VI

CAPÍTULO 6

Respiro fundo, olhando para a grande e bonita fachada da Andersen Dance Academy. 

Não sou a única pessoa na frente do estabelecimento, vejo mulheres e homens jovens, aparentando terem idades próximas a minha, entrando. Alguns aparentando estarem nervosos e outros que parecem já estarem familiarizados com a companhia.

Hoje é dia de audição para complementar novos bailarinos na companhia, e eu não poderia estar mais nervosa. Foi algo de última hora, não tive muito tempo para ensaiar e nem me preparar. Por um milagre (também chamado de Ryan e Marie Andersen) eu consegui ter minha inscrição aceita duas semanas antes das audições e isso é algo demais.

O que me ajuda bastante é o fato de eu estar treinando e ensaiando sempre, muito antes de sequer me inscrever aqui, e já estar em forma. Sei que a pressão é maior, por ser aceita justamente pela dona de tudo e ter uma chance em tão pouco tempo, isso aumenta mais ainda o nervosismo. 

— Oi. — Uma menina, que parece ter minha idade, me cumprimenta enquanto nos alongamos na barra. Seus cabelos escuros estão presos em um coque firme, mas dá para notar que são cacheados. Ela é linda e tem a aparência meiga, com os olhos verdes e a pele levemente escura e bronzeada.

— Oi. — Dou um sorriso pequeno, tentando esconder o nervosismo. Ela parece animada e tem um sorriso nervoso, mas ao mesmo tempo simpático nos lábios.

— Sou Alice. — Ela estende a mão para mim, em um gesto gentil. Estendo a minha também, a cumprimentando enquanto uma das minhas pernas se alonga sobre a barra fria de metal.

— Evie. — Sinto que se falar muito é capaz de ficar mais nervosa ainda e estragar tudo.

— Dá um nervoso, né?— Ela dá um sorriso nervoso enquanto alonga os braços.

— Um pouco. — Concordo, trocando a perna que alongo pela outra. — Acho que é mais a ansiedade.

— Com certeza. — Ela ri, agitando o corpo todo. — Tenho que me libertar.

— Ok. — Rio, balançando a cabeça e me afasto da barra, respirando fundo e me preparando mentalmente.

Os professores que vão nos auxiliar nos chamam a frente e todos se espalham pelo meio da sala, ouvindo atentamente suas instruções. Eles nos deram um tempo para nos alongar e nos preparar, agora começaria de verdade.

— Você parece ser boa. — Alice diz, se posicionando atrás de mim na barra, todos formando uma fila para começar os movimentos que selecionaram para nós. 

— Você também. — Digo, com sinceridade. Ela parece ter muito jeito para movimentos mais complexos e que precisam de elasticidade, somente pelo o que eu vi do seu alongamento, não preciso ver ela dançando realmente para comprovar. — Espero ser boa o bastante para entrar.

— Boa sorte pra nós duas então. — Ela dá uma risada, curta. Olho para trás rapidamente e sorrio para Alice, agradecendo mentalmente por ela ter livrado um pouco do meu nervosismo, sem nem perceber. 

Os dois professores que vão nos auxiliar na audição, chama a atenção de todos e começam a passar os movimentos, fazendo todos nós começarmos de vez a nossa audição. Consigo esquecer por um momento, enquanto danço, todo o nervosismo e ansiedade, e o real motivo por eu estar aqui.

Nessas duas semanas que se passaram eu ensaiei e treinei mais que nunca, quando não estava na faculdade, eu estava treinando ou começando a pensar em reorganizar minha rotina caso eu realmente entre.

As "aulas" com Ryan ainda não começaram, e combinamos de começar somente depois que a audição acabar, que assim eu volto ao tempo livre que tinha antes e ele consegue se organizar. Graças a Deus não o vi muito esses dias. Fazemos o mesmo curso, mas em turnos diferentes, e sou grata a isso.


Entro no apartamento, trancando a porta atrás de mim e sou recebida pelo cheiro de peixe e batatas fritas. Inspiro, minha boca já criando saliva com o aroma delicioso.

Olho para a cozinha e vejo Riley, de costas enquanto se concentra na frigideira. Ando até lá, colocando minha bolsa sobre a bancada divisória e paro ao seu lado, observando o que ele mexe na panela.

— Você cozinhando? — Levanto as sobrancelhas, olhando para meu melhor amigo. — Que bicho te mordeu?

— Eu tô com boa vontade hoje, não reclama. — Ele diz, desligando o fogo.

Riley costuma estar com preguiça para tudo. Ele não gosta de cozinhar, de limpar e nem de lavar, mas faz quando necessário. Então vendo ele cozinhando por pura e espontânea vontade, quando é o maior fã de comida congelada, é uma completa surpresa.

— Eu não tô reclamando. — Dou de ombros, sentando em uma das banquetas da cozinha. — Só tô surpresa. Você não é muito de cozinhar.

— É um por um motivo especial. — Ele diz, colocando os peixes empanados e as batatas fritas em dois pratos. — Você acabou de fazer uma audição pra companhia de dança da sua inspiração. Isso é um motivo e tanto.

— Você nem sabe se eu entrei. — Observo enquanto ele coloca um prato na minha frente na bancada e se senta ao meu lado. — Isso foi só uma audição, eu posso não ser aceita.

— Apesar de eu ter quase certeza que você vai entrar, independente disso ou não, é um bom motivo pra comer sua comida favorita. — Ele serve vinho para nós dois e coloca alguns temperos na bancada. — É um almoço maravilhoso, à la chef Riley.

— Espero que esteja tão bom quanto parece. — Digo, em seguida começando a comer. A habilidade de Riley na cozinha se comprovando ótima, a comida fica muito boa.

No meio da refeição recebo uma mensagem, e reviro os olhos pensando em ignorar já que não gosto de fazer outra coisa enquanto como, tenho somente que focar em comer, mas resolvo verificar a mensagem.

"Foi boa a audição, Moranguinho?"

Visualizo a mensagem de Ryan e penso em ignorar, mas seria demais para alguém que me ajudou e assim ele me deixaria em paz mais rápido.

"Não sei, espero que sim"

Segundos depois recebo sua resposta.

"Não te desejei boa sorte, mas sei que você vai entrar.
Foi eu quem te recomendei pra minha tia, e eu nunca estou errado."

Respiro fundo, pensando em uma resposta.

"Valeu. Era só isso que você queria?"

Ele me responde rápido demais e me pergunto se ele não tem outra coisa para fazer.

"Você é tão malvada às vezes.
 Só queria saber sobre a audição mesmo.
Te vejo daqui a dois dias para estudar."

Ao terminar de ler eu bloqueio o celular e volto a comer, Ryan não manda mais nenhuma mensagem e eu não sei se agradeço ou espero ele mandar algo mais. O maldito fato, de que mesmo depois de nos afastarmos continuo pensando nele de um jeito ou de outro, ou a forma que ele se impregna na minha mente de alguma forma, é o que mais me irrita nele.


Luto por Marília Mendonça. Tô tão triste, e ainda assimilando isso. ✊😔

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