XVI
❥ CAPÍTULO 16
— Por que não me contou?— Charlie pergunta, olhando para mim como se estivesse decepcionado.
— Ryan é seu melhor amigo. Não queria que as coisas ficassem estranhas entre vocês porque ele ficou com a sua irmã. — É difícil manter o contato visual com ele, e me sinto uma covarde por isso.
— Apesar de estranho e nojento de pensar, eu não vejo problema em você ficar com meus amigos. Eu preferia que não ficasse, mas eu não posso controlar isso, então a única coisa que eu queria era saber que você ficou com um de meus melhores amigos. — Ele diz, mais calmo do que eu pensei que estaria.
Decidi falar para Charlie sobre eu e Ryan termos sido flagrados aos beijos, ele já sabia, mas queria ter uma garantia e ouvir isso saindo da nossa boca. Andersen contou para ele, em um outro momento, sobre o que aconteceu entre nós no começo, não tudo e sem nenhum detalhe, mas meu irmão entendeu bem. E eu sabia que ele tinha ficado com raiva por um momento, mas Charlie sempre foi mais calmo que eu, apesar de ser extrovertido, então não houve nenhuma confusão.
— Eu sei, desculpa por isso. — Pego sua mão, brincando com seus dedos calejados e grandes. — Mas foram coisas que aconteceram no passado, a gente não tem nada. Na verdade, a gente vai tentar ser amigos agora.
— Você e Ryan amigos?— Charlie gargalha, como se eu tivesse contado uma piada muito engraçada. Cruzo os braços, o olhando com uma sobrancelha arqueada.
— Tá rindo do que?
— Você e ele não conseguem ficar sozinhos por alguns minutos sem implicar um com o outro. — Ele balança a cabeça, parando de rir. — Não sei nem como vocês dois tão conseguindo estudar.
— Não é verdade. — Talvez seja. — E não somos crianças, somos adultos bem responsáveis que estudam e agem como adultos.
Às vezes.
— E eu finjo que acredito. — Ele murmura, alto o suficiente para eu ouvir.
— E eu finjo que acredito que você não gosta nem um pouquinho da Sarah. — Rebato, só para provocar. Ele fica sério imediatamente, me olhando sem mais nenhum divertimento.
— Cala a boca. — Ele desvia o olhar, imediatamente noto seu rosto sendo tomado por um tom avermelhado, sem graça.
— Ah, que gracinha. — Sorrio, apertando suas bochechas com a mão. — Você corou.
— Você precisa de óculos. — Ele tira minhas mãos do seu rosto, sem me olhar.
— Meu irmão ama minha melhor amiga. — Cantarolo rindo, o prendendo entre mim e o sofá quando abraço seu pescoço apertado. — Vocês são muito fofos, eu super apoio.
— Evie... — Ele tenta se soltar, rindo.
— Vocês vão se casar e eu vou ser a madrinha do casamento e do filho de vocês. — Coloco minhas mãos em seu rosto, olhando em seus olhos idênticos aos meus. — Eu sei que você gosta dela, e sei que ela gosta de você, então não perde a oportunidade de ficar com ela. Se não eu te mato.
— Sarah é complicada. — Ele suspira. Fecho o meu sorriso, dando um tapa leve em sua testa com as costas da minha mão. Meu irmão resmunga.
— Complicado é você, idiota. — Volto a me sentar do jeito certo no sofá, revirando os olhos.
Charlie e Sarah tem alguma coisa que eles dizem ser sem rótulo nenhum. Eles estão nisso há um ano e parece que com o passar do tempo eles vão ficando mais cegos e burros ao não perceberem que ambos sentem a mesma coisa um pelo outro.
E quando enfim se derem conta eu vou estar aqui para dizer "eu avisei."
— Olha que coincidência. — Ouço uma voz rouca e grave conhecida e olho para trás no mesmo instante, batendo meus olhos em Jeremy. O mesmo com um sorriso que evidencia seus dentes bem alinhados e brancos nos seus lábios carnudos.
— Nem tanta na verdade. — Dou de ombros, cruzando os braços enquanto o olhava com curiosidade. — Eu trabalho aqui, não é muita surpresa me ver. Agora não posso dizer o mesmo de você. O que você tá fazendo no estacionamento para funcionários?
— Meu primo trabalha aqui, ele me pediu pra pegar algo no carro dele. — Jeremy levanta a chave de um carro. E aí que eu confirmo que ele está mentindo.
Olho em volta não vendo nenhum audi como a chave aparenta indicar.
— Ah sim, quem é seu primo?— Prefiro deixar ele acreditar que cai no seu papinho.
— Jonah. — Ele diz, depois de pensar por uns segundos, e balança a cabeça. Penso que ele pode ter visto o nome no crachá de um dos funcionários e lembrou. — É, Jonah.
— Ele é legal. — Assinto. — Acho melhor eu ir então, não posso me atrasar.
Jeremy confirma, me vendo dar alguns passos para me afastar dele e dar-lhe as costas, até ouvir o mesmo chamando o meu nome.
— Sim?— Paro de andar, olhando-o por cima do ombro com uma sobrancelha arqueada.
— O que você acha sobre um luau na praia?— Ele pergunta, colocando as mãos no bolso.
— Um luau? — Viro o corpo completamente para ele, interessada.
— Um pessoal tá organizando pra esse sábado. — Ele balança os ombros, sorrindo de lado. — Vai ser legal, você pode gostar. Não precisa vir comigo, eu tô te convidando pra aparecer lá caso se interesse, e você pode chamar seus amigos.
— Vou pensar sobre. — Sorrio. — Parece ser legal.
— Ótimo. — Ele respira fundo, ainda com um sorriso nos lábios. — As seis da tarde, na mako beach. Não esqueça do biquíni.
— Até mais, Avery. — Me despeço dele, agora me virando novamente para ir para meu carro.
— Até mais, Martin. — Ouço sua voz divertida. Balanço a cabeça adentrando meu carro e respirando fundo ao sair do estacionamento.
Confesso que uma onda de desconfiança atinge meu cérebro ao pensar em Jeremy. Ele é bonito, mas estranho. Ele me convidar pessoalmente e diretamente para uma festa no meio de seus amigos já é um motivo para armar as minhas defesas e ficar atenta, levando em conta que nunca conversamos por mais de um minuto sequer.
Mas evito pensar muito nisso, porque posso acabar não conseguindo tirar isso da minha cabeça e começar a criar mil e uma coisas totalmente aleatórias e estranhas. Minha mente, às vezes, é minha pior inimiga.
— Qual seu maior medo?— Ryan pergunta para mim, enquanto bate incansavelmente a caneta na mesa.
Entramos em assuntos completamente aleatórios de repente enquanto organizavámos nossas coisas, e agora ele não quer mais parar.
— Perder meus irmãos, e não poder mais dançar. — Revelo, sem problema algum. É algo normal e que eu acho que não é muito surpreendente. Aponto em seguida para duas questões no caderno. — Responda essas questões corretamente.
— Você não sabe brincar. — Ryan revira os olhos, começando a ler o que eu escrevi.
— A gente não tá aqui pra brincar, e sim para estudar. — Observo seus movimentos enquanto mergulho o nacho caseiro no molho de guacamole e levo a minha boca, me deliciando com o gosto apimentado.
Eu não sou muito boa na cozinha, por isso evito fazer muitas coisas diferentes. Já Riley sabe muito bem o que faz quando está cozinhando apesar de ser sedentário e não cozinhar com muita frequência, então aproveito quando ele está mais alegre e o faço cozinhar algo para mim. Como foi o caso de hoje.
— Certo! — Afirmo quando ele responde corretamente uma pergunta. Deixo Ryan comer um pouco por isso e ele agradece.
— Qual sua comida favorita? — Ele recosta os braços no assento do sofá atrás de nós, olhando para mim.
— Eu já disse que a gente não tá aqui pra jogar e nem brincar. — Bufo, cruzando os braços.
— Você concordou em que tentássemos ser amigos. — Ryan levanta as sobrancelhas, lembrando. Reviro os olhos.
— Eu gosto de peixes empanados e batatas fritas. — Respondo ele, a contra gosto.
— Viu?! Não é tão difícil. — Andersen fala, roubando um dos nachos. Dou um tapa em sua mão, fazendo ele soltar. Ryan ri. — Calma.
Respiro fundo, revirando os olhos e me levanto rapidamente somente para sentar no sofá.
— Arruma suas coisas, já deu a hora e eu quero descansar. — Me encosto contra o encosto do sofá, comendo e olhando para Ryan.
— Você tá me expulsando. Que legal da sua parte. — Ele se finge de ofendido, colocando a mão no peito e fazendo uma careta. Somente olho para ele, com as sobrancelhas arqueadas.
— Se é assim que você interpreta. — Dou de ombros, observando ele guardar suas coisas na mochila.
Andersen suspira, terminando de guardar o que é seu e se levanta, virando-se para mim e me olhando.
— Você vai pro jogo?— Ele se refere ao primeiro jogo do campeonato nacional que o time de futebol americano da universidade vai participar esse ano, e que acontecerá daqui a dois dias.
— Sim, meu irmão vai jogar e a Sarah vai estrear como capitã das animadoras. — Respondo. Ele assente.
— Bom, imagino então que saiba que nesses dois dias eu não vou poder tá estudando com você. — Ryan fala, colocando as mãos no bolso de sua calça escura.
—Estou ciente. — Confirmo.
Andersen balança a cabeça, suspirando em seguida ao mesmo tempo que passa a mão no cabelo, parecendo frustrado ou incomodado com algo.
— O que? — Começo a me incomodar com seu silêncio e modo que seu olhar é relutante.
— Depois do jogo, se você quiser... — Ele reforça a última parte na sua entonação. — A gente pode dar uma volta, ir pra um lugar legal que eu conheci esses dias.
Franzo o cenho, deixando a vasilha com o guacamole e os nachos em cima da mesinha de centro, e cruzo os braços em seguida. Posso ter entendido o que ele quis dizer, mas também posso estar errada ao pensar no que acabou de se passar na minha cabeça com seu pedido. Um encontro ou...?
— Você tá me convidando... — Não consigo terminar a frase. Por não saber exatamente o que falar e porque ele faz esse trabalho por mim.
— Como estamos tentando ser amigos e se dar melhor, eu pensei que poderíamos sair, como qualquer amigo faz. — Ryan explica rapidamente, com o tom de voz baixo e contido e uma postura reta. Constrangido talvez?
— Pra onde?— Não acredito que estou cogitando a ideia.
Na verdade, só o pensamento de sair com Ryan, em qualquer que seja o sentido, já é estranho e faz minha cabeça começar a criar várias coisas inexistentes que podem acontecer.
É como quando você começa a jogar um jogo irritantemente viciante e diz para si mesma que vai parar de jogar em cinco minutos, mas esses cinco minutos se transformam em uma hora por conta da busca pela vitória no joguinho. Você não para de jogar até ganhar, como um desafio a si mesma. Ryan é o jogo, eu sou a jogadora. Ele é indecifrável na maioria de suas falas e ações e isso, de algum modo, me deixa ainda mais curiosa para saber o que se esconde por trás dessa máscara de sarcasmo e malícia.
Apesar de não gostar, é inevitável ficar longe, porque de algum jeito ou de outro ele sempre volta, ou somente a sua imagem na minha cabeça. Como um boomerang, em um loop infinito de ida e volta dentro da minha cabeça. Essa é uma coisa irritante e não bem aceita que ele faz sem nem saber, e não posso culpá-lo.
— É uma surpresa, acho que você vai gostar. — Andersen balança os ombros, com um sorriso de canto nos lábios. — É um lugar com uma classe social mais alta, então se vista com algo mais chique ou elegante, que também seja confortável porque não vamos para um lugar só.
— Precisa de tanto mistério?— Bufo. — A gente só vai sair.
— Te vejo no jogo, ruiva. — Ele sorri, mostrando suas covinhas, seus olhos quase se fechando completamente. Merda, como ele consegue ser fofo? — Tenha uma boa noite.
Ele pisca um olho para mim antes de girar nos calcanhares a caminhar até a porta do apartamento, saindo pela mesma.
Durmo com a cabeça naquilo que pode acontecer daqui a dois dias.
Ler comentários me incentiva bastante a continuar escrevendo e postando aqui para vocês, porque vou saber que vocês tão gostando e o que estão achando.
Então eu sempre gosto de ver comentários, galera. Comentem e não esqueçam de votar também, me incentiva e eu continuo com vontade de escrever. Gosto de ver o esforço retribuído. Entendo se não tive muito o que comentar, mas uma coisa ou outra sempre da. Interajam!
O que acharam do capítulo? Alguma ideia do que pode acontecer?
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