11: Na ponta da arma
Acordei sentindo o delicioso cheiro de pão de queijo e café recém passado. Arrastei meu corpo para fora da cama e segui para o banheiro, tentando não tropeçar nos meus pés. Tomei um banho rápido, me ajudando a acordar e coloquei a minha roupa.
Quando cheguei na cozinha, dei um beijo na bochecha de Arthur. Coloquei um pouco de café na xícara que meu amigo me entregou. Me sentei na banqueta, olhando para dentro do forno, onde os pão de queijo começaram a crescer.
‐ Você tira o pão de queijo do forno para mim, por favor – ele deixou o pano de prato, pendurado no gancho – Tenho que tomar banho e me arrumar para ir trabalhar.
‐ Posso deixar, não quero ser a responsável por você perder o seu emprego super importante.
‐ É só um trabalho, como qualquer outro – ele revirou os olhos e foi para o quarto.
‐ Vou fingir que acredito.
Eu me levantei e abri o forno, pegando um pão de queijo, que já estava dourado. Mordi e vi que já estava pronto, então desliguei o forno e voltei para a banqueta. Meu celular vibrou no meu bolso, quando peguei o aparelho, um sorriso largo cresceu em meus lábios, quando o meu nome de Henri apareceu na tela.
Henri
Bom dia, pimentinha.
Espero que tenha dormido bem.
Hoje eu estou comendo pão de queijo recheado com Nutella.
Com um achocolatado cremoso.
E torrada com Nutella, também.
Mas falta sua companhia.
Bom dia, raio de sol.
Já eu, estou comendo pão de queijo normal.
Tomando café puro.
E na campainha do meu amigo.
Mas queria que fosse você.
Uma pena que não nos veremos, agora tão cedo.
Vou sentir a sua falta, pimentinha.
Mas vou ficar com o cheiro do seu sobretudo.
Agora vou terminar o meu café da manhã, para ir trabalhar.
Acho que vou usar seu sobretudo.
Também vou sentir sua falta.
Meu sobretudo não cabe em você.
Eu não tenho tantos músculos.
Então não se atreva a vestir, pode colocar nos seus ombros.
Sem enfiar seus braços cheios de músculos, na manga do meu sobretudo.
Vou fazer isso.
Quero sentir o seu cheiro, o dia todo.
Assim vou me inspirar para fazer novas receitas.
Que pena que não tenho nada seu.
Mas não importa.
Vou sempre me lembrar dos meus espasmos de prazer, que você me fez sentir.
Agora vou acabar o meu café. Beijos.
Beijos.
Espero que o meu plano funcione.
Que plano?
Henri já estava off-line, quando mandei a mensagem. Coloquei o meu celular em cima da bancada e tirei os pães de queijo, do forno e colocando em cima do descanso de parto, que Arthur deixou em cima da bancada. Meu amigo entrou na cozinha e se sentou ao meu lado, servindo um copo grande de café.
Acabamos o café da manhã e descemos para a garagem do prédio. Arthur me deixou no Central Park e eu fui até uma livraria. Os três andares, são repletos de livros do chão ao teto, que são preciso de uma escada fixa nas prateleiras. Sigo para a área da literatura contemporânea, conhecendo algumas das autoras em exposição. Quando entrei na área da literatura clássica, peguei um livro da Jane Austen. Assim que comprei, fui para o Starbucks, para reforçar o meu café da manhã, já que eu não fazia ideia de quanto tempo ia demorar para ler um livro em inglês.
- Bom dia! Como posso ajudar? – um rapaz loiro dos verdes, que cheira a canela, parou na minha frente, com um sorriso largo nos lábios.
‐ Vou querer um Capuccino grande, com caramelo.
‐ Um Cappuccino grande, saindo no capricho – ele se virou e foi fazer o meu Cappuccino.
Segui para o caixa, pagando o meu Cappuccino e fiquei esperando o loiro trazer o meu Cappuccino cremoso, com o meu nome escrito. Ele me entregou o copo com um sorriso largo no rosto e me desejou um bom dia. Eu não sabia como o povo desta cidade sempre sabia o meu nome.
Voltei para o Central Park e me sentei embaixo de uma árvore. Mandei uma mensagem para Sophia e para minha mãe, depois tirei uma foto do livro apoiado na minha perna e aproveitei para postar no Instagram. Bebi um grande gole do meu Cappuccino e comecei a ler, me afundando no universo que Jane Austen trouxe para esse livro. Os sons de crianças correndo, cachorros latindo, pessoas conversando e o vento soprando as folhas das árvores, não era capaz de me fazer desviar daquele mundo.
‐ É audácia, presunção e uma pitada de modéstia, tudo ao mesmo tempo, junto e misturado nessa tradução do texto original feita por mim.
Ergo o meu olhar, quando escuto a voz rouca de Henri, recitar um trecho do livro que estou lendo. Em sua mãe tem dois copos e uma caixa pequena de papel. Ele se sentou ao meu lado e me entregou um dos copos com Milk Shake.
‐ Quer dizer que conhece Jane Austen? – antes de responder, ele me deu um beijo rápido.
‐ Um dos meus primeiros romances – ele deu um beijo no meu ombro – Posso ler para você?
- Você quer ler um livro para mim?
‐ Não tem como ser mais clichê, mas sim – suas bochechas estão rosadas.
‐ Se você quer tanto – entreguei o livro para ele e me deitei, apoiando minha cabeça na sua coxa.
- Trouxe Waffle para você comer. Já está aqui há muito tempo, deve estar com fome.
‐ Não estou com fome, meu café da manhã foi bem reforçado e passei no Starbucks, e comprei um Capuccino grande com caramelo.
‐ Mas você tem quer comer alguma comida mais rica em nutrientes. Se eu dissesse isso para o meu nutricionista, ele me colocaria para umas quatro séries de abdominais e flexões.
‐ Para que precisa de um nutricionista?
‐ Eu queria ficar com um corpo sarado, para o dia que eu conhecesse você – seu sorriso largo, diminui – Então fiz minha mãe pagar um nutricionista para me ajudar a perder peso, e eu entrei na academia.
‐ Você sabe que não precisava fazer isso por mim? Eu me apaixonei pelo o homem de quatro anos atrás, mas não posso mentir que adorei esses músculos – dei um tapa no seu bíceps.
‐ Eu sei, mas isso também me ajudou na minha autoestima. Com isso tudo, eu queria ficar gostoso, para que outras mulheres sentirem inveja de você.
Dei um selinho rápido nele e encostei minha cabeça em seu ombro e Henri começou a ler de onde eu havia parado, a sua leitura é rápida para quem está traduzindo do inglês para o português. A voz rouca de Henri, me fazia ir mais fundo na imaginação. Durante as leituras, ele ia fazendo anotações no livro, com um marca texto, que ele tirou de dentro do bolso da sua calça. Assim que ele acabou de ler, Henri me colocou sentada em seu colo e começou a me beijar intensamente. Nossas línguas dançam em uma dança sensual, seu pau começou a ficar rígido embaixo de mim.
‐ Vamos tomar um café antes de você voltar, para sei lá onde? – suas bochechas estavam avermelhadas, por causa do sol.
‐ Você paga – me levantei rapidamente, ficando um pouco zonza.
‐ Vai devagar, pimentinha – ele se levantou e entrelaçou seus dedos aos meus – Dessa vez sem Waffle. Quero que experimente uma das minhas criações.
‐ Você virou chefe e não me disse? – olhei indignada para ele.
‐ Só misturo algumas coisas e espero que fique bom.
Quando chegamos no restaurante, sentamos em uma mesa no andar de baixo, junto aos outros clientes. Os garçons nos trouxeram dois pratos, com um bolo que parecia ser de chocolate. Peguei o grafo e cortei um pedaço, quando eu ia colocar a na minha boca, Henri me impediu.
‐ Deve cheirar primeiro e depois me diga o que ingredientes você acha que tem.
Cheirei o pedaço de bolo e consegui sentir o cheiro de baunilha, só que mais forte do que as essenciais possuem. Não conheci reconhecer os outros cheiros, mas são muitos bons.
‐ Só reconheço a baunilha, mas não é das essências vagabundas – ele deu uma risada baixa.
‐ Porque já é essência e sim a verdadeira baunilha. Por isso que ele custa tão caro.
- Quais são os outros ingredientes? ‐ ergui uma sobrancelha.
‐ Cacau vindo direto do Brasil, moído e misturado com leite condensado. Depois misturei farinha de trigo, leite de coco, castanha de caju, nozes, um pouco de açúcar mascavo e a essência que eu mesmo faço com as flores de baunilha, que se consegue apenas uma vez ao ano – ele abriu seu sorriso novamente – Pode experimentar agora.
Coloquei o pedaço na minha boca e a explosão de saberes me fizeram soltar um gemido abafado. O bolo é muito bom, aquele que disser ao contrário, não sabe apreciar uma boa comida. Quando terminamos de comer, voltamos para o Central Park, mesmo o percurso demorando trinta e nove minutos andando, mas na companhia de Henri, o tempo parece ser curto.
‐ Queria que você ficasse mais tempo, eu poderia pagar todas as suas despesas – ele chutou a bola de uma criança, que parou em seu pé – Eu não acredito que finalmente consegui te encontrar, você já vai embora.
‐ Eu sei que você pode me bancar, mas quero parar de depender do dinheiro dos meus pais.
‐ Vou sentir saudade de você – ele me deu um beijo suave, atrapalhando as pessoas que entravam e saiam do Central Park.
‐ Você sabe que estamos no meio do caminho?
‐ Não me importo com isso, só quero você por mais um tempo, antes de te mandar de volta para o lugar onde não quer me levar.
Fomos até uma sorveteria e cada um escolheu um sabor diferente. Henri observava as crianças correndo se um lado para o outro, um aperto se formou em meus e eu soltei um suspiro, que não passou despercebido por ele.
‐ O que te aflige, pimentinha? – sua mão livre começou a acariciar minhas costas.
‐ Nada, só a ideia que vou ter que te largar – menti.
‐ Vamos nos encontrar novamente. Nem que eu tenha que arrumar outro plano para isso – encarei seus lindos olhos.
‐ Outro plano?
‐ Você acha mesmo que eu saio andando com dois copos de Milk Shake e um Waffle, por aí? – suas bochechas já estavam rosadas por causa do sol.
‐ Eu deveria ter medo de você?
‐ A menos que esteja bêbado dirigindo, o que provavelmente não vai acontecer – seu sorriso começou a sumir – Acho que está na hora de você me abandonar novamente.
‐ Falando assim, parece bem pior do que é.
‐ Para mim é.
Henri me deu um beijo suave em meus lábios e pegou o celular chamando o Uber. Ele voltou a me beijar, enquanto esperávamos o carro. Nossas línguas se encostam, arrancando gemido de nós dois. Um carro parou ao nosso lado e Henri se afastou de mim, abrindo a porta do carro.
- Só um minuto – disse Henri ao motorista.
Um garoto de cabelos ruivos e roupas de ginástica, veio correndo em nossa direção. Ele parou ofegante ao lado do Henri e tirou uma caixa de dentro da sua mochila, entregando para o Henri.
‐ Você vai me matar assim – disse o homem ofegante – Oi Laura!
‐ Oi – cumprimentei.
‐ Um presente para você, para não se esquecer de mim.
Peguei a caixa e depositei um beijo nos seus lábios macios e entrei no carro. Quando cheguei na casa da Sophia, descobri que Henri já havia pagado a corrida. Bati na porta e Gustavo abriu, me desejando boa noite, com o seu sorriso sarcástico.
‐ Boa noite!
Fui até a cozinha, cumprimentando Emily e Sophia, que estamos fazendo Cookie com pedaços de morango. Lavei as minhas mãos e comecei a ajudar as duas a preparar o biscoito, Sophia estava curiosa para saber como está a viagem e eu contei tudo para elas, escondendo a parte de sempre estive com um homem ao meu lado. Acabamos de assar os cookies e subimos para os quartos. Entrei no quarto e levei um susto com Gustavo sentado na minha cama com o livro que eu comprei hoje.
‐ Gostei das anotações – ele olhou para mim, com um olhar sombrio – Foi você que fez?
- Sim – entrei no closet, pegando um short jeans e uma camiseta de alcinha.
‐ Não foi o moreno de olhos verdes?
‐ Não – engoli em seco – Por acaso está me vigiando?
‐ Sim, essa cidade é perigosa para uma mulher como você.
‐ New York não é tão perigosa assim – cruzei os meus braços na frente dos meus seios.
‐ Você está em outro país – ele se levantou e ficou parado na minha frente.
‐ Eu sei me defender.
Em movimentos rápidos ele tirou uma arma das suas costas, apontando em minha direção. Meus músculos pararam de funcionar e cai de joelho, entro em um estado de choque intenso, que nem meu cérebro respeita os meus comandos. Tento falar algo, mas meus lábios nem se movem.
‐ Consegue se defender disso? – seu rosto está vermelho como um pimentão.
A porta se abriu, batendo na parede com força e o barulho ecoou por todo o quarto, assustando Gustavo que apertou o gatilho. Por minha sorte a arma estava sem balas. Sophia correu até mim, olhando para o irmão e depois segura seu braço, puxando para fora do quarto. Gustavo saiu do quarto e Sophia veio até mim e me abraçou com força. Quando o meu esposo de choque foi passando, lágrimas começaram a escorrer pelas minhas bochechas.
‐ Desculpa por você passar por isso.
‐ Não queria que o meu último dia aqui fosse assim – disse em meio aos soluços.
‐ Como assim, último dia? – ela se afastou para me olhar melhor.
‐ Meu voo mudou para amanhã às cinco da tarde – menti, eu não aguentava mais ficar nesse país.
‐ É uma pena – ela me ajudou a levantar – Agora vai tomar um banho, para a gente comer cookies.
Afastei a Sophia, deixando ela secar minhas lágrimas com o polegar e depois se faltou indo para fora do quarto. Tranquei a porta com medo de Gustavo voltar e fui para o banheiro, trancando a porta também. Me sentei no piso gelado do box, e abri o registro, deixando a água cair em cima do meu corpo. Lágrimas escorrem dos meus olhos e soluços involuntários saem pela minha garganta. Sai do banho, me secando com uma toalha de algodão. Coloquei uma saia curta e um top preto.
Desci para a cozinha, com os músculos rígidos, mas relaxaram quando não encontrei Gustavo no ambiente. Me sentei em uma banqueta e comecei a comer, enquanto escutava as histórias de adolescência de Emily. Quando estava satisfeita, dei boa noite para as duas e subi para o quarto. Tranquei a porta e me deitei, pegando o presente que Henri me deu e abriu, retirando uma blusa branca e um frasco com o perfume dele. Passei um pouco de perfume na blusa de algodão e devolvi o frasco dentro da caixa. Abracei o tecido com força, inalando o cheiro do perfume, que me trazia ótimas lembranças. Antes de dormir, peguei o meu celular e comprei as passagens para as cinco da tarde.
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