? - Olhei pra ele um pouco surpresa.

- Como sabe?

- Eu tenho uma ligação, sei bem como é.

Sorri em resposta e logo depois nós dois encontramos Park e Jungkook, o pessoal da direção se apressou para manter a ordem no local e mandar todos de volta para os seus respectivos dormitórios, depois de limpar a bagunça nós saberíamos como ficará a situação das fadas e como a cidade vai se portar de agora em diante.

Os irmãos vampiros mandaram Jungkook e eu irmos para nossos quartos, depois de se despedir de nós dois, eles foram até Seokjin, que ainda estava ajoelhado ao lado do corpo sem vida da irmã, senti uma pequena dor no coração por ele.

Quando cheguei no meu quarto depois de deixar Jungkook no dele, encontrei Lia sentada na cama com as pernas cruzadas olhando pra tudo e pra nada ao mesmo tempo, o rosto dela estava um pouco inchado e os olhos vermelhos de tanto chorar, ao vê-la naquele estado e saber o motivo disso, senti vontade de voltar a chorar também, dessa vez deixado que todos os sentimentos que envolvem Yeonjun viessem a tona de novo.

Fechei a porta e me sentei ao seu lado, puxando sua cabeça para o meu peito, ela apenas se encostou e voltou a chorar, sem falar absolutamente nada.

Eu também não falei, naquele momento palavras não eram necessárias, nós duas estávamos sentindo a dor da perda, a única coisa que podíamos fazer era dar força uma a outra, tanto por perder um amigo, quanto por perder o amor.

No outro dia bem cedo, toda a cidade foi convocada pra mais uma reunião do conselho, dessa vez com todos os membros, o senhor Jeon, os irmãos Veteris e a Lillith, que foi solta na noite anterior.

O primeiro discurso foi da demônia, mesmo estando puta da vida por terem duvidado tantas vezes dela, a mulher fez de tudo para esconder sua insatisfação diante do publico, mesmo sendo bem inconveniente e casca grossa, passei a admira-la um pouco.

- Olá amigos. Creio que todos aqui já estão bem atualizados sobre o que aconteceu aqui na nossa cidade, fico feliz em anunciar que o medo dos assassinatos repentinos já pode ser retirado do vocabulário de vocês, nossa querida Shadow City voltou a ser uma cidade segura feita para todos os sobrenaturais viverem em paz. - Lillith deu uma pausa no discurso e todos aplaudiram, apenas o suave som de palmas, sem gritos, sem nenhum barulho a mais.

- Nós nos reunimos ontem à noite após evacuarmos o campus e tomarmos as medidas necessárias com o corpo da assassina, sinto muito por todos que perderam amigos e familiares no conflito de ontem, em respeito ao sentimento de vocês, faremos uma cerimônia em memória àqueles sobrenaturais que infelizmente perderam suas vidas em batalha. - Jeon Hojun tomou a frente, logo depois Lillith voltou a falar.

- Como Jeon já disse, nós tivemos uma reunião para decidir o paradeiro das fadas, como todos nós sabemos, permitimos que uma pequena parte do grupo de fadas que queria se mudar pra cá viesse para cidade em um período de adaptação. Infelizmente, após a vinda de vocês pra cá, tivemos incontáveis perdas e um conflito inconveniente que não teria acontecido se tivéssemos mantido apenas as três espécies de sobrenaturais que já moram nessa cidade há séculos. Porém, após conversarmos bastante, nós chegamos a conclusão de que todas as fadas que estão aqui terão sim um lar para morar, a Shadow City é a casa de vocês, mesmo que tenham trazido problemas pra cá, existem pessoas inocentes no meio deste povo, e é por essas pessoas que iremos punir. Peço que, por gentileza, após esta reunião todas as fadas devem comparecer à sede do conselho, precisamos fazer algumas perguntas apenas por precaução, mas não se preocupem, vocês poderão ficar por aqui. - lillith entregou o microfone pra Vante e ele se levantou.

- Em relação aos jogos escolares, nós iremos continua-los do lugar aonde paramos, assim que a cidade voltar ao normal e todas as cerimônias que estão pendentes forem feitas, retornaremos com as atividades de sempre, estamos dispostos a proporcionar um ano escolar tranquilo pra vocês, como se nada tivesse acontecido, esse é o nosso desejo. - Vante entregou o microfone dele para Park e voltou a se sentar em sua pose despojada, Park olhou pra ele por alguns segundos e depois se virou para o público.

- Qualquer dúvida que tiverem sobre qualquer coisa, a sede do conselho está aberta para todos vocês, termos uma reunião nova daqui a poucos dias para finalmente por essa cidade nos eixos. Obrigado. - Park largou o microfone e todos aplaudiram.

Quando estávamos saindo Jungkook tocou de leve no meu ombro, virei pra ele perguntando pela ligação o que havia acontecido, ele apontou para Lillith.

Assim que olhei pra ela, a mulher fez sinal para que eu me aproximasse, me despedi de Jungkook e fui até o encontro dela, Izzie estava lá também.

- A senhora deseja falar comigo? - Tentei ser o mais respeitosa possível, essa mulher ainda me assusta.

- Com você e com Izzie. - Ela olhou pra garota e Izzie se aproximou. - Vante me disse que vocês duas são as únicas vampiras que ele criou. - Nós assentimos. - Ele também me falou que vocês também conseguiram a proeza de ter a confiança total de um demônio, a ponto de conhecer o nome dele. Também fiquei sabendo que as duas invocaram seus demônios pra batalha de ontem à noite, estou certa?

Nós duas assentimos de novo, eu particularmente ainda estava sensível diante da situação de Yeonjun, mas estava curiosa pra saber o que Lillith queria conosco.

- Vocês viram a transformação de Park e Vante ontem, não viram? Esse é o poder de um vampiro mestre. Devo dizer que não são só vampiros que atingem um estado avançado de poder após algum tempo, já sou bem antiga nesta dimensão, então tenho alguns truques na manga. - Ela sorriu um pouco e depois arrumou a postura. - Invoquem demônio de vocês.

Eu ainda estava raciocinando o que Lillith estava pedindo, já Izzie invocou Jaemin no mesmo segundo que a demônia pediu, logo depois eu chamei Yeonjun. A líder colocou seus braços dentro da sombra disforme que era os demônios, o braço esquerdo em Yeonjun e o braço direito em Jaemin, depois ela fechou os olhos.

Pouco a pouco os dois começaram a tomar uma forma humana, meus olhos se encheram de água quando comecei a distinguir o corpo de sempre de Yeonjun no meio daquela fumaça, Izzie me encarou com expectativa assim que desviei o olhar pra ela.

O mesmo estava acontecendo com Jaemin.

Assim que os dois demônios se tornaram "humanos" eles abriram os olhos junto com Lillith, Jaemin estava coçando a cabeça confuso do outro lado, mas nada me fazia tirar os meus olhos de Yeonjun.

- Caraca, parece que eu levei uma porrada na cabeça, quem me bateu? - Não deixei ele terminar de falar, apenas pulei em cima do garoto e lhe dei um abraço apertado.

- Puta que pariu, Yeonjun. Que saudade. - Ele me abraçou por um tempo e depois me soltou.

- Eu pedi pra você me invocar, porque não fez? O que aconteceu? - Olhei para Lillith procurando respostas.

- Eles não vão se lembrar de nada do seu tempo como demônios disformes. Preciso que os dois venham comigo, vou dar um amuleto pra vocês.

- Amuleto? - Jaemin perguntou enquanto abraçava Izzie.

- Caso vocês precisem ser invocados de novo, o amuleto trará vocês de volta, nunca se sabe ate quando eu estarei viva nesse plano, e só um mestre dos demônios consegue trazer um de volta.

Abracei Lillith em um impulso e murmurei um obrigada bem baixo, Izzie me acompanhou. Nesse momento eu percebi que a mulher tem um pouquinho da personalidade do Vante, ela estava super desajeitada com o nosso abraço coletivo, mas eu não liguei.

Yeonjun valia aquilo tudo e muito mais.

Assim que a soltamos ela virou para os demônios.

- Vamos logo garotos, pra vocês voltarem logo pra vida cotidiana de antes. - Os dois demônios se despediram de nós e depois seguiram Lillith conversando um com o outro.

Eu não poderia estar mais feliz.

Meus lindos, falta um capítulo ainda, aguardem por ele.

Beijinhos 💜

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