XXXV - Ódio

24/04/1888 - Terça-Feira

- O senhor está quente, - Afastei meu toque de sua pequena testa, colocando novamente a luva. - febril.

- Não me diga. Cof, cof! Que coisa.

- Não está apto para trabalhar. Irei modificar sua agenda e realocar alguns dos compromissos de hoje.

- C-claro que não! Cof! Eu não posso parar por conta de uma maldita, u-uma maldita, atchin!

- Sim, o senhor vai parar.

- Eu q-quero ir ao escritório... - Fraco, Bocchan tentou levantar-se. - Sebastian, cof! É u-uma ordem, eu...

- Não posso permitir. - O impedi de levantar-se. - Sua vida é minha principal prioridade e se sobrepõe a qualquer ordem. Conhece a cláusula.

- Atchin! Droga!

- Descanse. Trarei um chá de erva e toalhas frescas para controlar a temperatura. Após o desjejum, tomará um xarope que o médico...

- Que seja, só faça o que tiver que fazer! Cof! O q-que preciso mesmo, é que cuide dos compromissos dessa tarde. Não posso simplesmente d-deixar de lado. Faça todos eles. E não esqueça de me m-manter informado. Atchin! É uma o-ordem!

As vezes, Bocchan poderia ser inconsequentemente determinado.

Me ajoelhei, parente a pequena alma.

- Yes, my Lord.

- Agora, vá distribuir as tarefas daqueles quatro. Hoje, não quero ver uma agulha fora do lugar.




















[...]





















- Bom dia a todos.

- Bom dia.

- Bom dia.

- Bom dia.

- Bom dia.

Todos respondiam fracos, indeterminados.

Cinco dias se passaram desde a chuvosa e, para alguns, caótica primeira noite de chuva. A mesma em que muito foi dito.

E, nestes cinco dias, a chuva caia ininterrupta. Ao lado de fora, só se via a pesada e cinza neblina, acompanhada do chiar da veemente água que caia dos céus.

Dedilhei as páginas da prancheta em minhas mãos.

- Mey-Rin terá de varrer a adega, passar as roupas recém lavadas, reorganizar a prataria do cristaleiro, limpar e tirar a poeira das estantes da cozinha, varrer o salão principal, lavar o tapete das escadas e limpar entre os degraus.

- Sim.

- Baldroy, prepare uma sopa quente de imediato, limpe o frango para o jantar, prepare a fornalha para assar uma leva de pães, prepare uma leva de legumes assados e faça uma limpeza geral no armário de utensílios.

- Tá.

- Finnian, está chovendo. Por tanto, os jardins externos terão de esperar. Cuide dos cultivos da estufa, faça a troca de vasos, caso necessário, e não esqueça de podá-las ao fim.

- Uhum.

- Senhorita Amelia, varra os corredores do segundo piso, limpe a biblioteca e troque a roupa de cama dos quartos.

- Sim, senhor.

"Sim, senhor"?

Ela sempre se opôs a me chamar de senhor.

Seus olhos miraram o piso a todo momento, me negando o mínimo vislumbre de seu rosto.

Algo em minha fisionomia pareceu se comprimir e era certamente desconfortável.

Estranho.









[...]


















As coisas têm sido complicadas, muito complicadas.

Desde aquele dia a chuva não para de cair. As entradas para Londres estão impossíveis, completamente lamacentas e alagadas, sem jeito algum de passar. Minha investigação continua afogada nos mesmos questionamentos e suspeitas, o que me deixa hesitante em tomar qualquer decisão. Em casa, todos andamos como almas penadas nos últimos dias, não conversamos, esboçamos quaisquer expressões uns aos outros e, até mesmo os acidentes de trabalho têm sido absurdamente menores. Nada é como antes e...

"E, do abismo profundo de minha mente e todo meu corpo, nasceu aquilo nunca imaginei poder existi. Algo que me causou medo, angústia, confusão, desespero completo. Eu falhei, me deixei levar e permiti que essa fria e cruel consciência surgisse."

"A consciência de que, no fim, eu me importava. Me importava com todos eles. Não poderia ser pior."

É. Não poderia ser pior.

Bem, talvez possa. Mas, não quero pensar em "como" poderia.

- Jovem Mestre? - Toc, toc. - Posso entrar?

- Entre!

Sua voz soava abafada, do outro lado da porta.

Entrei.

- Os registros que pediu, - Caminhei até sua cama, e quando próxima o suficiente, estendi o envelope a ele. - estão todos aqui.

- Ótimo. - Se esgueirando entre travesseiros e cobertas, ele alcançou o envelope. - E a carta do senhor Griff? A-atchin!

E como se já não bastasse todo o resto, Jovem Mestre estava doente.

- O senhor não foi aconselhado a descansar?

- Eu costumo ser bem seletivo, em relação aos conselhos de Sebastian, se é que me entende.

Ele abriu o envelope, lendo os escritos em silêncio.

O barulho da chuva era constante e ao lado de fora tudo seguia cinza, como nos últimos cinco dias.

A casa tem parecido mais escura, até mesmo mais fria. Não é exatamente o que eu imaginava para primavera.

- Amelia? Você me ouviu?!

Sua voz foi cortante e chamou minha atenção.

- A-ah?! Mil perdões, senhor. P-poderia repetir, por favor?

- Hm... - Ele suspirou, deixando os papeis em seu colo e me encarando, com seu único olho. - as coisas estão tensas por aqui, não?

- O que quer dizer, Senhor?

- O silêncio anda gritante, impossível de não se notar. Além disso, já faz um certo tempo desde a última vez em que ouvi qualquer um dos outros gritar seu nome, pedindo ajuda. Muito tempo.

Me mantive em silêncio, voltando a encarar os pingos de chuva que escorriam pelas grandes janelas.

- Amelia...

Me recusava a olhá-lo. Era como se sentisse que todos os segredos, mentiras e verdades estivessem escritos em meus olhos.

- Sim, senhor?

- Olhe para mim.

Não.

- O senhor precisa de mais alguma...

- Eu disse para olhar para mim. É uma ordem.

Droga.

Respirei fundo, movendo minha cabeça lentamente, em sua direção.

- Sim?

Olhava fixamente para seu olho, em meus melhores esforços.

- Me escute e escute com atenção... - Suas palavras eram firmes e sua postura parecia totalmente diferente. Era muito mais alerta, obstinada. Por alguns segundos sua figura doente pareceu, até mesmo, desaparecer. - fique longe de Sebastian.

Um choque repentino percorreu por todo o meu corpo. Como ele sabia?! Como, tão de repente, tudo sobre "isso" pareceu vir a tona tão rápido para todos?!

- O quê?

- Você sabe bem do que estou falando. Confie em mim, isso não vai leva-la a lugar algum. Você só poderá perder seu tempo.

- Como? - Procurei palavras para continuar, independente do quão difícil parecesse. - C-como o senhor sabe?

- Sebastian é egoísta... - Ele cruzou os braços. - não faz nada que não possa beneficiá-lo. Tão egoísta que pouco se importou quando percebeu que não estava de fato completamente adormecido em seu colo, tão egoísta que não se importou com a ideia de que eu soubesse o que acontecia entre vocês, mesmo que, aparentemente, devesse ser um segredo.

- Quando saímos da loja da senhorita Hopkins...

- Exato. Eu já havia notado uma certa atenção dobrada, relacionada a você, há um tempo, mas por muito, não esperava que algo estivesse de fato acontecendo, até aquele dia.

- Por que está me dizendo tudo isso?

- Eu o conheço, conheço muito melhor do que realmente gostaria e sinceramente, posso até não saber o que ele vem pretendo ou o que quer que tenha feito ultimamente, mas eu posso te garantir, ele não faz nada que não o beneficie, que não o faça bem, que não o divirta. E se você permitir, ele vai continuar com o que quer que esteja fazendo, mesmo que isso signifique que, no fim de todo esse cálculo, você saia perdendo algo.

"Não fui eu aquele quem mentiu, afinal de contas, eu não minto. A senhorita quem criou o vínculo, a senhorita quem optou por ocultar a situação, a senhorita quem optou por participar de tudo isso."

"A senhorita quem optou por participar de tudo isso."

Eu permiti que tudo isso acontecesse? Realmente permiti?

- Mas, eu não entendo...por que o senhor me diria tudo isso? - Fechei meus punhos, os apertando e sentindo o arranhar de minhas unhas contra a carne. - Que diferença faria para o senhor?

Em um primeiro momento, e desta vez, foi ele quem desviou seu olhar, se tornando distante e talvez, relutante em responder.

- Eu sou arrogante, como qualquer ser humano, mas não ao ponto de achar que eu posso salvar ou ajudar qualquer um, é uma perda de tempo, e... - Ele voltou seu olhar a mim. - acho que esperar ou implorar por uma salvação serve apenas a pessoas idiotas. Você, Amelia, não é uma idiota, você é inteligente, engenhosa. E nós... - Seus lábios se mantiveram entreabertos, como se pensasse muito bem eu suas próximas palavras. - esqueça. O fato é, use de sua inteligência e preserve a si mesma. Não perca tempo com ele.

Eu gostaria muito de ter ouvido esse mesmo concelho a tempos atrás. "O que?" eu me pergunto, "o que" eu represento ao Jovem Mestre, a ponto de ouvir algo assim?

De um jeito ou de outro, é no mínimo reconfortante saber que há alguém que não me repudia...

Ainda.

A cada dia que se passa, a cada vez que o olho e ouço sua voz e suas palavra, soa cada vez mais estranha a ideia de mata-lo.

Isto tudo está virando um caos.




















[...]













A poeira se acumula rapidamente entre cortinas e pequenos vãos entre os móveis.

Bastaram alguns segundos para que estes mesmos móveis chegassem a seu melhor estado, obviamente.

Cortinas limpas, piso encerado, poeira removida e o tapete, muito bem escovado. Tudo em segundos.

Limpar a sala de música poderia ser a mais simples das tarefas, se estivesse realizando-a sozinho, claro.

Portanto faltavam apenas os instrumentos. Os mesmos tão pouco utilizados, que ganhavam seu verdadeiro brilho apenas em bailes e ocasiões especiais.

O som afinado do violino, a fluidez da flauta, as notas harmoniosas das teclas do piano.

O piano.

"Pode aceitar meu convite e descobrir."

"Não imaginei que você tocasse."

Suas mãos tocavam, inseguras e delicadas as teclas, acompanhando-me em poucos movimentos, criando a melodia que coordenava.

Divagando.

Sim, me vi divagando completamente nestes pensamentos insólitos, inúteis.

A mesma sensação de algo em meu ser se comprimir veio à tona. Tão desconfortável quanto antes, tão gritante quanto antes.

Peculiar.




















[...]























Esqueci completamente de que havia deixado a vassoura na adega. Droga.

Dei meia volta e desci todo o lance de escadas mais uma vez. Atravessando o salão principal, passei pela sala de jantar, indo à cozinha.

Estava vazia. Talvez Baldroy estivesse cochilando.

Tudo era tão quieto a ponto de, não só meus próprios passos, como minha respiração.

Passos, respiração e chuva. Era tudo o que se ouvia.

Atravessei a cozinha, indo em direção à porta da adega.

Quando terminar de varrer o segundo piso, preciso focar em trocar as roupas de cama. Limpar a biblioteca é algo demorado, é melhor deixar como último...

Mey-Rin.

Antes mesmo que pudesse alcançar a maçaneta da porta, ela se abriu. Abriu por Mey-Rin, que acabara de sair.

Estávamos a centímetros uma da outra, e mesmo assim, eu não via uma sequer expressão em seu rosto. Não havia nada, como também, não haviam palavras.

A quietude havia invadido não só a casa, como nós. Era dolorido.

"Me desculpe, me perdoe, me deixe explicar, vamos esquecer."

Eu poderia dizer todas essas coisas o quanto e como eu quisesse para quebrar o silêncio e tentar me livrar do peso da óbvia culpa. Mas, a tal ponto soava ridículo, inútil. O mesmo que juntar pedaços estilhaçados de uma taça. Ao menos, é o que me parecia ser, para mim.

"Claro que não! Você é minha amiga, quero que você prove meu doce preferido!"

"Amelia, eu trouxe pra você! Imaginei que estivesse precisando de um café."

"Fico feliz de ter você aqui. É solitário ser a única mulher."

"Estou orgulhosa de você! O treinamento evoluiu muito!"

"Você acha que o senhor Sebastian vai gostar?!"

Mey-Rin, Sebastian, Sebastian, Mey-Rin. Eles rondavam por minha cabeça.

"Senhorita Amelia, parabéns pelo trabalho de hoje. A senhorita é de fato, uma serva honrável."

"A senhorita fala demais."

"Sebastian não era uma onda, ele era uma corrente marítima inteira, determinada a me afogar enquanto tentasse quebrar suas ondas violentas. Terei que nadar a seu favor. Teria que usa-la?"

"Com o peito estufado e toda a coragem que pude, o agarrei por seu colarinho com minhas duas mãos, fechei meus olhos com certa força e então, o beijei."

"Sinto muito pela grosseria, senhorita. Mas, não posso permitir que acabe revelando nosso segredo a Finnian, por conta de um simples descontrole de voz."

" 'O consentimento e a permissão são os principais fatores capazes de separar a selvageria e o sexo'. Entende o que quero dizer?"

"Eu poderia fazê-la ver estrelas, se me permitisse."

"A senhorita é inteligente, pense um pouco. Mey-Rin optou por isso. Optou por apaixonar-se e correr o risco de quebrar-se. É um caos completamente opcional."

"Não jogue sua culpa em outra pessoa, senhorita Amelia. Não é educado. Independente de minha participação, não fui eu aquele quem mentiu, afinal de contas, eu não minto. A senhorita quem criou o vínculo, a senhorita quem optou por ocultar a situação, a senhorita quem optou por participar de tudo isso."

"Esse tempo todo, v-você me usou só para satisfazer essas suas ideias nojentas?! Foi isso?!"

Que caos.

Contida e com os ombros encolhidos, Mey-Rin se esgueirou entre mim e a porta em um completo silêncio, me deixando só, indo embora.

As lágrimas podiam e queriam invadir meus olhos, correr por meu rosto como tem feito noites a fio. Mas, não.

É injusto. Não deveria chorar pelo desastre que eu mesma causei. Pela faca que eu mesma decidi cravar em meu peito. É egoísmo.

"Sebastian é egoísta, não faz nada que não possa beneficiá-lo. Tão egoísta que pouco se importou quando percebeu que não estava de fato completamente adormecido em seu colo, tão egoísta que não se importou com a ideia de que eu soubesse o que acontecia entre vocês, mesmo que, aparentemente, devesse ser um segredo."

Eu sou egoísta?


















[...]













- C-como o senhor chegou aqui?!

- Boa tarde. O tempo está realmente conturbado, certo, senhor Griff?

-O senhor Phantomhive te mandou aqui, não é?! Como você chegou com toda essa chuva? As estradas estão impossíveis!

- Nada aqui esteja fora do meu alcance.- Aproximei-me de sua mesa, estendendo minha mão.- Os relatórios de fevereiro, por favor.

- Ah! É claro! Eu os deixei por aqui, em algum lugar... - O homem revirou as gavetas atrás de si, encontrando por fim um envelope lacrado. - achei! Aqui está.

- Agradeço por seus serviços. - Alcançando o objeto, guardei meu sobretudo. - Isto é tudo.

- Ótimo! É uma pena o senhor Phantomhive não ter vindo. Por acaso ele...

- Tenha uma boa tarde.

Me retirei do edifício.

As ruas londrinas andavam agitadas como nunca, com homens e mulheres fazendo o possível para se esquivarem da chuva.

A água que caía não me alarmava, pelo contrário, poderia ser agradável.

Mas aparentemente, seres humanos possuem um consenso geral relacionado ao desconforto que possuem ao sentirem o tato de roupas molhadas em suas peles.

São criaturas fracas, que adoecem rapidamente e pela menor das razões.

"Sebastian, chame Sullivan agora! É um desmaio!"

"Amelia? Eu sou Sullivan, amiga do Ciel! É uma pena nos conhecermos assim! Parece que a senhorita passou por uma grande baixa pressão, graças a uma hipotermia!"

Frágeis demais.

- Urg!

Uma voz fina se fez abruptamente presente, assim que senti um baque em meu peito. Provavelmente, alguém tropeçou esbarrando-se em mim.

Presumi ser uma dama.

- Mil perdões... - Olhando para baixo, a encontrei com os ombros encolhidos e rosto escondido entre as mãos e meu peito. - a senhorita está bem?

- Você me usou, seu desgraçado!

- Senhorita Amelia?! - Me vi, por segundos, genuinamente surpreso. Seu rosto se contorcia em raiva e seus olhos pareciam cegos por ódio. - Como a senhorita...

- Foi você quem começou com tudo isso! Você não me deixava em paz! Você me usou, me usou para satisfazer seus desejos nojentos! Tudo porque você é um animal, alguém que nao sabe controlar o que tem no meio das pernas! EU TE ODEIO!

Como ela havia chegado até aqui? Como pôde me encontrar? Não faz sentindo algum. Ela...

- S-senhor?! Senhor v-você está bem?! S-sinto muito por esbarrar em você! Eu estava com pressa! - E em um simples piscar forte de olhos, a fisionomia da dama em minha frente mudou completamente. Seus cabelos eram loiros, olhos castanhos, bochechas gordas e avermelhadas, lábios secos. Nada como ela. - A-ahm, senhor? Está tudo...

- Com licença.

Respeitosamente e o mais ágil que pude, afastei-me, seguindo com meu caminho, mantendo meu caminhar regular. Sem alarde algum.

Eu havia alucinado? Sem dúvidas, me parecia uma alucinação.

Era extremamente vívido. Os cabelos castanhos, os lábios avermelhados, olhos amendoados e voz marcante, parecia real.

Isto é absurdo, totalmente fora do comum, de meus limites.

Algo assim nunca havia acontecido comigo.

O que está havendo hoje?












[...]











Legumes, legumes e legumes. Tenho os cortado e temperado a quase uma hora. Achei que seria bom adiantar o jantar, facilitaria um pouco as coisas para Baldroy.

Para Bard...

"Ah? A sim, n-não é nada demais. É que eu, m-meio que fiquei pensando no que você disse hoje mais cedo. Somos todos amigos, né?"

Se eu tivesse recusado...

"Amelia, você bebe? Preciso de uma companhia não tão idiota quanto eu."

Poderia ter ignorado Sebastian desde o princípio...

"Ah, vamos, ele parece um pinguim. Não parece?"

Eu poderia ter acabado com tudo tão rápido. Por que não o fiz?

"Você é nossa amiga, é uma serva Phantomhive!"

Eu fui tão idiota.

"Eu não estou afim de papo."

É tudo minha culpa.

"ELA TA FODENDO COM O SEBASTIAN, NAS COSTAS DA MEY-RIN!"

Completamente minha culpa.

"Quer saber de uma coisa? Eu acho que você já fez o suficiente por hoje!"

Minha culpa, minha culpa, minha culpa, minha...

- ARG! - Soltei a faca em um impulso. Havia dor, havia Sangue. Acabei por me cortar - Merda.

O líquido passou a escorrer rapidamente, precisava de ataduras e esparadrapo!

Comecei a olhar para os lados, tentando lembrar onde havia os guardado.

Doía, latejava.

Com minha outra mão, fiz pressão na ferida, apertando, manchando minha mão.

- Droga. Onde, onde... - Passei a abrir armário por armário, mas não o encontrava. - tinha certeza de que estava por...

Bank!

Um pouco distante, ouvi algo que me pareceu bater sobre a mesa.

Baldroy.

Deixando uma banda de sobremesa e olhando para mim em seu olhar mais antipático, ele remexeu em seu bolso, retirando um de seus cigarros doces e o pendurando sobre o canto da boca.

- Da próxima... - Ele caminhou até o armário próximo a fornalha, passou suas mãos por poucos segundos e então, jogou algo sobre a mesa. - procure direito.

Dando meia volta, ele simplesmente saiu.

Caminhei até a mesa, procurando pelo que ele havia jogado.

Lá estavam as ataduras e esparadrapos, jogados ao lado da bandeja vazia.

É mesmo, eu havia os guardado no armário próximo a fornalha, para que não se misturassem aos materiais de cozinha.

Puxei uma das cadeiras, me sentando. Não demorei em limpar o machucado, tentando ter cuidado. Passei a envolver o corte nas ataduras.

Como era mesmo? Três voltas para muito sangue, duas para pouco?

"Lembre-se, serão duas voltas para um sangramento controlado e três para sangramento excessivo."

"São só espinhos. Está exagerando."

"Estou apenas fazendo meu trabalho."

"Não está fazendo isso para que eu o chame de cavalheiro, está?"

"Quanto crueldade pensar algo assim."

"Já está acabando?"

"Está com pressa?"

"Você está enfaixando minha mão a minutos."

"Estou apenas me garantindo de que poderá ficar bem em breve."

Três. Eram três voltas.

Inferno. Não consigo ter sossego, nem meus próprios pensamentos.

Quando isso vai acabar? Quando "ele" vai acabar?

É tortuoso.











[...]

















Alucinações com sua figura, sensações desconfortáveis por meu corpo, lembranças e vislumbres insólitos de sua imagem, de momentos. Tudo parecia girar em torno de seu nome.

Senhorita Amelia.

Ignorar. Coloquei-me em uma grande e vasta imersão e inércia mental, onde tudo girava em torno de algo totalmente dentro de meu controle. Trabalho.

O que os homens de negócios mais atuais chamariam de "workaholic". Seres humanos adoram "enriquecer" seus distúrbios.

Limpei lareira por lareira; escovei cada tapete de cada cômodo; poli quaisquer peças e móveis de madeira que estivessem em meu caminho; removi a poeira de todas as mil quatrocentas e sete garrafas de vinho da adega; removi e substituí cada pequena vela de cada mínimo candelabro espalhado pelos corredores e, apesar da chuva, me vi passar um pano úmido em cada vidraça das mais de duzentas janelas empalhadas pela residência.

Alucinações, lembranças. Era algo ridículo, desnecessário.

Apenas um tipo de desequilíbrio na grande corda bamba na qual me mantive equilibrado nos últimos três anos, em meu papel de mordomo exemplar.

Um desequilíbrio, nada mais. Se resolveria tão bem quanto o anterior.

Masturbação. Por muito, vi meu corpo em um descontrole diário que beirava o vício. Um vício luxúrico e humilhante em tocar a mim mesmo, pensando em uma humana. Simplesmente uma humana.

Porém, nas ultimas cento e vinte horas, tudo pareceu mudar de figura. Me mantive intocado, em total e inesperado controle.

Meu corpo não pedia por toque algum. Nada a pulsar, nada a latejar, totalmente brando, em seu cabresto, em pleno controle. O controle que eu havia retomado.

Tudo, por fim, parecia retomara seu devido lugar e apesar do caos, não poderia estar em maior satisfação.

Era apenas um jogo, sim, apenas um jogo. Estas estranhas reações não passam de nada mais, nada menos, que resquícios do repugnante vício e, sem dúvida, logo sumirão.

Tenho certeza.

Agora, o que mais poderia fazer? Afinal, as tarefas restantes estavam nas mãos dos três incompetentes.

Digo, quatro.

Seria coerente conferir o estado de Bocchan.

Perdi poucos segundos no percurso em que subia as escadas e atravessava os longos corredores do segundo piso.

Toc, toc.

- Bocchan, com sua licença.

- Entre logo.

Com sua permissão, girei a maçaneta, logo a empurrando.

- Acredito que seja a hora de tomar seus... - Haviam papéis e mais papéis espalhados por sua cama, cartas escritas em cima de travesseiros, cobertas manchadas por tinta tinteiro e folhas amassadas. - o senhor está trabalhando?

- Achou mesmo que eu ficaria deitado aqui o dia inteiro sem fazer nada? Cof!

- Bem, a princípio, seria sim esta a ideia.

- De forma alguma.

- Significa que não descansou. Estou certo?

- Hm! Me sinto muito bem descansado.

- Oh, é mesmo?

- É, é mesmo. Além disso, já não me sinto mais tão doente.

- Que grande fenômeno, o senhor se curou sem medicamento algum, apenas chá? Se é verdade, deveríamos conferir... - Removi minha luva direita. - concorda?

Sem respostas.

Aproximei-me e, lentamente, ergui as costas de minha mão a sua pequena testa, a tocando.

Continuava quente.

- O senhor continua febril.

- É só uma temperatura, não pode simplesmente determinar o quão bem ou mal estou a partir, a p-partir de, atchin!

- Vejo, - Levei a mesma luva de volta a minha mão, cobrindo-a. - está transbordando saúde.

- Idiota! Não venha com esse seu deboche para cima de mim! Eu sei bem o que estou fazendo.

Fedelho teimoso.

- Acredito que esta seja uma ótima oportunidade para, por fim, determinar um verdadeiro descanso. - Velozmente e em um piscar de olhos, reorganizei todo o colchão, removendo todos os papéis, colchas sujas e, até mesmo, deitando o pequeno corpo adoecido de Bocchan nos travesseiros. - Assim é melhor. - Entre os travesseiros, cobri seu pequeno corpo, com uma coberta completamente nova e limpa. - Voltarei em breve para trazer os medicamentos.

- Tsc! Eu já estava terminando, de qualquer forma.

Tão teimoso.

- Poderá terminar quando estiver melhor.

- Você fez todas as coisas que mandei, não fez?

- Falaremos sobre os relatórios do senhor Griff mais tarde, sim? Agora, é fundamental que o senhor descanse.

- Urg! - Embrulhado entre as cobertas, virou-se para o outro lado de sua cama, dando as costas para mim. - Isso é ridículo. Adoecer é ridículo.

Era, talvez, até um pouco cômica a forma como Bocchan escolhia lidar com suas próprias enfermidades. Agindo como se fosse algo totalmente manipulável a todo o momento.

- Voltarei em breve.

Me retirei, saindo do cômodo e fechando a porta atrás de mim. Havia deixado os remédios bem guardados em meu próprio quarto. Não me soava uma boa ideia deixá-los guardados em uma estante qualquer da cozinha, ou até mesmo, perto do próprio Mestre.

Ele poderia jogá-los fora, como fazia quando mais novo.

"Bocchan, onde estão os xaropes?"

"Não sei."

"Bocchan, estavam em sua gaveta. Aonde estão?"

"Por que está me questionando?! Isso é uma afronta!"

"Estou apenas lhe perguntando. O senhor sabe aonde estão seus xaropes?"

"Eu não sei. Ponto."

"Entendo."

Eu os encontrei poucas horas depois, jogados no jardim. Atualmente, ele não se contraria tanto quanto antes, mas prevenir não é um pecado.

Fiz o repetitivo percurso à cozinha, onde me dirigia ao corredor dos quartos. *enrolar com algo até chegar à cozinha.*

Oh.

Não a via desde a manhã, e gostaria que a situação se mantivesse dessa forma. Não pude obter este luxo.

O som da faca colidindo levemente contra a tábua de madeira era extremamente aparente, graças ao silêncio. Até mesmo o som da agua borbulhando em uma das panelas sobre a boca do fogão, em seu fogo alto, era audível.

Solitária, senhorita Amelia cozinhava.

Os olhos restritos e concentrados na faca entre suas mãos, cortando um pedaços uma cenoura, a picotando. Haviam curativos em sua mão direita.

Olhos. Olhos âmbar e amendoados me miraram, encarando-me.

Estava confusa. Não, me parecia irritada.

Decepcionada?

Algo não estava certo. Por alguma razão não conseguia ler seu olhar, como costumava. Havia algo em suas pupilas rondadas por íris de mel que os tornavam complicados de serem lidos, irreconhecível.

*descrição sobre ela e o ambiente. Flashback de relações de seu corpo, de sua voz em o corpo de Sebastian voltando a enlouquecer, exatamente como antes.*

Não, não pode ser, não deve ser.

Quebrando a hipnose do momento que pareceu durar mais que minutos, me dirigi ao corredor dos quartos, silencioso.

Alcançando minha porta, adentrei abruptamente.

O calor pareceu subir e descer em meu peito.

"Sua imagem se perpetuava como um parasita em minha cabeça. Seu pescoço fino, que implorava por mordidas, lábios voluptuosos que poderiam gritar meu nome, uma cintura tão fina e frágil, parecia tão fácil de se quebrar. Cada vez mais rápido, os espasmos pioravam. Não posso parar. Uma humana, uma mísera humana. Uma afronta, um ultraje, digno de indignação."

A falsa e artificial respiração de meu corpo parecia dificultada, pesada.

"S-Sebastian..."

Calafrios excessivamente humanos me percorriam

"Ah, e você acha que eu vou cair assim nos seus joguinhos?! Tente a vontade...'Senhor Sebastian'. "

Minhas mãos apertaram a maçaneta, fortemente. Recostei minha cabeça sobre a madeira da porta. Poderia racha-la.

"Só um beijo. Entendeu?"

O sangue parecia ferver e se concentrar Algo passou a pousar, latejar, se tornar desconfortável entre minhas calças.

"S-Sebastian...hm."

Me vi rígido, duro, faminto.

Demônios sentem fome, e eu preciso devorar algo. Agora.

















[...]

















- Olá, Ares.

O acariciei.

Foi um dia difícil. Eu não fiz tantas tarefas, mas ainda assim me sinto exausta.

Senti que precisava ficar só, totalmente sozinha, em algum lugar onde não me procurariam. Os estábulos pareciam a melhor...

- Oi...

- Ah!

Me virei abruptamente, tomando um susto.

Mey-Rin?!

- Desculpe se te assustei. - Com suas botas encharcadas por lama, ela se aproximou, sentando-se em um fardo de feno. -Está frio. Você está encharcada.

Me olhei de cima a baixo. Realmente, eu estava. Mas, apesar disso, a chuva nunca me incomodou.

O que realmente me incomoda, é o que ela faz aqui.

- É, você também está.

Silêncio, um silêncio longo e agonizante.

- Então... - Ela o quebrou. - você não virá para o jantar? Está escurecendo.

- Estou sem fome... - Deixei Ares, indo até o feno onde Mey-Rin se sentava. - Eu posso?

- C-claro.

Ela me cedeu um espaço, onde me sentei.

- E o que fez hoje?

Me esforcei para conseguir seguir com a conversa, de alguma forma.

- Nada demais. Só o que o senhor Sebastian mandou. E você?

- Só minhas tarefas. Eu também tentei adiantar um pouco da janta.

- Ah, sim. E o que houve?

Ela apontou para o curativo em minha mão.

- Eu me cortei enquanto fatiava legumes, não foi nada.

- Entendi.

Ela parecia ter algo a mais para dizer, seu corpo parecia agitado. Suas mãos roçavam umas nas outras e suas botas sujas s remexiam contra toda a terra seca do terreno coberto.

Escolhi arriscar.

- O que faz aqui?

Ela parecia hesitante a responder.

- Eu te conto se também me contar. Por que veio aqui?

Escolhi ser honesta.

- Precisava ficar sozinha. E você?

- Ah... - Ela suspirou, olhando para baixo. - eu precisava te ver.

Meu corpo gelou.

Me ver?

- Amelia, - Ela tirou seus óculos, olhando no fundo dos meus olhos - Eu não consigo só fingir que nada aconteceu. Aquela noite não sai da minha cabeça e eu, e-eu simplesmente não consigo te imaginar fazendo o que Bard disse. Por favor, - Suas mãos tocaram as minhas, ambas frias e molhadas. - eu preciso saber, toda aquela história é verdade? Você e Sebastian, v-vocês realmente...

Ela parecia se perder em suas palavras. Como se. Não fosse capaz de continuar.

A culpa me invadiu, como uma facada, e a forma como ela me olhava se parecia com a mão que girava a arma branca que me perfurava.

Não havia escapatória alguma.

- Sim, é verdade. Eu e Sebastian estávamos... - "Juntos" não me parecia ser a palavra certa. Definitivamente não era. - enfim, é verdade. Eu sei que é completamente inútil dizer isso agora mas, me desculpe. É tudo que eu posso dizer.

Pra mim, um perdão não adiantaria de nada. Não se recua após puxar o gatilho. O sangue retorna ao corpo depois de jorrar. Não há...

- Eu quero te perdoar, Amelia.

O quê?

- Vo-você o quê?

- Sim, eu quero te perdoar. Olha, - Nossas mãos continuaram entrelaçadas e ela seguiu olhando em meus olhos. - sempre tive esperanças sobre o senhor Sebastian, mas eu não sou burra. No fundo, desde que eu percebi que estava apaixonada por ele, eu sabia que nada ia acontecer, não exatamente por minha causa, mas por ele. Eu sabia que ele não sentia nada e honestamente, depois de três anos convivendo com ele, eu comecei a achar que na verdade, essa coisa de "amor" e "paixão" nunca o agradaram tanto. Ele nunca demonstrou qualquer interesse por isso, nem por mim e nem por ninguém. Mas, b-bem, parece que eu me enganei. - Ela esbanjou um fraco sorriso, acompanhado de um curto e falso riso. - Talvez ele só não tivesse interesse algum em mim.

Suas palavras eram doloridas, assim como a expressão em seu rosto.

A culpa parecia esmagar meus ossos.

- Mey-Rin, eu...

- E é por isso que não foi "saber de vocês" que me chateei. O que realmente me magoou foi que você mentiu pra mim. - Vi os primeiros sinais da interna dor se externarem em lágrimas se formando nos cantos de seus olhos. - V-você viveu dia após dia, mantendo essas mentiras por, n-nem sei ao certo quanto tempo, enquanto trabalhávamos juntas, saímos juntas, enquanto te considerei minha melhor amiga! Isso sim, me machucou.

Esse tempo todo, eu nunca retribuí, genuinamente, a amizade de Mey-Rin. Nunca fui verdadeira. Desde o início, eu apenas menti.

Assim como ela, a dor queria invadir meus olhos, em lágrimas.

Me sentia tão errada.

- Por que? Por que, depois do que eu te fiz, v-você ainda quer me perdoar?

Ela sorriu. Desta vez parecia genuíno, puro.

- Sabe, eu já perdi amigos o suficiente na vida que eu levei, antes de chegar aqui. Eu não quero perder mais, de jeito nenhum. Não quero que mais nada aconteça com as pessoas que eu me importo. Não quero que as coisas sigam assim. Eu quero voltar a limpar as janelas com você, me arrumar do seu lado para os bailes, tomar café da manhã com todos juntos, treinar e continuar treinando com você, jogar baralho com os rapazes e assistir Bard perder, quero até mesmo continuar errando no trabalho, ou ajudando o Jovem Mestre em qualquer coisa que seja, contando que no fim, seja com vocês. Entende? Amelia... - As lágrimas escorriam por suas bochechas. - eu só quero minha família de volta, vocês.

Eles? Nós? Eu? Família?!

Aquelas palavras tocaram o meu peito como nenhuma outra.

"Ei, Ayay?! O que deu em você?! Por que tá chorando, mulher?!

"S-sai, Toby! Se não vai ajudar, me deixa sozinha!"

"De jeito nenhum! O que você tem?! Você sabe que eu não vou contar pra ninguém!"

"Eles."

"Ah?! 'Eles' quem, criatura?! Explica!"

"Meus pais, seu idiota!"

"Oh. Entendi. Outro pesadelo?"

"Não."

"Eu sei que foi. O que aconteceu nele, hm?"

"Eu, e-eu não quero falar."

"Não precisa falar. Tá afim de um abraço?"

"Não."

"O que você quer, então? Me deixa te ajudar."

"Eu quero eles de volta. Quero minha família de volta."

"Merda. Você sabe que não dá pra fazer isso, nem se eu quisesse muito."

"Eu sei, esse é o problema."

As lágrimas escorreram por meu rosto, instintivas e extremas. A agonia, a dor, a culpa escorria por meu rosto.

- Mey-Rin, - Apertei sua mão. - v-você pode mesmo me perdoar? P-por favor, eu...

Abruptamente e sem dizer uma sequer palavra, ela me abraçou.

Eu retribuí.

Era como se uma grande bigorna fosse tirada de minhas costas, levando boa parte da dor embora. Mas, infelizmente, não completamente.

- Amelia, - Ela chamou, ainda entre meus braços, com sua cabeça em meu ombro e braços em volta de minhas costas. - eu posso te perguntar uma coisa?

Eu faria o que quer que fosse em tal momento. Era o mínimo que podia fazer.

- Sim, a-acho que sim.

- Você não está escondendo mais nada, certo?

"Queremos que se infiltre na mansão. Ganhe a confiança de todos, descubra tudo que puder sobre o Conde Phantomhive. Todos os podres, medos ou falácias. Devemos arrastar seu nome na lama por todo o prejuízo! Depois disso mate-o, e suma com o corpo. Faça o mesmo com os empregados desgraçados!"

"Me tornando caporegime? Não terei mais que matar?"

"E então, Ayuni El-Din, 'a pequena prodígio', Temos um trato?"

"Será um prazer realizar uma tarefa tão nobre. Eu aceito."

- Mey-Rin, - Nos separei, segurando firmemente em seus ombros e olhando fixamente em seus olhos. Meu coração estava á mil. - há algo que eu preciso te contar.

















[...]












A maciez de suas coxas.

O piso era frio, tão frio quanto meu sangue costumava ser, antes de todo este caos "feromonal".

A satisfação em sentir sua carne, o cheiro de seu pescoço, o sabor de sua língua.

Minhas costas, recostadas contra a porta, quadris desavergonhados e traidores se erguendo a favor de minha mão esquerda, cada vez mais dolorida.

O latejar era prazerosamente tortuoso, e cada pulsação desavergonhada de meu membro era mais forte, conforme o nome se tornava mais vívido e ecoante em minha mente.

A gravata parecia enforcar-me.

Poderia rasgá-la, mordê-la e apertá-la a cada profunda e forte estocada que a proporcionaria. Ah, sim, sim. Eu poderia, poderia sem dúvida.

Permiti que minhas mãos cravassem suas unhas na madeira do piso. Poderia dar conta do dano depois.

Sua voz soava tão melodiosa, chamando por meu nome. Suas mãos se envolviam tão tímidas em volta de meus ombros. Ah, a forma como jogava sua cabeça para trás. E seu gosto, seu amaldiçoado gosto.

Tão, tão, tão vicioso, tão perigoso, tão adocicado, amargo, cítrico! Ele poderia ser tudo, tudo.

Preciso de mais.

Acelerei os movimentos de minha mão, que a tal ponto subia e descia trêmula.

Como? Como ela podia? Como conseguia? Como ousava?

"S-sebastian..."

Tão conflitante.

Preciso de mais.

"Eu não quero que me olhe."

Tão atrevida.

Mais, só um pouco mais.

"Vamos acabar logo com isso."

Tão saborosa e divertida.

"Eu não brinco em serviço."

Tão humana.

Mais, mais, mais, mais ,mais, mais, mais...

Ah!

O piso se quebrou, ao ponto em que minhas unhas o cravaram com força.

Cheguei a meu ápice, um vergonhoso e escandaloso. Relaxei meus ombros e quadris, respirando fundo.

Estava errado, tudo estava completamente errado.

Por horas a fio, ela rondou meus pensamentos de forma anormal, sua figura pareceu me perseguir a um ponto alucinante. Literalmente, alucinante.

Toda a confiança que havia depositado em meu alto-controle, a satisfação em concluir que havia me livrado de um vício repugnante, tudo havia escorrido por minhas mãos, como água.

E, em questão de poucos segundos, meus olhos pareceram obter uma ótica totalmente contorcida que me levará à loucura. De repente, senhorita Amelia pareceu diferente. Seus cabelos pareciam ainda macios e brilhosos, suas mãos mais delicadas, sua figura mais esbelta e suas curvas mais chamativas, seus olhos âmbar pareciam chamar-me e obter um certo brilho. Tudo parecia tão atrativo quanto antes. Assim como sua companhia parecia mais leve, seus comentários mais perspicazes e interessantes, suas atitudes, mais afáveis ou divertidas a meus olhos.

Era completamente absurdo, suspeito, fora do comum.

Minha ótica, sobre qualquer ser-humano que fosse, nunca havia mudado, de segundos para outros.

Nem mesmo, se tratando de Jovem Mestre.

"SEU BABACA! FOI VOCÊ QUEM COMEÇOU COM TUDO ISSO! A ÚNICA COISA QUE EU QUERIA ERA UM POUCO DE PAZ! VOCÊ SIMPLESMENTE NÃO ME DEIXAVA EM PAZ!"

"VOCÊ ME USOU! ME USOU PARA SATISFAZER ESSAS SUAS IDEIAS GROTESCAS! TUDO ISSO, POR CAUSA DE PRAZER! DE SEXO!"

"Eu te odeio."

Um demônio, na visão humana, pode sim representar toda a escória do mundo, um ser maléfico, maquiavélico, asqueroso, totalmente impuro, repugnante.

Por séculos fomos vistos desta forma e poucos eram os insanos que escolhiam percorrer seus caminhos até nós.

E, em milênios de existência, nunca me importei com qualquer um destes "afáveis" apelidos e formas com as quais seres humanos e outras criaturas se referiam a mim. Pelo contrário, por muitas vezes me divertia com seus comentários odiosos, e procurava agir como tal. Afinal, eu deveria fazer jus a todos os apelidos.

Nunca fui um ser moralista mas, pela primeira vez, em toda a minha existência, me sinto realmente repugnante, sujo.

E, por que? Desta vez, minha situação parece muito mais crítica.

Preciso descobrir, preciso saber o que há de errado comigo.












[...]

















Poderia dormir até mesmo em pé. Me sentia exausta, como nunca.

Já fazia muito tempo desde a última vez que passei por um "cansaço emocional", e não me lembrava do quão forte poderia ser.

Eu poderia dormir por horas e horas, agora.

Já com minhas roupas trocadas e camisola vestida, me sentia mais relaxada.

"Quero minha família de volta, vocês."

Merda. Isso não sai da minha cabeça.

Preciso mesmo me deitar.

Com meus cabelos penteados e presos, guardei minha escova e levantei-me da penteadeira, indo em direção a minha cama.

Me sinto ainda mais exausta em pensar que amanhã tudo começará de novo. Tudo que posso fazer, pelo menos por enquanto, é esperar que essa chuva horrível finalmente acabe, e me agarrar a lembrança de que, apesar do caos, Mey-Rin havia me perdoado.

Já era alguma coisa.

- Hm? - Indo a minha cama, notei algo próximo a seu pé, escondido no pequeno vão entre a própria cama e minha cômoda. Curiosa, me agachei para olhar. - Um livro?

Um livro, azul claro e de bordas vermelhas. Sem dúvida, não me era estranho.

Estiquei meu braço para alcançá-lo.

- "Alice no País das maravilhas"?

"Tem certeza de que vai levar isso na carruagem? Você e o senhor Sebastian podem ir conversando, poxa."

"Não, Finny. Eu prefiro aproveitar a viagem e terminá-lo de uma vez."

Eu havia esquecido completamente de guardá-lo, depois que voltamos da residência na cidade.

Eu deveria ter feito isso há dias.

"Décima regra da casa, não deixamos livros fora de seus devidos lugares por mais de sete horas".

Me lembro bem dessa regra, foi uma das primeiras que decorei assim que me mudei para a mansão.

Já fazem cinco dias, isso são...

Cento e vinte horas?!

Merda.












[...]








Ignorando a escuridão, que a tal ponto já não me incomodava, me arrastava a passos lentos e exaustos pelas escadas, indo ao segundo andar com o bendito livro em mãos.

Tenho certeza de que me esqueceria de fazer isso depois. Prefiro resolver de uma só vez.

Subi as escadas com minha lamparina e fiz meu caminho pelos corredores.

Enfim, a biblioteca.

Completamente escura, sem um candelabro se quer para iluminar o local. Por costume e repetição, não foi difícil me encontrar e logo, cheguei a estante os fictícios e clássicos. Encontrando seu pequeno canto específico entre um livro verde musgo e outro de capa amarela, eu o guardei.

Agora sim, acabou.

Atravessei as imensas estantes mais uma vez e alcancei a mesma porta por onde entrei, saindo e a fechando atrás de mim.

De mãos vazias e em completo silêncio, atravessava os corredores.

E, apesar da vasta escuridão da casa, as longas janelas dos corredores proporcionavam uma vívida luz, vinda do lado de fora.

Me vi curiosa.

Me aproximei de uma das janelas, procurando pela fonte de tanta luz.

A lua.

Apesar da forte chuva, as nuvens pareciam se afastar da imponente lua cheia que iluminava o céu.

As gotas de chuva continuavam a cair incessantes, mas apesar disso, a lua ainda brilhava acompanhada das estrelas e, o céu parecia muito mais azul escuro, do que uma completa escuridão deprimente.

Era bonito de se ver.

"Eu quero voltar a limpar as janelas com você."

Família. F-a-m-í-l-i-a.

A tanto tempo não escutava alguém dizer isso, sem ser se referindo a Máfia Moretti.

Essas organizações não deveriam se intitular como famílias, eles não merecem, não tem a menor noção do que família significa.

Mas, aqui...

"Nós somos uma família, todos se ajudam aqui. Né?"

Eles parecem compreender, talvez, até melhor do que eu.

Inferno. O quanto eu me perdi desde que me envolvi com aqueles trabalhos, com aquelas pessoas?

Eu esqueci o que família significa?

"É claro. É importante que você saiba, minha filha. Eu e sua mãe vamos fazer de tudo pra te proteger. Nós somos uma família, abençoados e cheios de amor."

Mãe, pai...

M-merda! Nem eu sei mais o que quero dizer com minhas próprias palavras, o que passa na minha cabeça quando penso neles...em meus pais, nos empregados, que seja!

Tudo anda tão confuso, difícil.

O que eu deveria...


Tum, tum, tum, tum...


Um som chamou minha atenção, um som distante e contínuo que parecia cada vez mais alto.

Olhei para o outro lado do corredor.

Sapatos, luz, passos. Uma visão que me fez estremecer em certo desconforto.

Sapatos que batiam contra o piso em seus passos, criando o som. Luz, uma luz quente, proveniente de um candelabro aceso, carregado por mãos enluvadas.

Um fraque transpassado, luvas, uma figura alta e larga em seus ombros, cabelos negros, olhos bordô. Sebastian.

Pela primeira vez em meses, havia um aviso em sua aparição, pela primeira vez, ele não foi repentino em aparecer por trás de meu corpo, como uma assombração. Não. Ele vinha a passos lentos, calmos e em sua postura impecável e silenciosa, trazendo luz consigo.

Senti calafrios subirem por meu corpo.

Acho que, estranhamente, prefiro da forma como costumava ser.

Cada vez mais e mais próximo, em minha direção.

Não, não, não. Não poderia ser. Ele não viria atrás de mim, não depois de tudo que...

- Boa noite.

Sim, ele viria.

Engoli em seco, com mil e uma perguntas passando por minha cabeça.

- Boa noite.

Assim que o respondi, ele deixou o candelabro sobre o pequeno apoio de madeira da janela, bem ao meu lado.

Só se ouvia a chuva.

- Está frio.

Ele dizia de forma tão neutra, não esboçava nada.

- Eu sei.

Meu coração pareceu acelerar.

Não, não posso deixar que comece. Eu preciso sair daqui.

- Poderia saber o que a senhorita faz aqui a esta hora?

- E você se importa?

Ele não respondeu.

"Eu não conto mentiras, senhorita."

Eu preciso mesmo sair daqui.

- Veja bem, como um mordomo exemplar, não posso permitir que a situação se mantenha como está. Acredito que algumas palavras que foram ditas a...

- Cale a boca. - Balancei minha cabeça em total negação. Não posso permitir. Não posso deixar que ele se quer tente começar a falar, de jeito nenhum.- Eu não quero te ouvir.

"A presa que não foge é desatenta, ou simplesmente não se importa. E, pelas circunstâncias, a senhorita se manteve exatamente aonde esteve este tempo todo, sem proferir um verdadeiro e firme "não", até chegarmos onde estamos."

Senti meu peito apertar.

E apesar da relutância e agonia que circulava como um alerta por meu corpo, uma briga interna parecia começar. Em embate a relutância, meu peito batia acelerado e minhas mãos pareciam suar frio, os calafrios em meu estômago e arrepios que subiam pelos pelos de meus braços pareciam se proliferar, respirações mais profundas acompanhadas da sensação de nervosismo tomavam um lugar em minha fisionomia.

Me sentia completamente perdida, nervosa. Meu corpo, meu ser, meu consciente, tudo em mim sabia exatamente onde estava se envolvendo, com quem estava se envolvendo. Absolutamente tudo em mim conheciam os perigos do engravatado a minha frente, porém, por alguma maldita razão, a mais lógica das ideias não parecia correta, dar as costas e ir embora não parecia certo, ou melhor, não parecia ser o que meu corpo pedia.

Por que pedir por isso? O que tem de errado comigo?! Por que as coisas chegaram a esse ponto?!

- Nós devemos...

- Você não me entendeu? - Tentei me manter firme. Meu corpo seguia como uma locomotiva sem condutor, totalmente descontrolado, entre sensações confusas, batimentos acelerados e pensamentos desconexos. Que desespero, que desespero! Eu preciso aguentar, tenho que aguentar. - Eu não quero te ouvir, nem mesmo uma palavra. O que você mais você acha que tem a me dizer? Você já não conseguiu o que queria de mim? Não foi o suficiente?

- Senhorita Amelia? - Ele pareceu perceber a angústia em meu rosto. Droga. - a senhorita está...

Suas mãos.

Seus olhos.

Sua boca.

Sua voz.

Seus cabelos.

Seus ombros.

Seu sorriso.

Seu ser, ele por completo, ele em um total, em sua soma cem, Sebastian por completo. O mordomo de preto, o mordomo Phantomhive, Sebastian Michaelis, Sebastian, simplesmente Sebastian!

Eu estou enlouquecendo.

Cale a boca, cale a MERDA da sua boca.

Desesperada e como se fosse minha única salvação, o agarrei pelas golas de seu fraque.

Eu o beijei!

- Eu te odeio... - Era tudo que conseguia pronunciar entre nossos lábios e entre lágrimas nada discretas. Eu já não sabia mais o que fazer. - eu odeio sua voz, odeio sua arrogância, suas inteligência, suas palavras sarcásticas, suas mãos, seu rosto, sua boca, tudo. Eu, e-eu odeio tanto que... - Fraca, separei um pouco mais nossos lábios, descansando minha cabeça em seu peito. - que às vezes, não sou capaz de pensar em qualquer outra coisa.

- Senhorita Amelia... - Como costumava fazer, seus dedos alcançaram meu queixo, o inclinando e levando nossos olhos a se encontrarem. - inferno, - seu corpo se inclinou em minha direção, ele bufava, como se resistisse a algo e se segurasse. - honestamente, não estou em meu melhor estado.

Era capaz de sentir meu coração bater forte contra meu peito, e arrepios correrem da ponta dos dedos de meu pé, até todo o resto de meu corpo, até cada fio de cabelo.

Eu o desconcertei assim? Me pareceu tão estranho...esquisito. Como se possuísse mesmo o poder de causa algum efeito, qualquer um que fosse, sobre ele.

Era dramático, e nunca havia pensado algo assim. Ninguém nunca havia agido assim em relação a mim.

- A senhorita estava certa... - Seus dedos correram a meu rosto, afastando uma mecha avulsa e rebelde. Senti arrepios em pensar que seus dedos tocavam meus cabelos, mas, diferente de muitas outras vezes, não havia medo. Por que não havia?! - agi de forma repugnante, detestável. - Ele sorriu. - O que lhe dá total direito de retribuir.

Choque. Um completo choque me percorreu ao ouvir as palavras correrem pela língua de Sebastian. "Repugnante", "detestável", nunca imaginei que o veria dizer algo assim sobre si mesmo. Era estranho, algo que não achei que presenciaria algum dia.

Talvez seu desequilíbrio fosse genuíno. Será?

"Eu não conto mentiras, senhorita"

Arrepiei por completo.

- O que quer dizer com isso?

- Quero dizer que, se a senhorita acredita que lhe usei... - Ele levou minhas mãos ao nós de sua gravata, me pondo prestes a desfazê-lo. - faça o mesmo comigo. A seu bel prazer, da forma que quiser.

Usá-lo?!

"Usar" e "Sebastian" no mesmo pensamento soava algo tão "sujo", para mim.

Mas, ao mesmo tempo, parecia interessante, instigante, perigoso...

Eu desejava saber, queria provar, descobrir como seria.

Sem dúvidas, eu estava fora de mim.

Cinquenta e sete dias, este é o tempo que vivo nesta casa. Falando soa tão pouco. Mas, esses cinquenta e sete dias tem sido o suficiente para revirar minha vida completamente, suficiente para tornar tudo caótico.

A tal ponto, já não sei mais meu próximo passo, para onde irei, como irei, com quem irei! Nada mais parece claro!

E, nem mesmo o mais óbvio, nem mesmo aquilo que foi avisado a mim, parece fazer sentido.

"Fique longe de Sebastian."

A frase ecoou em minha cabeça, com a voz do Jovem Mestre. A frase vinha clara em minha mente a cada segundo a mais que encarava os olhos bordô em minha frente.

Era claro e objetivo, e mesmo assim, naquele

Mas, talvez eu seja hipócrita, talvez eu seja egoísta comigo mesma a ponto de não me importar com o que possa me acontecer depois, com o que pode me acontecer caso continue com tudo isso. Talvez eu seja tão parecida com ele, quanto imaginava.

"Você, Amelia, não é uma idiota, você é inteligente, engenhosa."

"O fato é, use de sua inteligência e preserve a si mesma. Não perca tempo com ele."

Sim, Jovem Mestre, eu sou inteligente, esperta, perspicaz. É um erro, uma ideia idiota, tão óbvia e claro quanto o sol.

E eu sempre odiei erros, sempre odiei errar.

Mas, infelizmente, independente de toda a minha inteligência, moral e perspicácia, há algo muito maior.

Cansaço.

Eu estou cansada, tão cansada de tomar a frente de tudo, de estar sempre tão alerta e pensando em milhões de possibilidades para milhões de situações, cansada das constantes regras, destes jogos malditos, desta missão, de mentir e ouvir mentiras. De tudo.

Eu quero, por um instante ou por algumas horas, ser tola.

Fingir e esquecer quem Sebastian é, e pensar unicamente no prazer.

É hipócrita, não? Soa como algo que ele faria.

Talvez, assim como o ódio, esta maldita atração indesejada tenha surgido daí, das semelhanças.

É tragicamente irônico.

Dane-se, para o inferno, que se explodam as regras, os valores e todo o resto.

O agarrei firmemente por seu braço, como se fosse tudo que me restasse, e de certa forma, por hora realmente era.

- Me leve a algum lugar, um lugar onde não nos ouvirão e um lugar que seja escuro o suficiente para que eu não tome consciência do que estou prestes a fazer. E não espere que eu lhe peça "por favor" para isso.

Ele sorriu, sorriu da exata forma que imaginava.

- Sim, senhorita.

No mesmo instante e sem qualquer interação, o candelabro próximo a nós se apagou, voltando a deixar a iluminação nas mãos da lua, ao lado de fora.

Agarrada a seu braço, o acompanhei pelos corredores, apressada. Eu olhava para o frio e bem polido piso que parecia interminável, me concentrando nos sons da chuva e andando o mais rápido que podia, na esperança de evitar qualquer pensamento invasivo que fosse minimamente racional ou lógico.

Paramos em um dos quartos de hóspedes.

Com a mínima pressa, Sebastian levou sua mão à maçaneta.

Ele queria que demorasse. Não, não cabia a ele escolher.

Me sobrepus e me intrometi, girando a maçaneta rapidamente e o puxando para dentro, pelas mangas de seu fraque.

Qualquer coisa que acontecesse em seguida, não caberia mais a minha consciência decidir.

Estava completamente à mercê de desejos e vontades que podem ser tolas a qualquer ótica, mas ainda assim, eram vontades e desejos, que doíam, gritavam, causavam fome.

Eu não suportava mais ignorá-las.

Me inclinei para beijá-lo, mais uma vez.

Éramos brutos, sedentos um pelo outro, pelo menos era como me sentia.

Pela primeira vez os lábios de Sebastian pareciam mais doces e macios, convidativos ao toque e ao beijo como nunca foram antes. Ou talvez, eu simplesmente nunca tenha notado. Soavam arriscadamente saborosos, embriagantes, ardilosos.

Os pensamentos pareciam se embolar e a coordenação de meu corpo parecia se descompensar conforme focava todo o meu ser em nossos lábios. Sua língua procurava insaciavelmente pela minha e, ainda assim, me dando a liberdade para mover-me da forma que bem quisesse, e explorá-lo como quisesse.

Dê olhos fechados, ouvi o ranger lento da porta, seguido da batida de seu trinco contra a parede.

Estávamos trancados e a sós, e eu não sabia o quanto isso poderia me aterrorizar, ou me envolver ainda mais.

Seja tola Ayuni, tola por pelo menos uma noite, algumas horas.

Aos poucos, a pressão que o corpo de Sebastian exercia sobre o meu se tornava maior. Os ombros largos pareciam me engolir e as mãos que, custei perceber, tocavam minha cintura, passavam a exercer uma certa força para trás.

Minha primeira reação foi tentar mover meus pés, lentamente, para trás.

E assim segui, completamente concentrada em nossos lábios e fazendo meu possível para não cair para trás ou perder o equilíbrio, já descompensado, de meu corpo.

Como e por que ele era capaz de causar algo assim?

Não. Não pense, não importa, pelo menos, não agora.

Seguíamos andando, e eu não questionava ou procurava saber para onde estávamos indo. Preferi manter meus olhos fechados e ignorar a dor que passei a sentir em meu pescoço, de tanto inclinar-me para alcançar o maior.

Tudo parecia mais quente, apesar de ser uma noite especialmente mais fria.

A camisola já incomodava e as luvas de Sebastian pareciam ferver sobre minha cintura. E toda a quentura parecia tão interna quanto externa. E eu sabia que conforme permitisse que as coisas seguissem como seguiam, o fervor aumentaria e pioraria.

Eu queria senti-lo, queria encontrá-lo mais uma vez.

Encontrar o calor inatural que Sebastian, e acho que, apenas Sebastian, é capaz de me causar.

Não importa o quanto isso me indigne, o quanto não suporte a ideia de saber que ele é capaz de causar, o que quer que isto seja, em mim e em meu corpo, não importa o quanto eu o odeie.

Não irei questionar.

E, de repente, senti as partes de trás de meus joelhos se chocarem contra algo macio, me fazendo perder o equilíbrio por míseros segundos, antes das mãos de Sebastian me segurarem com uma força excepcional para me segurar.

Nossos lábios se separaram e voltei a seus olhos vermelhos, que me encaravam relaxados e desejáveis por algo. Novamente, suas íris bordô pareciam brilhar na escuridão, e desta vez, sinto que não é apenas uma impressão minha.

Isso deveria me espantar?

- É uma cama confortável demais para ficar de pé.

Ao ouvi-lo, olhei para trás. Eu havia batido contra a cama do cômodo.

Senti calafrios especialmente invasivos e brutos desta vez. Do tipo que podem assustar e fazer os pés se levantarem por segundos.

Voltei minha atenção a ele, que seguia parado com a mesma expressão e suas mãos no mesmo lugar, agindo ironicamente por um real mordomo que espera por qualquer ordem que seja

Soava diferente do "Sebastian" com o qual havia me acostumado. Era estranho.

Os calafrios me deixavam mais nervosa, e então meu peito parecia mais pesado, cada batida parecia um soco contra a parte interna do mesmo, meus joelhos perdiam a força por alguma razão desconhecida e minha mente não sabia qual seria o próximo passo a se processar

Completamente perdida, seu um norte ao qual seguir.

- Não se prive de dizer quaisquer que sejam suas vontades... - Suas mãos se afastaram de minha cintura, indo para trás de suas costas e assumindo sua pose de "mordomo polido" a qual sempre detestei por faze-lo parecer mais esnobe do que sempre foi. - estou completamente disposto a realizá-las.

Dane-se.

Me arrisquei em levar minhas mãos a sua nuca, me pondo na ponta dos pés para alcançá-lo e selar nossos lábios mais uma vez.

Com minhas mãos em sua nuca, tentava "puxá-lo" para baixo. Ele não demorou entender.

Aos poucos me pus em minha altura normal, com Sebastian se inclinando em minha direção, diminuindo a diferença de altura.

Mais.

Seguia o puxando mais, e mais, até que pude me sentar na cama.

Seu corpo seguia totalmente inclinado em minha direção, ele ainda estava de pé.

O beijo seguia macio e um pouco mais tenso que antes.

Senti um peso a mais sobre a cama quando sua mão direita se apoiou sobre o colchão, próxima demais a minha coxa.

De repente a língua de Sebastian pareceu tomar uma investida maior, se movendo mais faminta e me dando pouco espaço.

Não demorou muito para a esquerda chegar a minha cintura.

Senti que precisava de espaço para respirar, mas sua boca não permitia.

Sua mão direita se apoiou do outro lado do colchão, me cercando.

Sebastian mordiscou meu lábio inferior. Não soube com reagir. Senti algo úmido escorrer pelo canto de minha boca, saliva. Tentei aproveitar os míseros segundos para respirar, mas, não duraram muito.

Em questão de segundos senti uma de suas mãos enluvada chegar a minha coxa.

Meu peito batia acelerado, meus pulmões pareciam se esforçar como nunca e o sangue que meu coração bombeava corria agitado.

Ele a apertou, e a separou, abrindo um espaço entre minhas pernas.

Tola, tola por uma noite. É o que eu quero.

O peso se tornou maior quando Sebastian apoiou seu joelho no meio de minhas pernas, se pondo ainda mais sobre mim.

Cada vez mais sem saída, e eu não pretendia procurar por uma.

A camisola parecia ferver e colar na minha pele.

A tal ponto, nosso beijo soava muito mais como uma grande bagunça que envolvia duas línguas sedentas.

As investidas e aproximações de seu corpo sobre mim e a cama se tornavam cada vez maiores, o espaço entre nós se tornava cada vez menor e o ar, cada vez mais húmido e quente. Eventualmente, por conta das investidas, eu me deitei.

Minha cabeça pousou no colchão macio e meu pescoço dolorido pareceu agradecer.

Sebastian estava, finalmente e completamente, por cima de mim. Seus ombros pareciam criar uma sombra sobre mim e os fios de seus cabelos tocavam minha testa e os cantos de minha bochecha.

Era uma visão diferente, totalmente diferente. E eu sabia pois, apesar de beija-lo, me pus a abrir os olhos por mera curiosidade de vê-lo daquele ponto.

Senti minhas bochechas queimarem.

- O que está espiando?

Ele separou, rápido e desavisado, nossos lábios. Mal pude processar.

- Como sabia que estava com meus olhos abertos?

Fiz meu melhor para me manter firme.

- Sei de muitas coisas.

- Ou acha que sabe.

- Deseja debater este tópico agora?

Obviamente, olhando para a nossa situação, não valia a pena.

- Não.

- Hm, - Ele serviu um sorriso maliciosamente satisfeito. - uma escolha perspicaz. Porém...

- "Porém", o que?

- Sinto que a senhorita está um pouco tensa. Deveríamos solucionar esta questão. E sei como.

"Então a faça". Foi o que cogitei responder.

Mas, conclui que o silêncio seria a melhor das opções. Questioná-lo só dará papo para mais de seus jogos.

Não quero jogos, quero atos.

Seu rosto se aproximou mais uma vez, mas desta vez não mirou minha boca.

Ele seguiu o caminho ao meu pescoço.

Em poucos segundos senti o contato quente e úmido de sua boca em minha pele. Mais arrepios surgiram, e soavam tão bons que poderiam me indignar.

Sua língua trabalhava em carícias úmidas e sucções leves que eram estranhamente prazerosas de se sentir.

E em pouco, notei meus ombros relaxarem e minhas pálpebras parecerem mais leves. Respirei fundo e ofeguei.

De pouco em pouco sua boca explorava outros cantos da área sensível, dos cantos de minha orelha a perto de minha mandíbula, á minha clavícula e indo até um pouco mais distante, explorando um pouco de meu ombro.

Ele parecia querer tudo.

E eu...

"Tudo se tornou um choque de espanto quando senti uma dor absurda em meu pescoço. Doía e latejava, era horrível!"

"Tentei tocar a região que doía, mas senti outro choque de dor!"

"Uma mordida, que sangrava. Não dava para acreditar. O desgraçado havia me mordido!"

Eu estava cogitando ideias absurdas, que fugiam de qualquer pensamento lógico.

O que, de certa forma, era o que eu desejava.

Não estou me reconhecendo, e não me orgulho disso.

- Me morda.

Os olhos de Sebastian encontraram os meus em uma rapidez fora do comum, de sua parte.

- Perdão?

- Me morda.

Repeti friamente, no mesmo tom anterior.

- Senhorita...

- Apenas faça, e não me arranque sangue.

Ele pareceu sair de surpresa e extremamente satisfeito.

- Ora, ora... - Ele pareceu ter algo a mais a dizer, algo que só por sua expressão, já soava sujo. - como desejar.

Mas, não o fez.

Sua boca voltou ao meu pescoço, e em uma pressão maior, senti seus dentes cravarem minha pele.

E de uma hora para a outra, a maré de calor pareceu virar um mar violento e ardente. O toque e a pressão causavam uma dor sem sentido, uma dor que não se parecia com dor, uma pressão a beliscar minha carne a um ponto arriscado, soava perigosa e prazerosa ao mesmo tempo.

Uma dor que com uma dosagem errada, poderia se tornar realmente dolorosa. Era perigoso e, por alguma razão, extremamente bem vindo e recebido.

- Ah...

Suspirei alto, desavergonhada. Em algum ponto provavelmente existia alguma pequena semente de raiva em mim, uma semente que se indignava em saber que estava me entregando a aquele prazer, me dando a liberdade até mesmo de verbalizá-lo. Eu não vou negá-la.

Me sentindo à vontade e perdida no prazer e nas sensações estranhas que percorriam e deixavam seus feitos por meu corpo, levei minha mão a nuca de Sebastian.

Deixei que meus dedos tateassem sua pele com mais atenção. Sua pele era estranhamente fria e pelo tato, seu pescoço parecia rígido, nada sensível, bruto. Bruto demais para sua aparência.

Que tipo de corpo existe por baixo de tantas camadas de roupas, palavras egocêntricas e um comportamento tão falsamente cortês?

Me permiti ir um pouco mais distante, levando as ponta de meus dedos aos cabelos de sua nuca.

Que me lembre, nunca havia tocado seus cabelos, ou me atentado a eles.

Eram macios, sedosos e um tanto finos até.

Acho que nunca havia me atentado aos mínimos e microscópicos detalhes de Sebastian.

Sinto que quero conhece-los, vê-los de perto, ao mesmo tempo que sinto que não deveria.

Mas, eu realmente quero.

Não imaginei que tantos pensamentos absurdos surgiriam se largasse minha razão e fizesse tudo a favor de minhas vontades. Que desastre, que confusão.

Formigamentos.

Aqueles mesmos formigamentos que me faziam esfregar minhas coxas e erguer os quadris, que me causavam a sensação inexplicável e insaciável que, a pouco tempo atrás, eu não entendia.

Mas, agora, eu entendo.

"O que a senhorita sente não é um 'formigamento', e muito menos, uma 'coceira'. O que a senhorita diz estar sentido chama-se 'desejo'. Nada mais que seu corpo, dando seus próprios sinais de desejo, sinais de excitação."

"Excitação?"

Eu estava excitada. Excitada por culpa dele.

Esse pensamento costumava soar tão absurdo.

E é.

A sensação parecia cada vez maior entre minhas pernas e minha vontade foi contrair todo o meu corpo, principalmente minhas coxas, em resposta. Mas, com as pernas de Sebastian me prendendo, eu mal podia me mover.

Precisava de mais, precisava de alguma coisa!

Precisava de...

"Quero dizer, que posso usar minha língua para satisfazê-la."

"É natural que esteja assustada, mas posso garantir a senhorita, o prazer que pode lhe proporcionar é inimaginável, e, bem como disse antes, se a senhorita permitir, posso fazê-la a ver estrelas."

Eu precisava dele. Precisava das coisas que sabia fazer com sua boca.

- Ei... - Por alguma razão, saber o que diria em seguida me constrangeu o suficiente, ao ponto de não querer chamá-lo pelo nome. - quero que faça "aquilo".

Ele voltou seu rosto a mim, entortando um pouco sua cabeça e deixando que os cabelos se deslizassem para o mesmo lado.

Senti minha respiração falhar, sem razão aparente.

Esse desgraçado é detestavelmente lindo.

- Perdão, mas a senhorita terá de ser mais clara.

- Eu estou sentido "aquilo" de novo...

As palavras se embolavam na minha garganta, relutantes em sair.

- "Aquilo"?

Merda.

A cada vez que olhava em seus olhos me sentia mais constrangida.

Joguei minha cabeça para o outro lado, evitando olhar em seus olhos, com a ideia de que não vê-lo me ajudaria a falar.

Preciso falar, consigo falar...

- Excitação.

Um silêncio de poucos segundos, que para mim durou minutos, se instalou e meu corpo todo pareceu se contorcer em vergonha. Me mantive estática, evitando olhar em seus olhos.

- Oh, entendo. Os tais "formigamentos", hm? - Seus dedos se esgueiraram por minha bochecha, trazendo meu rosto de volta e me pondo a olha-lo nos olhos e, de uma hora para a outra, seu olhar parecia assustador, assustadoramente brilhantes e famintos. - E como a senhorita deseja que eu resolva esta questão?

Engoli em seco.

- Está se fazendo de idiota?

- De forma alguma. Consigo entender o que a senhorita quis dizer, fique tranquila.

- Se sabe do que estou falando, p-por que não faz de uma vez?

- Francamente, sei que não estou em posição de exigir qualquer coisa... - Suas mãos passaram a deslizar por minhas coxas, ambas. Senti cada pelo meu arrepiar, e algo se tornar mais quente entre minhas pernas, mais úmido. Ú-úmido?! - mas, seria realmente incrível se pudesse ouvi-la pedir, mais uma vez e com clareza. Eu posso?

Sua voz soou mais macia e manhosa que o normal, de forma que nunca havia visto.

Ah, merda! Por que ele tem que ser assim?! E por que esse pedido soou tão bom?

Ele é uma maldição.

Só por uma noite, eu deveria me entregar?

- Eu quero que você use sua língua... - Tentei me manter firme, o mais firme que pude em minha fala. - como fez da última vez.

Ele pareceu extremamente satisfeito, e suas mãos respondiam junto a ele, apertando um pouco mais minhas coxas.

O conhecendo, seus lábios pareciam ter muito o que falar, com suas brincadeiras sujas e jeito arrogante e maliciosos de responder e explicar didaticamente e prazerosamente qualquer coisa que tivesse a ver com o sexo. Me ver pedindo algo assim deveria ser um prato cheio para...

- Como quiser, senhorita Amelia.

E, ele não disse nada. Soava completamente diferente do normal.

E, de repente, suas mãos correram para a parte interna da minha coxa, as arrastando e dobrando minhas pernas, as mantendo afastadas. Seu tronco se inclinou até mim, mais uma vez, e seus lábios foram até minha clavícula.

Beijos e lambidas desavergonhadas e quentes se distribuíram por cada canto possível, e seguiam uma linha que pretendia descer por meu corpo.

Antes, em minha clavícula, com beijos simples e as mesmas lambidas quentes.

E, sem aviso, seus dentes agarraram perfeitamente a gola de minha camisola, a puxando para baixo, como se não fosse nada, e fácil.

Me senti indefesa quando tive o vislumbre de meu seio esquerdo a mostra, com os olhos de Sebastian fixos no mesmo.

Me senti tomada por vergonha, afundando minha cabeça no colchão e olhando para o teto branco.

Como tudo poderia ser se eu simplesmente não olhasse? Se apenas sentisse?

A vergonha me tomou ao ponto de querer fazer o teste.

- Sabe que não precisa se esconder. - Ainda olhando para o teto, ouvi apenas a voz mais macia, e ainda grave, de Sebastian. - Não precisa esconder seu rosto de mim.

- Não diga como se tivéssemos intimidade...

- E o que temos então?

- Temos o que está acontecendo agora. Você vai me deixar sentir, ao invés de me forçar a assistir seu "espetáculo"?

- Hm... - Ele soltou um pequeno riso do fundo de sua garganta, discreto. - da maneira que preferir.

Respirei fundo e então, voltei a respirar pesadamente ao sentir o contato de sua boca com minha pele mais uma vez, uma pele mais sensível.

Sua boca estava em meu seio, o beijando e...

O chupando?!

Inconscientemente, vi meus bicos se ariçando com a forma como ele usava sua boca.

Ele não tirava os olhos de mim.

Sem demorar muito, ele desceu com sua boca e voltou a ir em direção ao lugar que realmente interessava.

Os tecidos da camisola subiam cada vez mais, e quando mais perto, mais nervosa me sentia. Eu ainda podia sentir as batidas do meu coração contra meu peito.

As mãos de Sebastian separaram minhas coxas e ele ergueu suas sobrancelhas quando encarou minha intimidade.

Ele sorriu, seus olhos pareceram brilhar.

- Sem roupas íntimas?

Sem aviso, ele lambeu.

- Ah! - Cobri minha boca, me impedindo de fazer outro barulho mais alto. - Hm...

- Não imaginei que viesse preparada.

- Não fique se achando...n-não é isso.

- Isso pouco importa agora. - Ele lambeu os próprios lábios. - Apenas aproveite o "espetáculo".

Ele mergulhou sua cabeça entre minhas pernas e começou a usar sua língua de vez. Meu corpo pareceu perder seu controle e de repente nenhuma sensação era tão forte quanto aquela. Era inexplicável.

Porra...

Eu tentei me segurar, realmente tentei, mas já não era mais capaz de perceber o quanto estava arqueando meus quadris para ele, o quanto meu peito subia e descia, o quando os gemidos e altas respirações eram óbvias para ele.

O quanto eu me deixei derreter na boca de Sebastian.

- HM! - Tapei minha boca rapidamente quando senti algo diferente, quando Sebastian focou no meu maior ponto de prazer, meu...clitóris? Merda, era realmente sensível! - S-Sebas...

De repente, ele ergueu sua mão até meu braço e o afastou de minha boca com gentileza.

Ele queria me ouvir.

Sem parar com sua língua, ele me olhou no fundo dos olhos, como se encarasse minha alma.

Senti meu corpo arrepiar de novo e por alguma razão...isso me fez sentir mais sensível, lá. Um simples olhar, dele. É assim? É esse o efeito que ele pode ter sobre mim?

Antes que pudesse pensar mais, senti sua língua se agitar ainda mais e fazer movimentos mais rápidos. Gemi, mais alto que deveria e poderia.

Nem eu sabia que poderia fazer isso.

Conforme ele continuava, sentia algo subir pelo meu corpo. Como uma explosão. Um choque prazeroso.

Orgasmo...

Senti minha cabeça ficar em branco.

Nenhum pensamento;

Consequência;

Preocupação.

As mãos de Sebastian apertaram ainda mais minhas coxas. Sua língua não parou nem um segundo. Seus olhos não fugiram dos meus. Meus pensamentos nublaram. O quarto estava fervendo.

Sem pesar muito, meus dedos foram aos cabelos de Sebastian e agarraram seus fios, com força.

Tudo, por causa dele.

O choque veio. Assim como a explosão.

Meus quadris arquearam, minha boca soltou seus últimos sons esperançosos, cheios de súplica e prazer, joguei minha cabeça para trás, contra o colchão. Não soltei os cabelos de Sebastian, ele não soltou minhas coxas.

Ele diminuiu o volume aos poucos, cada vez mais calmo, mais lento, até sentir os últimos toques de sua língua em mim.

Minhas costas voltaram ao colchão, fechei os olhos e deixei todo meu corpo relaxou completamente.

Enquanto recuperava minha respiração e aproveitava o quão leve meu corpo parecia, lembrei de algo importante.

Me levantei um pouco e apoiada em meus cotovelos, olhei entre minhas pernas.

Sebastian estava encarando mas, não simplesmente me encarando.

Ele estava me comendo com os olhos. Me fitava de cima a baixo como se sentisse fome. Como se estivesse prestes a morder um pedaço de mim, arrancar e mastigar.

Era assustador, eu sabia disso, mas po alguma razão, o medo não veio até mim.

Não movi nem um músculo, assim como ele.

Me sentia uma preza.

Engoli em seco, pensando em quebrar o silêncio.

- O que você quer?

- Eu? - Ele entortou a cabeça para o lado, de forma boba e...sinistra. - Esperando sua próxima ordem.

- Você está levando isso a sério demais.

- Eu levo tudo a sério.

-... - Não sabia exatamente o que dizer. Me ajeitei no colchão, tentando ficar mais confortável e arrumando meu penteado desgrenhado. Ele continuou lá, parado. - Você é tão exagerado.

Era difícil raciocinar, saber exatamente o que dizer. Eu ainda estava me recuperando, ofegando e tentando respirar mais devagar.

- Isso significa que posso fazer um único pedido?

Arqueei uma sobrancelha. Ele realmente estava determinado com essa ideia de receber ordens.

Assenti com a cabeça.

Passando a língua pelos lábios, ele deu passos em volta da cama, saindo de sua beira e indo até o lado em que eu me deitava, continuando de pé.

Comecei a ficar nervosa, de novo.

Ele ergueu seu braço até mim e agarrou minhas bochechas com força, de forma que me fez inclinar mais até ele! Se antes não estava com medo, agora estava começando a ficar.

- Ei! O q-que você...

- Eu quero beijá-la.

Ah?

- Como?

- Eu quero beijá-la, agora.

Seu corpo continuou estático, como se esperasse por minha aprovação

Eu podia sentir suas mãos tremendo contra minha pele. Era como se estivesse se controlando.

- Eu não estou te dando ordens.

- Hm...isso foi um "sim"?

Sorri, tão irônica quanto ele.

- Me diga você, "Sherlock". O que acha?

Sem resposta, ele se inclinou até ficar à minha altura, selando nossos lábios mais uma vez.

Era mais calmo e menos voraz, mas ainda assim, não parecia satisfeito, ou saciado.

Ele se inclinou cada vez mais, em resposta meu corpo deitou contra a cama mas uma vez, senti o peso de suas pernas contra a cama, seu peito contra o meu e seu quadril tocando o meu.

Suas mãos se fixaram em minha cintura mais uma vez e...

Abri os olhos. Abri os olhos em espanto quando senti alguma coisa dura contra minha barriga.

Eu sabia o que era.

Meu coração disparou.

Sebastian parou de me beijar e foi ao meu pescoço, mas a tal ponto eu não conseguia focar no que ele estava fazendo.

Merda, merda, merda, MERDA!

E agora?! Eu...e-eu não sei. Não sei se quero fazer isso. Se sei fazer isso. Se...

- Senhorita Amelia, - Sebastian levantou a cabeça e olhou para mim, seu rosto estava rente ao meu. Eu podia sentir sua respiração e suas mechas de cabelo tocando minha testa. Aquele ângulo o deixava...bem. - consigo sentir o seu coração. - Ele falava entre respirações ofegantes e sussurros que deixavam sua voz ainda mais rápido. - Está disparado. Tem algo errado?

- Você, v-você está, eu, olha eu...

Como se não fosse nada, Sebastian abaixou a cabeça e olhou para baixo, encarando seu próprio membro duro.

- Oh...isso. Que inconveniente. - Sebastian simplesmente me soltou e se levantou. - É rude de minha parte perder o controle dessa forma. - Ele começou a arrumar seu fraque. - Além disso, a senhorita já me deu a permissão que queria. - Completamente arrumado, sem sequer um fio de cabelo fora do lugar, ele se aproximou e arrumou a alça completamente torta de minha camisola. - Acredito que seja melhor para a senhorita se pararmos por aqui, certo?

Fiquei estranhamente surpresa.

Quer dizer, s-sim, eu me espantei mas, não era exatamente essa a reação que eu esperava dele.

- Você não vai...tentar me convencer?

Pude sentir minhas bochechas ficando vermelhas.

- Te convencer? - Ele arqueou uma sobrancelha, como se eu tivesse dito um absurdo. - É claro que não. Eu jamais tiraria sua virgindade a força. Seria um desperdício.

Eu poderia MORRER de vergonha naquele momento! Como ele pode se sentir t-tão certo sobre a minha virgindade?! E, "desperdício"?! O q-que ele quer dizer com isso?!

- Eu, e-eu não...

Estava sem palavras.

Paciente, Sebastian tirou seu relógio do bolso e conferiu a hora por alguns segundos.

- Está ficando tarde. - Ele deu as costas, fazendo menção de sair. - Nós devemos...

- Espera. - Sem pensar nisso, o segurei pela manga do fraque! - Você...v-você vai sair assim?

- Isto? Vai passar. Não se preocupe.

Não parecia...certo.

Me senti em um impasse.

Ele me satisfez, me tocou mais de uma vez.

Eu nunca cheguei a fazer o mesmo, nunca da mesma forma. E, d-de qualquer forma, eu sei como fazer isso?

É óbvio que eu não sei.

Porra...que ideia idiota!

Sinto que não estamos na mesma página. Que isso não está...justo.

Apesar do nervosismo, uma curiosidade comum invadiu minha cabeça.

Ele sentiu prazer em qualquer uma das vezes em que estivemos juntos? Afinal, eu nunca cheguei a tocar o corpo dele, eu nunca fiz nada para ele.

Como era, como deve ser, o jeito dele de sentir prazer?

Ele ofega? Faz barulhos? Treme? Como ele é por baixo de toda as suas camadas?

Como ele...tem orgasmos?

Respirei fundo. Muito fundo.

Me levantei da cama.

- Você não precisa ir embora assim.

Sebastian me lançou uma expressão genuína de surpresa. Algo raro de se ver, vindo dele.

- A senhorita está se sentindo bem?

Senti ainda mais vergonha.

- Não dificulte as coisas! - Virei o rosto, olhando para o outro lado, talvez assim fosse mais fácil dizer. - Eu só...não acho justo. Sempre que nós, quer dizer, q-quando estamos juntos é sempre só sobre...mim.

- Oh...acho que entendi. A senhorita quer equiparar as coisas?

Sem dizer nada, assenti com a cabeça.

- Adorável.

- Mas, rem uma coisa! Eu não, n-não quer fazer... - Engoli em seco. - sexo. Eu não quero fazer isso. Quero fazer de outro jeito.

- Entendo. - Ele deu alguns passos, ficando mais perto. - Pode olhar para mim?

Me virei mais uma vez, o olhando nos olhos.

- Sabe como fazer isso?

- Não.

- Bom, não irei impedi-la de descobrir.

- Espera mesmo que eu faça isso sozinha? - O agarrei pelo braço e me aproximei ainda mais. - Me mostre como fazer.

Um silêncio mortal e duradouro se fez.

Sem palavras, ele se sentou na cama e estendeu a mão a mim.

- Como quiser.

















[...]












- Oi...

- AH! - Bard deu um pulo do banco! - M-Mey-Rin?! - Ele jogou o cigarro longe! Parecia tão nervoso! - O que você tá fazendo aqui?

- A-ahm, eu... - Abracei meus braços com mais força. Estava muito frio! - eu perdi o sono. E você, por que veio pra fora? Não parou de chover ainda, você pode pegar um resfriado.

- Eu não ligo muito pra chuva. Só queria ficar um tempo sozinho, fumar um pouco...

- Entendi. - Olhei para os lados. N-não tenho a menor ideia do que dizer, mas, acho que ele quer ficar sozinho. - Bom, eu vou te deixar em paz.

- Não! Quer dizer, não precisa. Pode ficar. - Ele deu um pouco mais de espaço no banco de pedra que sentou. - Senta ai.

- Mas, a chuva...

- É só um chuvisco. Não vai te fazer mal.

- Hm... - Hesitei um pouco, mas no fim, cheguei mais perto e sentei do seu lado. - obrigada.

- De nada.

Ficamos quietos por mais tempo. E-eu não sei o que posso falar! N-não sei direito o que deveria...

- Então, - Ele passou a mão nos cabelos loiros, esfregando. - como foi seu dia?

- N-nada demais.

Eu preciso falar, eu preciso falar, eu preciso falar! Talvez...se eu tiver mais atitude.

- O meu também. Foi bem chato. Deu até pra...

- BARD!

Ai! Acho que gritar não tem nada a ver com atitude!

- AH! Q-QUE ISSO, MULHER!?

Q-que coisa! Eu não devia ter gritado! Ele me olhou com cara de assustado!

- D-desculpa! É que, tem uma coisa que eu, e-eu quero te falar. - Tirei meus óculos e deixei em um canto do banco. - Hoje eu conversei com a Amelia.

O rosto dele mudou, como se não quisesse conversar sobre isso.

- Sei. E, vocês falaram sobre o que?

- Eu... - Respirei fundo, o mais fundo que consegui! - eu perdoei ela. A gente fez as pazes.

- Ah. - Aquilo não parecia deixar ele muito aliviado. - Ela foi correndo atrás de você, por acaso?

- Não. Eu que procurei por ela.

- Que? Mey-Rin, por que caralhos você deixaria aquilo passar? Ela mentiu pra...

- Bard, eu não ligo.

Ele pareceu surpreso! Suas sobrancelhas se contorceram em um rosto confuso.

- Como é que é?

- Eu não ligo, Bard. O-olha, - Continuei fazendo esforço pra olhar nos seus olhos, mesmo que fosse mais difícil de enxergar sem os óculos. - você, eu, o Finny, todo mundo aqui já sabia que essa, e-essa coisa com o Sebastian não daria em nada. Nunca ia acontecer e eu já deveria ter deixado pra lá a muito tempo. Eu me comportei como uma boba apaixonada sem pensar direito por muito tempo mesmo. Eu já cansei disso.

- Mas, Mey...

- Eu sei que você ficou preocupado comigo, sei que todos concordamos em nunca mentir uns pros outros, mas eu perdoei ela. Amelia é nossa amiga, minha amiga. A gente recebeu ela bem e ela sempre ajudou qualquer um de nós quando precisávamos de ajuda. Vai dizer que ela nunca fez nada por você?!

- B-bem...

- Eu sei que ela fez! Ela fez por todo mundo. É injusto virar as costas pra ela agora, é injusto a gente ser uma equipe e não agir que nem uma. É injusto eu perder a única amiga que eu já tive! - Senti meu peito apertar. Aquilo doía. - Por favor, vamos acabar com isso. Vamos concertar as coisas.

- Você tem certeza disso?

- Bard, você não sente falta de como as coisas vinham sendo antes dessa confusão?

Ele não respondeu. Só olhou pro lado e tirou sua caixa de cigarros do bolso, tirando um da caixa e procurando pelo isqueiro.

- Bard, por favor! - O mais rápido que consegui, segurei suas duas mãos com força. O m-máximo que eu podia. - Por favor, me promete que você vai fazer as pazes com ela, que você vai me ajudar a fazer as coisas voltaram ao normal.

- M-Mey-Rin... - Ele largou os cigarros e deixou as mãos mais leves. - então, você tá mesmo decidida sobre isso?

- Sim! Absoluta! E eu sei que você também sente falta de como as coisas eram.

- Não me desce que você não tá nem um poxo magoada com a sacanagem que ela fez com você!

- Óbvio que eu fiquei, e muito, Bard! Mas, depois que eu pensei sobre o que aconteceu e depois que eu ouvi algumas coisas que a Amelia tinha pra me dizer, eu descobri que eu não tinha mais motivos pra ficar chateada. - Respirei fundo mais uma vez. Meu coração parecia acelerar. - Sabe, eu fui idiota por muito tempo e eu custei entender algumas coisas que estavam na minha cara. É engraçado que, mesmo sendo uma atiradora de elite e tendo olhos muito bem treinados... - Enfim, eu entrelacei nossos dedos e olhei o mais fundo que podia nos seus olhos. - eu não consegui ver que realmente existia alguém que gostava mesmo de mim.

Bard pareceu em choque. Ele abriu bem os olhos e ficou boquiaberto.

É, Amelia, acho que você estava mesmo certa.

"Mey-Rin, há algo que eu preciso te contar."

"O q-que?!"

"O Bard. Ele estava apaixonado por você por todo esse tempo, talvez muito mais tempo do que eu saiba. Ele não tem coragem de dizer, ele não acha que é o suficiente para você e ele não tem a mínima ideia de como demonstrar direito. Mey-Rin, você precisa fazer algo sobre isso. Nem que precise rejeitá-lo para dar um fim nisso, mas, por favor, faça algo por ele."

Não. O Bard não merece a rejeição. Mesmo depois de todos esses anos, mesmo com as brigas, o convívio e todo o resto....ele ainda foi o único que sempre prestou atenção em mim.

Eu fui cega demais pra reconhecer.

Mas, agora que eu finalmente sei...

- Bard, a Amelia me contou. Ela me contou sobre você, s-sobre nós dois.

- Ai...merda! O-olha Mey-Rin, m-me desculpa se pareceu esquisito tá?! Eu realmente não quero que as coisas fiquem estranhas entre a gente e eu meio que, e-eu só não queria que a gente...urg, porra! A gente pode esquecer que isso...

- Ei, ei! Haha! Calma ai! Eu não achei isso ruim.

Ele pareceu bem mais surpreso.

- Não achou?!

- Não. Na verdade... - Tentei chegar um pouquinho mais perto e encostar minha cabeça no seu ombro. - eu fiquei feliz.

Eu quero dar uma chance.





















[...]























Os papeis se inverteram e me senti como se tivesse congelado. Sebastian estava deitado, eu estava em cima dele, com as mãos em seu quadril enquanto encarava seu membro...duro.

Ele estava ofegante.

O encarei nervosa. Sebastian segurou minhas mãos e as levou ao fecho de suas calças. Engoli em seco.

Respirei fundo e abri o fecho de sua calça.

Me...espantei com a forma como seu membro marcava no tecido da roupa íntima. Pela primeira vez eu via um pouco mais do mínimo de pele que Sebastian possuía. Nunca vi muito mais que seus pulsos e pescoço.

- Hm! - Me assustei e afastei as mãos quando o senti pulsar. - Ah...

- Algum problema?

- N-não. Nada.

- A senhorita tem certeza de que...

- Tenho! Eu, óbvio que tenho.

- Então, como combinado, - Ele segurou minhas mãos delicadamente e aproximou das próprias calças mais uma vez. - me deixe ajudá-la.

Com as mãos próximas mais uma vez, coloquei os dedos nas bordas de sua roupa íntima, descendo aos poucos.

Eu consigo.

Vi a pesca descer por seu corpo lentamente.

Eu consigo.

Aos poucos, eu via cada vez mais de sua pele.

Me senti mais nervosa, a ansiedade crescia, o medo crescia, tudo crescia. Minhas mãos tremiam! Eu...

- Senhorita Amelia, - Ele parou minhas mãos, então levantei a cabeça e o olhei nos olhos. Sebastian sorriu terno, como se tivéssemos todo o tempo do mundo. - paciência.

Ele acariciou minhas mãos e aos poucos, e me ajudou a puxar o que restava do tecido.

Estava lá. Na minha frente. Exposto.

Era grande, pulsante, ereto e...grosso.

Mais uma vez, eu me afastei e fiquei estática.

"- Porra, você mal fala. Então, por tudo isso, por toda essa merda, você me deve."

Aquele dia, o jeito que o canivete passou por mim, como ele me agarrou...foi assustador, sempre volta à tona, nunca vai embora, nunca me deixa em paz.

Não. Não, não e não.

Chega dessa merda. Eu não tenho medo, eu...não posso mais ter.

Antes que o medo pudesse tentar qualquer coisa contra meu corpo, respirei fundo mais uma vez e fechei os olhos por alguns segundos, ignorando o mundo à minha volta.

Só um pouco, eu quero ser ingênua, me derramar nas sensações, só.

Abri meus olhos.

- E agora...o que eu faço?

Ele sorriu.

- Use suas mãos, ou melhor, uma...bem, a use e deslize, com cuidado por favor.

Encarei seu membro mais uma vez, ainda surpresa e um com um pouco com estranheza estendi minha mão.

Toquei com a palma da minha mão, e depois meus dedos. Era quente.

Meio desajeitada, comecei a mexer minhas mãos, para cima e para baixo, firmemente.

O barulho que fazia era molhado. Eu senti algo escorrer por minha mão.

Senti minhas bochechas queimarem.

A respiração de Sebastian pareceu acelerar, se tornar mais pesada. Eu estava...fazendo certo?

Continuei com os mesmos movimentos, enquanto assistia a forma como ele se comportava com minhas atitudes.

Os papéis se inverteram e acho que pela primeira vez, não me vi rendida às mãos de Sebastian. Não. Ele estava completamente e literalmente, rendido às minhas mãos, a mim.

Muitas vezes o ouvi dizer que me achava linda quando estava à mercê das sensações e sentimentos que ele me causava e me tocava, e eu sempre tive o mesmo pensamento sempre que ouvia isso.

Achava idiota. Uma mentira. Que ele dizia tais palavras apenas para mexer comigo, me provocar ou até me irritar.

Mas, eu estava errada.

Estava errada porque, vê-lo respirar de forma tão pesada, com os fios de seus cabelos tão perfeitamente arrumados caindo sobre seus olhos tão vermelhos quanto sangue, enquanto suas roupas se desgrenhavam aos poucos...tudo isso era diferente de todas as formas que eu o havia visto antes.

Completamente fora de todas as atuações e performances como "mordomo perfeito", os comportamentos polidos que vi desde o dia em que o conheci. Aquele mordomo não estava aqui. O que estava diante de mim era muito mais natural, humano, hipnotizante.

Eu pensei em desviar o olhar, mas simplesmente não queria. Queria assisti-lo do início ao fim.

Era lindo.

Esfreguei meu quadril contra o seu, desejei beija-lo, desejei suas mãos em mim, mas mesmo assim, não parei de tocá-lo. Eu ainda queria assisti-lo.

A tal ponto, já sabia do que se tratava.

Eu estava excitada.

Vê-lo sentir prazer me...dá prazer?

Quero ver mais.

Acelerei o movimento de minhas mãos.

Sebastian moveu os quadris, acompanhando minhas mãos. Pude sentir meu coração acelerar ainda mais.

Eu não estava vestindo nada por baixo da camisola e senti minha intimidade roçando contra suas calças e o movimento de seu quadril acompanhando minhas mãos. Tudo isso era...bom.

Muito bom.

Aos poucos e, devagar o suficiente para que ele não notasse, comecei a me mover também.

Ter seu membro tão próximo de mim, da minha intimidade desprotegida, era como colocar fogo contra álcool. Como se não fosse certo ter os dois tão próximos e mesmo assim...querer eles ali.

É difícil descrever, difícil pensar, entender como tantas coisas podiam acabar em prazer, em excitação. Para mim, ainda soa tão complicado quanto interessante.

Acho que...agora que entendo melhor, não me impressiona Sebastian vangloriar tanto a profundidade do assunto, querer tanto que eu entendesse.

Me sinto completamente fora de mim por apreciar tanto disso, ao mesmo tempo, não consigo me sentir culpada.

É simplesmente delici...

De repente, tudo parou. Sebastian segurou minha mão, com força, me fazendo parar de tocá-lo.

- Já...chega.

Fiquei confusa, acordei de meu transe e pisquei muitas vezes.

- O que?

- Podemos parar por aqui.

Ele afastou minha mão e vestiu suas calças, o escondendo.

- M-mas, mas você não...eu não estou entendendo. - Balancei a cabeça, acho que por instinto e confusão. - Eu fiz algo errado.

- Não. - Ele levantou as costas do colchão e segurou minha cintura, me impedindo de sair do seu colo. - A senhorita não fez nada de errado. Mas, por enquanto, não iremos mais longe.

- Você é tão contraditório.

Ele sorriu e levou suas mãos por baixo de minha camisola, acariciando minha pele.

- Se permitir que continue, eu precisarei ir mais longe. Eu não vou aguentar parar por aqui. - Ele se aproximou e levou sua boca a minha orelha, sussurrando. - E a senhorita não está pronta para mais que isso. Ainda.

Senti todo o meu corpo se arrepiar.

Sebastian se afastou e me ajudou a sair de seu colo.

Por algum motivo me sinto decepcionada e não entendo porquê.

Eu mesma disse que não queria ir além, que queria apenas igualar as coisas e ainda assim, esse não parece ser o final que eu, q-que eu queria?





























[...]


























Depois de deixar o quarto exatamente como estava e melhorar nossas aparências, nós saímos do quarto e seguimos nossos caminhos juntos para o primeiro andar.

O silêncio estava me causando agonia.

Isso tudo...significou o quê? E eu deveria estar pensando nisso?

Eu só quis ser tô-la por alguns momentos e me deixar levar. Tudo bem. Mas, e ele?

- Posso perguntar algo?

Ele quebrou o silêncio primeiro. Finalmente!

- Se eu negar, você vai perguntar do mesmo jeito?

- Eu posso?

- Anda logo.

- O que nós acabamos de fazer...significa que estamos "bem"?

Parei de andar, percebendo, ele fez o mesmo. Parei de encarar o corredor e levantei a cabeça para olha-lo nos olhos.

- Você bateu a cabeça em algum lugar e eu não estou sabendo?

Fiquei genuinamente surpresa. Nunca o vi fazer uma pergunta tão, não sei, acho que "estranha", antes? Ou, sobre "nós", desse jeito. Sebastian nunca fez perguntas não irônicas, perguntas para as quais ele já não soubesse a resposta ou ao menos, já imaginasse qual fosse.

Ele sorriu.

- Estou esperando minha resposta.

Respirei fundo. Por mais que o que fizemos agora a pouco não fosse a forma "comum" de resolver as coisas, eu já não sentia mais raiva.

Eu me odeio por isso. Mas, eu realmente não sinto.

- Sim, acho que estamos bem.

O silêncio prevaleceu e Sebastian continuou me encarando. Cheguei a pensar que ele pretendia me beijar mais uma vez.

- Fico feliz que as coisas possam voltar ao normal.

- Depende da sua definição de normal.

- Totalmente normais. Afinal, a senhorita já se resolveu com Mey-Rin, não é?

- Ah?! Como você sabe?

- Ela passou por mim sorridente e me disse "boa tarde". E, considerando que ela passou os últimos dias sem dizer nem mesmo um "bom dia" a mim, assumi que algo havia mudado.

- Ela realmente não é muito boa em ser discreta.

- Com certeza não melhor do que a senhorita.

- Sabe, você deveria bater a cabeça por aí mais vezes. - Dei uma cotovelada em seu ombro e sorri. - Está mais legal hoje.

Ele me encarou de volta, com um olhar mais doce, algo raro vindo dele.

- Eu...tomarei isso como um elogio.

- Faça isso.

Talvez esse caos fosse minha chance de me desvincular dele de uma vez por todas, talvez fosse minha oportunidade de esfregar na cara dele o quanto o detestava, o quanto o achava babaca, imbecil e todas as outras coisas que já disse ou quis dizer...

Mas não foi isso que escolhi. E, mesmo que eu não tenha certeza se resolver tudo da forma como resolvi hoje seja a melhor maneira, não me sinto arrependida. Acho que nunca me senti tão leve quanto naquela cama, naquele quarto, com ele. Onde me permiti não pensar em nada.

Acho que ser tola, pelo menos por uma noite, foi a melhor coisa que eu poderia ter feito.









































*

Olha, agora eu vou falar...PUTA QUE PARIU, QUE TRABALHOOO! Esse foi um dos maiores e mais cansativos capítulos que eu já escrevi. Ufa...

E aí?! O que acharam? Quero suas opiniõeees, elas são importantes!

Bom, acho que a ideia do capítulo ficou bem clara. Tensões, reconciliações e impulsos causados pela cegueira da mente e olhos do coração. E, DEUS DO CÉU, vocês não sabem como é difícil escrever uma cena de sexo em primeira pessoa com uma protagonista que ainda está aprendendo.

Me digam, o que vocês acharam da construção do capítulo? Dos conflitos internos da Ayuni? Estão gostando desse desenvolvimento de personagem? Me contem, e espero que siiim!

Aliais, sinto muito pelo sumiço, foi tudo culpa do vestibular. Tive muitas crises e fiquei exausta por muito tempo. Precisei descansar! Daqui em diante vou tentar fazer com que o ritmo de capítulos postados volte ao normal!


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