XVII
❥ CAPÍTULO 17
A multidão que se forma nas arquibancadas é, de certa forma, o melhor incentivo que o time pode receber no geral. A universidade é muito competitiva, os alunos e as pessoas que a compõem fizeram isso. Não é atoa que somos uma das melhores da cidade, não só nos jogos esportivos, mas também no ensino e na competitividade.
Temos uma vantagem hoje porque estamos sediando esse jogo, e posso dizer com todas as letras que quando o jogo é sediado na casa do time, a torcida vem em um peso maior. As arquibancadas estão quase todas preenchidas com torcedores da universidade, poucos são os que vieram de fora para torcer pelo que vamos jogar contra. E isso é ótimo para nós, porque quanto mais torcida, mais incentivo os garotos têm.
- Ai amiga, eu tô nervosa. - Sarah confessa, por cima de toda a falação vindo do campo. - E se alguma coisa der errado?
- Sarah. - Seguro seus ombros, a fazendo ficar parada e focar em mim. - Não é a primeira vez que você torce, a única coisa que muda hoje é que você é a capitã e vai ter um pouco mais de foco. Você é ótima, tudo vai sair bem.
- Mas e se não sair?- Ela choraminga, cobrindo o rosto com as mãos. Me seguro para não rir do seu nervosismo, pois sei bem como é se sentir assim.
- Se algo der errado você pelo menos vai te tentado. - Dou de ombros e seguro suas mãos. - Mas é melhor pensar no lado bom do que no ruim. Só vai lá e se diverte, mostra pra todo mundo o porquê você é a capitã.
- Tem muita gente, né?- Ela olha para trás, roendo as unhas das mãos trêmulas.
- Você vai descobrir quando entrar lá, a multidão te ama. - Separo sua mão de sua boca, sorrindo para minha amiga. - Vai lá com eles se preparar que eu vou lá fora antes que peguem meu lugar na arquibancada. Riley tá guardando, mas nunca se sabe.
- Obrigada, Evie. - Ela me envolve em seus braços, abraçando meu pescoço com carinho.
- Por nada. - Dou um beijo em sua bochecha, e quando ela se afasta dou um tapa em sua bunda. - Vai lá e arrasa.
Sarah se despede de mim rindo e se junta com os outros animadores para se prepararem para entrar no campo. Estávamos em uma área que fica bem ao lado de uma das arquibancadas, então o barulho de passos e falatório é quase insuportável.
Saio dali e sigo para o lado de fora, sendo recebida por um som ainda mais alto da banda marcial tocando e dos gritos e conversas dos torcedores. Apesar de não gostar de multidões, é incrível toda a energia que tem nos jogos e o espírito esportivo que as pessoas carregam nas competições, e eu até que acho agradável e me divirto vendo toda a agitação. Com exceção do barulho, que às vezes chega a ser insuportável.
- Finalmente, quase briguei com umas malucas que queriam sentar aqui. - Riley diz quase gritando, por conta do barulho, quando vê eu me sentando ao seu lado.
- Sarah tá nervosa, quase se tremendo. Tive que acalmar ela. - Explico, pegando o saquinho de pipocas que ele tinha em mãos guardado para mim. - A pressão de ser capitã e ter medo que algo dê errado.
Ele balança a cabeça, entendendo. Coloco uma pequena porção da pipoca salgada na boca, ao mesmo tempo em que a música da banda troca e os animadores entram em meio a pulos, cambalhotas no ar e acrobacias. Todos sorridentes.
Meu sorriso cresce ao ver Sarah no meio, com um belo sorriso enfeitando seus lábios e demonstrando muita animação. Eles fazem uma sequência no ar, os animadores masculinos jogando as meninas para cima e elas dando giros até caírem em seus braços novamente. A multidão vai à loucura.
Confesso, se não amasse balé eu consideraria a ideia de entrar para os animadores, é tudo muito intenso e incrível o que eles fazem.
Sarah acena para nós quando nos vê, bem nos primeiros bancos, perto da grade que nos separa do campo. Aceno de volta, gritando um incentivo.
- Se eu fizesse isso me espatifaria como uma gelatina no chão. - Riley comenta, vendo um dos animadores dando um impressionante mortal. Balanço a cabeça, rindo.
Logo os animadores se posicionam em duas filas na frente dos portões por onde entram os jogadores. E como deuses, Ryan e Charlie entram ao mesmo tempo, enlouquecendo a torcida - principalmente as mulheres. Os dois são co-capitães, por isso entram juntos, dando um toque na mão de cada animador enquanto passam pelo meio da fila, o mesmo aconteceu quando o resto do time entrou atrás deles.
O outro time não foi recebido com tanto fervor, o único som vindo era das animadoras e da torcida deles, que estava em minoria. Da nossa parte algumas vaias foram ouvidas, isso acontece muito.
Não consigo não olhar para Andersen, quase como um ímã, meus olhos foram atraídos para ele. É quase impossível reconhecer os meninos com toda aquela roupa e com o capacete de proteção, consigo identificar cada um pelo sobrenome na camisa e o número.
Eles fazem um aquecimento, jogando a bola um para os outros e correndo. Não consigo ver o rosto de Ryan, mas identifico quando ele passa a olhar para a arquibancada, parecendo procurar algo, e olha para mim, acenando com a cabeça em seguida. Aceno de volta, sorrindo de lado por motivo nenhum. O fato dele me procurar na multidão somente para acenar é estranho de se pensar e aceitar.
O primeiro tempo do jogo acabou, e pelo pouco que entendo posso dizer que foi uma partida muito boa. Estamos ganhando por somente um ponto, o adversário é bom e quase todos são gigantes e parecem uma cópia do Hulk, tanto que às vezes vem um receio de um deles machucar alguém com tamanha brutalidade e força.
Saio do banheiro, guardando o celular na bolsa e quando levanto a cabeça vejo Ryan passar no corredor e parar quando me vê. Ele dá um sorriso de lado e anda a passos largos até mim, cruzo os braços me aproximando também. Estamos sozinhos por aqui.
- Bom jogo. - Elogio quando ele está perto suficiente para parar de andar e se encostar na parede, olhando para mim.
- Meio impossível ser ruim comigo ali. - Ele balança os ombros, cruzando os braços e evidenciando os músculos de seus braços por debaixo da camisa. Evito olhar.
- Você é muito convencido. - Balanço a cabeça. Ele não está totalmente errado.
Tem um motivo para Ryan ser o co-capitão, além de incentivar os seus colegas de time, ele também tem uma força e destreza que não dá nem para comparar com os outros. Ryan e Charlie são uma dupla imbatível no campo, e quando se juntam com Justin não tem ninguém que os pare. Os três parecem que lêem a mente do outro, eles trabalham no automático. É incrível.
- Eu tenho razão em ser. - Reviro os olhos com seu ego.
- Sabe, eu tô torcendo pra um daqueles gigantes te derrubarem por um momento, só para o seu ego cair um pouquinho.
- Você não pode jogar praga, é o seu time. Se eu for machucado por um deles e nos prejudicarmos, a culpa será sua. - Andersen aponta o dedo para mim, a voz banhada de sarcasmo. - E você vai ter que cuidar de mim.
Não consigo segurar a gargalhada quando ouço sua fala. Cubro a boca com uma mão enquanto rio e olho para ele, que tem um pequeno sorriso nos lábios e os olhos escuros brilhando. Por um momento esqueci onde estávamos e foi como se a cena se transformasse em câmera lenta por alguns segundos. Um arrepio estranho atinge meu estômago e minha nuca.
- Você é engraçado. - Falo, quando me recupero da risada.
- Isso é um elogio?- Ele abre um sorriso, evidenciando os dentes brancos e alinhados e as covinhas. - Eu tô sonhando?
- Bem que você gostaria de me ver em seus sonhos. - Por Deus, o que eu falei?
Ele não responde, mas solta uma risada curta e rápida, balançando a cabeça para os lados.
- Eu tenho que voltar. - Ele diz, se desencostando da parede e parando em minha frente bem perto de mim. - Continua torcendo por nós, meu próximo ponto vai ser pra você.
- Me sinto lisonjeada. - Coloco a mão no peito, debochando.
- Deveria mesmo. Não é todo dia que um touchdown é feito pra alguém.
- Uau. - Levanto as sobrancelhas, sorrindo. - Isso é legal. Uma grande honra, senhor capitão.
- Eu sei. Te vejo no campo. - Ele passa por mim, encostando levemente nos meus braços. Um arrepio involuntário toma conta do local. - Os primeiros pontos são seus.
E com um sorriso e um piscar sedutor de um olho, Ryan sai de minha vista. Suspiro, soltando o ar que eu nem percebi que estava segurando.
A promessa feita a mim mesma que eu não deixaria me levar pelo sentimento e as sensações excitantes e ardentes que Ryan faz crescer no meu corpo, fica cada vez mais difícil de cumprir e resistir. Acho que depois de quase um ano sem ter relação com ninguém e agora no meu período de ovulação, meus hormônios estão ficando loucos e ansiando por alguma coisa.
Balanço a cabeça, expulsando qualquer pensamento intruso que queira invadir minha mente e tento pensar em outras coisas que não tem relação com Ryan enquanto volto ao lado de fora, para o campo.
- E aquele primeiro ponto que o Ryan fez quando voltaram?- Riley comenta, empurrando levemente meu ombro com o seu. - Ele te olhou e apontou pra você quando marcou touchdown.
- E daí?- Dou de ombros, fingindo não importar. A verdade é que importa, eu não sei o porquê, e isso me incomoda. Pensar tanto no Andersen não é algo que eu deveria estar fazendo. - Você sabe como ele é. Sempre achando um jeito de se exibir.
Estamos saindo do prédio da faculdade, indo para o estacionamento para irmos embora. É possível ver as pessoas andando para lá e para cá rindo e comemorando a nossa vitória, e o time adversário indo embora com a derrota estampada nos rostos raivosos. É, ganhamos, como o imaginado.
- Você é uma péssima mentirosa, já te disseram isso? - Reviro os olhos, fazendo uma careta para meu amigo. - Por que finge que não se importa?
Uma coisa que eu definitivamente não puxei da minha família foi a arte de mentir bem. Meus pais são as pessoas mais hipócritas e fingidas que eu já conheci, minha mãe sabia bem manipular as pessoas. Meus irmãos são tão bons quanto ela para esconder coisas, eu não tanto, e isso pode acabar sendo ruim quando eu preciso mentir e não consigo disfarçar a mentira.
Eu sou bem transparente, talvez seja por isso que às vezes identificam uma mentira minha rapidamente pelo minha linguagem corporal.
- Eu não quero pensar nele, preciso ocupar minha mente com outra coisa. - Suspiro, parando de andar e cruzando os braços. - Meus hormônios não podem ouvir uma palavra vinda dele ou de algum outro homem bonito que começam a enlouquecer.
- Ah, entendi. - Riley balança a cabeça, rindo. - Sabe do que você precisa?
- Não diz o que eu tô pensando. - Choramingo, colocando uma mão sobre o rosto. Já imagino o que ele vai falar.
- De uma boa e longa noite de sexo. - Ele completa sua fala. - Quanto tempo faz que você não fica de verdade com ninguém? Tirando aquilo com o Ryan.
- Vai fazer um ano. - Murmuro, voltando a olhar para ele. Riley levanta as sobrancelhas, concordando.
- Não tô dizendo que você precisa de homem ou algo assim pra se sentir melhor, mas às vezes tirar o atraso e relaxar é bom. Com uma outra pessoa de verdade, sem usar as próprias mãos. - Ele dá de ombros. - Talvez você precise disso pra se desestressar e esquecer um pouco do Ryan, como você diz querer. Acredite, é muito bom transar pra relaxar.
- Talvez. - Penso na possibilidade. Não é difícil achar alguém que esteja disposto, mas é estranho pensar em fazer algo com alguém que eu não conheço.
Eu gosto de conhecer a pessoa, pelo menos um pouco, antes de qualquer coisa. Para mim a confiança é a base de tudo, independente do que seja. E eu não confio em qualquer um para algo assim, sou um pouco paranóica com essas coisas.
- Eu vou pegar o carro, fica aqui que eu já volto. - Riley diz, tocando em meu braço. - Pensa sobre. O Ryan não pode ficar pra sempre na sua cabeça.
Com isso, meu amigo se afasta indo para o fundo do estacionamento para procurar o carro e sumindo da minha vista no meio da multidão. Respiro fundo, passando as mãos no cabelo, frustrada e com sua fala em mente.
Vejo Charlie e Sarah em um canto mais afastado perto de uma árvore, conversando alegremente e se abraçando. Sorrio por eles, mas não vou até lá. Deixo eles terem seus momentos a sós e decido parabenizá-los mais tarde individualmente. Ambos foram muito bem hoje.
- Licença. - Ouço uma voz grave e firme atrás de mim, muito perto. Me assusto, virando para trás na mesma hora e vendo um homem de meia idade, mas bem conservado. Ele é bem alto, tem uma estatura forte e o rosto marcado e sério. É intimidador.
- Sim?- Pergunto, quando vejo que ele quer algo. Cruzo os braços, segurando com força a alça da minha bolsa por precaução, mesmo estando no meio de várias pessoas nunca se sabe o que pode acontecer.
- Você pode me dizer se viu o Ryan por aí?- O senhor pergunta, com um sorriso gentil. - Ryan Andersen.
- Desculpa, a última vez que eu vi ele foi quando eu tava lá dentro no campo. - Nego, desconfortável. Não o conheço e sei que é errado julgar alguém sem conhecer, mas esse homem não passa uma coisa boa. E eu prefiro acreditar na minha intuição feminina. - Ele ainda deve tá no vestiário ou em algum lugar lá dentro.
- Você é amiga dele?- Ele pergunta, de repente. Franzo as sobrancelhas e troco o peso das pernas, preparada para sair dali.
- Me desculpa, quem é você? - Porque ele quer tanto saber de Ryan? Ok, talvez ele seja alguém importante que quer o contato dele, talvez um olheiro, e eu posso estar me precipitando. Mas não acho que ele seja isso.
- Ah, perdão. Eu sou... - Ele não consegue terminar a fala porque alguém o interrompe, puxando seu braço e se colocando na frente dele, entre nós dois.
- Que porra você tá fazendo aqui?- Reconheço Ryan no mesmo instante, com a voz assustadoramente furiosa. Ele está quase completamente de costas para mim, com os olhos intensos e furiosos olhando para o homem à sua frente. Ambos são quase do mesmo tamanho e fortes do mesmo jeito.
- Que jeito de me receber, filhão. - O homem sorri, dando tapinhas no ombro de Ryan, que empurra sua mão para longe.
Por essa eu não esperava. Os dois não tem muita coisa em comum se não a força e os olhares intensos, nunca iria adivinhar.
- Responde a pergunta. - Ryan continua com o semblante ameaçador. Percebo quando seus punhos se fecham com força e as veias em dia mão e pulso se tornam aparentes.
Engulo em seco. Por que essa raiva toda do pai?
- Vim te ver, gostei do jogo. - O mais velho diz, simplesmente. Não quero me meter no meio dos dois, ou me intrometer, mas não saio do lugar. O senhor em seguida olha para mim, sorrindo de canto. O mesmo sorriso que Ryan esboça, mas o dele não tem nada de bonito ou reconfortante. - Tava perguntando pra sua amiga se ela sabia de você. Ela é bonitinha, gostei dela.
- Bom, eu já tô aqui. - Ryan abre os braços, em seguida os soltando nos lados de seu corpo. - Não vem mais pra cá e não fala com mais ninguém ou eu juro que não vou medir esforços em acabar com você.
Puta merda. O Andersen está furioso.
- Isso é modo de falar com seu pai na frente da moça? - O pai do Ryan aponta a mão para mim. O mais novo respira fundo, ficando em minha frente e bloqueando nossas visões.
- Eu tenho que falar com ele agora. - Ryan abaixa o tom de voz falando comigo. A fúria ainda é evidente em seu semblante, mas ele permanece um pouco mais calmo. - Desculpa por isso. Aquele nosso combinado de sair mais tarde ainda tá de pé, né?
Eu havia esquecido disso. Com tanta coisa me ocupando ultimamente eu nem sequer pensei muito nisso depois daquele dia. Não tenho nem ideia de como eu vou me vestir.
- Sim, claro. - Concordo. Na mesma hora uma buzina é ouvida e eu olho para o lado a procura do som, achando Riley em seu carro me esperando. Finalmente. - Já vou indo.
- Beleza. Passo na sua casa às sete. - Ryan diz e eu aceno com a cabeça, me despedindo. Dou um "tchau" baixo para o seu pai por educação e vou para o carro, sentando no banco do passageiro ao lado do meu melhor amigo.
- Que demora. - Reclamo, soltando um suspiro alto. Prendo o cinto de segurança com força em meu corpo enquanto ele sai da área do campus.
- Foi mal, tava cheio de gente. - Ele explica. - Tinha um carro na frente mal estacionado atrapalhando a passagem, tive que esperar o dono aparecer pra tirar. Quem era aquele cara com o Ryan?
- Aparentemente, o pai dele.
- E o que tava acontecendo? Ele parecia com raiva.
- Nem eu sei direito, mas tá tudo bem. Não foi nada demais. - Resolvo não contar o que aconteceu ali, porque isso não cabe a mim já que não tem nada a ver comigo, e são coisas da vida de Ryan.
De qualquer forma, a imagem de fúria e inquietação de Ryan para com o pai dele ficou grudada na minha cabeça o caminho todo até em casa e enquanto eu me arrumava para sair com ele.
Por que será que ele ficou desse jeito? Ele não gosta do pai, aparentemente, o que será que aconteceu depois? Tantas perguntas e confusão.
Próximo capítulo vocês vão entender a relação do Ryan com o pai e o passado dele.
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