I

CAPITULO 1

Termino a última pirueta sentindo a brisa em meu rosto e pouso os dois pés completamente no chão, sentando logo em seguida no chão. Sou tomada pelo cansaço.

Estou treinando faz algumas horas e tentando fazer mais que cinco giros seguidos na pirueta, ou seja, estou praticamente morta porque além da pirueta eu estou tentando coisas mais diferentes e desafiadoras. Sempre fui boa nas piruetas, as professoras me elogiavam por isso, mas quanto mais eu tento e tenho conhecimento, melhor.

Deito no chão frio e abro os braços, respirando fundo e tentando recuperar um pouco do meu fôlego. Fazer várias sequências repetidamente com a sapatilha de ponta não é tão simples assim às vezes.

— Você não é tão ruim. — Ouço uma voz conhecida e meu corpo dá um sobressalto com o susto. Me sento e olho para a beira do palco, onde Ryan está com os braços apoiados e me olhando.

— Eu sou incrível. — Me levanto, indo em direção a minha bolsa no canto do palco, sentindo seu olhar me acompanhando.

— Talvez, não entendo nada disso. — Ele diz, indiferente. Reviro os olhos, tomando alguns goles de Gatorade de limão.

— O que você quer?— Eu pergunto, quando percebo que ele continua parado me olhando, e me sento para tirar as sapatilhas.

— Eu não posso mais ficar aqui?— Ouço um movimento e olho para ele, para ver ele se sentando na beira do palco.

Consegui agendar algumas horas depois do final das aulas práticas que fazem aqui, treinar em um palco grande de um teatro com um grande número de cadeiras ajuda caso algum dia eu me apresente novamente para uma plateia enorme.

— Me olhando como um psicopata?- Ele não fala mais nada, eu também não, é muito melhor assim. De qualquer forma, ainda sinto seu olhar e isso começa a me incomodar um pouco.

— Pode parecer meio estranho e você com certeza vai me xingar, mas eu preciso pedir algo. — Ryan diz, quando já estou guardando minhas sapatilhas.

— Poupe suas palavras, não vou te fazer nenhum favor. — Dou um sorriso falso e pego a minha bolsa depois de calçar uma sandália confortável, e me levanto pronta para ir para casa tomar um bom banho e dormir pelas horas que me restam até amanhã de manhã.

— Você nem ouviu o que eu tenho a dizer. — Ele me segue quando saio do palco pela coxia.

— E nem quero. — Digo, sem olhar para ele.

Abro a grande porta que vai direto para o lado de fora, sentindo a brisa fria da noite, não preciso trancar porque os seguranças já fazem isso. Visto minha jaqueta e cruzo os braços continuando a andar, enquanto ainda sinto Ryan em meu encalço.

— Vai continuar me seguindo? Já disse que não quero. — Paro no caminho e me viro para ele.

— Eu tô indo até minha moto. — Ele dá de ombros e sorri ladino. — Você não é o centro do mundo, docinho.

Resolvo ignorar o apelido idiota e respiro fundo, girando nos calcanhares e continuando meu caminho até o meu carro, que está do outro lado do estacionamento do campus vazio.

Geralmente têm aulas durante a noite e algumas pessoas saem de vez em quando, mas não é muito comum ver estudantes andando por esses lados do campus durante a noite de uma terça feira. Nesse caso, só estamos eu e Ryan aqui fora pelo o que eu vejo.

— Mas bem que você poderia fazer esse favor a um grande amigo do seu irmão. — Ouço sua voz novamente e paro de novo, me virando para ele e me aproximando bastante. Consigo perceber o susto rápido que ele levou com o movimento repentino, mas não falo nada.

Ryan é bem mais alto que eu, então tenho que levantar o rosto para poder olhar para ele, e ele tem que abaixar um pouco.

— Eu não sei se você tem algum tipo de problema de audição ou de atenção, mas eu disse não. — Falo, calmamente. — Não importa se você é colado com meu irmão ou não. Eu já deixei claro que não quero você perto de mim, então nem tenta mais.

— Ah, eu entendi o que é isso. — Ele balança a cabeça, e em seguida passa a língua nos lábios. Tento não olhar o maldito movimento. — Você tá ressentida. Isso é rancor. Incrível como todas agem assim

— Com certeza é rancor. — Falo em um tom bem irônico, antes de continuar. — A única diferença é que eu realmente não sei o que tanto vêem em você ou porque te bajulam tanto, sendo que você nem é tudo isso. Eu realmente não sei o que eu tava pensando quando aceitei, mas me arrependo profundamente, porque sinceramente, já vi melhores.

— Você é uma péssima mentirosa. — Ao contrário do que pensei ele não fica afetado, só sorri mais ainda. Ryan realmente tem algum problema. — Quer tentar de novo? Vou fazer questão de ser diferente.

— O que você tá insinuando?— Semicerro os olhos, começando a me irritar mais.

— Preciso explicar?— Ele olha para mim de cima a baixo, mas antes que fale ou faça mais alguma coisa meu joelho vai em direção ao meio de suas pernas e acerta o bem tão precioso dele.

Ryan solta um grunhido de dor e leva as mãos até o local, quase caindo no chão, mas se contorce de dor.

Agora me abaixo um pouco para ficar com o rosto na mesma direção dele e sorrio.

— Tenta agora. — Falo e me viro, finalmente saindo dali e me afastando dele. Ouço sua risada baixa e realmente confirmo que ele é meio sem noção.


— E aí. — Sou recebida pela voz do meu melhor amigo quando entro pela porta do apartamento.

— Oi. — Falo em um bocejo, e tranco a porta atrás de mim. Em seguida coloco minha bolsa no chão ao lado do sofá e me jogo nele, ao lado de Riley. — Estou morta.

— Então foi bom o treino. — Ele dá uma risadinha e me olha, levantando as sobrancelhas, esperando que eu fale mais alguma coisa. Ele tem uma habilidade incrível de saber quando escondo ou não conto algo a ele.

— Tirando a parte que Ryan Andersen apareceu para tirar a minha paciência e o cansaço, foi bom sim. — Eu digo enquanto me levanto, indo em direção a cozinha.

— Ryan?— Ele imediatamente fica mais interessado, me olhando ainda no mesmo lugar e sorrindo. — Me conta mais.

O apartamento é pequeno, bom o suficiente para dois universitários que mal passam o tempo em casa. A cozinha é adjacente à sala, então somente uma bancada de mármore branco separa os dois cômodos.

Decidimos ficar por aqui durante nossos anos na universidade, então alugamos o apartamento que também faz parte do campus. É melhor morarmos aqui do que em dormitórios com pessoas que não conhecemos.

— Não foi nada demais. — Dou de ombros enquanto procuro algo para comer nos armários, até achar um saco com alguns biscoitos integrais, faço uma nota mental para fazermos compras essa semana. — Ele disse que queria me pedir algo, só isso.

— E o que era?

— Não sei. — Respondo, sentando em uma das banquetas. Solto o meu cabelo do coque que havia feito antes para dançar, e deixo ele cair sobre meus ombros, em seguida começando a comer.

— Você não ouviu o que ele queria?— Ele não parece muito surpreso. Afirmo. — Por que?

— Porque não. Ele ainda insistiu e insinuou algumas outras coisas, de brinde meu joelho acertou as bolas dele. — Ao falar isso, os olhos de Riley se arregalam e sua boca se abre em um O de surpresa.

— Você é louca?

— Ele mereceu. — Afirmo. Riley balança a cabeça, indignado.

— É, você é louca.

Reviro os olhos, ignorando.

— Ninguém nem ousa chegar perto desse jeito do Ryan, porque ele afasta. Todos sabem da fama dele e alguns até têm medo. — Riley começa. — Você foi a única louca e corajosa suficiente, pra pelo menos tentar machucar ele. Não acho que ele devolveria te machucando, mas continua sendo maluquice.

— Eu não sei por que vocês têm medo dele, ele não é nenhum monstro. — Franzo as sobrancelhas, jogando o pacote de biscoitos no lixo e volto a sala pegando minha mochila. — Ele é mais inofensivo do que parece.

Vou andando até meu quarto e sinto Riley me acompanhar.

— E você conhece ele?— Ele arqueia uma sobrancelha, olhando para mim.

— Não. — Abro o guarda roupa, procurando algo confortável para dormir. — Mas eu vejo ele com meu irmão, parecem duas crianças. E o que Ryan mais faz comigo é piada e coisas sem graça.

— Eu não digo mais nada. — Ele balança os ombros. — Só toma cuidado.

O ignoro, pegando uma blusa que eu peguei de Riley sem ele saber e vou para o banheiro tomar um banho rápido.

A fama de Ryan por aqui não é das melhores, ao menos não em todos os sentidos. Ele está aqui há tanto tempo quanto eu estou, mas desde que eu cheguei ouvi diversas coisas diferentes sobre ele e sua família, que eu não faço ideia de como as pessoas descobriram. Algumas perturbadoras e que se forem verdadeiras, acho uma falta de respeito enorme sair expondo por aí.

Dizem que ele é agressivo, poucas pessoas conseguem se aproximar dele e realmente virarem próximos. Meu irmão foi uma dessas pessoas. Charlie e Ryan, desde que se conheceram, viraram bem próximos e meu irmão deu uma confiança a ele que não dá a muita gente.

Alguns têm medo por boatos, que eu realmente não acredito, e outros dizem ter visto vezes que Ryan brigou com outras pessoas, vezes essas que acabaram resultando em hospital e delegacia.

Não tenho como saber se é verdade mesmo, prefiro não arriscar porque nunca se sabe, mas tem coisas insanas demais. E apesar de eu não gostar nem um pouco de Ryan, não acredito no monstro que muitos pintam.

E mais uma historia se inicia aqui!

Agradeço por darem esse chance e lerem o livro, e espero de todo o coração que vocês gostem da história tanto quanto eu.

O que acharam desse capítulo? Ainda tem muito por vir.

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