III | Ganância
"[...] Lúcifer ergueu sua fúria sobre Deus, e em suas palavras fez-se superior ao criador. Deus, manteve-se no trono e jogou-o à própria sorte, aduzindo teu poder legítimo sobre suas criaturas. Lúcifer foi a criação mais bela, mas até a mais bela das criações não espelhou perfeição. Sua ambição lhe tornou superior aos anjos, por tamanha sua inteligência, mas inferior aos homens, por tamanha sua ingratidão ao onipotente."
[...]
Minatozaki Sana nunca se imaginou iniciando sua carreira como detetive de tal maneira. Haviam vinte ou mais fotógrafos rondando a entrada do prédio, o que ela precisou enfrentar de cabeça baixa e com discrição; Qualquer passo em falso poderia fazê-los duvidar da sua capacidade em assumir um dos cargos mais importantes do D.I.C. Minatozaki atravessa a barreira, cobrindo seus olhos dos flashes e ignorando quaisquer perguntas sobre o caso. E tamanho era aquele caso, tudo o que um iniciante costuma esperar no seu primeiro dia — e geralmente não acontece, porém, Sana fez-se uma exceção.
Dentro do prédio, o corpo precisava ser removido o quanto antes; A imprensa pressionava do lado de fora, era um acontecimento de interesse público. Minatozaki Sana sobe as escadas do que costumava ser um escritório de advocacia, e pelo visto, era o mais famoso da cidade. A detetive, ainda assustada com seu novo título, para em frente a porta que gravava o nome da vítima: Dra. Lalisa Manoban. Minatozaki esvazia todo o ar de seus pulmões e abre a porta, estando frente a frente com seu primeiro caso.
Em uma primeira análise, aquele crime parecia ter sido perfeitamente planejado antes de ser executado. Lalisa Manoban vestia apenas as roupas íntimas e estava amarrada, tendo apenas seu braço direito liberto. Em sua mão direita, uma faca muito bem afiada de açougueiro, o que todos se convenceram sobre ser a arma do crime. Lalisa estava de joelhos e tinha sua face debruçada sobre uma pilha de dinheiro, e em seu abdômen, uma porção de cortes profundos e certeiros. O chão estava coberto não apenas pelo sangue dela, mas pelas vestimentas da moça completamente rasgadas e seus próprios cabelos, cortados e espalhados pelo cenário. Ao seu lado, uma pequena balança estava perfeitamente equilibrada: em uma metade um pequeno peso de 500 gramas; Em outra metade, vísceras da vítima, retiradas e colocadas sob a balança até que atingissem o mesmo peso de 500 gramas. Junto a balança, um bilhete escrito às pressas e que de início Minatozaki Sana não deu muita importância. Havia algo maior e mais assustador. No carpete bege, fora deixada uma palavra escrita: "Ganância", traçada com o próprio sangue da vítima. O lugar estava cercado de pequenos detalhes e por todos os lados pareciam existir pistas, mas ao mesmo tempo, nada fazia sentido.
— Nenhum sinal de arrombamento. — diz Hirai Momo , a Policial responsável — O escritório fechou como de costume na sexta e deveria ter reaberto ontem, segunda,as os funcionários encontraram tudo fechado.
— Pode estar aqui há dias. — conclui Sana — E ela claramente foi torturada. Sabem a origem do dinheiro?
— O cofre do escritório estava aberto, o assassino provavelmente a fez abrir.
— Mas não roubou... Interessante. Peça para buscarem por digitais e solicite as imagens da câmera lá de fora.
— Sim, senhora.
Sana se senta sobre um pequeno sofá camurça e observa quando , Lee Ji Eun uma das mulheres mais poderosas dentro da polícia coreana, fala com a imprensa. Seu rosto estava em todos os canais tentando tranquilizar a população. "Colocamos a melhor equipe no caso", ela dizia. Lalisa Manoban era uma advogada muito respeitada em Seul, seu repentino assassinato acendeu um grande alerta sobre questões políticas. Muitos acreditavam que a jovem, tão rica e em tão pouco tempo advogando, era envolvida em esquemas de corrupção. Sana preferiu nunca se meter em tais questões, era sempre muito difícil formar uma opinião sobre pessoas de alto poder.
— Você acha que está relacionado ao crime de ontem? — pergunta Wendy, uma das policiais que também estava presente na cena do crime anterior — Ambas são estrangeiras e têm sinais de tortura física, sem contar que não se tratam de latrocínios.
— Eu acho que há uma correlação, mas por que o assassino deixou uma mensagem desta vez e não na anterior?
— Podiam ter significados diferentes para ele, eu não sei.
— É isso que vamos descobrir, vamos levar o corpo para o Departamento.
Dada a ordem, o corpo de Lalisa é fotografado e em seguida, retirado. Algo naquela cena do crime ainda intrigava Minatozaki Sana. Havia uma fotografia, sob a mesa que costumava pertencer à vítima. Nela, uma garota, um pouco mais jovem que Lalisa e também um tanto parecida; Seus olhos estavam circulados com o sangue de Manoban, algo que se parecia mais com um aviso sem qualquer contexto.
— Ei, fotografe isto também. — Pede a Park Jimin, o fotógrafo que fazia parte da equipe.
O rapaz se aproxima e ajoelha-se em frente ao retrato, acionando o botão da câmera. Flash. O primeiro caso de Sana estava só começando.
• • •
Chou Tzuyu datilografava tranquilamente na mesa posta ao lado da que ela costumava ocupar. Dois toques são dados na porta, revelando a figura de Jeon Soyeon em seguida.
— Viu o noticiário? — pergunta a mais velha.
— Não assisto mais ao noticiário tem um tempo. Algo interessante?
— Lalisa Manoban foi assassinada.
— Aquela advogada envolvida em esquemas corruptos? Não me admira.
— Nunca foi provado que ela era uma corrupta.
— Bem, você sabe minha opinião sobre isso, Jeon.
— Escreveram a palavra "Ganância" no chão, com sangue.
— Ganância?
— Sim. Minatozaki está liderando o caso.
— Bom para ela, não era o que ela queria?
— Bem, temo que ela não esteja pronta para tamanha responsabilidade. Você sabe, vou sentir a sua falta por aqui.
— Você deveria tentar a Minatozaki, parece ser uma boa garota.
— Ela não faz o meu tipo. — Soyeon sorri timidamente — Posso saber porquê quer deixar tudo para trás? Digo, isso sempre foi a sua vida, Chou.
— Eu sinceramente me cansei, Jeon, quero poder viajar e conhecer pessoas. Isso que levamos não é vida e você não entenderia essa minha necessidade de ir embora.
— Talvez sim, talvez não. — ela se aproxima — Minnie mandou te trazer isto.
Jeon joga um saco plástico sobre a mesa, etiquetado com o nome de Larissa Ayumi.
— O que é?
— Parece plástico que foi misturado com a comida dela.
— E o que tem demais?
— Ela foi obrigada a comer, Chou, obrigada. A garota não comeria plástico se não estivesse com uma arma apontada para a cabeça dela. Estamos lidando com um psicopata, Chou, deveria repensar em ficar aqui.
Jeon Soyeon dá as costas e sai, batendo a porta atrás de Tzuyu. A mesma porta que antes continha gravado "Detetive Chou", agora, levava o sobrenome da nova detetive, Minatozaki. A jovem respira, sabendo que não descansaria com todo aquele caos rondando o Departamento. Tzuyu se coloca de pé e apanha seu casaco, pensando mil vezes se deveria fazer o que estava planejando.
[...]
Seu retorno a cena do crime foi um ato discreto e rápido. Chou corta a fita amarela que selava o local e novamente se vê naquele cenário de horror. As imagens de Larissa Ayumi debruçada sobre a mesa e toda aquela porcaria, tudo veio em sua mente como um filme. Algo tinha passado, ela estava tão focada em deixar seu cargo que com toda certeza não se concentrou no seu trabalho tal como deveria. Dois assassinatos em um dia? Não era coincidência, Tzuyu já tinha presenciado isso antes, em 2014, quando aquele serial killer com a máscara de palhaço assustou os moradores de Ansan. Chou sabia quando se tratava de um como aquele, os sinais de tortura e as pistas propositais, Tzuyu só precisava encontrá-las na primeira cena para ligar com a segunda.
Chou inicia seu trabalho de inspecionar a casa de Larissa Ayumi novamente; Cada canto, cada objeto. Desta vez ela encontraria o que vinha buscar. Bem próximo a mesa, ficava a geladeira, o que parecia estranho já que a mesma deveria ficar na cozinha e não na sala de estar. Ela abre-a, deparando-se com alguns alimentos e garrafas d'água desorganizados, como se tivessem sofrido algum tipo de impacto. Tzuyu abaixa os olhos e quase embaixo de seus pés, haviam marcas no chão, algo que nenhum dos peritos tinham notado. Aquela geladeira fora afastada até ali, já que a marca era contínua até a cozinha, mesmo quase que imperceptivelmente. Talvez facilitaria tê-la por perto? O assassino não teria de deixar a cena hora ou outra para obter mais comida. A segunda opção — a menos provável entre as duas — pareceu atraente: e se a geladeira estivesse escondendo algo na parte de trás? Tzuyu não se contenta com as suposições em sua cabeça, ela arregaça as mangas do casaco e arrasta o eletrodoméstico para frente, o suficiente para ter certeza que a sua hipótese, apesar de maluca, era real.
— "Gula" — a detetive lê, escrito com gordura na parede coberta pela geladeira.
Em conjunto, um bilhete fora deixado pregado, o que com certeza se tratava de uma pista para tudo aquilo, e poderia, de certa forma, aproximá-los do assassino.
"[...] E o Diabo serviu um banquete naquela noite, onde cada alma comeu da própria carne e bebeu do próprio sangue; Pecadores famintos demais por um céu que os condenaria ao Inferno."
— Bingo! — comemora Tzuyu.
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