Você sabe que não se sente? 

Você sabe que não sente o seu corpo não é? 

Se olhe no espelho, apenas dos ombros para cima. Não espreite para baixo! O que você sabe? 

Você sabe que tem pés, porque eles estão tocando o chão. Mas não os sente. Sente o contacto com o chão. 

Então finja que você não sabe que é impossível ter pés sem tem barriga. Está olhando o espelho... acima dos ombros apenas, nu. Você tem barriga? Você sente sua barriga? Não sente, ou sente? Você só sabe.

Porque você não se sente e talvez nunca tenha dado conta. 

Olhe as suas mãos agora. Você as sente? Não! A menos que esteja tocando algo... Você sente o peso delas... Porque estão pendendo... 

Agora feche, forme um punho... Não sente a sua mão? É o contacto, não é? 

É o contacto sim, é o movimento, é tudo o que lhe toca,é o ar à sua volta. 

Levante a sua língua, fique quieto, não encoste. Onde ela está? Nem os seus músculos você sente, meu Deus, que absurdo. 

Que absurdo! Você faz parte da espécime que está liderando o mundo e nem se sentir você é capaz. 

Pronto, acho que você entendeu. 

Você não se sente, você sente o peso. 

E era isso que tanto Jungkook quanto Jimin sentiam. O peso de tudo, em seus braços, suas mãos, suas pernas, seu corpo. Em seu coração... E aquela noite tenebrosa... Tinha passado. Tenha calma, a noite passou. Mas mesmo que você vá dormir sem a certeza de que acordará no dia seguinte, porque, você sabe, isso acontece e você nem se dá conta, o dia está lá e você tem que passar por ele. 

E Jimin deixou Jungkook na cama, saindo de sorrateiro, sorrateirinho, deixando a água até do chuveiro com a pressão mínima, para que nem isso o acordasse. E depois deixou a casa, entrou em seu carro, pôs-se a caminho, porque Jungkook ainda dormia. 

Jimin sentia o frio contra o seu rosto, mesmo que o aquecimento do carro estivesse ligado, e o seu estômago revirava-se porque não comia nada desde o dia anterior. 

Ele queria fazer muita coisa naquele dia, aliás, naquela manhã, porque duvidava que Jungkook durasse adormecido até depois do meio dia. Entrava na cafeteria como se os seus passos não o massacrassem contra o chão, sentindo que tinha pés, alcançando o amigo ainda no balcão. 

''Oh, Jimin.'' Seokjin saudou-o, abraçando-o de lado, curto. ''Você vai querer alguma coisa?'' 

''Eu preciso de um café.'' Ele sorriu curto, de canto, levando a mão ao bolso traseiro dos jeans e puxando uma nota de lá, pousando-a no balcão e olhando o atendente do outro lado. ''Negro, cheio, por favor.'' Ele pediu, vendo o outro acenar. ''E pode pagar os dois.'' 

Jimin precisava de um amigo, e já tinha arrastado os outros dois para a sua miséria, então talvez fosse altura de lhes oferecer uma pausa, mesmo que ele não fosse incomodar Seokjin. 

Mal o senhor virou costas aos dois, Seokjin virou-se para o mais novo. 

''Fiquei preocupado quando me ligou.'' Seokjin declarou, porque ele sabia um pouco agora. ''A polícia foi à academia também.'' 

''Me desculpe.'' Ele rapidamente pediu, recebendo o café em suas mãos e procurando em volta por um lugar sossegado para se sentarem. 

E Seokjin acenou em concordância, virando-se para se sentar no canto fechado do café, sentando-se e vendo o amigo sentar-se na sua frente, aquecendo as mãos no copo escaldado e recostando-se para trás. 

''Está doente?'' Ele perguntou. 

''Não.'' Jimin respondeu, bufando para os cabelos em sua testa. ''Era o que mais me faltava, também.'' 

''Como está Jungkook?'' Ele quis saber, pois, como lhe disse, Seokjin sabia um pouco. 

''Eu desliguei o alarme dele, mas a minha resposta oficial é que não sei.'' Ele estava respondendo calmo, porque depois do dia anterior mais nada parecia tão ruim quanto. ''E é ruim não saber.'' 

''Como isso... Meu Deus, como isto tudo se tranformou desse modo?'' Ele perguntou, e se lhe custava a ele imagine aos outros. ''O que você vai fazer?'' 

''Eu vou à esquadra, vou assinar o final dessa merda toda e depois vou ao hospital, porque eu lembro que a enfermeira tinha alguma coisa para me dizer.'' Ele contou, sem hesitação. 

''Você vai ver o que ele escreveu?'' 

''Não.'' Ele respondeu. ''E também não vou dizer que ele esteve em minha casa ontem.'' 

''Jimin.'' Ele rapidamente se aproximou, completamente sério. ''Esse garoto te magoou, intencionalmente.'' 

''Mas ele não fez nada com Jungkook.''  Jimin ficou perto também, querendo mostrar o seu ponto que considerava tão forte que não o faria mudar de ideias nunca. ''Entende? Ele é amigo de Jungkook, ou era, não interessa. Acha que eu vou deixar isso sair das mãos dele?'' 

''O que quer dizer?'' 

''Eu não sabia que Taehyung tinha estado lá, foi Jungkook que esteve com ele.'' Ele começou, erguendo uma sobrancelha, afastando-se e rescostando-se, bebericando o café quente. ''Então é de Jungkook que isso vai sair. E eu não quero Jungkook nessa posição, porque agora ele está magoado com Taehyung e talvez isso vá durar por muito tempo, mas no futuro será um peso em suas mãos. Para além de que não o vai levar a lado nenhum e você sabe que os pesos nos levam para baixo, até ao fundo.'' 

Seokjin bufou, mas era uma respiração de concordância, acenando uma vez, sem se afastar, porque até lhe dava dó, mas de alguma maneira a decisão de Jimin parecia a mais certa. 

''E com a sua mãe?'' 

''Ontem foi um dia muito ruim, Jin.'' Ele confessou, como se não estivesse perceptível que fora desse modo e não se podia contestar. ''Mesmo muito ruim. Jungkook e eu não pudemos estar lá um para o outro.'' 

''O que quer dizer?'' Ele perguntava, porque tudo o que Jimin dizia era tão confuso, mas que mais tarde ele entendia. 

O mais novo sacudiu os ombros, ficando para a frente, depois de beber do café, sem se importar se queimava em sua língua, porque ele ainda tinha frio e não importava realmente, porque não era dor física que o magoava. E, você sabe, pelo menos ele estava sentindo a sua língua. 

''É, foi ruim, estivémos mal.'' Ele admitiu, mesmo que não estivesse arrependido. ''Mas é daquele tipo de coisa que eu sei que ultrapassámos.''

''Eu admiro essa confiança.'' Revelou, meio sorriso no rosto. 

''É porque, Jin...'' Ele acabou rindo também. ''Eu não sei amar outra pessoa, entende? E Jungkook me vê, eu sou praticamente invísivel e Jungkook me vê.'' 

''Ah, suas metáforas são calorosas.'' 

Mas Jimin estava gelado! 

''Não são.'' Ele baixou a cabeça, rindo baixinho e sacudindo os ombros. ''São só desculpas para as palavras que eu não consigo encontrar.'' 

''Palavras?'' O outro perguntou. 

''Pois... Palavras para quê?'' Ele riu, divertido. 

Porque... Para quê que Jimin precisava de palavras para descrever o seu amor por Jungkook. Não se via? 

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58k ♡

Acho que eu estou fazendo o ''20 factos sobre mim'' então...