𝕮𝖆𝖕𝖎𝖙𝖚𝖑𝖔 8
- HATHAWAY -
- Eu estou desistindo dela! - Yeonjun se jogou na minha cama ao meu lado e enrolou suas pernas em mim.
- Até achei que você demorou pra deixar a Lisa de mão. - Lia comentou olhando para nós dois, eu ri e me sentei, deixando Yeonjun ainda deitado.
- Dois dias desde que descobrimos que ela está com Jungkook... é Junnie... você demorou pra desapegar. - Peguei minha garrafa térmica e tomei um pouco de sangue depois de falar o que eu pensava, Yeonjun é um cachorro, nunca dura com ninguém.
- Eu vou dar a oportunidade de Jeon Jungkook ser feliz com ela, ele não merece ser segunda opção, tenho certeza que Lisa me escolheria no lugar dele. - Dei um tapa na cabeça dele e saí da cama.
- Quando você vai deixar de ser tão convencido? - Falei divertida, Yeonjun riu e colocou os braços em baixo da cabeça, o garoto acabou se apossando da minha cama.
- Tori? - Uma batida soou na porta, só fiz pegar minha mochila e me despedir do pessoal, saí do quarto e dei de cara com Jungkook.
- Pra onde? - Perguntei olhando pra seus olhos grandões de jabuticaba.
- Fonte, nós podemos estudar lá. - Jungkook virou de costas pra sair andando comigo até a fonte, foi quando vi algo diferente em seu pescoço, o parei no mesmo instante.
- JK? - Chamei ele.
- Oi? - Ele perguntou assustado, virando pra mim de novo. - O que foi?
O girei e apertei os pequenos buracos em seu pescoço, ele se encolheu.
- Lisa não cura as mordidas que ela dá em você não? Tem que cobrir isso Jungkook. - Ele passou a mão no pescoço por trás.
- Eu não sabia que estava marcado. - Ele falou um pouco envergonhado.
- Tem marca de três dias aqui JK. - Revirei os olhos. - Vou curar. - Mordi meu dedo até sair sangue e pinguei algumas gotas nos machucados de Jungkook, eles se fecharam e cicatrizaram em segundos, o corte que fiz em meu dedo também voltou ao normal, pisquei pra ele. - De nada.
Então saí andando, como imaginei, Jungkook apressou o passo e me seguiu.
- Gosta de ser mordido? - Perguntei casualmente, eu sabia as sensações que a mordida de um vampiro podia causar em um humano, se o vampiro quisesse, ela podia ser a coisa mais dolorosa do mundo, mas se não, a sensação poderia ser tão forte e boa quanto a de um orgasmo.
- Lisa gosta, e eu não me oponho, a sensação é boa. - Ele deu de ombros, falou com naturalidade, mas eu podia perceber o leve desconforto, Jungkook podia fazer coisas absurdas dentro que quatro paredes, mas ele ainda era um bebê que se sentia envergonhado ao falar de sexo.
- Da próxima vez, peça pra ela curar você.
- Vou me lembrar disso. - Andamos juntos até a fonte no centro do campus da academia, ironicamente no mesmo lugar em que eu descobri a existência de Jungkook, quando Yeonjun brincou com ele e Malia.
- Beleza, você fez as pesquisas? - Jungkook perguntou assim que nos sentamos.
Na aula de ontem a professora passou uma atividade pra nós, as duplas foram escolhidas por sorteio, acabei ficando com Jungkook.
Nossa tarefa era simples, pesquisar algo que envolva nosso passado sobrenatural e explicar na classe, demônios podiam tentar descobrir como eles mesmos vieram parar nessa dimensão, vampiros podiam pesquisar acontecimentos sobrenaturais na cidade em que foram transformados e filhos de hecate poderiam simplesmente estudar sobre a própria genealogia.
- Sinceramente? Não pesquisei nada não JK. - Jungkook me encarou com os olhos arregalados.
- Como não? O que vamos apresentar na sala então?
Depois de fazer as pesquisas, a dupla teria que contar a história do outro, no nosso caso, eu contaria a história de Jungkook e ele a minha, a professora disse que o objetivo era estreitar nossos laços e nos dar um conhecimento histórico aprofundado ao mesmo tempo, já que escutariamos as versões de todos da sala.
Eu havia dito pra Jungkook que pesquisaria coisas sobre aparições vampíricas na minha cidade e depois nós juntariamos as informações, no caso agora, mas eu tive uma ideia muito melhor de manhã, então não pesquisei nada.
- Eu tenho uma proposta pra você, vai nos fazer tirar a melhor nota da classe e ainda chamar a atenção de todo mundo.
- Você está me assustando, garota. - Mergulhei minha mão na fonte e depois fiquei brincando com a água enquanto olhava para Jungkook com uma cara um pouco travessa, eu não conseguia evitar, minha ideia foi maravilhosa.
- Nós temos um passado compartilhado JK, você é filho do líder do conselho e eu fui criada por um vampiro histórico, o mesmo que invadiu um forte humano pra resgatar seu ancestral.
Percebi que Jungkook começou a entender aonde eu queria chegar quando sua fisionomia mudou de dúvida para surpresa e depois determinação.
- O que pensou? - Ele tirou o caderno de dentro da mochila e pegou uma caneta.
- Podemos ir atrás de informações na biblioteca dos outros andares da academia, talvez você possa conseguir alguma coisa com seu pai se disser que é um trabalho da escola.
Jungkook assentiu e escreveu 'Bibliotecas' no caderno.
- E você? Vai fazer o que? - Ele me perguntou.
- Vou atrás dos irmãos, não sei ainda qual deles é menos provável de me matar se eu chegar interrogando logo de cara, acho que vou tirar na sorte. - Jungkook riu.
- Se minha opinião servir de alguma coisa, eu gosto mais do Park, Vante me dá medo.
- Realmente. - Parei pra pensar um pouco. - Park me trata muito melhor que Vante, mas eu ainda acho que Vante me contaria mais coisas, Park costuma ser bem sarcástico, ele me enrolaria até desistir.
- Então você não precisa tirar na sorte, já tem sua resposta. - Eu ri mais de nervoso do que de diversão.
- Tenho a resposta de quem pode me contar as coisas mais fácil, mas também acho que ele me mataria por motivos bem menores que Park.
- Sinto dizer amiga, mas você tomou no cu. - Jungkook escreveu 'Morte da Tori' em baixo de 'Bibliotecas' e depois circulou com uma caneta vermelha.
- Jungkook, eu te odeio. - Ele riu e escreveu 'Morte de JK' em seguida, não consegui segurar a risada dessa vez.
- O que quer contar pra classe? Sabe que o assunto da guerra é bem delicado, e nós temos informações que não são de dominio publico, não podemos espalhar por aí.
- Acha que seria sensato revelar sobre as fadas? - Jungkook olhou ao redor, nesses momentos a audição vampirica era um saco.
- Vamos pra o conservatório musical de novo. - Ele disse simplesmente e se levantou, foi o mesmo percurso da última vez, eu disse que tocava piano e nos deixaram entrar, quando nos sentamos Jungkook cruzou as pernas.
- Acho que deixar as fadas de lado é o melhor a se fazer.
- Por quê? - Perguntei querendo realmente saber o motivo de ele ter dito isso, okay que as fadas são um assunto delicado, mas não deixa de ser história.
- Nesse final de semana o conselho vai decidir se as fadas vão morar aqui conosco ou não, escutamos na minha casa lembra? - Assenti. - Colocar a culpa da guerra com os humanos nas fadas alguns dias antes de elas virem pra cá vai virar esse campus de cabeça pra baixo.
- Então vamos falar o que Jungkook? - Passei a mão nos cabelos agoniada. - Entregar uma história que eles já sabem não tem graça.
Jungkook rabiscou alguma coisa em seu caderno de novo e depois virou pra mim, tinha dois bonecos desenhados um ao lado do outro com duas setas pra baixo.
- Eu vou falar com meu pai e você vai falar com o seu criador, vamos fingir que não sabemos de nada, o que eles estiverem dispostos a revelar pro nosso trabalho nós passamos para a classe, esse bonequinho aqui sou eu, vou escrever as informações de meu pai aqui. Me manda por mensagem as informações do Vante que eu escrevo em baixo do seu boneco.
Olhei para os desenhos dele.
- Isso era pra ser eu? Eu tô horrível Jungkook!
- Você prestou atenção no que eu disse? - Ele fechou o caderno rindo.
- Prestei sim. - Assisti JK guardar o caderno e as canetas. - Vou falar com Vante depois do toque de recolher, torça para que ele não me mate.
- Vante não vai te matar. - JK falou depois de alguns segundos em silêncio.
- Por quê? - Perguntei.
- Ele tem orgulho de você, dá pra ver nos olhos dele, o cara só é ranzinza mesmo, eu ficaria assim depois de trocentos anos vivo, não o julgo.
Dei de ombros.
- Bom, vou saber disso daqui a pouco. Já terminamos tudo, quer fazer alguma coisa ou vamos nos despedir aqui e ir cada um pro seu lado? - Perguntei me apoiando no piano, Jungkook me empurrou para o lado e sentou no banco junto comigo.
- Que tal aquelas aulas que você está me devendo? - Eu sorri e comecei a tocar Für Elise, explicando a todo o momento para JK como as notas funcionavam.
***
Quando cheguei no quarto, me surpreendi pra caramba com o que encontrei no lado de dentro, nesse caso, quem.
Não que seja uma pessoa que eu conheça, mas descobri qual era o demônio que Lia estava pegando sem nem precisar perguntar pra ela.
Minha visão ao entrar não foi muito bonita.
- Okay, eu vou fingir que não estou vendo pornografia ao vivo, vou pegar meu caderno e a caneta e vou sair. - Tentei não olhar para Lia e o suposto demônio, mas foi praticamente impossível.
Pelo menos eles pararam quando eu entrei.
- Hey Tori, deixa eu te apresentar ele. - Sentei na cama e olhei para os dois, o cara estava sem camisa e Lia sem as calças, nada de mais.
- Pela nossa amizade, porque eu estou com vontade de sair correndo. - Ela riu.
- Esse aqui é o Namjoon. - Ela apontou para o cara pelado. - Nam, essa é a minha colega de quarto, Tori.
Ah, então foi com esse cara que Yeonjun se iludiu.
- E aí Namjoon, beleza? - Ele sorriu.
- Sim, sim. Tudo bom Tori? - Cocei minha cabeça e me levantei.
- Acho que sim. - Peguei meus cadernos pra sair. - Boa transa pra vocês.
Namjoon murmurou um 'valeu' e eles voltaram a se pegar, fechei a porta do quarto revirando os olhos e segui rumo ao corredor da morte, mandei uma mensagem pra Jungkook no caminho.
"Indo em direção a meu funeral, pode ficar com meus pertences pra você, adeus Jeon Jungkook, eu te amo."
Ele respondeu com um monte de emojis rindo e depois mandou uma foto do caderno, especificamente a parte que estava circulada com 'Morte da Tori'. Eu estava pra guardar o celular quando outra mensagem chegou.
"Deixa de ser tão dramática, você não vai morrer. E não precisa dizer que me ama, eu sei disso"
Digitei um 'Convencido' e guardei o celular, então parei na frente da porta dos irmãos veteris e bati, ouvi um 'entra' murmurado de lá de dentro e entrei.
- E aí Tori, quer café? - Park perguntou no momento em que eu pisei meus pés dentro do quarto, Vante estava deitado na cama dele vestido com calça moletom e uma camisa preta, ele estava descalço.
- Quero, obrigada. - Andei até Park e peguei a xícara que ele me ofereceu, depois virei de frente pra Vante. - Preciso falar com você.
Ele casualmente fechou o livro que estava lendo e cruzou os braços, me olhando dentro dos olhos.
- Estou ouvindo.
Vante estava em uma pose intimidante e ao mesmo tempo super sedutora, ele me olhava com uma sobrancelha levantada, engoli em seco.
- Tenho um trabalho em dupla pra fazer, sobre minha história como sobrenatural, pensei que procurar você seria bom já que foi quem me criou.
Ele assentiu e jogou as pernas pra fora da cama, se sentando, depois deu um tapinha ao lado dele, sentei no lugar que ele indicou como uma criança que estava prestes a receber uma bronca do pai.
- O que quer que eu lhe conte Tori? - Desviei o olhar dele, era agora que eu ia descobrir se morreria ou não.
- Alguma coisa sobre a guerra, que não esteja nos livros. - Encarei o chão, se eu respirasse, daria pra ouvir do outro lado da mansão, se meu coração batesse, ele estaria retumbando em meus ouvidos agora mesmo.
O silêncio de Vante e também de Park que parou de fazer café fez eu me preparar inconscientemente para apanhar, eu estava quase para pedir desculpas e sair quando Vante começou a falar.
- Você está fazendo dupla com Jeon Jungkook? - Olhei pra ele ao ouvir a pergunta.
- Estou, por quê? - Vante continuou com a mesma cara de paisagem.
- Explica você querer saber da guerra, quer usar uma informação que faça parte da história dele também não é? - Eu assenti desviando o olhar de novo.
- Ela perguntou pra você Tae, se vira. - Ouvi a voz de Park, talvez Vante tenha pedido socorro silenciosamente pra ele.
- Tenho uma proposta pra você Tori. - Vante se dirigiu a mim, acenei mostrando que eu estava ouvindo. - Vou lhe contar duas coisas que não está nos livros, escolha uma pra apresentar pra sala, a outra você vai guardar pra você, pode contar pra Jungkook se quiser, mas ele não abre a boca.
- Aceito a proposta. - Ele balançou a cabeça e se virou pra mim.
- O líder do conselho nos encontrou cerca de quatro a cinco anos depois de termos sido transformados, ele nos chamou para a Shadow City, mas nós não aceitamos.
- Por quê? - Perguntei.
- Fizemos muita besteira antes de nos acostumarmos com a vida sobrenatural, acredite Tori, no começo, nem todo mundo quer ser salvo.
Balancei a cabeça pra ele continuar.
- Ficamos muitos anos sem ter notícias da cidade, até que em um momento um Jeon foi até nós, ele foi com o filho na casa em que nós dois moravamos, não sei até hoje como ele nos encontrou, mas foi oferecer novamente a oferta para ir a academia estudar.
Enquanto eu conversava com ele tentando faze-lo desistir, o garoto foi até Jimin o interrogar, ele tinha uma sede por conhecimento que até eu devia reconhecer, então criamos um laço fino de amizade com a criança.
- Vocês rejeitaram a proposta de vir pra cá? - Falei me referindo a visita do Jeon.
- Sim, nós rejeitamos, mas de vez em quando o Jeon ia levar o filho pra passar uns dias conosco, tudo o que havíamos aprendido na pele sobre ser vampiro nós passamos pra ele, o garoto queria se tornar um, mas não podia, como ele era filho único, ele ia herdar o conselho.
Depois de um tempo ele parou de ir nos ver, alguns anos na frente, a guerra aconteceu. Sei que você estudou sobre ela, que nós invadimos o forte dos humanos pra resgatar os sobrenaturais de lá. Jimin e eu discutimos muito antes de decidir ajudar, mas o garotinho que vivia fazendo perguntas curiosas pra nós estava preso lá dentro, quase morrendo.
Arregalei meus olhos.
- Era ele? - Vante balançou a cabeça sorrindo um pouco.
- Ele havia se tornado lider do conselho, foi por causa dele que nós entramos. Antes de morrer ele pediu pra ajudarmos qualquer um que viesse buscar conhecimento conosco, principalmente da linhagem dele, por isso estou contando isso pra você, até também porque Jeon Jungkook está envolvido e eu gosto do garoto, ele me lembra a criança que andava na minha casa perguntando sobre tudo.
Sorri com a menção a Jungkook, saber que Vante gostava dele me deu um alívio bom, como se eu inconscientemente buscasse a aprovação dele para as minhas amizades.
- Essa é a primeira história, e a segunda?
- A segunda história é mais curta, na verdade, é um fato sobre nós dois que praticamente ninguém sabe.
- O que? - Perguntei louca pra saber do que ele estava falando.
- Jimin e eu fomos levados da cidade para as masmorras humanas em nome da paz, eles nos torturaram por anos, foi o que criou nossa resistência a dor, principalmente porque a sentimos duplamente mais forte.
A primeira parte eu já sabia, que eles haviam sido levados, mas não sobre esse negócio da tortura dupla.
- Como assim?
- Taehyung e eu temos uma ligação de mentes Tori. - Park, que até agora pouco estava longe tomando seu café e apenas nos ouvindo, entrou na conversa. - Qualquer coisa que você falar pra ele eu vou saber, a não ser que ele me bloqueie.
- Vocês lêem a mente um do outro? - Perguntei com os olhos arregalados.
- Mais que isso. - Vante tomou o assunto pra si de novo. - O que eu sinto, ele sente igual, o que eu penso, chega na mente dele como uma conversa, aprendemos a colocar uma barreira nisso com o tempo, mas deixamos sempre a porta aberta um para o outro.
- O que acontece se um de vocês morrer? - Falei antes de pensar, eu estava tão embasbacada que nem me dei conta, mas parece que Vante não se importou com a pergunta.
- O outro morre também. Nós estamos ligados Tori, por isso Jimin sabia seu nome quando chegou no apartamento, por isso eu senti o gosto do Doritos quando ele provou, por isso que eu senti quando Jimin foi empalado, apesar de que ele tentou me poupar, por isso que muitas vezes respondiamos um ao outro do nada em voz alta, pode ter certeza que estávamos conversando a muito tempo dentro de nossa mente.
- Então vocês sentiram a tortura um do outro? - Os dois assentiram. - Que merda.
- Nós estamos estudando essa ligação de mentes agora, no terceiro ano, ninguém aqui na Shadow City conhece vampiros que a tenham, nos livros diz que é uma lenda e que não temos provas, absolutamente ninguém sabe de nós dois.
- Esse é o momento em que eu escolho o que devo contar para a classe? - Vante balançou a cabeça afirmando.
- Converse com Jungkook e escolham, apenas uma história.
Me levantei e fechei meu caderno, caderno esse que eu nem usei já que estava vidrada nas palavras do meu criador.
- Obrigada por não me matar pelas perguntas. - Vante deu com a mão.
- Você merece saber, é sua história também, só tome cuidado com o que vai falar para os outros. - Eu assenti.
- Já vou indo, obrigada de novo. - Me despedi dos dois e saí do quarto com o cu na mão, quando peguei o celular tinha uma mensagem de Jungkook.
"Morreu?"
Digitei bem rápido a minha resposta.
"Não, e você não vai acreditar no que descobri."
Então me prepararei para digitar tudo.
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