XLIII

Letra da ruivinha aí em cima.

❥ CAPÍTULO 43

Ao acordar, vejo que o único corpo em cima da cama é o meu.

Estou em volta dos travesseiros fofos da Evie e com o corpo todo coberto pelo edredom. A porta fechada e o ar condicionado na temperatura ambiente, deixam o cômodo mais confortável. A cama dela não é muito grande, mas é mais macia do que a minha, muito melhor para dormir.

Eu solto um bocejo enquanto olho para o teto e acordo aos poucos. Viro a cabeça para o lado, checando as horas. Recém completou nove horas da manhã. Me levanto devagar, eu consigo sentir as dores no meu corpo como se toda a agressão ainda estivesse acontecendo. Dói como o inferno.

Ainda sentado e olhando para os quatro cantos do quarto, em busca de algo que nem eu sei o que é, consigo enxergar um post-it amarelo em cima da mesinha ao lado da cama. Me levanto completamente e me espreguiço, ou tento do melhor jeito que posso, e logo depois pego o papel em mãos, vendo a letra bonita da ruivinha.

"Eu estou na cozinha. Fica a vontade.
Eu achei uma camiseta no meio das minhas coisas, está na cadeira, acho que cabe em você.

Bom dia,

Evie. ;)"

Coloco um sorriso fraco nos lábios e fico olhando aquele papel pequeno por um tempo antes de dobrar ele e guardar no bolso da calça que estou usando. Procuro a camiseta assim como ela escreveu e visto a mesma depois de achar. É uma blusa do time, com o número do Charlie. Não cabe perfeitamente, mas é melhor que a que eu estava usando ontem a noite.

Eu arrumo a cama e logo depois abro a porta do quarto, assim que me sinto preparado. Sou recebido, assim que coloco os pés para fora do cômodo, com um cheiro bom de panquecas e bacon vindo da cozinha. Respiro fundo, inalando o aroma delicioso e sinto minha barriga roncar no mesmo instante, me arrancando um praguejar baixinho.

Antes de aparecer para ela, resolvo ir ao banheiro para dar uma olhada em mim mesmo e passar uma água no rosto. Não tinha me visto em nenhum momento desde que saí daquele posto de gasolina, sei que minha situação está ruim, só não sei o quanto.

— Você é incrível, garota. — eu murmuro para mim mesmo quando vejo uma escova de dente ainda lacrada em cima da pia do banheiro, com um pequeno post-it colado na mesma, escrito:

"Isso é pra você.
Cuidado com os curativos quando for lavar o rosto."

Eu não sei se a Evie esperava que eu viesse no banheiro antes de, pelo menos, passar na cozinha para dar um bom dia, mas parece que ela já foi precavida.

Um sorriso me escapa sem que eu nem perceba e, novamente, dobro o papel e guardo ele no meu bolso junto ao outro, pegando a escova e o creme dental para escovar os dentes. Tudo isso enquanto evito olhar para o espelho bem em minha frente. Não quero ver minha imagem agora. Só de ver a reação dela ao me ver eu já posso imaginar como estou.

Lavo o rosto com cuidado para não molhar os curativos e escovo os dentes, guardando tudo no lugar antes de sair do banheiro e começar a andar em passos lentos em direção a cozinha. Uma de minhas pernas está doendo tanto que eu preciso andar devagar e tentar ao máximo não fazer muita força com ela, porque tenho certeza que pioraria. A única coisa que consigo sentir agora com tudo isso é ódio. Um ódio tão grande que eu mal vejo a hora de rever aquele canalha do caralho e acabar com a carinha dele.

— Bom dia. — sou recebido por Evie, que está com os braços escorados na bancada da cozinha enquanto olha para mim do outro lado. Ela dá um sorriso de lado e me observa enquanto eu tento ao máximo não demonstrar a dor na porra da minha perna. — Como está se sentindo?

— Um pouco dolorido ainda, mas melhor que ontem. — dou de ombros e ela semicerra os olhos para mim, logo suspirando e saindo da cozinha para vim até mim, enlaçando o seu braço ao meu e segurando ele para andar comigo. Sorrio fraco. — Bom dia.

Eu falo perto do seu ouvido quando ela para do meu lado e a mesma acena com a cabeça, consigo sentir quando ela se arrepia, me guiando com toda a calma do mundo até o cômodo integrado e me sentando em uma das cadeiras.

— Eu não sou uma chef na cozinha como você, mas eu acho que me garanto no café da manhã. — ela começa, virando as costas para mim para pegar uma panela no fogão. Tem um cheiro bom. Eu somente apoio o queixo nos meus punhos e fico olhando para ela. — Eu tentei fazer algo bem reforçado, eu sei que o café da manhã de um atleta tem que ser assim e você tem que comer bastante pra recuperar a força.

— Obrigado. — balanço a cabeça e me sirvo com algumas das coisas que ela colocou em cima da mesa. Ovos, bacon, iogurte natural, torradas, frutas, panquecas. — Você caprichou mesmo.

— Bom, eu tenho que reforçar o meu café da manhã também. — ela dá de ombros, se sentando na minha frente. — E Riley vai comer com a gente, então tem que ter mais ainda.

Assinto com a cabeça e começo a comer o que peguei, me segurando para não soltar um gemido de satisfação quando a panqueca entrou em contato com a minha língua. Dizer que está bom seria um eufemismo. Não sei se é a fome que me faz sentir tudo mil vezes melhor do que é ou realmente Evie sabe fazer um café da manhã delicioso pra cacete.

— Eu deveria estar na faculdade a essa hora. — eu digo entre uma garfada e outra quando olho para o relógio preso em uma das paredes. — O treinador vai me comer vivo.

— Acho que ficar só mais um dia sem ir não vai mudar muita coisa. — Evie fala, sem nem me olhar enquanto termina com a sua tigela de iogurte e granola. — Você tem que descansar e dar uma passada no hospital.

Suspirei e me recostei contra a cadeira, olhando para o teto branco do apartamento.

— Eu não quero ir a um hospital, Evie. Eu já disse.

— E eu respeito isso. — ela balança a cabeça, imitando meu movimento anterior ao se encostar na cadeira. — Mas você não sabe se fraturou alguma coisa. Você tá andando todo estranho e diz que ainda está dolorido, tem a droga de um hematoma enorme em seu rosto que eu tenho certeza que não foi um soco. Nenhum de nós é um médico, você não sabe se precisa mesmo tomar mais cuidado com algo ou não.

— Eu entendo os riscos que eu mesmo estou correndo, mas eu não estou afim de responder perguntas agora ou falar com algum segurança ou policial. — eu digo e respiro fundo, passando as mãos no rosto com força e nem me importando com a dor e as feridas. — Eu não gosto de hospitais.

Nós dois ficamos nos olhando firmemente por alguns instantes, sem desviar o olhar, até que ela respira fundo e concorda.

— Tudo bem. — Evie olha para suas mãos e começa a mexer com os próprios dedos. Parece já ser uma mania. Ela olha para mim depois de alguns poucos segundos. — Mas no primeiro sinal de algo errado, uma dor diferente, você vai falar, beleza? Não precisa ser comigo, mas você vai olhar, vai em uma clínica, qualquer lugar.

— Tá bom. — eu assinto. — Eu vou, não precisa se preocupar comigo.

Ela balança a cabeça e volta a comer, sem falar mais nada. Respiro fundo e faço o mesmo, deixando meus pensamentos me distraírem.

Eu sou grato a Evie. Não poderia estar mais agradecido pelo que ela fez ontem por mim e o que está fazendo nesse momento. Essa mulher... Não tenho nem palavras para expressar e descrever esse turbilhão de sentimentos que me invade.

Eu não fazia ideia do que estava fazendo quando cheguei aqui ontem a noite. O trio de covardes furaram um dos pneus do meu carro e levaram a merda da chave, não tinha nem como pegar o celular e tentar recarregar em algum lugar para chamar um dos garotos. Eu também não estava nas melhores condições para dirigir no estado que eu estava. Aquele posto de esquina não tinha nem uma pessoa e a loja de conveniência estava completamente vazia e caindo aos pedaços, não faço ideia do porquê ainda deixam aquele lugar aberto.

Estava desnorteado e com muita dor. Segui meu caminho andando sem me importar com as outras pessoas andando próximas a mim e a rua onde Evie mora estava mais perto, não sei se conseguiria andar até minha casa. Foi quase que automático, meus pés começaram a fazer caminho para o prédio e logo eu estava subindo sem o porteiro nem ninguém me barrar, subi tantas vezes ali que estavam acostumados.

Eu não sei exatamente o que esperava quando cheguei aqui, mas, de qualquer forma, Evie me recebeu melhor do que eu imaginava. Não que eu esteja surpreso, ela é uma das pessoas mais empáticas que eu já conheci. Mesmo assim, esperava que ela dissesse algo sobre o meu pequeno sumiço. Sou grato por ela estar me dando tempo.

— Bom dia, pombinhos. — a voz de Riley se faz presente no cômodo e olho por cima do ombro, observando ele vir até nós com a expressão de quem acabou de acordar.

— Bom dia. — acenei com a cabeça para ele, que esticou a mão para mim, fazendo um toque comigo.

— O que aconteceu com você, Andersen? — ele pergunta, fazendo uma careta estranha e se sentando ao lado da ruiva e já pegando uma boa quantidade de panquecas. — Quem foi o brutamontes que fez isso?

— Longa história. — dou um sorriso fraco e balanço os ombros, deitando a cabeça na palma da minha mão, com o cotovelo apoiado na mesa e dou uma olhada rápida na Evie, que está comendo enquanto presta atenção em nós dois. — É o preço que você paga por ser um cara legal e bonito. Tem algumas pessoas de ego ferido que não aguentam ser contrariadas.

— É quem eu penso que é?— Riley semicerra os olhos desconfiado olhando para a amiga e depois voltando a olhar para mim. Evie olha para mim também, esperando.

— Talvez. — dou de ombros, voltando o olhar para a ruivinha na minha frente, que me olha com o semblante sério e sem expressar nenhuma reação de verdade. — Mas ele é um idiota e vai pagar por isso. Um filhinho de papai covarde que não se garante sozinho, não me afetou em nada.

Evie balança a cabeça vagarosamente. Ela está olhando para mim, mas parece estar pensando em mais alguma coisa, pois logo se levanta da mesa e leva os talheres que usou até a pia.

— Eu vou fazer uma ligação. — ela se vira para nós dois e começa andar para se afastar de nós. — Já volto.

Acompanho com o olhar enquanto ela sai de vista e entra em seu quarto, em passos rápidos e pesados, fechando a porta em seguida. Eu franzo o cenho e balanço a cabeça, tentando evitar de pensar no que ela pode estar fazendo, mas espero que ela não queira fazer nada em relação a isso, não quero Evie envolvida. Isso foi estranho.

Riley volta a falar comigo e nós entramos em vários assuntos aleatórios enquanto ele me distrai um pouco dos muitos pensamentos sobre tudo o que vem acontecendo nos últimos dias. Ele não fez mais nenhuma pergunta sobre ontem, o que eu agradeço muito. Ele é uma pessoa legal para conversar, sabe entrar em várias assuntos e fala bastante depois de um tempo já acostumado.


Eu abro a porta de casa, que estava destrancada, e entro nela sem fazer muito barulho. Largo os sapatos no chão e ando devagar até a sala, onde já é possível ver de entrada Justin fazendo alguma coisa na mesa no canto do cômodo.

Ele parece me ouvir chegando quando vira a cabeça em minha direção e arregala os olhos ao me ver.

— E aí. — eu dou um aceno e Justin solta um suspiro alto, se levantando rapidamente e vindo em minha direção, me abraçando assim que chega perto de mim. Faço uma careta pela dor do choque repentino do seu corpo ao meu, porém lhe abraço de volta. Abraço do jeito que consigo.

— Puta que pariu, seu filho da puta. — Justin começa a xingar quando me solta, dando um tapa fraco na minha cabeça. — O que aconteceu? Onde você estava?

— Aconteceram alguns imprevistos. — dou de ombros e me jogo no sofá, deitando minha cabeça no encosto.

— E você esqueceu de ligar?

— Meu celular descarregou.

— Quem fez isso? — ele aponta para meu rosto enquanto se senta ao meu lado.

— Cadê o Charlie? — ignorei sua pergunta e fiz outra, olhando para os lados para ter algum sinal dele. Se eu for contar, eu quero que seja para os dois juntos.

— Tá lá atrás mexendo no carro dele. — Justin responde, cruzando os braços e soltando uma lufada de ar. Ele está ficando impaciente.

— Chama ele, eu tenho que falar com vocês dois.

Justin me parece irritado, mas mesmo assim faz o que eu pedi. Ele pega o celular e digita algo, imagino que chamando Charlie, depois joga o aparelho no sofá e continua me olhando com o semblante sério.

— Você parece que quer me matar com esse olhar de psicopata. — eu digo, levantando as sobrancelhas.

— Eu estou pensando sobre.

Eu somente reviro os olhos e me deito no sofá de um jeito desajeitado enquanto esperamos por Charlie, que não demora muito para aparecer em nossas vistas, com uma regata branca e suja de graxa, uma bermuda escura e fina e com um boné na cabeça para esconder os cabelos.

Charlie me olha e solta um suspiro, vindo rapidamente até mim e me ajudando a levantar para, em seguida, me abraçar fortemente. Dou um tapinha nas suas costas e ele me solta, me avaliando por inteiro enquanto tem uma expressão pensativa no rosto.

— Você é louco pra caralho. — ele já me recebe assim, olhando em meus olhos e agora mostrando um pouco mais de irritação. — Você tá bem?

— Tirando o fato de que você me apertou forte o bastante pra fazer meu corpo voltar a doer mais, sim, eu estou bem. — eu coloco uma mão em seu ombro e me sento novamente, fazendo-lhe sentar também, ao meu lado. — Eu te amo também, irmão.

— Cala a boca, porra. — Charlie passa a mão no rosto e tira o chapéu da cabeça, jogando em algum lugar que eu não faço questão de olhar. — Diz logo o que aconteceu.

Franzo o cenho.

— Você disse pra calar a boca. — eu sei que não é momento certo para brincadeiras, mas nesse momento é a única coisa que me mantém longe de pensar no quão ruim está a minha situação. Eu sei que talvez seja infantil, eu já sou um adulto, mas agora eu realmente não me importo.

Amanhã eu posso resolver tudo, mas hoje não. Eu só quero um dia, pelo menos um, sem algum problema na mente.

— Minha tia me chamou, falando que meu pai soube sobre o que a gente tava fazendo e sumiu. — eu começo, depois de respirar fundo e me sentar, arrumando minha postura. — Eles tiveram uma discussão e ele está muito bravo, só que minha tia não sabe onde ele se meteu. Eu fiquei esses dias com ela, só pra garantir que estava tudo bem e acabei deixando o celular de lado, não queria que nada tirasse meu foco nem nada assim.

— E você encontrou o Francis?— é Charlie quem pergunta, os braços cruzados e uma expressão séria no rosto.

— Não. — nego. — Minha tia me convenceu a ir para casa e eu estava vindo, só que eu fiz uma parada em um posto de gasolina, em uma rua quase deserta. Avery e dois dos seus amigos apareceram lá quando eu estava indo embora. É meio difícil lutar contra três pessoas, ainda mais quando uma delas tem um taco de beisebol em mãos. O Avery falou um monte de besteira e decidiu me atacar por conta da porra do ego ferido dele.

— Eles fizeram isso?! — se Justin já parecia estar irritado, ele está muito mais agora. Eu acho engraçado que quando ele está muito bravo, algumas partes de seu rosto ficam coradas. — Que filho da puta. Diz quem são os outros dois e a gente faz a mesma merda com todos. Covardes do caralho.

— Calma. — eu falo e passo a mão no cabelo, bagunçando ainda mais os fios. — Eles furaram um dos pneus do meu carro e correram com a chave. Meu celular estava descarregado e lá dentro. As postas estavam trancadas, eu não ia conseguir entrar. Então eu decidi ir andando, todo machucado mesmo, e a casa da Evie apareceu primeiro quando eu estava no caminho para cá. Não sei se iria conseguir andar muito mais, então eu fui pra lá e passei a noite. Ela me ajudou pra caramba cuidando dos machucados. Então eu fiquei mais um tempo lá conversando com a Evie e o Riley e eles me deram uma carona a caminho da universidade.

Eu olho para Charlie quando toco no nome da irmã dele, mas ele somente balança devagar a cabeça, como se estivesse afirmando que está tudo bem e o canto da sua boca se eleva em uma tentativa de sorriso. Eu acho que ele apoia, isso é bom. Ele também não fala nada quando olha a sua camisa em meu corpo, somente respira fundo.

— Eu estou bem. — eu asseguro para os dois, que me olham de cima a baixo com uma sobrancelha elevada. Reviro os olhos. — Eu estou com dor, mas não tô morrendo.

— Beleza, e o que você vai fazer agora? — Charlie pergunta, passando um pano, que eu não tinha visto antes, no rosto suado. Ele está com a aparência cansada.

— Nesse momento, eu só quero tomar um longo banho e depois me deitar e passar o resto do dia dormindo.

— Você quer falar com a polícia? — Charlie pergunta depois de um tempo pensativo. — A gente pode dar o troco do mesmo jeito, vai ser ótimo arrancar aquele sorriso do rosto do Jeremy, mas depois a gente pode falar com a polícia. Foi legítima defesa e se eles resolverem que a gente tem que pagar também nós damos um jeito. Dois dos melhores amigos da minha irmã, os padrinhos dos filhos dela tem contato com a polícia. Um trabalha na delegacia e a outra é juíza. Eles podem ajudar de um jeito legalmente autorizado.

Balanço a cabeça.

— Eu não sei. — solto um suspiro pesado. — Olha, hoje eu só quero descansar, pode ser? Amanhã a gente fala disso, eu tô morto.

Charlie somente balança a cabeça em concordância e joga as costas contra o sofá, levantando a cabeça e fechando os olhos enquanto respira fundo. Às vezes eu esqueço que ele a Evie são gêmeos, então em algum momento eles fazem algo idêntico ao que o outro fez ou falam a mesma coisa e a semelhança aparece em um piscar de olhos. A mesma expressão pensativa e séria que estava em Evie mais cedo, está agora no rosto de Charlie e de repente os dois realmente parecem a cópia um do outro com sexos diferentes.

— Você precisa de algo? Um remédio ou algo assim?— Justin pergunta, apontando para todo o meu corpo com as mãos.

— Não, valeu. — eu respondo e me levanto, dando um tapa no ombro de cada um e me dirigindo para a cozinha, onde pego uma compressa de gelo na geladeira e volto fazendo o mesmo caminho. Quando volto para a sala os meninos ainda estão do mesmo jeito, porém Charlie está fazendo algo no celular. — Me chamem para o jantar, vou ver se consigo dormir.

Dito isso, eu dou as costas para os dois e sigo caminho para a escada, subindo devagar e xingando mentalmente até a terceira geração do Avery. Não consigo subir um degrau sem que algo comece a doer novamente.

Demorando mais tempo que o normal, eu logo chego em meu quarto, pegando imediatamente uma roupa para tomar banho e colocando a compressa de gelo no frigobar ao lado do armário, somente para não descer novamente. O frigobar no quarto tem a única finalidade de guardar coisas como essa e bebidas, caso eu queira ficar no quarto o dia todo ou esteja acontecendo uma festa e eu decida estar longe de todo mundo.

Tomo um longo banho, com a água gelada caindo sobre meu corpo. Não me importo que o clima não esteja o mais adequado a banhos gelados, ficar doente seria um agrado. Deixo que a água limpe todos os pensamentos ruins que tive mas últimas horas e somente deixe as boas interações que tive com a Evie, somente isso.

Logo depois do banho eu volto ao quarto, refazendo os curativos do jeito que Evie ensinou, e então deito na cama. Com a compressa de gelo no meu olho roxo e uns longos minutos parado olhando para o teto até que meus olhos pesam e o sono me invade, nublando todos os meus pensamentos.

A verdade é que na noite passada eu não consegui dormir muito. Nos primeiros instantes, com Evie ali com os braços ao meu redor e o carinho no meu cabelo, foi fácil deixar o sono me tomar e eu cochilei por um tempo. Porém, quando acordei, ainda estávamos no meio da madrugada e o sono já não era o suficiente para conseguir me fazer dormir. Tinha acontecido coisas demais e minha cabeça estava cheia para conseguir me entregar ao sono. Então encontrei Evie acordada em cima da cama, virada para o outro lado e tentando dormir, mesmo que com sono, ela também não estava conseguindo. Então ficamos acordados por boa parte da noite, em silêncio e lendo o mesmo livro que ela estava lendo mais cedo.

Não sei a hora que dormimos, mas sei que o sol já estava querendo dar as caras. O que foi o suficiente para fazer com que nós nos acomodássemos e dormíssemos pelas horas seguintes. O pouco tempo de sono estava me matando.

Apesar de tudo, sentir toda a atenção dela em mim durante esse tempo que estive ao seu lado, na sua casa, foi bom. Foi bom passar a noite daquele jeito ao lado dela, mesmo que estivéssemos cansados e sem falar um com o outro durante aquele tempo. Foi bom ter ela por perto daquele jeito e sentir confiança, e saber que ela confia em mim do mesmo jeito.

Foi bom.

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