XLV
❥ CAPÍTULO 45
Hoje foi dia de provas em uma das matérias. A matéria que eu e Ryan estamos estudando com fervor há tanto tempo. Uma das principais – se não a principal – razão pela nossa aproximação. Apesar das desavenças, nós conseguimos fazer isso melhor do que eu pensava. Com todas as provocações de Ryan e a insistência em me encher o saco, eu acreditava que não demoraria muito para eu pular no pescoço dele e fazê-lo calar a boca.
Porém, no final tudo acabou bem (ou quase isso). Nós nos aproximamos, nos conhecemos mais e criamos um afeto. Agora eu confio nele, de um jeito que eu não confiava antes, e agora eu amo ele, de um jeito que eu repugnava sequer pensar em sentir antes.
Logo de manhã, quando eu estava na academia e o Ryan provavelmente estava indo para a faculdade, eu mandei uma mensagem como forma de encorajamento, mesmo que ele não precise, lhe desejando boa sorte e dizendo-lhe que ele iria se sair bem depois de tanto tempo estudando. Ryan agradeceu brevemente e mandou uma foto dele em seguida com um sorriso nos lábios e a mão tatuada cobrindo metade do rosto ferido. Entendo que Ryan as vezes não saiba se expressar muito bem, ele tem seu jeito de demonstrar o que está sentindo. Sendo sincera, eu gosto desse jeito dele descontraído de lidar com as coisas, mesmo que às vezes me irrite.
Eu até pensei em falar com Ryan depois do horário dele, porém eu acabei desistindo por conta da pressa. Treinar, ir para a faculdade, estudar, fazer uma prova, aguentar os olhares estranhos das outras pessoas e em seguida voltar para o estúdio para ensaiar acaba me deixando cansada e tomando todo o meu tempo. Mas eu sei que ele foi bem, apesar de não ter falado com o mesmo durante todo o dia.
Agora eu estou saindo da companhia, ainda com a música em minha cabeça enquanto batuco meus dedos em minhas pernas, cobertas pela meia calça clara, na contagem dos passos, e vou andando tranquilamente em direção a meu carro, com a chave entre os dedos, depois de me despedir do pessoal. Estou exausta e repenso a ideia de ir a faculdade amanhã, eu não posso perder uma prova, mas a ideia de ficar em casa durante a tarde inteira, somente deitada na cama, é mil vezes mais atraente.
— Pensando em mim? — eu me assusto quando a voz grave e rouca transparece na rua quase escura. Eu não estou sozinha na rua, o pessoal da companhia está disperso na porta do prédio ou indo até seus automóveis, mas mesmo assim eu entro em alerta.
Viro na direção da pessoa no mesmo instante, com o coração disparado e a raiva expulsando o medo que se apossou de mim segundos antes. Coloco a mão sobre o peito, sentindo o meu coração acelerado em minhas mãos e olho para a figura do homem a minha frente.
— Você perdeu a cabeça?! — eu me seguro para não falar tão alto e atrair atenção para nós, dando um tapa com a não espalmada em seu peito. — Por que você faz isso?
— Eu imagino o que aconteceria se fosse outra pessoa no meu lugar, você anda muito distraída, tem que prestar mais atenção na rua, linda. — Ryan diz, com os braços cruzados no peito e seu corpo encostado na lateral do meu carro, sua expressão quase indiferente.
— Eu não sei qual é da sua mania de aparecer de repente assustando os outros, se é um fetiche ou uma doença, mas eu juro que se você fizer isso outra fez, eu vou enfiar essa merda de chave nos seus olhos. — eu aponto a parte pontuda da chave para ele, ameaçadoramente. Ryan ri e levanta os braços em rendição, se afastando levemente do meu carro e de mim.
— Desculpa. — ele pede, coçando a nunca rapidamente. — Mas você tava no mundo da lua, não foi minha intenção te assustar. Você realmente deveria prestar mais atenção, principalmente na rua.
— Na próxima vez, tenta fazer isso sem me causar um infarto. — eu respiro fundo e passo a mão no meu cabelo, ainda preso no coque. Meus batimentos estão mais calmos e eu não estou quase tremendo quanto antes. — É bem provável que eu morra se você fizer isso de novo.
Ele me olha como se realmente estivesse arrependido agora, suas sobrancelhas se abaixam e seus olhos ficam preocupados. Vejo que peguei em um ponto fraco quando ele tenta se aproximar de mim, mas eu me afasto dele, indo até meu carro e destrancando a porta.
— Desculpa. — ele diz baixinho, de novo. Parece um sonho ver Ryan desse jeito, como um cachorrinho abandonado, toda sua postura imponente sumiu. Meu coração parece se derreter com aquilo e me faz ter vontade de abraçá-lo, mas eu me recuso.
— Tudo bem. — dou de ombros. — Mas não faz isso de novo.
— Eu não vou. — ele balança a cabeça em negação para reforçar o dito e logo depois me avalia por completo antes de voltar a falar. — Afinal, por que você se assusta tanto com isso?
Solto uma risada nasalada, esfregando a mão do rosto cansado e suspirando ao olhar para o homem bonito na minha frente e encostar meu corpo no carro.
— Eu tenho medo e apesar de saber me defender, eu não sei se conseguiria. Você não pode chegar assim e esperar ser recebido com beijos, mesmo que eu saiba que foi uma brincadeira e a sua intenção era boa. Eu não gosto disso.
— Me perdoa. — ele consegue se aproximar de mim, passando os braços por minha cintura e me abraçando com firmeza, como se nunca mais fosse me soltar. Abraço seu pescoço e faço um carinho leve em seu cabelo. — Sinto muito.
— Tá tudo bem. — eu solto um riso fraco e beijo sua bochecha. — Eu só tomei um susto. Ando meio pensativa nos últimos dias, essa coisa com o Avery me deixa paranoica.
Ele afasta o rosto do meu pescoço, olhando para mim com as sobrancelhas franzidas.
— Paranoica por causa dele? — Ryan segura meu rosto com as mãos, enquanto faz um carinho com uma delas em meu rosto.
— Mais ou menos. — balanço os ombros e faço uma careta, observando suas feridas cicatrizando e os hematomas agora em uma coloração verde em seu rosto. Mesmo com o rosto todo ferrado ele continua bonito. Impressionante.
Eu gostaria que ele fosse um pouco menos bonito, talvez assim não fosse tão difícil ficar irritada com ele em algum momento necessário.
— Sim ou não? — seu tom de voz está mais sério ainda e seu rosto tem uma expressão dura, sua mandíbula tensionada e os olhos bravos me fazem recordar do velho Ryan que não saia da boca das pessoas, o que gostava de brigar com outras pessoas e arranjar confusão. Do Ryan que a maioria conhece como alguém estranho a temer e a manter distância.
— Sim. — respondo murmurando, abraçando ele novamente e ficando na ponta dos pés para deitar a cabeça em seu ombro.
Não que eu estivesse com muito medo do Jeremy, mas desde o dia que ele me encurralou na universidade eu tenho tentado ao máximo evitar esbarrar com ele por aí. Agora, depois de atacar Ryan desse jeito sem nenhum remorso, me faz pensar o que ele faria se estivesse sozinho comigo e isso me dá arrepios tenebrosos. A cena na boate, dele me drogando e me embebedando, já me faz ter uma ideia do tipo de covarde que ele é, que talvez não hesitaria em tentar novamente o que não conseguiu naquela noite.
É, talvez eu esteja com um pouco de medo sim, mas eu não preciso mostrar isso.
— Não por muito tempo agora. — Ryan diz depois de um tempo em silêncio, enquanto me envolve em seus braços de forma protetora, como se não quisesse que eu escapasse. E eu gosto disso, eu me sinto segura e confortável com ele, não preciso de nada mais. — Ele vai pagar, Evie. Eu prometo a você.
Eu assinto com a cabeça e dou um sorriso fraco. Eu sei que tem mais por trás dessa vontade de ir atrás do Jeremy, não é só comigo. Avery ameaçou o Ryan, encurralou ele em um lugar deserto e Deus sabe as merdas que ele falou antes de atacar o Andersen covardemente. Avery mexeu com Ryan e não é por conta do ego ferido de sair machucado que ele quer o Jeremy, mas sim o prazer de ver um nojento filho da puta pagando pelas merdas que fez.
Quem sabe o que ele já fez que os pais podem ter acobertado. Jeremy nunca foi santo, ele guarda muitas coisas, já tem passagem pela polícia e várias denuncias. Ninguém fala disso por medo, mas todos sabem que Jeremy Avery não é flor que se cheire e que não se importa com o que faz com as pessoas que o desafiam ou pelas que ele tem interesse. Me dá ânsia.
— Ah, eu já estava esquecendo! — eu exclamo, virando o rosto para olhar para o Ryan no banco do motorista, prestando atenção na estrada. — O que você foi fazer lá de repente?
Eu cruzo os braços e espero sua resposta.
Ryan, depois de muita insistência e um olhar de filhote perdido, me convenceu a ir de carro com ele até a minha casa. Disse que vai me levar para a companhia novamente amanhã no horário do ensaio e então eu volto com meu carro para casa, que ficou no estacionamento do prédio da companhia. Na vaga que a tia do Ryan reservou para o sobrinho. Não contestei, pelo menos ele iria ficar seguro.
— Fui te buscar. — Ryan dá de ombros.
— Por que? — fico confusa. Por que ele iria até lá somente para me levar em casa?
— É hora de eu te contar umas coisas, ruivinha. — ele diz depois de uma breve pausa, respirando fundo. — Também envolve aquele meu sumiço.
— Okay. — assinto, imediatamente curiosa para o que quer que ele fosse falar.
— Eu não sei exatamente o porquê eu fui lá, acho que só queria te ver, certificar que você estava bem. — ele balançou os ombros, visivelmente sem graça. Eu sorrio de canto ao perceber em como ele fica ao falar mais de seus sentimentos. É fofo. — E o Avery vem rondando meus pensamentos, ele pode decidir fazer mais alguma coisa. Nunca se sabe.
Eu balanço a cabeça para cima e para baixo, mexendo nos meus dedos enquanto olhava para eles. Isso às vezes me distrai e me deixa pensar por um tempo.
Não julgo Ryan, eu mesma estava pensando no que ele pode fazer há alguns minutos atrás. Ele é imprevisível. Não diria que preciso de proteção, com todo esse cuidado de Ryan, mas eu sei e admito que se Avery tentasse uma coisa eu não conseguiria reagir.
Minha irmã me contou um acontecimento de sua vida quando eu era adolescente, algo que mudou a forma como eu via ela e o mundo. Minha irmã, com apenas dezessete anos, foi encurralada em uma noite, no meio da mata escura, por um monitor do acampamento em que ela estava em uma excursão da escola, somente alguns anos mais velho. Ela disse como se sentiu impotente e com medo, por isso pagou aulas de defesa pessoal para mim e meu irmão, para que conseguimos correr e nos salvar de alguém.
Eu aprendi a me defender, Brooke fica contente por eu ao menos ter a chance de revidar qualquer coisa sem ajuda, algo que ela não conseguiu, e Deus me livre de pensar o que teria acontecido caso Drake e os amigos dela não tivessem chegado a tempo. Apesar disso, apesar de saber usar minha força contra a outra pessoa, eu continuo sendo medrosa na maioria das vezes, provavelmente eu travaria e esqueceria tudo que eu já aprendi. Assim como quando Jeremy falou comigo e me segurou, eu poderia ter me soltado rapidamente e impedido o hematoma em meu braço, mas não fiz isso e é uma droga pensar nisso tudo.
— Você tá bem? — Ryan pergunta, o tom de voz cauteloso. Eu não olho para ele, mantenho o olhar em meu braço, passando a mão pelo antebraço, agora sem mais nenhuma marca.
— Sim. — pisco os olhos com preguiça e encosto a cabeça no banco de couro do seu carro, olhando para Ryan. — Só tô exausta e querendo dormir. Hoje o dia foi cansativo.
— Tudo bem. — ele assente. — Eu te deixo em casa, te ajudo no que você quiser e você descansa. Eu posso contar outro dia.
— Eu quero ouvir hoje, eu aguento mais um tempinho. — minha voz sai rouca. Eu preciso imediatamente de um banho gelado e uma janta. Isso vai me deixar despertada por mais tempo.
Ryan balança os ombros e respira fundo, deixando a mão livre em cima da minha, me arrancando um despertar imediato. Ele leva essa mão até seus lábios e deixa um beijo simples, antes de pousa-la em minha coxa e manter nossas duas mãos entrelaçadas ali. Todo meu corpo reage imediatamente, trazendo um calor para onde não devia e uma onde se arrepios por meus braços e pernas. Ryan percebe, ele solta um sorriso de lado, mas continua com o olhar na frente.
Respiro fundo e fecho os olhos por um breve momento. A noite vai ser longa.
....
— Pronta? — Ryan indaga, me vendo sentar ao seu lado no sofá com um prato de comida em mãos.
— Sim. — dou de ombros e sento em cima de uma perna minha, me virando de frente para ele enquanto encosto minhas costas no braço do sofá. Logo após chegarmos em casa, eu fui direto tomar um banho rápido, para tirar um pouco do cansaço e trocar a roupa do ensaio, enquanto pedi para Ryan me esperar na sala. Ele parece que não se incomodou em nenhum momento, eu também fiz uma comida rápida para saciar a fome enquanto ele fala.
Ryan balança a cabeça e fica em silêncio por alguns segundos, acho que se preparando, logo respirando fundo e me olhando pensativo antes de começar. Eu olho para ele com atenção e lhe ouço atentamente, enquanto como a comida.
— No dia depois do jogo, depois daquela noite com o pessoal lá em casa... — ele começa. Dou um sorriso discreto lembrando do dia, apesar da parte ruim em que eu lhe disse não, o resto da noite foi completamente agradável. — Eu estava no meu quarto estudando quando minha tia mandou mensagem, falando que meu pai tinha descoberto o que estávamos fazendo e ficou furioso. Ele tomou um chá de sumiço e eu tive que ir até a casa dela para me certificar que estava tudo bem e tentar arranjar uma solução. Esse é o motivo de eu ter ficado afastado.
Franzo as sobrancelhas, ainda presa na parte em que o pai dele descobriu o que estavam fazendo.
— E o que vocês estavam fazendo pra ele ficar furioso?
— Agora eu volto a parte interessante. Também o motivo do qual eu pedi um tempo pra resolver umas coisas, essa é o motivo. — Ryan solta um suspiro pesado, bagunçando os cabelos com as mãos e me olhando enquanto aponta para o prato em seguida. — Tem certeza que quer continuar comendo?
— Eu estou com fome. — balanço os ombros. Isso me está me deixa do nervosa.
— Eu te disse sobre os problemas que eu tinha com meus pais, certo? — assinto com a cabeça. Eu me lembro bem desse dia, ele havia ganhado um ponto comigo naquela noite. — Minha mãe tinha descoberto o câncer há um tempo, meu genitor tava nervoso e frustrado com isso e a situação que a empresa dele estava passando. Ele era um pai razoável até então, me dava tudo o que eu queria apesar do temperamento. Até que, um dia, ele viu uma prova minha da escola, com a nota abaixo da média. Foi até meu quarto e brigou comigo. Eu tinha nove anos, ele surtou por uma única prova que não tinha muita importância e me bateu.
Com sua última fala, eu paro com a mão que segura o garfo no ar, desistindo de colocar a comida em minha boca. Abaixo o prato em meu colo e abro um pouco mais meus olhos enquanto passo meu olhar por todo o seu rosto. Ele parece estar se segurando para falar calmamente, seu maxilar está travado e seus olhos baixos.
— Ele ficou com raiva e eu pensei que foi a única razão pra ele ter feito isso, que eu cometi um erro e não podia repetir isso. — Ryan continua. — Eu fiquei com um braço quebrado, eu não contei a minha mãe, mas eu acho que ela já sabia. Francis inventou uma desculpa idiota e disse que eu tinha que contar a versão inventada para todos que perguntassem. Eu fiz de tudo pra não desapontar ele outra vez e pra não apanhar de novo, eu achei que assim ele não faria isso mais. Ele fez. Muitas outras vezes, por motivo nenhum, na maioria dos dias ele chegava em casa frustrado e ia descontar a raiva em mim sem eu a menos ter me movido. Foi assim por mais oito anos.
Nesse momento, lágrimas já estão se formando em meus olhos, minha fome foi embora, dando lugar a ânsia. Quem tem coragem de fazer algo cruel assim com uma criança? Eu não consigo entender como as pessoas podem ser tão ruins. O próprio pai.
Eu tenho um histórico horrível com as pessoas que me trouxeram ao mundo, mas isso não é nem de perto comparável.
— Ele foi preso?
— Minha tia tentou algumas vezes, mas não deu muito certo. A maioria dos policiais agora são corruptos e aceitam tudo por dinheiro. — ele solta uma risada sarcástica e eu faço uma careta. Mundinho de merda.
Eu deixo o prato pela metade em cima da mesa de centro e me encolho na ponta do sofá, abraçando minhas pernas contra meu peito e apoiando o queixo entre meus joelhos. Olho para o homem a minha frente com lágrimas nos olhos, não quero chorar, Ryan é quem precisa de apoio agora. Eu odeio ser tão emotiva.
— A gente tava tentando resolver isso, mas ele soube antes do esperado. — Ryan dá de ombros.
Eu balanço a cabeça para que ele continue e assim ele o faz. Ryan conta sobre sua mãe, sobre a ajuda de sua tia e de como Justin esteve com ele desde o primeiro momento que se conheceram. Conta o que realmente aconteceu no dia do jogo que eu acabei indo parar em sua casa e ele tinha levado uma surra. Ryan conta o que ele passou, o que ele esteve fazendo nos últimos tempos, se cuidando e achando um jeito de incriminar Francis de uma fez por todas. Eu não desviei o olhar do seu rosto nem por um segundo, ao contrário dele, que ficou olhando para a sua mão por quase todo o tempo.
Eu não consegui segurar as lágrimas, elas descem calmamente pelo meu rosto e deixam minha visão embaçada. Ryan não chora, mas mesmo assim sua expressão demonstra a raiva e a tristeza. De tudo, de qualquer coisa que poderia ser a causa do seu comportamento estranho antes, nunca imaginei algo assim. Lógico que sempre teve boatos, algumas pessoas vieram do mesmo colégio que ele e já devem ter visto o Ryan mal ou machucado algumas vezes, mas nunca achei que fossem reais. Nem todos são reais, mas essas pessoas que vieram com ele sabem da história com sua mãe.
Nem tão surpreendentemente assim, a única coisa que eles fazem é julgar. Encarar, julgar e falar pelas costas. Ninguém nunca perguntou como ele se sentia, o que estava acontecendo ou se precisava de ajuda. Isso me revolta pra caralho. Da onde essas pessoas vieram que não aprenderam, ao menos, ter empatia com o próximo? Deus, às vezes eu odeio esse mundo.
— E como você está? — eu indago logo após ele terminar, com a voz embargada e baixa tentando controlar a minha emoção. Eu não estou chorando por pena ou algo assim, eu estou chorando de raiva e indignação. É impossível ficar sem reação após ouvir isso tudo.
— Bem, eu acho. — ele dá de ombros, finalmente levantando a cabeça para me olhar. — Isso não me incomoda tanto quanto antes.
Balanço a cabeça suavemente, passando a mão no meu rosto para enxugar as lágrimas e me movendo para me aproximar mais dele e passar as pernas por seu quadril, abraçando o Ryan com força enquanto ele me abraça de volta. O rosto enfiado no meu pescoço e uma das mãos entre meu cabelo. Ele não parece se incomodar com a posição, somente me puxa para mais perto de si e retribui o abraço com força. Agora sinto todas as minhas defesas abaixadas, toda aquela inquietação sumindo e meu coração relaxando enquanto estou em seus braços, tentando transmitir a mesma segurança e conforto que ele me passa.
— Fico contente por você confiar em mim para contar isso. — eu sussurro em seu ouvido, sentindo a pele arrepiada e quente. — Eu estou com você, em qualquer coisa que decida fazer.
— Eu sei.
Eu olho para ele, com nossos rostos muito próximos e dou um sorriso fraco enquanto encostamos nossa testas e fechamos os olhos. Minha boca encontra a sua com calma e mantemos elas grudadas em um selinho demorado, que enlouquece o meu lado sentimental e romântico. Sinto seu coração acelerado, no mesmo ritmo que o meu, nossas respirações misturadas e os olhos conectados quando nos separamos.
— Quer dormir aqui hoje? — eu pergunto, passando as mãos por seu cabelo e nuca calmamente.
Ryan me olha pensativo por alguns instantes antes de respirar fundo e assentir com a cabeça.
— Eu adoraria. — ele responde e eu solto uma risada nasalada, saindo de seu colo e segurando suas mãos enquanto me levanto. Ele me puxa sem usar muita força e me deixa no meio de suas pernas enquanto passa os braços por minha cintura. — Eu tinha outros planos, mas aqui é melhor.
— Se você tem outra coisa pra fazer pode ir, eu não quero atrapalhar.
Ryan nega, me abraçando com mais firmeza e deitando a cabeça um pouco abaixo dos meus peitos enquanto me olha. O Ryan é muito alto e sentado assim, ele fica somente alguns centímetros mais baixo que eu. Não que eu seja muito baixa, acredito que esteja na média para a minha idade, mas com Ryan não tem comparação.
— Eu nem tinha certeza que ia fazer isso mesmo. — ele explica, olhando em meus olhos com um sorrisinho no rosto. — Se eu tenho a chance de passar a noite com você, então assim vai ser.
Eu sorrio e deixo um beijo em sua testa, em seguida me soltando dos seus braços e puxando ele pelas mãos para se levantar. Se dependesse de mim puxando ele, não adiantaria muita coisa, visto que sua força é muito superior que a minha, então ele me faz um favor e se levanta sem que eu tenha que fazer esforço.
— Vai pro meu quarto e me espera, eu vou terminar o resto da comida e lavar os pratos antes de ir. — eu peço para ele.
— Eu posso lavar. — Ryan dá de ombros. Eu franzo o cenho, confusa.
— Você quer?
— Sim, me distrai. — ele passa o braço por meus ombros depois de pegar o meu prato e me guiar até a cozinha. — Você pode terminar de comer enquanto eu lavo o que tem lá e depois lavo esse prato.
— Não vou reclamar. — balanço os ombros e disfarço um sorriso quando ele me faz sentar em uma cadeira e coloca o prato de comida na minha frente, dando um beijo na minha cabeça antes de se afastar e ir para a pia.
Eu me sinto diferente, sinto várias coisas que nunca senti em nenhum outro momento da minha vida. Isso poderia me assustar antes, mas agora eu vejo que Ryan é a pessoa certa. Ele me faz bem, me tira do mundo real e faz coisas com meu corpo inimagináveis.
Ryan Andersen, senhoras e senhores. A pessoa que faz meu coração galopar no peito, a que causa arrepios por todo o meu ser, que aquece meu coração e me faz agir feito uma criança feliz após ganhar um sorvete.
Ryan Andersen, que faz meu corpo arder em chamas, que parece me incendiar toda vez que me toca e olha em meus olhos. Que me faz ter um desejo quente por ele e que pegou meu coração e o tomou para si sem avisar. Ryan Andersen. Não é tão difícil acreditar agora.
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