XLVII
Sei que eu demorei, desculpa. Mas aproveitem esse capítulo porque ele tá grande e é o penúltimo.
❥ CAPÍTULO 47
— Agora você vai dizer aonde nós estamos indo? — eu pergunto assim que descemos da moto dele. Observo o lugar ao redor.
Ryan parou a moto em um estacionamento depois de uma viagem de meia hora desde a minha casa. A rua em que estamos é cheia e se observar bem, mais a frente da onde estamos agora, é possível ver uma praça lotada de gente com alguma coisa acontecendo lá.
Quando Ryan foi me buscar, somente pediu para eu relaxar e confiar nele, que eu só iria saber para onde estávamos indo quando chegássemos. Bem, além dele me fazer subir nessa moto assustadoramente rápida, nós chegamos no lugar e ele não contou absolutamente nada.
— Você tem que relaxar, não seja tão apressada. — ele diz e me estende a mão. Nós entrelaçamos nossos dedos e começamos a andar em direção a praça.
— O que tá acontecendo aqui?
— Veja por si só. — ele aponta a mão para o local assim que nos aproximamos mais, me possibilitando enxergar várias tendas espalhadas pela grama verde, com diversos animais de estimação em cercados.
— Você vai adotar um? — olho para ele sorrindo.
— Não é o que eu pretendo. — ele me olha e eu fecho o sorriso. Ele ri. — Você quer?
— Eu sempre quis ter vários bichinhos, mas eu não tenho muito tempo para cuidar deles. — dou de ombros. — Talvez, quando eu for menos ocupada ou terminar a faculdade, eu adote alguns.
E com isso, enquanto falo, eu nem percebo aonde estamos indo até que ele nos para. Olho para Ryan e ele abre um sorriso pequeno para mim e ao olhar para frente, eu vejo um cercado pequeno com três coelhos dentro. Arregalo os olhos e olho para Ryan novamente, dando um passo para trás.
— Por que você me trouxe aqui?— cruzei os braços, evitando olhar para aquelas coisinhas assustadoras.
— Primeiro: não surta, me escuta antes de qualquer coisa. — Ryan começa dizendo. — Pra começar nosso encontro, eu pensei: "por que não?" Eu soube dessa feira de adoção e quis te trazer, além de ver os animais, também poderia tentar ajudar nesse negócio com coelhos. Segundo: você não precisa fazer isso, é só se quiser.
— Eu não quero. — balanço os ombros. Ele suspira.
— Tenta, vai. — ele pede e se aproxima de mim novamente, colocando as mãos nos meus ombros e me virando para olhar para os coelhos. — Eles são tão pequeninos e fofinhos.
Respirei fundo, olhando para um em específico. É o menor de todos e está no cantinho comendo alguma coisa, tem uma coloração caramelo e parece que é mais claro na parte debaixo do corpinho.
— Por que você quer que eu tente? — ergo uma sobrancelha, ainda de olho naquela coisa minúscula.
— Pensa como uma forma de deixar o passado para trás. — ele abraça meu corpo por trás e me olha, nossos rostos próximos. Reviro os olhos. — Tá bom, olha... Eu só quis fazer algo diferente, eu entendo seu medo, mas poder chegar perto deles e segurar é muito bom. Além do que, eu gosto de coelhos, queria ter alguns algum dia.
Levanto as sobrancelha.
— Você quer que eu perca o medo de coelhos porque você quer ter um?
— Também, eu não sou bom com palavras, mas acho que você entendeu. — ele me solta e eu fico de frente para ele. — Se eu vou ter um desses algum dia, a minha namorada tem que se dar bem com eles também.
Eu não consigo pensar muito depois de sua fala. Arregalo os olhos e entreabro a boca, sem palavras. Ryan também não parece se dar conta do que falou até ver a minha expressão. Fechando a boca e praguejando um palavrão baixinho.
— Namorada? — minha voz sai falha enquanto olhos em seus olhos. Vejo Ryan engolir em seco. — Eu sou sua namorada?
Minhas mãos começam a querer suar e meu coração batia fortemente em meu peito ritmadamente.
— Porra. — ele murmura e olha para cima, respirando fundo e fechando os olhos, logo olhando para mim novamente. — Eu pretendia fazer isso diferente, mas já que eu estraguei tudo... Eu acho que estamos bem pra isso, então, como um pedido oficial... Você aceita ser minha namorada?
Mordo o lábio inferior, segurando um sorriso. Sabia que estávamos tendo alguma coisa séria, mas agora, oficializando isso de verdade, parece um sonho. Ryan Andersen me pedindo em namoro. Eu namorando o Ryan.
— Por que você tá demorando? — ele parece ficar tenso. — Se for não é só falar, tá tudo bem.
— Você acha que eu diria não?— eu solto uma risada e seguro seu rosto entre minhas mãos. — É claro que sim, idiota.
Ele suspira aliviado e sorri, agarrando minha cintura e grudando nossos lábios em um beijo lento, capaz de abalar todas as minhas estruturas.
Seguro sua nuca e ofego durante o beijo, sorrindo. Por mais inusitado que tenha sido, não acho que teria algum momento perfeito para isso. Qualquer momento, em qualquer lugar é perfeito quando se trata do Ryan. O beijo não foi longo, mas durante todo o curto tempo, a única coisa que se passava na minha cabeça é o quanto eu sou apaixonada por esse homem. Eu nunca pensei que diria isso, mas não imagino agora estar com outra pessoa que não seja Ryan Andersen.
Eu separo nossas bocas e olho para Ryan com um sorriso fraco, olhando seus olhos escuros brilhando na luz enquanto me olha de volta. Eu queria me jogar em cima dele, beijar ele com fervor e ficar abraçada por horas, porém estamos em um lugar público com crianças ao redor, não é o lugar mais adequado.
— Você é linda. — ele declara, observando todo o meu rosto. Meu sorriso se expande, assim como sinto minha pele esquentando enquanto olho em seus olhos. — Mas não pense que eu esqueci o que viemos fazer aqui.
Faço uma careta e me afasto dos seus braços, olhando para o outro lado da praça, onde estavam os filhotes de gatos e cachorros, que me deixavam muito mais tentada a ir até eles.
— A menos que você tenha um pavor gigantesco ou não queira mesmo dar uma chance, eu desisto e a gente pode ir ver os cachorros. — Ryan diz, olhando para mim com os olhos de cachorrinho pidão.
Reviro os olhos, soltando uma lufada de ar.
— Tudo bem. — não custa tentar. Acho que isso pode ser bom para me desprender um pouco do passado, mesmo que seja algo mínimo.
Depois de Ryan falar com uma das mulheres por trás da mesa embaixo da tenda, nós nos sentamos ao lado do cercado dos coelhos, atentos as instruções da moça para tomarmos cuidado. Ryan pega na minha mão e guia ela até o coelhinho menor, que está com os olhos em nós dois.
— Se ele ameaçar atacar, eu vou empurrar sua mão lá pra dentro. — eu ameaço, escutando a risada dele vim em seguida.
— Tá bom. — ele balança a cabeça e continua até minha mão estar parada em frente ao animalzinho. — Você ouviu a moça, ele é calmo, não tem porquê ter medo.
Eu não diria que eu tenho medo de coelhos em si, e sim do que eles podem fazer. Por mais que não pareça, essas coisinhas podem ser ameaçadoras.
Ryan é paciente durante todo o tempo. Não foi a coisa mais demorada e difícil do mundo, mas mesmo assim, enquanto eu hesitava em encostar no coelhinho para dar um carinho, Ryan estava ali segurando minha mão e indo ao mesmo tempo que eu. No fim das contas, depois de alguns minutos eu consegui encostar nele a vontade, e o animal foi muito carinhoso. A responsável não permite que peguemos eles no colo, pois tem risco deles fugirem, mas foi bom.
— Eles são muito fofos. — eu falo, com um sorrisinho no rosto enquanto um dos coelhos come devagar uma folha na minha mão. — Olha isso. Obrigada, Ryan.
— Eu só te incentivei. — olho para ele, que dá de ombros. — Você decidiu tentar superar esse medo.
— Mas se você não tivesse insistido, eu nunca teria tentado. — aponto. Ele sorri, balançando a cabeça. Afasto a mão do coelho assim que ele terminar de comer e respiro fundo. — Esse medo era muito real, mas não tão pavoroso como eu achava. Até que essas coisinhas são legais.
— Eu disse.
Olho novamente para Ryan, marcando na minha memória todo o seu rosto. Eu estou oficialmente namorando ele, não é tão estranho pensar, na verdade é algo magnífico. Acredito que nunca me senti assim, nunca me senti tão bem como eu estou me sentindo agora. Não poderia estar com uma pessoa melhor, e apesar de não ter palavras suficientes para descrever isso, esse sentimento que toma meu ser... Eu só posso dizer que Ryan Andersen realmente é o dono do meu coração e de todo o resto.
Somente por ele estar aqui agora, somente por insistir em me ajudar com um medo e ter conseguido eu já amo ele mais. E somente por esse pedido inusitado e inesperado, simples e sem nada exagerado... somente por isso eu acho que posso dizer que ele é o homem da minha vida. Não precisamos de muito para demonstrar o que sentimos um pelo o outro, estar aqui um ao lado do outro já é o suficiente, e eu não poderia amar mais.
— Então, gostou? — Ryan pergunta para mim, quando já estamos caminhando de volta para a moto.
— Sim, foi muito legal. — minha voz sai animada. Minha mão segurando a sua balança enquanto andamos e ele faz uma leve carícia na minha mão com o polegar. Eu adoro isso.
Após os coelhos, nós demos mais uma volta pela praça e brincamos um pouco com os cachorros, foi muito divertido. Também foi estranho sairmos de uma feira de adoção sem adotarmos um único animal, porém doamos uma quantidade de dinheiro para a organização que preparou isso tudo, já que era uma coisa independente. Mesmo assim, fiz Ryan prometer que a próxima vez que fossemos a algo assim, voltaremos para casa com algum deles.
— E os coelhos? Disposta a ter um daqueles? — ele levanta uma sobrancelha para mim enquanto pergunta, também parando no mesmo instante quando chegamos em frente a moto.
— Não mesmo. — nego imediatamente. Ryan ri. Por mais que aquele pavor tenha passado, a minha opinião sobre eles não mudou completamente. Agora eles são fofos, mas continuam sendo um pouco assustadores para mim.
— Bem, agora nós vamos para um lugar especial. — Ryan avisa, colocando o capacete em minha cabeça e fechando.
— E você vai me dizer onde é?
— Não. — ele sorri sarcástico e eu suspiro, concordado. Hoje ele está muito misterioso.
Nós subimos na moto e logo Ryan já está pilotando pelas ruas da cidade. Em algum momento, enquanto entramos em uma rodovia mais deserta, eu tomo coragem para soltar os braços da sua cintura e abrir eles, sentindo o vento bagunçar meus cabelos e alcançar meu rosto. O vento é frio e forte, mas traz uma grande adrenalina e uma sensação boa de liberdade.
Firmo as pernas na moto e no corpo do Ryan e jogo minha cabeça levemente para trás, sorrindo e sentindo uma sensação como nenhuma outra, como se eu não precisasse de mais nada além nesse momento.
— Tá bem aí atrás? — Ryan pergunta em um tom de voz alto, diminuindo um pouco a velocidade.
— Tô ótima aqui. — eu respondo e logo volto a posição normal, abraçando sua cintura com firmeza e fechando os olhos, sentindo todas essas coisas boas. É indescritível.
— Agora o que? Você pretende me matar? — eu indago, olhando para Ryan com diversão quando começamos a andar em uma rua deserta. — Primeiro você me pede em namoro para depois me arrastar até a floresta e esconder meu corpo... muito baixo, Ryan.
— Você está assistindo muito filme. — ele responde, no mesmo tom de diversão. — Eu não vou te matar em uma floresta, eu vou te jogar no mar, para os tubarões.
Olho indignada para ele, fingindo estar chateada. Coloco a mão sobre o peito e entreabro a boca.
— Nossa, eu pensei que você me amava. — balanço a cabeça, com desapontamento. — Cruel demais.
— Decepções da vida, querida. — Ryan imita meu movimento e segura meus ombros em seguida, ficando atrás de mim e me guiando por um caminho cheio de pedras no meio de tanta areia. Nós estamos em uma praia.
— Sério, por que você não avisou que a gente ia ir para uma praia? — eu indago, enquanto olho para meus pés e ando devagar. — Meus tênis vão ficar imundos.
— Eu disse que era melhor vestir uma roupa mais confortável.
— Eu tô confortável. — reviro os olhos. — Mas se você tivesse falado para onde iríamos eu não precisaria sujar meus sapatos, ele são muito bonitos pra isso.
Ryan me solta e para na minha frente, andando de costas.
— Quer que eu te leve no colo, senhorita Martin? — Ryan pergunta com deboche, com um sorrisinho de lado nos lábios. — Eu posso limpar seus preciosos sapatos e trocá-los pelos meus.
Solto um longo suspiro e resolvo ignorar isso.
— Só me leva logo pra onde você quer. — empurro de leve seu corpo em frente ao meu e enlaço meu braço no dele logo em seguida.
Ryan ri e continua a andar, nos levando pelo mesmo caminho de pedrinhas. A praia parece estar vazia, só é possível escutar a brisa fresca e as ondas do mar quebrando a alguns metros de onde estamos. O que ele inventou aqui?
— Isso tá me assustando. — eu resmungo, apertando seu braço e me encolhendo por conta do frio que começa a aparecer aos poucos.
— Você vai gostar... Eu espero. — Ryan diz, soltando meu braço para passar o dele em volta dos meus ombros e me apertar no seu braço. — É aquela mesma praia da outra vez, do luau. A gente tá indo por um caminho diferente.
Levanto as sobrancelhas, surpresa. Talvez pelo dia ainda estar claro eu não tenha percebido, visto que a última vez que estive aqui estava escuro, mas realmente não me liguei nem no caminho que estamos seguindo.
Continuamos andando por pouco tempo, até logo chegarmos a uma parte quase escondida por algumas árvores. Não tem nada além de areia, pedras e o mar, mas quando olho mais atentamente, do lado de uma das rochas grandes mais afastadas da água, vejo alguns panos com uma cesta de piquenique e comidas em cima de uma mesa baixa de madeira. Solto um suspiro e olho para Ryan, que já está me olhando com um sorriso fraco no rosto.
— Você fez isso?
— Mais ou menos. — ele balança os ombros, coçando a nuca em seguida. — Não tinha como fazer tudo de uma vez e nem deixar isso aqui sozinho a nossa espera, então eu pedi para uma colega fazer isso quando estávamos vindo. Eu só disse o que ela tinha que fazer e ela fez, eu tô vendo somente agora o resultado.
— Tá muito bonito. — falo com sinceridade. Não está muito elaborado ou chique, está simples e organizado. Um pano grosso e duas almofadas estão no chão ao redor da mesa, para nós sentarmos. As melhores coisas estão na simplicidade e isso tá melhor que qualquer outra coisa que eu poderia imaginar.
— Você merece. — ele pega em minha mão e caminha comigo até lá, me direcionando para sentar em uma das almofadas enquanto ele se sentava no outro lado de frente para mim. — Nós merecemos.
— Sabe, só por estar ao seu lado já faz o meu dia, mas... — solto um suspiro olhando em seus olhos escuros. — Tudo isso tá sendo maravilhoso, você é incrível. A melhor pessoa. Eu não tenho palavras para agradecer cada coisinha que você faz.
— Estar comigo já é um bom jeito. — Ryan continua minha fala, pegando em minha mão por cima da mesa e enviando sinais por todo o meu corpo. Ele sorri. — Eu que deveria te agradecer, você fez mais por mim do que imagina. Eu tava passando por muitas merdas que você não imaginava e de algum jeito você sempre melhorava meu humor de algum jeito. Você me faz bem e me ajudou pra caramba, mesmo que sem saber.
Sorrio, apertando mais firmemente sua mão e não desviando o olhar do seu. Eu não tenho nenhuma dúvida de que ele é o homem da minha vida e que é com ele que eu quero passar o resto dos meus dias. Ryan Andersen... Sem palavras para descrever e explicar o que ele é e o que sinto pelo mesmo. Eu o amo. Definitivamente o amo.
— Você me encarando e sorrindo desse jeito tá parecendo uma psicopata. — Ryan me tira dos meus pensamentos com o comentário sarcástico e eu solto uma risada fraca.
— Eu te amo. — declaro, sem rodeios, sentindo meu coração quase sair pela boca com a ansiedade em esperar a sua reação. — Eu te amo, Ryan... e vou continuar te amando até o último dia de nossas vidas. E respondendo novamente sua pergunta do outro dia, mesmo que isso já tenha passado: eu quero ficar com você... Eu quero ficar com você para sempre.
Ele fica estático com a minha fala. Acredito que ele já estava ciente sobre o que eu sentia há bastante tempo, mas ouvir algo assim é realmente diferente de tudo. Eu não espero que ele me responda agora ou fale algo, eu só falei por não estar mais aguentando guardar isso, e como Ryan mesmo disse que tem alguns problemas para se expressar, eu não vou pressionar nada.
Ryan balança a cabeça assentindo, também me olhando. Ele fica calado por alguns instantes.
— Eu amo você, ruivinha. — ele finalmente responde depois de um tempo. Eu consigo me acalmar um pouco, mas mesmo assim é como se todos os meus sentidos estivesses fazendo festa. Não que fosse preciso Ryan disser algo para se expressar, uma ação vale mais que mil palavras, mesmo assim enlouquece toda a parte mais racional dentro de mim. — Tudo em você. Cada parte de você. Eu te amo e não consigo dizer o quanto. Eu amo como você dança, como você fala, o que você faz. Eu amo o seu cabelo, seu perfume e como você faz uma cara fofa quando não gosta de algo ou está irritada. Como as suas bochechas coram quando você fica com vergonha. Eu amo você e amo o fato de você continuar aqui. Eu amo você por tanto tempo e nem eu tinha percebido. Eu também te amo, Evie.
Mordo o lábio, sentindo meus olhos molhados e olho para Ryan sem nenhuma reação, somente com meu corpo agindo com toda a adrenalina. Eu me levanto de onde estou e caminho até Ryan, ele fazendo o mesmo e encontrando meu corpo quando abraço seu pescoço com todo o carinho e força que eu tenho dentro de mim.
— Você é especial, perfeitamente especial. — ele sussurra no meu ouvido. — Você é a melhor coisa que aconteceu comigo. A melhor parte dos meus dias. Não chora, por favor.
— Eu não vou. — balanço a cabeça e olho para ele, mesmo que estivesse segurando algumas lágrimas. Eu sou emocional demais e ninguém nunca falou nada parecido com isso para mim, é um momento especial. — Eu vou te beijar.
— Eu estou de acordo com isso. — Ryan passa os braços na minha cintura e eu seguro seu rosto, chocando nossas bocas em seguida.
Meu corpo relaxa e se transforma em gelatina quando nos beijamos. Nossas bocas se movem devagar, sem pressa, mas com intensidade suficiente para conseguirmos transmitir o que estamos sentindo agora, o suficiente para saciar a vontade que eu tenho de beijar ele a todo momento. Fogos de artifício explodem dentro de mim e todo o raciocínio abandona meu cérebro, só deixando a imagem de Ryan na minha cabeça.
Ele me beija com necessidade, mas com toda a calma do mundo. Com toda a calma para provarmos um do outro.
— Esse era pra ser o pedido oficial. — Ryan resmunga quando separa nossos lábios, ainda roçando o dele no meu enquanto fala. — Mas eu fui rápido demais, eu ainda ia te dar um presente.
— Tá tudo bem, foi perfeito. — solto uma risada nasalada e deixo um selinho demorado em seus lábios. — Você é perfeito.
— Eu sei. — ele sorri convencido e eu solto um suspiro. — Desculpa arruinar o clima, eu precisava falar isso.
— Tudo bem. — solto uma risada e me afasto de seus braços. Eu amo esse jeito do Ryan, mesmo que seja irritantemente convencido demais às vezes. Faz ele ser ele. — Qual era o presente?
Ryan respira fundo, sem tirar o sorrisinho dos lábios e se afasta de mim, pegando algo dentro da cesta de piquenique. Ele esconde atrás do corpo, me impossibilitando de ver.
— Está tudo indo diferente do que eu planejei, então vou fazer isso logo. — ele fala mais para si mesmo do que para mim. — Fecha os olhos e estica a mão.
Franzo as sobrancelhas, semicerrando os olhos para ele.
— Pra que?
— Fecha os olhos. — ele pede novamente e eu respiro fundo, fazendo o que ele pede.
Sinto algum objeto pequeno e aveludado na minha mão, minha respiração acelera. Ele faz algo com o objeto e em poucos segundos eu consigo sentir sua respiração atrás de mim e o contato de algo gelado em meu pescoço.
— Pode abrir. — ele avisa, pegando o objeto da minha mão. Abro os olhos devagar e me viro para Ryan, que segura uma caixa pequena e vermelha nas mãos. Respiro fundo e volto o olhar para meu pescoço, agora com uma corrente dourada com um pingente de morango. Minha respiração falha.
Eu solto um riso nasalado e respiro fundo novamente, voltando a olhar para o homem na minha frente.
— Um morango. — eu mantenho um grande sorriso na boca, olhando para o rosto também sorridente do Ryan. — Um pingente de morango. Meu Deus, Ryan.
— Você gostou?
— Claro que sim. — eu solto uma risada e coloco o rosto dele em minhas mãos, igualando nossos olhos. — Eu amei. É muito bonito.
— Quando eu vi eu pensei em você na hora. — um braço dele passa na minha cintura, enquanto a outra mão segura o pequeno morango nos dedos, após ele colocar a caixa no bolso da jaqueta. — Eu comprei naquele dia que eu apareci na sua casa, mas não achei o melhor momento.
— Qualquer momento é ótimo. — planto um selinho em sua boca. — E eu amei.
— Eu amo morangos e amo você. É uma grande coincidência. — Ryan comenta. Planto outro selinho em seus lábios, ele sorri. — Acho que é o destino.
— É o destino, definitivamente. — outro selinho. — Agora vamos comer, eu estou morta de fome.
Ryan ri e separa o seu corpo do meu, pegando em minhas mãos em seguida.
— Como quiser. — nos sentamos novamente e começamos a comer as várias coisas que tinham ali, em meio a assuntos aleatórios e risadas.
Esse definitivamente é o melhor lugar que eu poderia estar. Com a melhor pessoa.
— Um cinema, sério?
— Sim, pra fechar o dia de um jeito diferente. — Ryan passa a mão no meu cabelo e puxa a minha mão em seguida, para continuarmos andando em direção a entrada do cinema. — Eu te disse uma vez que nunca fui para um cinema, mas estou disposto a vim com você. Você superou um pouco do medo dos coelhos hoje e agora eu vou fazer algo que nunca fiz.
Levanto uma sobrancelha, olhando para ele de soslaio.
— Não são a mesma coisa, eu sei. Mas mesmo assim... Eu queria fazer algo diferente.
— Tá bom. — balancei a cabeça, entrelaçando nossos dedos e apoiando o queixo em seu ombro. — Nós fizemos muitas coisas diferentes hoje.
— Isso é bom. — ele dá de ombros. — É bom experimentar coisas diferentes.
— Uhum. — resmungo e planto um selinho demorado em seus lábios, me deliciando com eles. Dou um sorrisinho pequeno ao me afastar. — Eu ainda não acredito que você nunca foi ao cinema.
Eu balanço a cabeça e me afasto completamente dele, deixando nossos dedos ainda juntos quando continuamos a andar, comigo guiando ele.
— Vamos escolher um filme e comprar uma pipoca.
— Você acabou de comer. — Ryan me olha com os olhos levemente arregalados.
— A pipoca é pra você, não para mim. — dou um sorrisinho e entro na fila com ele, que suspira. — É a sua primeira vez aqui, então vamos ter a experiência completa.
Ryan somente concorda, sem dizer muito.
Fico contente dele estar tentando coisas diferentes. Acredito que mesmo que seja coisas como ir ao cinema pela primeira vez ou planejar um encontro para um dia inteiro, fazer coisas que não esteja acostumado seja algo bom. Como descobrir algo novo que gosta ou não gosta. E estar com ele, acima de tudo, fazendo coisas diferentes com Ryan não poderia ser melhor.
— Ei. — Ryan me chama, com o celular em mãos. Estamos sentados em um banco do lado da sala que passará o filme, enquanto esperamos o horário. — Seu irmão me mandou uma mensagem.
Aproximo mais o meu corpo do seu e olho para a tela do celular que ele mostra para mim. Franzo as sobrancelhas, engolindo em seco.
— Jeremy?
Olho para Ryan e ele assente, me olhando de volta com um sorriso de canto.
— Os policiais viram as câmeras assim que tiveram permissão. — Ryan começa falando, guardando o celular no bolso e não desviando o olhar do meu. — Eles viram os três aparecendo do nada e vindo pra cima de mim, viram que eu tentei me defender. Isso não é o suficiente para colocá-los na cadeia, mas algumas pessoas que Jeremy fez o mesmo decidiram denunciar também, pessoas que viram ele fazendo algo ilegal ou foram as vítimas.
— Isso é ótimo. — eu seguro um sorriso, prendendo o lábio inferior nos dentes.
— Sim, é. Talvez ele não fique lá para sempre nem por muito tempo, mas ele com certeza vai levar alguns processos por danos morais. — Ryan sorri. Seguro uma risada, por algum motivo. — Provavelmente o papai dele vai ficar muito irritado com isso tudo e não vai fazer nada pra ajudá-lo, ou talvez faça e tire e mesada dele, deixe ele sem nada. Eu não aguentaria um filho assim.
Solto um suspiro, apoiando a cabeça em seu ombro.
— Então a gente tem um problema a menos agora?
— A gente não tem nenhum problema mais. — Ryan corrige, passando o braço pelos meus ombros.
— É ruim ou estranho eu querer rir? — eu pergunto a ele.
— Eu acho que não. — ele ri, me fazendo rir junto. Coloco a mão na boca quando uma gargalhada sai da minha boca e eu começo a dar risada. Ryan me olhando de canto e rindo mais discretamente também.
Eu não sei exatamente o porquê da risada, mas eu não paro para pensar. Acho que só estou aliviada e contente por Jeremy estar pagando pelo que fez ou quase isso. Talvez ele mereça uns socos, mas violência não resolve nada e, acredito eu, isso já é suficiente.
— Você gostou?
— É um bom filme. — Ryan balança os ombros, olhando para frente e com as mãos no bolso da jaqueta enquanto nós andamos pelo estacionamento. — Não é nada surpreendente e a pipoca não é tão boa assim, tinha muita manteiga.
— Você é chato. — faço uma careta. — A comida daqui é muito boa, você ainda vai se acostumar. Vamos ir mais vezes ao cinema, não precisa ser aqui.
— Eu ainda prefiro a minha casa. — ele diz, me surpreendendo quando puxa minha cintura e cola seu corpo no meu. Pouso as mãos em seu peito e arregalo os olhos com o susto. — Principalmente com você, ao meu lado... ou em cima de mim.
Deixo um tapa em seu peito na mesma hora em que ele fala as últimas palavras, arrancando um gemido de dor e uma risada dele.
— Idiota. Você tava muito fofo pra ser verdade. — coloco as mãos em sua nuca, olhando em seus olhos enquanto ele oscilava entre olhar para meus olhos e minha boca. — Você tem a alma de um velho rabugento dentro de você às vezes, mas definitivamente você é sempre um pervertido.
— Não diz isso. — ele faz um bico com os lábios, ou tenta fazer, me imitando. — Eu sou romântico, uma pessoa maravilhosa e linda e o melhor namorado do mundo, que tem a melhor namorada do mundo.
— Você joga sujo. — tento manter o semblante irritado enquanto ele sorri para mim de um jeito fofo. Só com a última frase ele fez meu coração acelerar e todo o meu corpo reagir, eu estou dando o meu máximo para não sorrir. Ouvir ele falando assim parece que me derrete toda, eu volto a ser uma adolescente boba e apaixonada.
— E você é linda. — ele sorri, roubando um selinho meu. — Muito linda.
— Eu te odeio. — é minha vez de deixar um beijo rápido em sua boca, me afastando dele em seguida.
— Se isso for uma forma de dizer "eu te amo" em outras palavras, eu te amo também.
Respiro fundo, desviando o olhar dele. Sinto que se olhar mais eu sou capaz de agarrá-lo.
— Para com isso. — eu peço quando volto a olhar para ele, que ainda mantém um sorrisinho no rosto. — Olha, agora é sério. Eu tenho algo pra você. Mas eu não sei se você vai gostar ou me achar idiota, então se não gostar eu vou entender completamente.
— Tá legal, calma. — Ryan solta uma risada nasalada, se aproximando de mim e parando na minha frente. — O que é?
— Eu realmente estou com medo da sua reação, então calma. — respiro fundo, colocando a mão no bolso do meu casaco.
Em um desses dias, quando eu estava com Ryan, eu vi incontáveis vezes o polegar dele circular o seu anelar direito. Ele está fazendo muito isso. Onde tinha um anel antes, o anel de sua mãe, e agora não tem mais. Acredito que por não estar mais cabendo, como ele mesmo disse. Parece que é como se ele ainda estivesse sentindo o anel ali, mesmo que não esteja.
— Vai se sentir melhor se eu disser que também tenho algo?
— Talvez. — solto um suspiro longo, sorrindo. — Mas me deixa ir primeiro.
Ele concorda, com uma feição curiosa.
— Fecha os olhos. — eu peço. Ryan franze as sobrancelhas, mas faz mesmo assim.
— Por que eu estou sentindo um déjà vu?
— Ryan, cala a boca. — eu não seguro a risada. Passo a mão no rosto e respiro fundo. Tiro a mão do bolso, agora com uma pequena caixa preta na minha palma.
Abro a caixa, parando por um tempo para pensar se é certo, mas logo tiro a pequena joia da caixa e seguro a mão do Ryan em seguida.
— Já está me pedindo em casamento? Você é apressada. — ele tenta brincar, assim que eu coloco o anel em seu dedo, mas vejo quando ele engole em seco e respira fundo.
— Pode abrir os olhos.
Ele assim faz, abrindo os olhos devagar, encontrando meu olhar antes de desviar e olhar para a sua mão, soltando uma suspiro quando vê o anel parecido com o seu.
— Evie...
— Se for muito ou se você achar que isso não é bom, tá tudo bem. — eu interrompo antes que ele diga algo. Minha voz falha. — Você disse que era especial pra você e que teve que parar de usar por conta do tamanho. E eu vejo o quanto você mexe no seu dedo e fica olhando para a sua mão vazia, ou até encarando o anel. Eu sei que o seu tem um valor emocional grande e é importante pra você, mas isso é um presente. Não pra suprir a ausência do outro, mas talvez pra essa sensação fantasma de ainda ter algo ali passar um pouco ou pra não ficar vazio.
— Você fala muito. — ele me interrompe antes que eu continue a falar. Respiro fundo. — Não precisa me explicar.
— Me desculpa.
Ryan sorri fraco, pegando no meu rosto com as duas mãos e igualando nossos olhares.
— Eu amei. — ele diz. — Você está certa, não vai suprir a ausência do anel da minha mãe. Mas eu sempre gostei de usar ele e agora não posso mais. Não sei se teria coragem de colocar outro diferente aqui. Então, eu com certeza vou usar esse anel que você me deu. Não precisa ficar nervosa.
Suspiro aliviada, sentindo minha respiração se acalmar. Eu estava com um pouco de receio da sua reação, principalmente por saber o quão complicada é a sua história com a mãe. Antes de comprar esse anel, eu fiquei parada lá por tanto tempo pensando se era a coisa a certa que pareceu passarem horas.
— Eu sei. — encosto nossas testas, fechando os olhos. — Eu não sei exatamente qual eu achei que seria sua reação ou o que você iria pensar.
— Tá tudo bem. — ele diz baixinho, em seguida encostando nossos lábios em um beijo demorado. — Olha o que eu tenho.
Estreito os olhos e olho para baixo, com nossos rostos ainda bem próximos, enxergando o anel de sua mãe na mão dele. O real, não a cópia que eu dei a ele.
— Pra você.
— Não precisa. — volto a olhar para Ryan, balançando a cabeça.
— Eu quero. — ele rebate, pegando uma das minhas mãos com delicadeza. — Eu estava pensando nisso tem um tempo. Você me ajudou bastante e isso não me serve mais. Ele provavelmente serve em você e eu tenho certeza que você é a mulher certa para mim, ninguém mais poderia usar isso a não ser você. Então aceita.
Dou um sorriso pequeno, assentindo com a cabeça enquanto nossos olhos estão fixos um no outro. Ryan sorri de volta e coloca o anel no meu dedo, deixando um beijo no local antes de deixar outro sobre meus lábios. Sorrio entre o beijo e seguro a sua nuca, puxando ele para mais perto e retribuindo o beijo.
Nossas línguas se tocam no mesmo instante que uma chuva começa a cair em nós, somente algumas gotas. Não o suficiente para nos deixar encharcados, então continuamos ali.
— Eu te amo. — murmuro contra sua boca e ele morde o meu lábio.
— Eu amo você. — Ryan diz de volta, sorrindo e nossas bocas se encontram de novo, sua mão adentrando meus fios e puxando alguns sem muita força e uma das minhas mãos passando por sua cintura.
A chuva fica mais forte assim que o beijo se intensifica também, nossas bocas provando a outra como se a fosse a primeira vez. Eu não me importo com mais nada agora. Com as pessoas no estacionamento, com os carros e nem a chuva forte que começa a cair. Só me importo com Ryan agora. Em estar em seus braços, com seus beijos e carícias. A única coisa que me importo.
— Agora estamos com o mesmo anel. — ele comenta, nossas bocas roçando uma na outra.
— Sim. — assinto, lhe dando um selinho. — Iguais. Estamos oficializando para as pessoas.
— Estamos. — ele sorri e deixa um beijo na minha testa antes de se afastar um pouco de mim. — Agora é melhor irmos antes que a chuva fique ainda pior e a gente não consiga sair daqui. Eu também não tô afim de pegar um resfriado, não podemos ficar doentes.
— Você tá certo. — pego em sua mão, entrelaçando nossos dedos. — Vamos pra casa.
— Vamos. — Ryan deixa outro beijo em minha cabeça enquanto andamos o que resta até a moto. Deito a cabeça em seu ombro e sorrio fraco.
O melhor lugar. O melhor dia.
O próximo capítulo, o último, sai amanhã. Não sei nem o que dizer.
O que acharam do capítulo?
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