XLI

❥ CAPÍTULO 41

Eu soube desde o começo, desde que minha tia propôs tentar levar novamente o caso do meu pai a justiça, que nada seria tão fácil. Que ele, obviamente, não iria aceitar com tanta facilidade e que teríamos que batalhar um pouco se quiséssemos que ele fosse mesmo para a cadeia. Eu imaginei milhares de coisas que poderiam dar errado nisso tudo, afinal, era de Francis Andersen que estávamos falando. Um homem ambicioso, narcisista e que não liga para nada que não seja beneficiar a si próprio, mesmo que seja passando por cima dos outros.

Ele não aceitaria ser julgado e declarado culpado, mesmo que toda a culpa esteja para cima dele e ele mereça. Eu acho que ele não enxerga o mal que fez a mim e a minha mãe, porque Francis simplesmente age como se nada nunca tivesse acontecido.

Enfim, eu sabia que teria que enfrentar alguns obstáculos, só não imaginei que seria desse jeito.

— Você acha que ele fugiu? — eu indago para a tia Marie enquanto ela faz alguma coisa em seu computador.

— Eu não sei, Ryan. — ela suspira e passa a mão no cabelo, em seguida se levantando e vindo até mim. — Ele me ligou muito irritado e falou muita besteira, eu tentei falar com ele de novo depois que desligou, mas todas as ligações caiam na caixa postal.

— Nenhuma ideia de onde ele pode estar ou o que ele pode tá fazendo? — ela nega e se senta ao meu lado, pegando minhas mãos com delicadeza e olhando em meus olhos.

— Ele pode tá arranjando um jeito de se safar, como sempre. — ela revira os olhos com isso. — Pode estar indo atrás de dinheiro ou de um advogado, ou até fugindo. Mas ele sabe que se fugir vai ser ainda mais suspeito e aí sim ele pode ir preso por fugir de uma investigação.

Eu solto uma lufada de ar e abaixo a cabeça, passando as mãos no rosto com frustração. Apoio os cotovelos nos meus joelhos e tento ficar calmo.

Francis não é burro, mas sabe-se lá a merda que ele está fazendo agora. O filho da puta internou a minha mãe, mesmo sabendo que a única coisa que ela precisava era ficar tranquila em casa e ter bons cuidados. Ele me agredia sem a porra de motivo algum, somente por parecer ter prazer em ver alguém machucado. Me dava falsas esperanças de que no próximo dia ele agiria como um pai de verdade e logo depois fazia tudo de novo.

Esse desgraçado merece pagar por cada palavra miserável que já saiu daquela boca e por cada vez que sua mão me machucou. Não importa o quanto demore para isso acontecer.

— Ele vai aparecer, Ryan. — ela diz, com a voz baixa. — Nós só temos que relaxar e não deixar isso nos atrapalhar. Tudo vai acontecer do jeito que tem que ser.

— É o que eu espero.


✧   ✧   ✧   ✧


Após entrar no carro, eu pego meu celular dentro do porta luvas e tento ligar, quando vejo que a bateria está totalmente esgotada. Eu bufo e tento procurar algum cabo carregador, mas desisto depois de ver que não vai dar em nada continuar procurando.

Eu decidi deixar o celular e qualquer coisa que me atrapalhasse e distraísse, no carro antes de entrar na casa da tia Marie. Imagino que eu já tenha algumas mensagens e ligações não respondidas, e provavelmente os meninos querendo saber onde eu estou já que saí de casa sem dar muitas explicações.

Estou na casa da minha tia há alguns dias. Não queria deixar ela sozinha e acabei não indo para a universidade e nem falando com ninguém nesses dias também. Somente avisei aos meninos que ficaria algum tempo fora e que não precisariam se preocupar, mas não especifiquei a quantidade de dias, e nem imaginei. Quis ficar o mais longe possível do meu celular, sei que algumas coisas podem tirar rapidamente o meu foco no caso do meu pai e perder o foco não é o que eu quero agora.

Então, por isso, eu descido finalmente ir para casa e tentar não surtar com isso. Eu tenho uma semana de provas chegando, tenho que falar com Evie e explicar o que está acontecendo para Justin e Charlie, por que eu simplesmente não consigo manter isso só para mim e sinto que preciso contar para eles. Mesmo eu não querendo ir agora para casa, tia Marie quase me obrigou, então tenho que obedecer.

— Eles vão ter que esperar. — eu murmuro comigo mesmo, pensando em Justin e Charlie esperando algum sinal. Provavelmente vou parar em algum lugar, pelo menos para comprar algo que eu possa fazer para acalmar as duas feras, que devem estar bravos por não ter nenhuma notícia minha. Uma boa refeição acalma eles rapidamente.

Eu passo, antes de tudo, em uma joalheria que encontro no meio do caminho, por puro impulso, ao avistar uma corrente em especial na vitrine que me chama a atenção. Eu acabo comprando, mas logo saio dali antes que faça mais uma besteira por impulsividade.


✧   ✧   ✧   ✧


— E aí, cara. — uma voz conhecida e masculina se faz presente no vazio que está o posto de gasolina em que eu parei para abastecer. Franzo as sobrancelhas e olho por cima do ombro, o onde vejo o Avery, com mais dois amigos do lado. Respiro fundo e me viro novamente, esperando o tanque terminar de encher. — Sozinho?

— O que você quer, Avery? — indago, ainda sem olhar para ele e com um braço apoiado no meu carro. Faz um tempo que eu estou usando somente o meu carro. A moto é algo que eu ganhei da minha tia há alguma anos atrás, o que ocasiona ela a ter alguns problemas às vezes, mas como tem um valor sentimental eu não troco por nada. Então agora ela está no conserto, que provavelmente termina logo. — Veio atrás da surra que eu te não dei ou a sua vida se baseia em me encher o saco mesmo?

— Te encontrar aqui foi pura coincidência. — agora ele está alguns passos a minha frente, enquanto os outros dois estão rondando o carro, parecendo estar observando ele. Semicerro os olhos olhando para Jeremy, desconfiado. Ele está aprontando alguma coisa. — Mas devo admitir, é uma coincidência muito conveniente.

— Posso saber o por que? — eu retiro com calma a bomba do tanque logo quando está cheio e coloco no lugar que pertence. Tudo enquanto mantenho os olhos em Jeremy.

— Eu acho que posso dizer que... Temos assuntos inacabados. — ele balança a cabeça e dá dois tapas no capô do carro. Me seguro para não arrancar a mão dele dali e umedeço os lábios, abrindo a porta do meu carro em seguida para poder sair dali sem que nada aconteça. — Qual é, Ryan. Eu tô falando sério, um papo de adultos.

Eu solto uma risada de escárnio e me preparo para entrar no carro, mas um dos amigos dele aparece em minha frente e fecha porta novamente, batendo com força. Eles estão testando minha paciência. Respiro fundo e encaro o desgraçado, levantando as sobrancelhas para ele.

— Esse é o jeito de conversa de vocês? — cruzo os braços e me aproximo mais dele, me fazendo abaixar um pouco a cabeça para poder olhá-lo por conta da diferença de altura. — Estragando o meu carro?

— Se você colaborar, seu carro sai ileso. — Jeremy fala atrás de mim enquanto o covarde do amigo dele não consegue nem olhar nos meus olhos. Vejo ele engolir em seco e sorrio de lado, me afastando em seguida para poder voltar a olhar para o babaca número um.

— O que vocês querem, Jeremy? — eu repito a pergunta, olhando para ele com irritação. Ele não me intimida de jeito nenhum, e se acha que consegue me fazer ter medo dele, se essa for a intenção, ele está completamente enganado. Nem que estivesse com toda a manada de gado dele.

— Eu quero resolver as coisas. — Avery começa a falar, enquanto se aproxima cada vez mais de mim em passos curtos. — Nós temos que manter uma boa convivência, querendo ou não. E a gente não pode fazer isso se for odiando um ao outro.

Eu não falo absolutamente nada, somente me recosto contra o carro e olho para ele com tédio.

— Você me ameaçou, Ryan. — ele continua. — Você me ameaçou e não deveria ter feito isso.

— Então você foi correndo para o papai, chorando e dizendo que te repreenderam por agir como um filho da puta sem noção. — eu balanço a cabeça, com sarcasmo. — Ficou bravinho porque não conseguiu o que queria e foi afrontado pela primeira vez na vida. Foi ele quem mandou você vir falar comigo?

— Você se acha muito, Andersen. Esse é seu erro. — ele coloca uma mão sobre meu ombro e eu olho para ela antes de voltar o olhar para ele e arquear as sobrancelhas. Ele se aproxima mais. — Você não é nada do que se acha ser. É só mais um idiota que não tem onde cair morto e acha que merece toda a atenção que tem. — Jeremy agora aproxima a boca do meu ouvido para sussurrar: — Nem seu pai te quis, imagine a Evie ou qualquer outra pessoa daquele lugar.

E eu simplesmente cansei de guardar toda a raiva dentro de mim.

Eu tentei manter a calma e ir embora sem que nada acontecesse, mas o assunto "família" é complicado e difícil para mim, é algo que eu ainda estou aprendendo a lidar de um jeito bom. E se eu, que sou um dos mais afetados da história, não consigo pensar nisso sem querer fazer uma besteira e matar o desgraçado que se autodenomina meu pai, ouvir outra pessoa falar disso é como se toda a ferida se abrisse novamente, é a gota d'água para mim.

Suas palavras não afetam minha vida de fato, porém o modo como Jeremy fala de Francis, de Evie e me menospreza só me faz querer socar a cara dele até não restar mais nada.

Por isso, logo após ele terminar a sua fala, eu pego em sua mão e a retiro do meu ombro, torcendo para o lado com força e o ouvindo gritar. Seguro seus braços e o viro de costas para mim, falando em seu ouvido:

— Continua falando isso, Avery. — eu firmo mais o aperto, ouvindo ele gemer de dor e se contorcer. Nem estou segurando com tanta força. — Talvez algum dia você comece a entender a autocrítica que está fazendo. Sério?! Eu sou o idiota que se acha muito?! Se olha no espelho, cara. Você tá falando consigo mesmo.

— Segundo erro, Ryan. — Jeremy consegue dizer, parando de se mexer. — Não ataque e nem dê as costas.

De primeira eu fico confuso e por um mero segundo eu baixo a guarda, o que fez ser algo bom para eles, já que um dos amigos do Jeremy aproveita para bater com alguma coisa nas minhas costas com força o suficiente para me jogar no chão e o Avery ir para longe.

Porra!

Eu solto um grunhido de dor e coloco uma mão nas costas, me virando para olhar para cima, onde vejo o covarde menor com um taco de beisebol na mão e um sorriso de lado na boca.

— Você me subestimou, Ryan. — Jeremy aparece em minhas vistas, seu rosto repleto de uma expressão sacana. — E me ameaçou. Agora você tentou me machucar. Você errou muito.

— Jeremy? — eu falei seu nome como uma forma de chamá-lo. Eu consigo apoiar meu corpo com os braços, somente para ficar quase sentado. — Vem aqui.

Ele se abaixa na minha altura e me olha como se fosse superior em alguma coisa.

— O que foi, Andersen? — ele sorri maldoso. — Se arrependeu?

Rio internamente com a ideia de fazer algo assim. Ele enlouqueceu completamente.

— Não, só vou te mostrar uma coisa. — dou de ombros e ele franze o cenho, não dando nem tempo de pensar quando eu cuspo na cara dele e dou um soco em seu rosto, o fazendo cair ao meu lado. Ao mesmo tempo consigo derrubar com meus pés o outro idiota que estava segurando o taco e chuto ele para longe. — Acaba comigo, Jeremy. Seja um covarde e chama seus cachorrinhos pra acabar comigo. Mas faz isso de verdade, me bate pra valer. Porque quando eu te ver de novo, não vai restar um fio de cabelo para contar história.

— Pode deixar. — ele murmura e acena com a cabeça enquanto se levanta, eu imito o gesto com um pouco mais de dificuldade. Minhas costas ainda doem por conta da batida forte.

Eles são três, eu sou um. Um deles tem a porra de um taco de beisebol e o outro bloqueia o meu acesso ao carro. Estamos no meio de um posto de gasolina vazio e longe de tudo. Sem câmeras a vista e com a loja de conveniência fechada, ou somente vazia. Não tem como eu sair bem dessa.

— Você é um covarde. — eu cuspo essas palavras, olhando com desdém para Jeremy e em seguida para os outros dois. — Vocês são covardes. Não aguentam o um a um e resolvem, os três juntos, me atacar? Medrosos. Galinhas covarde.

— Você teve seu movimento, Andersen. — o idiota número três fala, com um sorriso ladino nos lábios e se escorando no meu carro. Um arranhão e ele está morto. — Agora é o nosso.

— Se assim se sentem melhor. — abro os braços e dou de ombros, deixando o caminho livre para o Avery se aproximar novamente e tentar me acertar um soco, que eu consigo desviar. Apesar de não ter muito o que fazer contra três, eu não deixo que eles me acertem facilmente. Estou em menor número e desvantagem, mas não estou impossibilitado.

Eles acabaram comigo. E eu não poderia me sentir mais insuficiente jogado naquele chão sujo.

No final das contas, depois de um tempo, levar uma surra covardemente de três cachorros que fugiram com o rabo entre as pernas quando me viram sangrando no chão, me fez ter coragem e disposição suficiente para levantar e ir mil vezes mais decidido a acabar com toda e qualquer injustiça que eu já vivenciei. E a do Jeremy e os dois patetas sobem na fila.

Mas antes, sair dali e encontrar um lugar seguro era a primeira coisa na lista de coisas que eu tenho que fazer. Eles acabaram comigo, e mesmo não gostando de admitir, hoje eu realmente cometi alguns erros não prestando atenção e não agindo de forma rápida.

Eu só...

Eu estou cansado.

E aí, gente linda. O que acharam do capítulo de hoje? Não esqueçam do voto e dos comentários.

Era pra esse final ser mais detalhado, porém iria ficar muita informação, violência demais e eu não conseguiria escrever. Mas espero que tenha passado o sentimento.

Se preocupem não, esse tem sofrimento, o próximo tem mais ainda, mas eu juro que vai valer apena.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top