XXXIV

❥ CAPÍTULO 34

O seguinte é que: aparentemente, depois que meu pai simplesmente sumiu por um tempo, minha tia decidiu contatar a polícia e conseguir um bom advogado. Não por conta do seu sumiço, claro, até porque se ele estava longe era algo de se agradecer, e seus sumiços repentinos não são coisas tão incomuns. O ponto principal é que ela cansou de todas as ameaças do meu pai e manipulações. Tia Marie diz que ele ficou tempo demais livre e desperdiçou esse tempo, ele é alguém que merece ficar na cadeia, então é o que ela está tentando fazer - colocar meu pai de uma vez por todas na prisão.

Não vai ser fácil, nada é, mas ela vai tentar. Eu não teria essa coragem, não agora pelo menos. Tem muita coisa acontecendo e a última coisa que preciso é me preocupar com o doador de esperma da minha mãe. Eu acredito estar melhorando, aos poucos, mas estou. A psicóloga está ajudando bastante e em passos pequenos eu vou estar muito melhor daqui a algum tempo. Então remexer no passado não é algo que eu gostaria de fazer agora pois vai me levar a decadência novamente.

Eu precisava de um tempo, eu ainda preciso e acredito que vou continuar precisando por um tempo. Ao menos até que tudo isso envolvendo minha família acabe de uma vez e não tenha empecilhos no meu caminho para finalmente seguir em frente e fazer o que quero. Por isso eu pedi um tempo para Evie, não um tempo entre nós, até porque não temos nada, mas um tempo para tudo. Eu só preciso colocar minha cabeça no lugar, resolver as coisas e continuar nesse processo de evolução. E eu não quero envolver ela e ninguém mais nisso.

— Então, preparado pra semana que vem?— Charlie indaga a alguns poucos metros na minha frente, enquanto corre na esteira e eu me preparo para levantar um peso.

— Até que tranquilo, a gente treinou bastante até aqui. Temos grande chance de ganhar o jogo. — eu respondo, para em seguida respirar fundo e usar a força que eu tenho para me levantar lentamente junto com o peso. Não é fácil, levantar toneladas não é simples, mas em pouco tempo eu já estou de pé e colocando o peso de volta no lugar.

— Quer me contar alguma coisa? — Charlie para a esteira e em seguida apoia os braços na mesma e me olha, respirando fundo e descansando. Estamos treinando pesado para o jogo que está vindo.

— Nada que eu me lembre. — dou de ombros enquanto abro uma garrafa de água e a levo para meus lábios em seguida, tomando em longos goles. — Porquê?

— Você anda estranho esses dias. — meu amigo se move até um dos bancos enquanto fala para pegar uma toalha e passar em seu rosto e pescoço suados. — Só te achei diferente.

Apesar de sentir que não era somente isso que Charlie queria saber, eu deixo de lado, pelo menos por agora. Não quero lidar com outra coisa nesse momento, e eu posso até ter uma ideia do que ele quer. Porém, mesmo estando seguro quanto ao que sinto, entrar em assunto envolvendo a irmã dele e relacionamento não é algo que eu quero agora. Estou cheio e só quero dormir por uma semana inteira. Eu entendo que Evie não estava em um dos melhores estados naquela noite, e está tudo bem agora relacionado a isso, mas a minha vida ainda está uma loucura.

— Anda acontecendo algumas coisas com a minha tia e meu pai, ela tá tomando providências quanto a ele. É muita coisa, se for para falar algo eu quero que seja com você e Justin juntos, não estou afim de falar muito disso. — solto um longo suspiro enquanto me jogo contra um dos bancos e permito relaxar minhas pernas. Porra, eu estou morto por hoje. - Você sabe que é difícil falar dele, então quanto eu tiver melhor eu falo disso com vocês, pode ser?

— Não tem problema, cara, eu só fiz uma pergunta. — Charlie se senta ao meu lado e da um tapa leve no meu ombro. — Você tá bem?

— Acho que sim. — balanço os ombros, olhando para ele de canto. — Só meio cansado.

O loiro não diz nada, somente da um sorriso fraco e passa um braço pelo meus ombros, me levando para mais perto dele e bagunçando meu cabelo em seguida. Sorrio de canto, e apoio minha cabeça em uma de suas pernas quando me deito meio desajeitadamente no banco, enquanto bebemos água, descansamos e fazemos companhia um ao outro em silêncio. Uma das coisas que eu mais admirava nos dois loiros idiotas era a forma deles me entenderem sem precisar de muitas palavras, e trazer conforto mesmo sem dizer nada. Nós três nos tornamos irmãos de repente, e quando vimos já tínhamos essa conexão.

Alguns chamam de boiolice, literalmente já usaram essa palavra. Só rimos na cara do babaca e não ligamos. Apesar que, confesso, vendo de longe realmente até eu estranharia uma aproximação dessa. Mas a última coisa com que nos importamos é algo assim.

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— Isso é estranho, não acha? — Justin pergunta de repente.

— O que?— franzo o cenho olhando para ele de canto, que estava encostado na bancada ao lado enquanto eu faço a comida.

& Aconteceu toda aquela coisa com o Avery na boate, pelo que você disse ele estava muito irritado, e então ele simplesmente some? — ele reflete, em seguida levando alguns tomates picados para a boca. Bato em sua mão antes que ele pegue mais e não sobre nada. — Assim, o cara é um filho da puta que se acha melhor que todo mundo. Você acha que ele deixaria alguém ameaçar ele e ir embora?

— O que você quer dizer com isso? — pergunto, apesar de já ter uma ideia.

— Eu espero que não, mas esse cara não é flor que se cheire. — Justin balança a cabeça. — Você sabe disso, então é melhor tomar mais cuidado caso ele resolva aparecer de repente. Esse cara é louco!

— Relaxa. — dou um tapa em seu ombro, em seguida empurrando ele para longe de mim antes que acabe com a comida que ainda nem está pronta. Justin ri. — Ele não tem motivo pra fazer isso, e mesmo que tivesse eu sou maior e mais forte que esse babaca. Já estava querendo dar uns socos em alguém mesmo, ele é a pessoa perfeita.

Justin revira os olhos enquanto volta para perto de mim outra vez.

— Eu tô falando sério. — ele empurra meu braço de leve, espiando a panela. Dou um chute na sua canela em seguida que o faz grunhir de dor e xingar até minha quarta geração. — Filho da puta, eu estava falando sério contigo. Agressivo!

— Fala longe de mim, você não vai chegar perto da comida até que ela esteja pronta. — em alguns dias na semana eu costumo fazer umas refeições diferentes, fortes e saudáveis para nós três. Além de termos que manter uma boa alimentação por conta do futebol e seguir uma dieta, se dependesse dos outros dois nós comeríamos pizza e comida enlatada todo dia.

— Ryan, só toma cuidado. Aquele cara é estranho. — Justin diz mais uma vez antes de se afastar, saindo da cozinha. Assinto com a cabeça, respirando fundo.

Pensar em Jeremy e em todas essas merdas não é algo que eu quero agora. Na verdade eu gostaria de não pensar em nada por um bom tempo se possível. Sei que esse Jeremy Avery não é confiável, os dias últimos dias deixaram isso mais claro, além do filho da puta ser um drogado ridículo que não aguenta quando recebe um não ou é contrariado.

Por isso sei que se Jeremy deixou para trás a forma como eu simplesmente ameacei acabar com toda aquela pose de filho da puta, ele não vai ignorar para sempre. Porque se algo ou alguém interfere em alguma coisa que Avery faz, ele revida. Não sou amigo dele e nem nada perto, mas jogamos juntos e com isso eu sei o bastante sobre ele para manter distância e ficar atento. Já vi uma das garotas da torcida ser expulsa do time por negar algo a Jeremy, de algum jeito ele conseguiu fazer ela ser expulsa. Esse cara é um maníaco louco que ainda não está na cadeia por conta do dinheiro.

E se ele realmente for fazer algo, que faça. Eu não me importo de bater em alguém para extravasar a raiva. Porra, uma das minhas maiores vontades é arrebentar a cara daquele desgraçado. Não me importo se for machucado também, não mesmo, contanto que ele não resolva mexer com outra pessoa as coisas podem ficar do jeito que estão.

Avery não faria nada visível aos olhos dos outros que pudesse prejudicar ele. Isso era quase uma certeza.

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