XV | Inveja e Ira
[...] Era insaciável sua fome de parecer-se com o criador, fazendo de sua ira um novo reinado como o de tal. Deus sempre soube que a sua criação mais perfeita espelharia a ele próprio, e não pode punir a Lúcifer por ter as mesmas ambições que ele. O Diabo negou, desde de o início, que era como teu Deus, mas eles compartilhavam do mesmo sangue. A tempestade da Besta arrasou os céus, mas nunca deveria os destruir, visto que o Inferno sempre precisou do Paraíso para ser temido pelos homens."
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Um carro do departamento de polícia foi disponibilizado para o compromisso nenhum pouco excitante que estava por vir. Nos bancos da frente, Tzuyu dirigia a viatura acompanhada por sua companheira de caso, Sana. Presa com algemas nas grades que a separava das detetives, Dahyun ditava o caminho por onde deviam seguir até a localização exata dos dois corpos: Inveja e Ira. Como prometido, não havia uma equipe ou uma escolta, visto que a assassina nunca revelaria o local onde ocultou os cadáveres se suas ordens não fossem seguidas. À distância, um helicóptero fazia a guarda, apenas para assegurar-se de que Kim não tentaria eliminar as mais velhas para iniciar um plano de fuga.
Deveria terminar ali, mas o tormento maior ainda estava por vir.
- Para onde estamos indo? - indaga Minatozaki, observando que o caminho de terra as levava para um campo afastado da cidade - Não pense que vá tentar qualquer coisa, Dahyun.
-Eu não vou. Siga por este mesmo caminho, os últimos dois pecados estão prestes a se revelar.
- Isso não me traz uma boa impressão, Minatozaki. - comenta Chou.
- Nós vamos ficar bem, ok?
Tzuyu crava os olhos nos dela, percebendo um sorriso meigo e confiante. Ela devolve o gesto, voltando a prestar atenção na estrada. Mal podia esperar pelo fim de todo aquele caos. Chou finalmente deixaria seu cargo e poderia viver como uma mulher livre e normal. Aquele ponto, Sana estava em todos os seus pensamentos e planos para o futuro. Talvez um mês antes, quando ela pediu demissão, a possibilidade de encontrar alguém que lhe fizesse amar novamente era praticamente nula. Mas aquela marrenta de cabelos curtos entrou em sua vida, e mesmo pouco tempo depois, transformou todos os seus desejos solos em duplos. A mais velha seguia por uma estrada vazia e silenciosa, mas não, desta vez não temia o pior. Alguém importante estava ao seu lado dessa vez e quando todo aquele pesadelo acabasse, ela só pensava em como seria sentar-se em um bom restaurante e apreciar uma taça de vinho tinto com a mulher que gostava.
Kim Dahyun corta o clima e pigarreia, abrindo a boca mais uma vez.
- É engraçado. - diz ela.
- O que é engraçado? - pergunta Sana.
- Nós enviados por Deus tentamos livrar o mundo dos pecados, mas eles sempre vão continuar entre nós.
- Você matou aquelas pessoas porque você é a porra à de uma doente, Dahyun, Deus não te mandou até aqui.
- E você acha certo? - ela gargalha - Aquela vadia comer tanto enquanto milhões de pessoas passam fome? Ou aquela puta da boate continuar espalhando doenças por aí? Nem precisamos comentar sobre a advogada que lavou tanto dinheiro que deveria ser de pessoas necessitadas dele, ou daquela imunda que fingia se importar com as causas humanitárias na televisão mas no fundo ela só se importava com ela mesma. E a traficante? Ela é uma das piores na minha opinião porque trazia sujeira ao mundo e nem sequer fazia pelas próprias mãos. Ela sentava naquela poltrona todos os dias e mandava arrancar centenas de cabeças enquanto usava cocaína. - a jovem gruda sua face na grade, abrindo um sorriso largo - Não, eu não sou doente. O mundo está doente e precisa de correção. Eu sou a justiça.
- Por que não cala a boca? - a de cabelos curtos soca o banco onde estava sentada - Por que só não diz para onde temos que ir e vá para o inferno?
- Todos nós vamos conhecer o inferno um dia, Sannie.
O carro se afasta cada vez mais do centro de Seul, entrando agora em uma zona onde enormes antenas de comunicação se erguiam. As detetives desconfiam, a princípio, mas era talvez a única chance de recuperar os corpos das duas últimas vítimas. O helicóptero não podia aproximar-se mais devido aos cabos de alta tensão, então manteve o contato pelo rádio. Poucos metros à diante, Jane Doe pede para que elas parem a viatura e todas descem após uma verificação do perímetro, para ter certeza que aquilo não se tratava de uma emboscada. As detetives levam a assassina com força pelo caminho onde ela indica, mas a mesma parecia inventar qualquer distância para enrolar as mais velhas.
- Que horas são? - pergunta ela, após alguns minutos de caminhada.
- 15h59.
- Só mais um minutinho então.
- Um minuto para quê, Dahyun?
Kim não responde, mas o próprio cenário o faz. À distância, na direção oposta por onde vieram, uma van vinha pela mesma estrada em alta velocidade, parecendo correr contra o tempo. Tzuyu e Sana sacam suas armas e ficam atentas àquela aproximação suspeita, não desgrudando os olhos do veículo que se aproximava. Ele para de frente para o carro de polícia e um rapaz apressado sai de dentro do carro, indo até o porta malas. Minatozaki se mantém segurando a detenta, enquanto Chou corre ao veículo para verificar o que acontecia. A mais velha aponta a arma para o homem, que leva as mãos até a cabeça.
-D.I.C, quem é você? - anuncia.
- Min Yoongi, sou apenas um entregador de encomendas, Detetive.
- O que você tem aí?
- Trouxe uma encomenda para Minatozaki Sana para entregar neste exato local.
- Dê para mim.
- Você é Minatozaki Sana?
-Eu não vou pedir novamente, rapaz.
Yoongi parecia nervoso, mas estava sozinho. Ele tira do porta-malas uma caixa média quadrada, nomeada para Sana. Tzuyu a pega e põe no chão, pensando se deveria acionar o esquadrão anti-bombas. Estava curiosa demais com o conteúdo, arriscaria a própria vida desta vez. Logo ao iniciar o desembrulho, ela visualiza sangue na parte externa da caixa. Chou se apressa e começa rasgá-la de forma frenética, até encontrar o que mais temia: a cabeça de Choi Yun Jin (Jinni) do lado de dentro. Tzuyu leva as mãos até a boca, abafando o grito de horror que disparou. O sangue nas roupas de Kim com certeza pertenciam a Choi. Chou se afasta da caixa e corre em direção a Sana, que parecia curiosa com o conteúdo. A de cabelos curtos segurava sua pistola na direção da criminosa e ao receber a notícia, poderia facilmente matá-la.
-SE AFASTE DELA, MINATOZAKI! - gritava Tzuyu - AGORA!
- Por que? Como assim?
- SÓ SE AFASTE DELA!
- O que tem na caixa, Tzuyu?
- Minatozaki...
- O que tem na merda da caixa?
- Conte para ela, Detetive. - Dahyun sorri ao dizer- Conte para ela que é a cabeça da irmã dela.
- O que? Não... Não... Jinni, não...
- Sabe, Minatozaki, eu sempre quis ter a sua vida. Acho que essa foi a razão pela qual fiquei tão obcecada por você naquela época da faculdade. - ela pigarreou - Eu queria sua aparência, eu queria seus amigos, eu queria seus pertencem e eu queria sua irmã. Eu sentia a necessidade de ser você, Sannie, você tem noção do quanto é esperta e sortuda? Me aproximei e tive a sorte de ser sua namorada, mas eu queria mais. Se você fosse minha, eu poderia ser como você, mas as coisas aconteceram tão erradas entre nós duas. Você se lembra do que me chamou naquele dia? Eu disse que você ia se arrepender Sannie. Eu também sou uma pecadora, mereço ser punida pela minha inveja.
- Minatozaki, me escute e olhe para mim. - Tzuyu segura sua face assustada e trêmula - Abaixa essa arma, é exatamente isso que ela quer, vocês duas completam a lista.
- ELA MATOU A MINHA IRMÃ, TZUYU!
Sana aponta a arma para a cabeça de Dahyun prestes a atirar na mais nova. Tzuyu precisava impedi-la, por mais que aquela atitude a ferisse imensamente. A mais velha saca sua arma, e com as mãos tremendo, aponta a pistola na direção da mulher amada.
- Se você atirar nela, eu tenho que atirar em você, Minatozaki. - sussurra.
- Então é isso, Tzuyu...
- Não atire, Minatozaki, você vai terminar a vingança que ela começou. Ela quer que você seja a Ira, não dê isso a ela, Minatozaki.
-Eu amo você, Tzuyu.
Um tiro ouve-se no horizonte.
Dois tiros
Três.
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