VIII
❥ CAPÍTULO 8
Pensei que Ryan estivesse exagerando quando disse que não entendia nada da matéria, agora vejo que ele realmente não sabe nem um pouco do que tem que saber. E me pergunto como.
Esse é o terceiro dia de estudo, não tivemos muitos avanços, mas o que conseguimos até agora é razoável considerando que mal começamos.
Não que eu esteja surpresa ou estivesse esperando algo, mas nada mudou também em relação a nós dois. Ryan continua me irritando e eu continuo não dando bola e o irritando de volta. Às vezes é meio impossível agir como os adultos que nós somos quando estamos perto um do outro.
— Eu não sei se você percebeu, mas eu estou trabalhando. E eu não posso estudar com você no meu horário de trabalho. — Digo para Ryan, colocando a xícara de chá na mesa a sua frente.
— Eu sei. — Ele dá de ombros, pegando a xícara. — Eu vim aqui para comer um pouco. E esperar seu turno acabar.
— Eu saio daqui a uma hora. — Levanto uma sobrancelha e cruzo os braços. — Você não tem nada melhor pra fazer?
— Eu posso muito bem aproveitar essa uma hora provando o que vocês servem aqui e estudando. — Ele fala, logo em seguida leva a xícara aos lábios. Acompanho o movimento com os olhos e respiro fundo.
— É bom pra gente de qualquer jeito. — Dou de ombros. — Se aqui tivesse lista VIP, você já estaria nela de tanto que vem e gasta aqui.
— Bom saber. — Andersen levanta a xícara em um aceno, em seguida apoia os braços na mesa se inclinando para frente. — Agora quero pedir mais algumas coisas.
Ryan faz seu pedido, novamente, e após eu entregar para a cozinha continuo a fazer meu trabalho sem ter que atendê-lo, já que outras pessoas fazem isso por mim.
A cafeteria é espaçosa, e tem um visual mais caseiro. As janelas são de vidro e enormes, a maioria da luz vem dos raios solares, além de ter um espaço aberto mais ao fundo. As pessoas vêm muito aqui para estudar, comer algo rápido ou só esperar as próximas aulas já que a cafeteria fica ao lado da universidade.
Andersen realmente ficou durante uma hora sentado na mesma cadeira, com vários livros e cadernos sobre a mesa, bebendo algo refrescante e comendo muita besteira. Tudo isso concentrado nos livros e com um fone nos ouvidos.
Depois que meu turno acaba e eu troco a roupa por uma mais confortável, paro em frente a mesa de Ryan, olhando para ele.
— Aprendeu algo ou ainda precisa da minha ajuda?— Pergunto, cruzando os braços.
Tenho certeza que ele não me ouviu muito bem pelo volume audivelmente alto do seu fone, consigo escutar muito bem a voz do Harry Styles daqui. O gosto para música é bom, só não sei como ele não fica surdo por ouvir música em um volume tão alto.
— Acabou?— Ele pergunta, levantando a cabeça para me olhar. Assinto.
Ryan tira os fones do ouvido e pausa a música no celular, também fechando os livros.
— Já que você veio até aqui me esperar, você também vai aguardar enquanto eu vou em casa tomar um banho e comer. — Digo, andando para fora do estabelecimento enquanto sinto ele vindo atrás de mim. Como hoje é sábado, não temos aulas na universidade.
— Justo.
— A gente tinha um horário, você realmente quer me esperar?— Paro, virando de frente para ele.
— Por que não? — Ryan dá de ombros. — Não tenho nada melhor pra fazer.
— Você nunca tem nada pra fazer. — Volto a andar, indo em direção a meu carro.
— Isso não é verdade. — Se defende. — Eu sou um cara muito ocupado, mas tenho meus dias mais tranquilos.
— Tá bom. — Destravo o carro, abrindo a porta em seguida.
— Vou acompanhar você com a moto. — Andersen aponta para sua moto, um pouco mais ao lado junto com outras.
Concordo e ele vai até sua Harley enquanto eu entro no carro e ligo o mesmo.
Ao fechar a porta de casa após entrar, vejo Riley saindo do quarto, já com a roupa de seu trabalho. Ele me olha vindo na minha direção, mas para quando vê Ryan ao meu lado.
Riley pisca algumas vezes e em seguida franze as sobrancelhas, revezando o olhar entre nós dois. Provavelmente sem entender o porquê estamos juntos aqui.
— E aí. — Andersen cumprimenta Riley, esticando as mãos. Os dois fazem um toque, mas meu amigo continua com a expressão desconfiada.
Ryan se senta no sofá, com os olhos no celular e eu chamo Riley, que se distancia dele e vem até mim.
— Você e Ryan?— Ele arregala os olhos, falando em um sussurro.
— A gente vai estudar. — Falo no mesmo tom. — Nem vem pensar besteira.
— Impossível. — Riley diz, olhando rapidamente para trás e depois volta a olhar para mim. Ele segura meu braço e leva sua boca até meu ouvido, para falar mais baixo. — Como você quer que eu não pense nada quando você trás ele pra ficar sozinho aqui com você?
— A culpa não é minha se na sua mente só entra imoralidade. — Reviro os olhos, falando para ele. — Vai trabalhar e deixa de pensar nessas doideiras. Eu não sou tão louca assim.
— Mais ou menos, né amor?— Riley coloca as mãos na cintura, se afastando um pouco para olhar para mim. — Se foi capaz de fazer antes, também pode fazer outras vezes de novo.
Respiro fundo, tentando tirar as imagens e pensamentos que aparecem automaticamente em minha cabeça com sua fala. Não gosto de pensar e nem lembrar dessas coisas, pois desperta sensações reprimidas e que eu definitivamente não quero sentir, não pelo Andersen.
— Pense o que quiser. — Dou de ombros, com indiferença.
— Mas também se eu fosse você, iria cair em cima de novo, sem ligar pra nada. Ele é gostoso.
— Tchau. — Fecho a porta em sua cara. Consigo escutar seu xingamento daqui, solto uma risada, tentando esquecer isso.
Há não muito tempo atrás Riley estava me pedindo para tomar cuidado com Andersen pois sua fama não é das melhores, hoje ele diz para transar com o cara que há algumas semanas era imprevisível e misterioso. Vai entender.
— Falando de mim, né? — Ryan diz, não sai muito como uma pergunta, e sim como uma afirmação.
— Espera aqui, eu vou tomar um banho rápido. — Ignoro ele, andando em direção ao meu quarto.
Ele não diz nada, e eu acho melhor assim. Pego uma roupa qualquer e em seguida vou ao banheiro, meu cabelo implora para ser lavado e esse calor de hoje suplica por um banho gelado.
Lavo bem meu cabelo e tomo um banho refrescante. O meu cabelo, por não ser um ruivo natural, tem que ter um cuidado mais alto do que eu teria com a minha cor natural, que é loiro. Às vezes dá preguiça, e é chato, mas não reclamo, eu amo essa cor. Ruivo realmente combinou comigo.
Eu pintei quando tinha dezesseis, e mantenho desde então. É complicado, mas nada que uma hidratação bem feita não resolva. Não gostava do meu loiro e não conseguia me sentir bem assim, testei o ruivo e me apaixonei. Agora é minha identidade e não pretendo mudar, pelo menos não agora.
— Tá com sono?— Pergunto rindo quando volto à sala e vejo Ryan com a cabeça encostada no encosto do sofá e de olhos fechados.
Ele abre os olhos rapidamente, assustado e logo em seguida respira fundo, me olhando.
— Eu não durmo direito faz três dias. — Andersen passa a mão no rosto e no cabelo, se sentando em uma melhor postura. — Estudar e jogar ao mesmo tempo é cansativo.
— O sono agora tem que esperar pra mais tarde.— Falo, indo até a cozinha. — Você não veio até aqui pra dormir e sim para estudar.
Ele balança a cabeça, em concordância.
Não gosto dele, mas também não gosto de fazer algo com alguém que está em outro planeta ou com sono desse jeito e parecendo cansado. E Ryan parece cansado.
Eu também estou cansada, e não imagino como vou ficar mais ainda se entrar na companhia de Marie Andersen. Levo a sério todas as coisas sobre empatia, não tem muito o que fazer nesse caso e apesar de Ryan não me agradar, posso tentar fazer algo para ele acordar um pouco.
— Quer um café? — Pergunto, enquanto abro a geladeira em busca de algo para me alimentar. — Ou alguma coisa pra comer?
— Um café seria ótimo. — Assinto e coloco a cafeteira para fazer um pouco de café para nós dois.
— Não se acostuma. — Digo, jogando uma barra de chocolate preto pela metade para ele, que tem o reflexo rápido e pega o chocolate no ar.
— Você me dando chocolate?— Ele levanta as sobrancelhas, olhando para a barra e depois para mim. — Isso tá envenenado, não tá?
— Não sei, só comendo para descobrir. — Dou de ombros, me apoiando na bancada. — Dizem que chocolate amargo ajuda a tirar um pouco o sono.
— Acho que eu tô sonhando. — Ryan balança a cabeça, já comendo um pedaço da barra de chocolate. — Você tá sendo boa comigo, por pura e espontânea vontade. Você tem outra irmã gêmea que eu não conheço?
— Cala a boca senão eu tiro esse chocolate de você agora mesmo e te expulso daqui. — Ele levanta as mãos em rendição, com um sorrisinho de lado enquanto come. Está pela metade porque eu já havia comido antes e acabei esquecendo ela aí e fiquei tão ocupada que esqueci de comer.
Não faço ideia do porque dei o meu chocolate para ele, mas prefiro não pensar muito. Faço um lanche pesado para mim, deixando para comer de verdade quando acabarmos aqui.
Coloco uma caneca pequena de café na mesinha de centro em frente ao sofá que Andersen está, e me sento em um outro ao lado.
— Esse seu shampoo impregna mesmo, sinto o cheiro daqui. — Ele diz, pegando a sua cabeça.
— Gosto de estar cheirosa. — Dou de ombros, logo bebendo um pouco do café.
Não sequei meu cabelo com o secador, hoje preferi deixar ele secar naturalmente, mas costumo secar com o secador e escova. Enfim, ele ainda está molhado e o cheiro do condicionador realmente dá para se sentir evidentemente bem.
— A gente tá aqui pra estudar, vamos estudar. — Falo, esperando ele abrir seus livros.
— Só porque eu pensei que você tava mais boazinha hoje. — Ele brinca, resmungando. Continuo o observando enquanto ele abre os livros na mesinha. Enquanto estudamos eu bebo meu café e termino meu lanche rapidamente.
Resolvemos sentar no chão, para ser mais confortável já que essa parte da sala é coberta por um grande tapete felpudo da cor bege. É muito fofo, e eu adoro ficar deitada nele pensando na vida e escutando música quando estou muito entediada.
— Esqueci de contar uma coisa. — Ryan fala rapidamente, enquanto fazia umas anotações e liamos algumas coisas. Olho para ele levantando as sobrancelhas, esperando que ele continue. — Segunda eu não vou poder ir estudar. Vou tá um pouco ocupado e não vai dá pra gente se encontrar.
Andersen fala tudo sem olhar para mim, o botão da caneta sendo pressionado por ele a todo segundo, seu tom de voz é baixo. É estranho ver ele agindo tão sério.
— Isso não é um problema pra mim. — Dou de ombros. — Quem tá aprendendo é você, não sou eu quem vai perder um dia de estudo.
— Acredite, se eu tivesse outra opção eu não perderia um dia. — Ele vira a cabeça para me olhar nos olhos. Consigo sentir a sinceridade, só é estranho a forma que eu sinto que é muito mais que somente uma coisa que o manterá ocupado.
— Tudo bem, Ryan. — Suspiro. — Eu não vou te impedir, você tem sua vida, estudar é uma escolha sua. Mas da próxima vez que isso acontecer tenta me avisar com mais antecedência, eu tô refazendo minha rotina pra arranjar tempo com você, não tô fazendo isso por nada.
— Tá bom. Eu vou tentar. — Ele balança a cabeça, respirando fundo. — É por um motivo importante eu ter que cancelar segunda-feira.
— Eu entendi. — Afirmo, com mais firmeza. Cansada de tantas desculpas. — Sério. Agora vamos continuar com o estudo, porque você não vai estudar segunda, mas hoje ainda falta algum tempinho.
— Como quiser. — Ele abandona o tom sério e volta com o olhar brincalhão e o sorriso de lado. Uma identidade dele.
A aproximação que meu corpo tem com o de Ryan é muita, comparada a outros dias. Seu braço roça no meu algumas vezes durante as quatro horas de estudo, nossas pernas se encostam e as vezes era necessário eu me aproximar mais dele para lhe mostrar algo, o que deixava nossas cabeças um pouco mais próximas. São atos bobos, mas que eu não gosto nenhum pouco de fazer.
Qualquer tipo de proximidade com Andersen é perigosa, qualquer movimento e atitude dele pode reacender um fogo já apagado, e isso é algo que eu não quero e não gosto nem um pouco de pensar
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