XXXI
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❥ CAPÍTULO 31
Faz um tempo que chegamos na boate. Tempo suficiente para tomar quase uma garrafa inteira de tequila e duas taças de martini. Já sinto o álcool entrar em minha circulação sanguínea, não o suficiente para ficar bêbado, com o passar dos anos a minha imunidade ao álcool foi só aumentando, então preciso beber bastante até que consiga ficar embriagado.
Uma das razões para eu estar bebendo tanto, claro, é Evie. Ela não tem culpa, não diretamente. Desde que eu cheguei no local e botei os olhos nela foi meio difícil de desviar. Evie está deslumbrante essa noite, muito linda mesmo, e sempre que nossos olhos se encontravam, mesmo que por uma fração de segundo, tudo ao redor parecia sumir e meu corpo parecia se acender. Ela está dançando agora, há alguns minutos estava com Sarah e mais algumas garotas que conheci hoje, mas nesse momento ela está sem elas. Gostaria que estivesse sozinha, por mais horrível que seja isso, ver ela dançando com outro cara praticamente na minha frente não é nada legal.
Combinamos de ter aquele lance sem exclusividade, mas é difícil para caralho não me incomodar com isso quando a garota por eu estou apaixonado está dançando com o corpo agarrado ao de outro homem. E isso é terrível, eu sei, não gosto nem de imaginar, ver é ainda pior.
— Duas meninas gatas vieram até aqui e você rejeitou elas. — Justin começa, se sentando ao meu lado com um copo vazio na mão e me olhando curioso. — Qual o motivo?
— Por eu simplesmente não querer.
— Justo. — ele balança a cabeça. — Só isso?
Dou de ombros, deixando que ele pense um pouco.
— Aaaaah! — ele prolonga essa única letra como se tivesse feito uma descoberta impressionante. — É a ruiva, né?
Olho para ele, recostando a bochecha no punho, que está apoiada no braço do sofá, e olho para Justin com as sobrancelhas arqueadas.
— Sabia! — meu amigo grita no meu ouvido, afasto ele com um empurrão no ombro, revirando os olhos.
— Surpresa. — dou um sorriso amarelo, voltando o olhar para a pista de dança. Ela não está mais lá.
— Você gosta da pequena Evie. Não é nenhuma surpresa na verdade. — Justin fala gesticulando com as mãos. — Uma hora ou outra os pombinhos iriam se revelar.
— No caso, isso só vem de mim. Ela não gosta de mim desse jeito. — ele estala a língua no céu da boca, balançando a cabeça em negação.
— Confia, irmão. — Justin bate levemente a mão em meu ombro, sorrindo de lado. — Eu sou o primeiro a saber disso, né?
— Minha tia soube antes.
— Ela não conta, eu fui o primeiro a saber. — ele sorri animado, passando o braço por meus ombros e me puxando para si. — Valeu, cara, me sinto especial.
Solto uma risada fraca, negando com a cabeça.
— Tá bom. — deixo ele sentir a emoção sem estragar nada, somente rindo das besteiras que ele fala. Justin consegue tirar os pensamentos ruins de qualquer pessoa com as palavras certas, isso sempre funciona. É um dom.
✧ ✧ ✧ ✧
Jeremy Avery nunca foi uma pessoa que eu fosse muito próximo, nosso único contato e ligação era por conta do time. Uma boa justificativa é que, além dele não ser uma pessoa que eu gosto, algo simplesmente me diz para não confiar e manter distância. Eu confio na minha intuição, e se ela diz para ficar longe eu vou ficar. Porém parece que o universo gosta de pregar peças comigo, porque nesse exato momento eu estou observando o dito cujo no bar sentado ao lado de Evie.
Os dois rindo, se tocando e com muita intimidade, bebendo demais. Não deveria estar olhando, mas simplesmente não consigo desviar. Não quando ela está vulnerável perto de alguém que não é confiável. Ela não parece desconfortável ou querendo fugir, então não vou interferir, a menos que veja algo estranho.
O estranho do tipo; ela estar sentada de um jeito desajeitado no banco, com os braços no balcão e algumas vezes deitando a cabeça, rindo para o teto e lugares aleatórios, permitindo que Avery pedisse suas bebidas, sem ninguém ao longe ver.
Franzo o cenho, decidido a ir lá e averiguar toda a estranheza desses dois. Em passos rápidos e pesados, logo estou próximo a eles, parando ao lado de Evie, que me olha sorrindo ainda mais.
— Oi, gatinho. — Evie me recebe, abraçando a minha cintura com os dois braços e encostando a cabeça no meu abdômen. Pouso a mão nas suas costas, fazendo uma carícia leve com o dedão, e olho rapidamente para ela antes de voltar o olhar para Jeremy.
— O que você quer, cara? Não viu que a gente tá conversando? — Avery se intromete, com o olhar fulminante em mim. Dou um sorriso ladino, tombando a cabeça para o lado enquanto o olho.
— Sim, eu vi. — balanço a cabeça, mantendo o sorriso. — Vi muito bem. Eu não posso saber sobre o que estavam falando?
— Nã...
— Ele tava falando sobre as coisas legais que tem lá fora. — Evie responde por ele, o interrompendo. Ela afasta a cabeça de mim e olha para mim, sorrindo igual uma criança. — Quer ir com a gente?
Uma carranca aparece sobre meu rosto quando olha para ela. Os cantos dos olhos vermelhos e a pupila mais dilatada que o normal. Mas que porra!
— Seria legal. — levanto o olha novamente para Jeremy, que engole em seco e desvia dos meus olhos. Olho para o copo em sua frente e aponto com o queixo. — É sua bebida?
— Sim.
— Por que você não bebe?
— Eu bebo quando eu quiser. — Jeremy revira os olhos e bufa, visivelmente irritado.
— Isso é gin?— Evie pega o copo, tão rápido como um ninja e coloca perto de sua boca. Tiro de suas mãos antes que ela beba, a mesma reclama. — Ei, eu ia beber!
— Acho que é melhor a gente sair daqui, Evie. — eu digo, colocando uma mão sobre a lateral da sua cabeça. Ela olha para mim por alguns segundos, faz o mesmo com Jeremy e em seguida levanta, quase caindo em meus braços e ficando ao meu lado.
— Sério isso? A gente tava conversando, você não pode chegar mandando nela.
— Eu fiz uma sugestão, ela aceitou. Não é, ruivinha?- ela me olha, assentindo com a cabeça e deitando a cabeça em meu peito enquanto me abraça. — Ela quer vim.
Jeremy solta uma lufada de ar forte, passando as mãos no cabelo agressivamente. Ele está ficando mais bravo.
— Qual o seu problema?
— Eu não sei, mas pelo menos eu não tento enganar ninguém colocando algo no copo dela sem a pessoa saber. Nem drogo ninguém.
— Bom pra você. — ele cruza os braços. — Por que tá falando isso pra mim?
— Não me irrita mais do que eu já tô irritado. — cerro os dentes enquanto faço carícias leves no cabelo de Evie, me segurando para não ir para cima dele. — Sai daqui antes que eu chame os seguranças e se eu te ver de novo, eu juro que quebro sua cara sem me importar com merda nenhuma.
— Você tá me ameaçando?— Jeremy se levanta, ficando a centímetros perto de mim. Seu corpo está rígido e um semblante que poderia ser ameaçador para alguma outra pessoa está em seu rosto. Evie vai mais para trás, abraçando minhas costas. Poderia gostar de todo esse carinho se não fosse as circunstâncias que estamos agora. - Saiba que sua namoradinha quis muito bem tomar o ecstasy.
Puta que pariu!
— Você perdeu a cabeça? — pensei em avançar, mas os braços de Evie me prendem no lugar, não consigo nem me mover direito. — Você dá ecstasy pra alguém que nunca tomou nada e ainda ia dar bebida pra ela? Você se superou, seu doente. O que você pretendia fazer?
— Nada. — ele revira os olhos, se encostando relaxadamente no balcão atrás dele. — Eu não sou tão doente como você pensa. Eu ofereci, ela aceitou, a gente tava conversando, eu não pretendia fazer nada. Ainda mais desse jeito. E a bebida é minha, como eu já disse.
— Bom. A gente vai embora e se eu ver você fazer algo assim de novo, se considere morto. — eu não me importava mais com merda nenhuma agora. Não ligo se ele está falando a verdade ou não, não penso nisso e nem vou confiar.
— Não se preocupa não vou chegar mais perto dela. Sua namorada agora, né?
— Não, Jeremy. Mas ela é uma mulher e minha amiga, eu e qualquer outra pessoa normal ajudaria alguém de um babaca como você.
Ele ri com escárnio, passando a língua nos dentes e me fitando com seus olhos claros e sombrios.
— Evie, meu Deus. Finalmente te achei. — a voz do amigo da Evie atrás de mim nos interrompe, nos fazendo olhar para ele. — Você sumiu de vista, sua louca, nem pra avisar.
— Desculpa, tava conversando com o Jeremy, me esqueci de falar com você. — a voz dela sai arrastada, quase cansada. Evie me solta, somente para abrir os braços para Riley e abraçar seu pescoço.
— Tá tudo bem aqui? — Riley pergunta quando olha para mim e Jeremy, percebendo os olhares feios.
— Sim. — Avery se irrita, andando para se afastar de nós. Antes que ele consiga, seguro seu braço, me aproximando dele. Ele olha para minha mão o segurando e depois para mim, claramente sem paciência.
— Eu falei sério. — meu tom sai ameaçador, somente para ele ouvir. — Se eu souber de algo assim de novo, você vai para a cadeia. E eu só não te mando agora porque eu sei bem como essas coisas funcionam, mas não me subestime.
Ele não diz nada, somente se solta de mim e se afasta em passos duros e rápidos. Respiro fundo, tentando acalmar minha respiração e meu coração. Ele me tirou do sério.
— É melhor ela ir pra casa. — suspiro passando a mão no cabelo e olho para Evie, que estava com a cabeça apoiada no ombro do amigo e com os olhos quase fechados enquanto o abraçava. — Ela tomou ecstasy e tá bêbada.
— Ela fez o que?! — seus olhos se arregalam e ele olha para ela antes de voltar para mim.
— Pois é. Levar ela pra casa é o melhor a fazer.
— Vamos, Evie?— Riley pergunta para ela, que abre os olhos para olha-lo.
— Pra casa não. — ela o solta e se afasta um pouco, cruzando os braços. — Eu quero ficar aqui e dançar mais.
— Você pode dançar em casa. — ele suspira, visivelmente cansado também.
— Não tem graça. — ela faz birra como uma criança.
Evie olha para nós dois, parecendo pensar em algo e não deixa Riley se aproximar quando ele tenta levar ela. A droga entrou totalmente no cérebro dela, Evie não é assim.
— Eu vou com o Ryan então. — ela vem até mim, enlaçando seu braço ao meu e encostando a cabeça em meu braço. Solto um suspiro.
— Evie, vai com ele. Riley é seu amigo e vocês moram juntos, é mais fácil. — seguro seu queixo para que ela olhe para mim.
— Você também é meu amigo. E Riley é diferente, ele é meu melhor amigo, você não é só isso.
Sorrio fraco, tentando não perder o foco no que está acontecendo agora. Seguro os ombros de Evie, beijando sua cabeça. Ela sorri, se aconchegando em meus braços.
— Eu posso levar ela e você vai atrás, eu deixo ela lá e posso ir embora. — sugiro para Riley. Ele olha para nós dois por alguns instantes, antes de respirar fundo e assentir com a cabeça.
— Tudo bem, vou falar com Sarah e o Charlie e já vou.
— Não, não fala com eles. — Evie interrompe, falando alto. — Os dois tão juntos finalmente e eles nunca conseguem ficar muito tempo, deixa eles aproveitarem porque finalmente tomaram coragem. Não é pra atrapalhar os dois.
— Seu irmão vai saber de qualquer jeito. — Riley retruca. Ela dá de ombros.
— Mas não agora, deixa os dois.
E assim foi. Com Evie agarrada ao meu braço, eu me despeço de Riley, que me agradeceu e vou com ela até a saída da boate. Finalmente longe de todas as pessoas e o barulho, ainda que desse para ouvir a música daqui de fora. O vento é frio e o céu escuro está tão cheio de nuvens que eu suponho que vá chover.
Evie cantarola baixinho a música que toca na boate, batucando os dedos levemente no meu braço. Gostaria que as circunstâncias fossem outras.
Quando já estamos perto do meu carro, pingos de água grossos começam a cair. Começando fraquinho e em menos de um segundo se transformando em uma tempestade. Nos molhando imediatamente e fazendo as poucas pessoas que estavam aqui fora voltarem para dentro ou irem para debaixo de alguma coisa que pudesse os proteger.
— Evie... — eu chamo quando ela me solta e vai para o meio do estacionamento, um lugar onde não tem muitos carros ou motos. Ela sorri para mim e em seguida abre os braços e fecha os olhos, sentindo a chuva e girando. — Você vai cair, por favor.
— Deixa de ser chato. — ela diz alto por conta da chuva forte, entre risos. A minha roupa está encharcada, grudada no meu corpo e me incomodando pra cacete. A mesma coisa com meu cabelo, que insiste em cair na minha testa e atrapalhar minha visão. Já está na hora de cortar essa coisa.
— Eu não tô sendo chato, eu estou sendo realista e cuidadoso. Porque se a gente ficar mais tempo aqui nós vamos ficar doentes. — me aproximo dela rapidamente, passando os braços por seu corpo e abaixando seu vestido que estava muito desajeitado. — Vamos pro carro, eu vou te levar em casa e você vai tomar um banho e ficar confortável no seu cantinho.
— Depois. — ela se solta, pegando nas minhas mãos e começando a se mexer. — Agora vamos dançar.
— Evie, não. — não consigo segurar a risada quando ela começa a se mexer de um jeito estranho e balançar meus braços para eu acompanhar ela.
— Dança! — Evie praticamente grita, me soltando e girando enquanto balança os braços e pula. Ela está cem por cento fora de si.
Pego em seu braço para trazê-la para perto de mim e passo um braço por sua cintura enquanto com o outro eu coloco minha mão em seu rosto, acariciando.
— Vamos embora. — falo novamente, dessa vez mais cauteloso. Ela bufa, abraçando meu pescoço e deitando a cabeça em meu peito.
— Só um minutinho. — ela resmunga, a sua bochecha esmagada em meu peito. Eu poderia ficar agarrado desse jeito com ela o dia todo, mas estamos encharcados de agua e isso está me incomodando demais. Toda a roupa grudada, a água entrando no tênis e o meu cabelo grudando no meu rosto e nuca são coisas que me fazem querer explodir, por simplesmente serem irritantes demais para mim.
Evie se balança, me fazendo ir junto em um ritmo que se parece com uma valsa ou algo nesse estilo. Completamente diferente da música de letra suja que toca dentro da boate.
Ela se afasta um pouco de mim, dando um giro perfeito e pegando minha mão em seguida. Logo me fazendo girar também, mesmo que contra protestos. Ela gira em meus braços, dança e fica no seu mundinho como se todo o resto do mundo não existisse. Como se não estivéssemos no meio do estacionamento de uma boate, como se uma música nada recatada não estivesse tocando no estabelecimento e como se uma tempestade não estivesse caindo por nós. Só Evie e seu mundinho na dança.
— Já chega, né?! — pego em sua cintura quando ela para de se mexer e fica estática no lugar, sorrindo fraco. — Vamos pra casa?
— Vamos. — ela assente, abraçando meu corpo e indo comigo até o carro. Agradeço por hoje ter vindo de carro com os meninos, se tivesse de moto ia piorar toda a nossa situação.
Depois de entrar no carro e nos livrarmos de toda aquela chuva e o ar frio, eu abro todos os botões da minha camisa e deixo ela aberta, aproveito também para dar uma mexida no tecido para desgrudar da minha pele. Retiro os tênis encharcados e as meias, colocando tudo no banco de trás.
Olho uma última vez para a garota ao meu lado antes de dar partida no carro. Ela está abraçando os braços enquanto tem a cabeça encostada no vidro da janela e olha para o lado de fora, parecendo perdida nos pensamentos ao mesmo tempo que parece cansada e querer fechar os olhos.
— Quer ouvir uma música? — pergunto para Evie, colocando meu cinto e em seguida me esticando para prendê-la também no cinto. — Pode escolher.
— Pode ser. — ela balança os ombros e eu estendo meu celular para ela, que graças a qualquer deus, não molhou dentro da minha carteira. Ela conecta o celular ao rádio e coloca uma música da Taylor, já deveria imaginar. Evie fica cantando baixinho e se balançando levemente ao som da música o caminho todo. Com um sorriso fraco eu observo ela e seus movimentos espontâneos e involuntários. Apesar de seu estado nada saudável, é divertido e calmante observá-la.
✧ ✧ ✧ ✧
O caminho foi longo, a chuva prolongou todo o processo. Fiz questão de dirigir mais devagar e ir pelas rodovias mais seguras até chegar no apartamento de Evie, mesmo que essas rodovias fossem mais longas. Não queria arriscar nada, ainda mais com ela ao meu lado.
Não deixei ela fechar os olhos por nenhum momento o caminho todo, apesar do cansaço aparente em seu rosto e postura. A música a distraiu por um tempo, mas não o bastante. Não queria que Evie dormisse agora, não desse jeito. Ela teria que tomar um banho, gelado por conta da bebida e do ecstasy, mesmo que estivesse molhada pela chuva. Eu tentei avisar.
Subi com Evie nos braços, estilo noiva, pois ela não aguentava mais um segundo em pé. Evie está acabada, e isso está evidente tanto na aparência quanto na forma que seu corpo está mole.
Deixo Evie no sofá enquanto pego uma coberta quente para ela e água. Vou esperar que Riley chegue para ele colocar ela para tomar banho, não quero ser invasivo. Ele disse já estar perto, então não deve demorar muito para chegar. Aparentemente ele saiu da boate cinco minutos depois que viemos embora, ele ficou para achar Sarah e falar com ela antes de vir.
— Por que você aceitou bebida dele? E droga? — indago. Mesmo sabendo que esse não é o momento certo e que ela não está cem por cento bem, eu quero saber, não importa que a versão mude quando já estiver sóbria.
— Eu não aceitei as bebidas dele. — Evie se encolhe no sofá, se envolvendo na coberta grossa e deixando somente a cabeça para fora. Ela também tirou toda a roupa molhada e está somente com um roupão verde água envolvendo seu corpo. — Eu só bebia o que o barman me dava. E eu tomei o ecstasy por curiosidade. Eu sei que não é totalmente certo, mas já foi.
Eu realmente não sei se consigo acreditar no que Jeremy disse de não ter nenhuma intenção maldosa. Eu não confio. É difícil confiar em algo assim. Mas sendo verdade ou não, meu estômago embrulha somente de pensar o que poderia ter acontecido se talvez ela estivesse um pouco mais alterada, ou se não estivesse com ele e sim com outra pessoa. Ou até se Jeremy tivesse mesmo más intenções e conseguisse ir embora com ela daí. São alternativas angustiantes e que me fazem querer dar um soco em mim mesmo para deixar de pensar nisso.
— Essa curiosidade é perigosa.
— Eu sei. — Evie bufa, jogando a cabeça para trás. — Deixa de ser chato.
— Sério?! — tento não discutir ou levar isso a alguma argumentação mais séria, ela não está no estado perfeito para isso. E eu nem quero me desentender com Evie. Durante a semana nos vimos poucas vezes, usamos somente dois dias para estudar e já estava sentindo falta de ficar perto dela e sentir todas as sensações que somente ela é capaz de proporcionar.
— Por que você tá tão bravo? Isso já foi. Eu estou em casa, não estou?
— Eu não tô bravo, Evie. — suspiro, passando a mão no rosto pesadamente, já começando a ficar cansado. — Só que se não tivesse ninguém lá pra te ajudar? Se eu não tivesse te visto ou nenhum dos seus amigos? Você sabe como isso é perigoso?!
— Eu sei, eu não sou burra! — ela revira os olhos. — E eu sei me defender.
— Com certeza você saberia se defender drogada e bêbada e não aguentando os próprios pés.
— Você tá me irritando. — Evie grunhe, apertando os olhos com força.
— Idem.
Eu não olho para ela. Não quero olhar e acabar vendo algum tipo de chateação em seu rosto. Poxa, eu quem deveria estar. Mesmo a ajudando ela age como se nada tivesse acontecido. Não esperava um obrigado ou nenhum tipo de agradecimento, mas também não imaginava que ela fosse ficar brava comigo. E eu não sei nem o porquê estarmos praticamente discutindo agora.
— Você tá bravo?— sua voz suave e baixa quebrou o silêncio que estava por toda a sala.
— Não, Evie. Eu não estou bravo.
— Não é o que parece. — ela murmura quase em um sussurro. — E por me trazer em casa, obrigada, era o mínimo.
Ela sussurra as últimas palavras, mas eu consigo ouvir perfeitamente bem. Franzo o cenho olhando para ela, buscando algum resquício de que isso é somente uma brincadeira.
— O mínimo? Você quem pediu pra que eu te trouxesse e não quis que o Riley viesse com você. Por acaso eu fiz algo errado em algum momento?
— Eu pedi porque sabia que você iria vim. — Evie dá de ombros. — E depois de eu tanto perder meu tempo te ajudando a estudar, me dar uma carona era o mínimo.
— Você vai apelar pra essa agora? Você aceitou isso. — eu estava me segurando, mas é inevitável não ficar pelo menos um pouco irritado com toda essa merda. — E eu te ajudei também.
— Sim, eu só aceitei por causa disso. — ela olha meus olhos, confiante. Parece que um pouco da bebida e da droga saíram de seu organismo. — Mas agora você já aprendeu o bastante pra passar na prova que está vindo. Você deveria me agradecer.
— Eu te agradeço todo santo dia. — me levanto, exaltado. Estou ficando irritado e toda a roupa molhada que está secando em meu corpo gelado não ajuda. — E por que você tá tratando isso como obrigação? Eu pensei que estava tudo certo pra você.
— E está. — Evie balança a cabeça e suspira em seguida, desviando os olhos dos meus. — Só que ficar toda hora nisso cansa, você deveria fazer as coisas sozinho um pouco.
— A gente só se viu duas vezes essa semana exatamente por isso. Você não pode ficar falando várias coisas sem saber ou tirando todo o contexto. — cruzo os braços, me encostando na parede ao lado dela. — Se não quiser mais isso é só dizer que a gente para. Não é um dever seu.
— Não, a gente ainda tem mais alguns dias então vamos continuar até terminar. — ela diz, com a voz mais baixa e encolhida no lugar.
— É isso mesmo que você pensa sobre tudo? Que é cansativo, que você não quer mais e tudo isso é um fardo que não é seu?
Ela olha para mim, os olhos arregalados agora brilhando com as lágrimas acumuladas.
— Não, Ryan, me desculpa. — ela diz rapidamente, se levantando do lugar e se aproximando de mim. — Eu me expressei mal, não foi isso que eu quis dizer. Não tô pensando direito, desculpa.
— Foi o que você disse. — dou de ombros, tentando não ceder sob os olhos suplicantes e brilhantes da mulher a minha frente tentando reverter o que disse.
Não queria, mas admito que estou um pouco chateado com isso tudo. Ela disse com todas as palavras que está cansada de ficar me ajudando e não era pra ser assim. Não era pra ser um fardo para ela nem nada disso. Eu quem pedi, sim, mas ela aceitou isso e agora trata como uma obrigação. Já fui um fardo demais na vida das pessoas. Meu pai falava isso todo dia para mim, não queria acreditar, mas é inevitável quando ele colocava isso toda hora na minha cabeça. E agora eu estava me livrando disso, parando de pensar que fui só um peso na vida dele e da minha mãe, que eu era um fardo gigante para a minha tia — porque eu realmente pensei assim por bastante tempo — e Evie de repente traz isso a tona quando fala que está cansada.
De todas as surras e palavras de insulto vindas do meu pai, nada disso doeu mais que ouvir Evie falando disso.
— Me desculpa. — ela tenta me tocar, mas eu me afasto. Pego meu celular em cima da mesa de centro e minhas chaves, no exato momento que Riley passa pela porta. Nunca agradeci tanto por isso.
— Ela tem que tomar um banho gelado e tomar água. Ela levou chuva, mas a água gelada vai ajudar com toda a embriaguez. — digo assim que ele se aproxima de nós, com o cenho franzido em desconfiança. — Cuidado com o que o ecstasy pode fazer se ela deitar agora, espera um tempo e aí ela pode tentar dormir. Eu estou indo.
— Tá tudo bem? — Riley pergunta, alternando os olhares entre nós dois. — Eu acho que tenho umas roupas que cabem em você, não acha melhor tirar essa roupa molhada antes de ficar doente?
Poderia negar e ir embora logo, mas eu realmente estava precisando de roupas secas e um pouco da minha agonia iria embora com isso.
— Pode ser.
Ele assente e me guia até o banheiro enquanto passa em seu quarto para pegar as roupas. Respiro fundo lá dentro quando tiro todas as roupas e seco meu cabelo com a toalha que ele me entregou. Todas as palavras de Evie ficam passando na minha cabeça a todo momento.
Riley foi rápido. Me entregou uma calça de moletom que ele diz não estar servindo nele e um moletom velho que era do seu pai. Eu visto, com a promessa de que iria devolver logo e suspiro com a sensação de estar vestindo roupas quentes e confortáveis.
Quando passo pela sala para ir embora Evie não está mais lá, e por um lado eu agradeço por isso. Não queria ver seu rosto agora e desmoronar mais ainda. Por isso somente agradeço a Riley e vou embora, martelando toda a conversa na minha cabeça o caminho inteiro de volta a boate para trazer Justin, Charlie e Sarah para casa. Os últimos dois iriam passar a noite juntos aparentemente, ás vezes invejo Charlie por ter alguém, mesmo não sendo certo.
Odeio sentir isso. Sentir tudo isso.
Se eu abrir uma caixinha de pergunta no Instagram vocês iriam lá pra conversar, interagir, fazer perguntas, sobre o livro ou qualquer coisa? Queria conversar um pouco com vocês, mas não quero levar vácuo. Então respondam aí!
O que acharam do capítulo?
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