XXIII

CAPÍTULO 23

Hoje foi meu primeiro dia na companhia de dança da Marie Andersen. Estava morrendo de nervoso, admito, mas até que foi um dia bom. Nos próximos dias vamos nos adaptar a companhia e começar o trabalho duro. Hoje foi somente para eles conhecerem a nós e as nossas técnicas, nos avaliando desde o começo. Os técnicos são bons, rígidos e sérios, e técnicos assim são os melhores.

Foi bastante cansativo, mas bom. Estou morta depois desse dia, mas eu gosto dessa sensação. Significa que eu estou indo bem e não há nada melhor para mim do que dançar, então essa sensação é aceita, porque no final do dia eu sei que o motivo do meu cansaço foi por algo bom.

— Como foi hoje?— Ryan pergunta enquanto se senta no sofá. Ele me olha curioso.

— Foi bom. — Balanço os ombros, sorrindo. — Eu tô morta, mas foi legal. Eu tenho que me reacostumar com isso ainda.

— Tenho certeza que você vai se dar bem lá. — Ele sorri de lado, começando a pegar suas coisas na mochila.

Depois de um longo dia, com a companhia e a faculdade eu tive um pequeno tempo para descansar pois ainda tem as aulas com Andersen, que graças a Deus estão avançadas e não vamos precisar ficar nisso por muito mais tempo. Posso estar com a minha visão sobre ele um pouco mudada, mas fazer muitas coisas me deixa completamente exausta e sem vontade para fazer nada, então terminar logo isso é o que eu mais quero.

— Eu espero que sim. — Suspiro, indo me sentar no tapete fofinho que passamos a maior parte do tempo estudando e Ryan se senta ao meu lado, colocando os livros na mesa de centro.

— O que vamos fazer hoje?— Ele pergunta.

— Uma revisão completa dos últimos dias que passamos estudando. — Respondo, abrindo um dos livros. — Nos próximos dias vamos começar a estudar os conteúdos das provas e o que pode cair nelas, nós dois temos que estar preparados. A gente tá indo bem até agora.

— Beleza. — Ryan assente. — Você acha que eu já sei o suficiente pra me dar melhor do que na última avaliação?

— Não adianta nada você memorizar, mas não aprender isso. — Dou de ombros. — Se você já tiver aprendido realmente metade, acho que sim.

Ele concorda, voltando a atenção a mim e ao que eu falo enquanto revisamos as últimas coisas. Apesar do foco ser o estudo, ainda é meio complicado estar tão perto do Ryan e não pensar nos últimos dias. Como as coisas aconteceram tão rápido e nós nos aproximamos mais do que eu pensei que poderia. A forma como conversamos normalmente sobre nossas vidas em um momento de fragilidade. Penso que, talvez as coisa podem estar finalmente indo para os lugares certos, lentamente, mas estão indo.

A aproximação dele é estranhamente boa, gosto de estar perto dele, por mais estranho que seja admitir isso. Andersen tem se tornado uma boa companhia, isso pode ser algo bom ou ruim, mas eu gosto.

✧•✧•✧•✧


— Muito bem. — fecho o livro em minha frente. — Por hoje é só.

Solto um suspiro longo e jogo a cabeça para trás, recostando no sofá. Solto um bocejo e observo Ryan fechar o livro que estava com ele.

— Tá cansada, é?— Ele sorri de lado, me olhando.

— Exausta. — Respondo, estirando minhas pernas para espreguiçar. — Amanhã na biblioteca, no mesmo horário.

— Beleza. — Ryan balança a cabeça, guardando suas coisas. — Eu posso te pedir uma coisa?

Andersen se virou para mim, me olhando com expectativa. Somente assenti com a cabeça, esperando que ele peça o que quer que seja. Acho que o que vier dele não me surpreende mais.

— No domingo você aceita sair comigo?— Ele pergunta, rápido demais. Franzo o cenho, raciocinando seu pedido. — Pra compensar o outro dia que acabou acontecendo aquelas coisas e a gente não foi pra lugar nenhum. Prometo que essa vez a gente sai mesmo.

— Pra onde, senhor?— Sorrio de lado, achando graça de seu nervosismo. Nunca vou cansar de dizer que é muito estranho ver Ryan demostrando mais emoções do que costuma, mais estranho ainda quando é comigo. Não reclamo disso, claro que não. Eu gosto de ver esse lado dele.

— A gente pode comer alguma coisa em uma lanchonete que abriu há pouco tempo que tem uma livraria dentro, e é ótima. — Ele balança os ombros. — Ou você pode escolher se quiser. Eu só queria compensar aquele dia.

— Não precisa fazer isso pra compensar nada. Até porque, tirando a parte dos seus machucados, foi um dia ótimo. — Levanto uma sobrancelha, sorrindo ladino. Ele ri fraco, passando a língua nos lábios e balançando a cabeça.

Lembrar daquele dia logo após o jogo só me faz pensar em Ryan e na transa na cozinha e em seu quarto. E isso tá me matando, porque a única coisa que me vem a mente quando lembro daquele dia é isso, o que me faz vontade de ter mais. E me irrita em um nível absurdo, pois eu sinto uma atração incomum por Andersen.

— Eu tô te chamando pra sair porque eu quero sair com você. — Ele reforça. — Só diz sim ou não. Mas deixando claro que você vai passar o dia todo comigo.

Meus planos para o fim de semana eram somente descansar, mas posso deixar isso somente para sábado. Fiquei curiosa sobre o que pode acontecer nesse dia em que passarei com ele. Nunca fiquei um dia completo com Ryan, chega a ser estranho, mas é curioso.

— Eu topo. — Me levanto e espreguiço o resto do meu corpo e Ryan se levanta também, ficando na minha frente. — Me surpreenda, Andersen.

— Pode deixar. — pode parecer loucura minha, mas eu posso jurar que vi uma pequena fagulha de felicidade se acender em seu rosto junto com o sorriso irritantemente bonito que sua boca abriu.

— Aceita alguma coisa antes de ir ou quer algo mais?— Pergunto, me encostando no batente do começo do estreito e pequeno corredor dos quartos e banheiro, e cruzo os braços.

— Só isso, valeu. — ele balança a cabeça, mas ainda não sai do lugar.

— Tem certeza, Ryan?— Estreito os olhos para ele, sorrindo fraco. — Porque você continua parado aí me olhando. Você é um psicopata e está planejando me matar?

— Te matar em algum outro sentido, talvez. — e aquele maldito sorriso ladino volta aos seus lábios, junto com o olhar malicioso. Estava demorando, bom demais para ser verdade.

Reviro os olhos, bufando.

— Ah é, qual?— Entro no joguinho, devolvendo o mesmo sorriso. Ryan nega com a cabeça lentamente, passando a língua nos lábios e me olhando de cima a baixo.

Um arrepio subiu pelo meu corpo com seu olhar nada discreto, e confesso que principalmente no meio das minhas coxas, me fazendo pressionar minhas pernas uma na outra. Droga, eu odeio isso.

— Quer mesmo saber, ruivinha?— Ele indaga, se aproximando de mim em passos lentos. — Acho que eu posso te mostrar.

— Me mostra então. — Levanto uma sobrancelha, molhando os lábios e o avaliando quando está próximo o bastante de mim para sentir o cheiro do seu perfume masculino. Não sei que merda eu estou fazendo, mas não quero pensar muito, e sim deixar as coisas acontecerem. Esse é o poder irritante e estranho que Andersen tem sobre mim.

— Eu vou... — e então Ryan enlaça um de seus braços em minha cintura, me puxando para si e fazendo meu corpo colidir com o seu. Meu corpo estremece junto com meu coração batendo de um jeito maluco dentro do meu peito. No mesmo momento seus lábios estão no meus, me fazendo sentir seu hálito de menta. Me permito relaxar em seus braços, retribuindo o beijo e pousando as mãos em sua nuca para o trazer para mais perto de mim do que já está, o que é impossível.

Fico na ponta dos pés, assim como ele tem que se inclinar um pouco para baixo para um melhor contato. A única coisa que é um empecilho entre nós dois é a nossa altura. Eu sou alta, mas nada perto de Ryan, que parece um gigante.

Ele me puxa para si de um modo que meus pés quase saem do chão, literalmente. O beijo é lento, sem pressa, mas nossas mãos bobas e suspiros dizem algo diferente. Andersen anda uns dois passos até que esteja me prendendo entre seu corpo e a parede. Uma de suas mãos acaricia a minha cintura, enquanto a outra segura com firmeza minha coxa, pressionando meu corpo no seu.

Por um segundo todo o cansaço do meu corpo se esvai, dando lugar para uma adrenalina e excitação gigante. Ryan é excitante. Ao mesmo tempo que consegue ser viciante todo seu toque, carícias, beijos e falas.

— Mas não hoje, linda. — ele separa nossas bocas para completar a fala de antes. Parece que luta contra si mesmo, em um impasse se deveria fazer isso mesmo. E eu também acho que ele deveria repensar.

— O que?— pergunto, com a respiração ofegante. Tentando ainda me recuperar.

— Vai descansar, ruiva. — Ryan dá um beijo na lateral da minha cabeça, falando baixo. — Nós dois estamos cansados hoje.

— Sério?— antes quem insinuaria algo ou pediria para continuar seria ele. Parece que até isso mudou.

— Sim. — Ele me rouba um selinho, com os olhos nos meus. — A gente deixa qualquer coisa pra depois.

— Tudo bem. — Assinto, grudando nossos lábios novamente em um selinho casto e longo, que me faz suspirar ao nos separarmos. Nossos olhares se encontram novamente, me fazendo perder o ritmo do meu coração, tanto que fico sem palavras.

Ryan sorri de lado, dando um último beijo na minha testa antes de se afastar completamente de mim e andar em direção a sua mochila no sofá. Somente observo, raciocinando o gesto carinhoso. Me traz uma sensação nova e estranha no estômago, que aquece meu corpo.

— Boa noite, ruiva. — Ryan deseja, com um sorriso fraco parado em frente a porta.

— Boa noite, Andersen. — aceno com a cabeça, vendo ele fazer o mesmo e passar pela porta a fora, a fechando atrás de mim e me deixando ali, parada no meio da minha sala, com cara de boba e um milhão de pensamentos na mente.

Talvez Ryan Andersen tenha mais poder sobre mim do que eu gostaria.

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