XXXIII

❥ CAPÍTULO 33


Se antes eu tinha alguma dúvida de que algo sério aconteceu na noite da boate, agora eu tenho cem por cento de certeza.

Eu não sei se me sinto aliviada com isso ou triste, mas os dias de estudo com Ryan estão acabando. Daqui a duas semanas começam as provas e diria que nós dois estamos prontos, me sinto bem por ele ter conseguido compreender tudo e ter chance de tentar de novo, mas algo dentro de mim se aperta com a possibilidade de não passar mais tanto tempo com ele.

Viemos estudar hoje na mesma cafeteria em que ele me trouxe no outro dia. Não conversamos muito, somente o necessário e nada de assuntos fora do contexto da matéria. Estamos quase acabando por hoje, ele não me tratou mal nem nada que fosse tão trágico, mas Ryan parece estar evitando qualquer conversa sobre aquela noite. Eu quero saber o que aconteceu e o porquê, mas ele simplesmente se mantém calado quanto a isso e desvia o assunto sempre que eu tento falar algo sobre.

— A gente pode conversar, por favor? — Ryan estava prestes a guardar suas coisas quando eu peguei em sua mão, impedindo que ele continuasse e para que ficasse parado. — Eu não sei o porquê, mas você tá sendo infantil evitando de falar o que quer que tenha acontecido. Por favor, fala comigo. O que aconteceu?

— Sobre o que exatamente você quer conversar? — ele respirou fundo, parecendo ceder, e voltou a se recostar na cadeira de maneira relaxada.

— Riley disse que quando chegou em casa naquela noite, as coisas não pareciam estar em um clima muito bom entre nós dois. E agora você meio que tá comprovando isso, agindo desse jeito e evitando conversar. — explico. — Se é algo que me envolve eu tenho o direito de saber. O que aconteceu pra você tá me evitando?

— Eu não estou te evitando.

— Sim, você está. Você não conversa direito comigo e nem olha na minha cara. Eu pergunto de novo, Ryan: o que aconteceu?

Ryan respira fundo, parecendo pensar nas minhas palavras e passa a mão no rosto com força.  Ele não parece estar com um humor muito bom.

— Eu te deixei em casa e fiquei esperando Riley chegar pra poder ir embora. — ele começa a explicar e eu escuto tudo com atenção. Ele ainda não olha para mim. — Nós dois começamos a conversar e em um momento a gente meio que começou uma pequena discussão. Você falou que eu ter te ajudado era o mínimo depois estar me ajudando quase todo dia a estudar.

— Que?! Ryan, olha...

— Agora que eu comecei eu vou terminar. Você insistiu. — ele não me deixa continuar. — E falou como se tratasse isso como uma obrigação, além de dizer que fazer isso toda hora cansa você.

Eu não falo nada de imediato. Ele termina e fica calado também, quieto onde está e olhando para os próprios dedos enquanto mexe no anel da mãe sem parar.

— Isso é sério?

— Por que eu brincaria com isso?

Dou de ombros.

— Tá bom, me escuta. — olho em seus olhos, mesmo que ele não esteja exatamente olhando para mim. Bufo, pegando com calma em seu rosto e virando para mim, para que ele me olhasse. Ryan respira fundo e me olha, finalmente. Os olhos escuros e opacos não transmitindo nada. — Me desculpa. Eu não sei porque eu disse isso, não é o que eu penso. De verdade.

— Não precisa se explicar.

— Não, até porque eu não me lembro de nada, mas eu quero. — balanço os ombros e pego em suas mãos, parando o remexer insistente de seus dedos. O calor de sua mão é aceitável, eu gosto de sentir a pele macia, forte e arrepiada. — No começo, talvez, bem no começo quando eu ainda não ia com a sua cara eu não gostava tanto assim dessa ideia, mas a gente tinha feito um acordo. Eu não gostava de olhar pra sua cara e ficar com você por muito tempo, mas isso foi antes. Eu não penso mais assim.

— Bem, foi o que você disse. — Ryan dá de ombros, voltando o olhar para nossas mãos unidas. — E geralmente o que alguém diz bêbado é algo que não teria coragem de falar sóbrio.

— Verdade. Mas não é o que eu realmente penso, eu já disse. — solto um suspiro. — Eu estou meio nervosa com tudo que vem acontecendo, com as provas perto, o balé e... esses sentimentos, acho que eu só falei o que pensava antes pra extravasar. Eu estava bêbada e drogada, sei que não é justificativa, mas eu não faço ideia do que eu tava pensando.

Ele não diz nada, somente assente com a cabeça enquanto ainda parece um pouco perdido nos próprios pensamentos.

— Você ficou chateado com isso ou algo assim?

— Só não foi algo legal de ouvir. — Ryan dá de ombros e balança a cabeça. — Eu até que gosto disso, desses dias que a gente estuda e ficamos horas juntos, é bom. E ouvir isso me fez senti um idiota.

— Eu entendo. — digo baixo. — Eu gosto também, e eu falo sério. Me desculpa por isso, eu espero que você entenda que eu realmente não penso do jeito que eu falei.

Muitas coisas mudaram nas últimas semanas, nos últimos dias... Eu não estou mentindo quando digo que, apesar de não ter gostado nenhum pouco da ideia de passar horas com Ryan quando a ideia foi proposta, os últimos dias me fizeram ver algumas coisas diferentes. Esses momentos são bons, são legais. Quando a gente faz pausas nós conversamos sobre qualquer coisa, discutimos sobre algo que vimos ou ficamos falando de algo que aconteceu com outras pessoas, esses momentos são legais e eu gosto muito de aproveitar com ele.

Talvez falar tudo aquilo que ele diz que eu falei foi realmente ao mais uma forma de soltar algo que me deixava frustrada e irritada há algum tempo atrás, mas não mais. Talvez eu só precisasse soltar algo de alguma forma, mesmo que fosse algo estúpido, patético e totalmente errado. Eu estou nervosa com tudo que está envolvendo o balé ultimamente, as provas e parece que uma ansiedade gigantesca começa a crescer no meu peito com essa alternativa de não saber o que vai acontecer. Definitivamente não é uma razão cem por cento certa, mas eu não consigo explicar. Eu gosto do Ryan, o que significa que eu gosto de passar o tempo que for necessário com ele e o que significa também que eu nunca faria algo para ele se sentir de alguma forma chateado ou desconfortável.

— Eu entendo. — Ryan finalmente diz algo, suspirando e fitando meu olhos em busca de algo. — E me desculpa por isso, é que eu lembrei de algumas coisas ruins. E aconteceram outras coisas. Tá tudo bem.

— Isso é bom. Você pode voltar ao normal agora, por favor? — encerro o toque de nossas mãos quando as trago para meu colo e entrelaço meus dedos. Todo aquele toque estava me fazendo sentir algo que eu não gostava nenhum pouco dentro de mim.

— Que normal? — ele arqueia uma sobrancelha, logo em seguida inclinando a boca em um sorriso de lado. — Isso significa que sente falta do meu lado “normal”? — ele faz aspas com os dedos na última palavra.

Esse normal.

— Eu prefiro essa versão. — dou de ombros, um pouco mais aliviada.

— Bom saber. — ele respira fundo, voltando de repente ao seu semblante sério. A bipolaridade. — Mas agora tá acontecendo algumas coisas que não são tão legais e eu preciso de um tempo pra colocar tudo em ordem novamente. Não tem a ver com você, mas eu preciso pensar um pouco. Então nossos dias de estudo vão ser menos, porque eu vou ficar ainda mais ocupado e eu não vou abandonar, as coisas só vão ser menos frequentes. Se tiver tudo bem pra você.

— Você tá bem? Precisa de ajuda com algo?

— Não, obrigado. Eu tô bem. — Ryan nega. — Eu só preciso de um tempo, é importante para mim.

— Tudo bem. Só me fala os dias que você vai estar ocupado com antecedência, para eu me reorganizar.

— Desculpa mesmo.

— São suas coisas, sua vida pessoal. — balanço a cabeça. — Eu não sei o que tá acontecendo, mas espero que tudo se resolva, tudo vai.

É estranho; um tipo de aperto que sinto no peito é estranho.

— Obrigado.

— Sem problemas.

Parece que qualquer assunto que tínhamos antes morreu, e agora só estávamos sendo preenchidos pelas vozes baixas das pessoas, em algum lugar perto de nós, enquanto guardamos nossas coisas.

Eu não sei o que está conhecendo ou o que estou sentindo, mas essa sensação de frio na barriga, o coração acelerado e os arrepios involuntários, são coisas que eu definitivamente sei que me faz querer sumir somente em pensar na possibilidade de algo mais intenso.

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