XIII - Sinfonia

27/02/1888 - Segunda-feira

- Se errar de novo eu vou te chutar, com mais força e mais vezes. Você entendeu?

- T-tá doendo! Eu, e-eu não...

- Eu perguntei se doi? Levanta e faz de novo, e se errar vai ser pior. Entendeu?

-...

- ME RESPONDE, SUA PUTA!

- NÃO, NÃO! E-eu, eu... - Levantei em pânico, quase com lágrimas nos olhos. Olhei em volta, eram as mesmas paredes, mesma cama, mesmo quarto. Eu estava na mansão. - ah, droga.

Com meu coração ainda acelerado, joguei minha cabeça no travesseiro de novo, respirando fundo, tentando me acalmar. Foi só mais um pesadelo.

Olhei para a porta de meu quarto, a cadeira ainda estava lá, recostada sobre a maçaneta. Soltei um suspiro de alívio.

Que ótimo jeito de acordar.






[...]






- Como todos aqui sabem, Mey-Rin está se recuperando, por isso, terão uma mão de obra a menos para trabalhar hoje. Além das tarefas diárias, o baile deixou algumas coisas a serem limpas. Visto isso, irão trabalhar em duplas, para as tarefas de hoje... - Estalei meus dedos, então Sebastian me entregou sua prancheta. Folheei algumas páginas, conferindo as tarefas que mandei Sebastian anotar. - Baldroy e Finnian, vocês estão encarregados da cozinha, sala de jantar e salão principal. Amelia e Sebastian, vocês ficam responsáveis pelos quartos de hóspede, sala de música e biblioteca. Estão todos de acordo?

- Sim, Mestre.

- Sim, chefinho!

- Sim, senhor!

- Yes, my lord.

- Ótimo. Podem se retirar.

Baldroy e Finnian saíram juntos e cheios de pressa, enquanto Amelia ficou parada ao lado da porta, esperando Sebastian. Mas aparentemente, ele não pretendia mover um músculo.

O que ele quer?

- Preciso resolver algumas breves questões para o Jovem Mestre, logo irei alcançá-la.

- Como quiser.

Ela não pareceu se importar, apenas deu de ombros e saiu.

- Fale logo, o que você quer?

- Senhor, sabe que eu poderia realizar todas as tarefas perfeitamente bem sozinho. Correto?

- É, eu sei. Mas por que a pressa? Além disso, esse drama de vocês dois está me divertindo bastante.

- Nosso "drama"?

- Não banque o idiota. Eu vi seu showzinho no baile mas, bem, ela não me parecia feliz quando te largou e, muito menos quando voltou. Ou melhor, quando você foi atrás dela, hm? Parece que esses seus "flertes" não funcionam tão bem quanto você imaginava.

- Não era nada demais. Posso garantir. Estava apenas...me dando ao luxo de criar um pouco de entretenimento.

- A é? Para mim ou para você?

- Digamos que era um entretenimento a todo o publico.

- É, você parecia realmente preocupado com o "entretenimento" já que simplesmente sumiu quando resolveu "sair" para pegar meus "petiscos de camarão", inclusive não recebi esses tais petiscos a noite inteira. Será que gerar entretenimento te deixou tão ocupado assim, ou você simplesmente desaprendeu a ser "multitarefas"?

Dei a ele meu largo e amargo sorriso satisfeito ao deixá-lo sem argumento algum. Adorava fazer isso.

Ele apenas sorriu de volta, como sempre fazia, afinal não podia me responder. Às vezes me pergunto, que tipo de respostas se passam em sua cabeça.

- Senhor, estava apenas...

- Não comece com a conversinha. Admita, você tem corrido atrás dela como se fosse um cachorro. Não a deixa em paz. Agora me pergunto, por que?

- Senhor,  está cedo para brincadeiras. Além disso, não a o que supor. Eu não experimento dos mesmos sentimentos que vocês, humanos. Ela é apenas uma serva.

- Então a fez dançar com você sem motivo nenhum?

- "Entretenimento", como disse. Mas, se me permite perguntar, por que este assunto tão repentinamente? Meu Mestre nunca se importou por situações assim, sempre as considerou "fúteis," como o próprio senhor sempre diz, não?

- Realmente, não me interesso quando as coisas são previsíveis, mas, você? Intrometido em algo assim? Esse show eu pagarei para assistir de perto.

- Sinto muito Bocchan, mas não há nenhum "show" a ser assistido. Claro que, se preferir, posso bolar algo que o entretenha, como sempre faço. Mas, tirando isso, não há nada acontecendo. Fiz questão de ser cavalheiro e convidá-la para a dança porque seu "par" havia a largado antes que pudessem começar.

- Sei. E por acaso já usou de sua "grande e milenar" inteligência para concluir que, talvez, tenha a "chamado" para dançar simplesmente porque não queria vê-la com outra pessoa?

- Está falando de "ciúmes", senhor? Como disse, sabe que não experimento das mesmas emoções que seres humanos. E de certa forma...

- Então quer dizer que está importunando a criatura totalmente de graça, é isso? Não a deixou dançar com outro par por pura implicância?

Essas pequenas discussões nunca foram palco de assuntos sérios. Sebastian nunca me confrontou sobre algo grave, até porque, sempre que se tratava de trabalho ou de vidas em jogo, ele estava sempre ao meu lado. Era o certo, o que ele deveria fazer.

Para mim, esses pequenos momentos não passam de um pouco de diversão, uma forma de explorar algo novo, de conhecer melhor sua natureza na prática. Até porque perguntar não teria a mínima graça, Eu sempre preferi observar.

- Não. Eu duvido que isso tenha alguma coisa a ver com o Bard, ou a própria Amelia. É por seu orgulho... - Me levantei de minha poltrona, coloquei as duas mãos sobre a mesa e me inclinei até ele, assim ficamos cara a cara. - você não gosta da ideia de ser trocado por alguém que considera inferior a você, não é? Você é sempre tão arrogante que tinha a certeza de que ela, assim como todas as outras damas, cairia no seu charme estúpido e escolheria dançar com você. E no fim não se conformou com a ideia de que ela preferia estar com "alguém inferior", do que com você. Eu te conheço, demônio. No fundo, não tem nada a ver com ela, não é? Tem a ver com o seu ego.

Eu tinha certeza disso desde o fim do baile. Sebastian não era tolo a ponto de se deixar levar por emoções humanas tão fúteis, até porque, acredito que isso se quer fosse possível.

Mas os sentimentos negativos? Orgulho, narcisismo, egocentrismo, sadismo e todo o resto? Ah, isso o maldito tinha permissão dos céus e do inferno para sentir e saborear, eu sabia disso. Era óbvio que alguém como ele detestaria imaginar que alguém, principalmente uma mulher, poderia escolher alguém burro como uma porta, ao invés dele. Não tinha nada a ver com Amelia em si, mas tinha tudo a ver com ele mesmo.

Tudo isso era tão divertido de assistir.

- Entendo. O senhor precisa de meus, Bocchan? Como pode ver, todos temos muito o que fazer hoje. Inclusive o senhor, correto?

Típico de Sebastian. Quando algum assunto não o interessava, ou quando ele simplesmente não queria falar sobre, mudava totalmente o rumo da conversa, as vezes simplesmente ignorava e não respondia, a não ser que eu o ordenasse.

Mas que se dane, não estou mais com saco para isso. Vou apenas assistir e ver como as coisas vão ficar.

- Saia e volte ao trabalho.

- Yes, my Lord.






[...]






Quanta sorte a minha. Acabei pegando a maior parte das tarefas, e vou ter que fazê-las com ele! Qual o problema do Conde, afinal?! O pirralho ainda me paga!

- Dobre esses lençóis, por favor.

- Sim.

Não estamos tão bem desde o baile. Obvio, ter uma convivência mais "harmônica" com Sebastian definitivamente facilitaria as coisas para mim, mas ele nunca fez disso uma tarefa simples, já que ele tem a incrível habilidade de me irritar com tão pouco.

Eu sei que minhas últimas abordagens mais nocivas não tem funcionado, e que, parece que quanto mais o afasto, mais perto ele tenta ficar. É tão insistente e inconveniente que chega a ser inacreditável!

O mínimo que posso fazer agora é esperar que as coisas se acalmem e tentar mudar um pouco o meu comportamento em relação a ele. Não sei exatamente como vou fazer isso, mas eu preciso conseguir, e eu vou. Talvez, desse jeito, eu consiga progredir um pouco mais com meu trabalho, sem ele me perseguindo o tempo inteiro.

Eu espero que dê certo.

- O desjejum do Jovem Mestre já está pronto?

- Ele rejeitou o desjejum desta manhã.

- Rejeitou?

Questionei, quase que impressionada. Ele nunca rejeita o café da manhã. O Conde rejeitando uma xícara de Earl Grey com torradas? Não era algo muito comum.

- Acredito que ontem, durante a madrugada, Jovem Mestre tenha saído para um lanche noturno. Baldroy guardou, porcamente, os doces restantes do baile e então, eles sumiram.

- Acusar seu próprio Mestre dessa forma é grave, não acha? Como pode ter tanta certeza de que foi ele?

- Migalha em seus travesseiros, lençóis e tapetes.

- Oh, agora faz mais sentido.

- Exatamente. - Ele terminou de forrar a cama com os lençóis limpos que trouxemos. - Agora devemos limpar as janelas, realizar todo o processo da limpeza do carpete e tirar qualquer poeira dos móveis.

- Faremos tudo isso nos outros dois quartos. Certo?

- Exatamente. Algum problema para a senhorita?

- Não. De forma alguma.

Eu vou enlouquecer.






[...]






Gastamos duas horas na limpeza dos quartos. Não sei porque esses malditos nobres têm mania de colocar carpetes em todos os pisos. São dez vezes mais difíceis de limpar!

Assim que terminamos fomos direto para a biblioteca. Deveríamos fazer a limpeza das prateleiras, das capas dos livros, das mesas, poltronas e tapetes. Além disso, algum engraçadinho bagunçou as estante pela milésima vez, ou seja, teria que organizá-las por ordem alfabética, de novo!

Sebastian estava logo atrás de mim e de costas, limpando os livros de outra estante, enquanto eu fazia o mesmo.

Tirando a poeira dos livros e limpando suas capas, um por um. Tinham mais de duzentos livros nessas estantes. Que inferno, isso sempre leva séculos!

Já estava no vigésimo livro, quase terminando de limpá-lo. "O Príncipe Feliz e Outros Contos", de Oscar Wilde. Com certeza, esse era um dos nomes mais frequentes nas prateleiras do Jovem Mestre. Sempre que o via andando distraído pela mansão com um livro em mãos, podia ter certeza que o nome cravado em cada um deles era de Oscar Wilde.

Assim que limpo, o coloquei de volta na prateleira e parti para o próximo. Mas desta vez, meus olhos brilharam ao ver o que o velho e empoeirado livro tinha em sua capa.

- "O Prefeito de Casterbridge"...

- Disse algo?

- Ah? Não, nada demais. Eu apenas...esqueça. Estava pensando alto.

Ignorando o que disse, ele veio até mim, encarando o livro em minhas mãos.

- "O Prefeito de Casterbridge"? - Ele olhou para minhas mãos. - Lhe interessa? Me lembro bem de quando Jovem Mestre fez questão de receber o livro em mãos, assinado pelo próprio senhor Hardy.

- Assinado?

Abri o livro apressada, e realmente, lá estava! A assinatura do próprio Thomas Hardy.

Não deveria estar surpresa.

- Como dizia a clássica frase da página duzentos e vinte e cinco? Jovem Mestre sempre a menciona..."O caráter é o destino"?

- "O caráter é o destino".

Dissemos ao mesmo tempo. Ele sorriu suave pelo incidente. Não imaginei que ele realmente tivesse lido.

Ele ergueu uma sobrancelha.

- Ora, ora.

- Você leu?

- Obviamente.

- Entendi. - Guardei o livro em seu devido lugar. - Vamos continuar.

Não estava com paciência para as conversinhas de Sebastian. Não estou com paciência para ele a algum tempo...






[...]






Gastamos mais tempo na biblioteca do que eu realmente gostaria, não é que eu não goste de ficar por lá, mas se for para ficar três horas lá dentro, que seja lendo e não limpando!

Três da tarde. Comi alguma coisa antes de continuar o trabalho, Sebastian não comeu nada, mas teve de parar o trabalho de qualquer jeito, já que o Jovem Mestre acabou sentindo fome.

Parando para pensar, acho que nunca vi Sebastian comer, beber, ou dormir. Definitivamente estranho.

Nossa penúltima tarefa do dia seria limpar a sala de música. Acho que nunca fiz a limpeza dessa sala, normalmente isso era tarefa da Mey-Rin.

Queria saber como ela está. E pensando nisso, me pergunto como Bard e Finny estão se saindo, já não ouvi nenhum grito ou explosão até agora. Não sei se isso é algo bom ou ruim.

- Como acha que Bard e Finny estão se saindo?

- Curiosa?

- Não ouvimos gritos ou explosões até agora.

- Vendo por esse ângulo, existem algumas possibilidades, mas acho melhor nos preocuparmos com nossas tarefas.

Acenei com a cabeça, concordando.

Sinceramente, nem mesmo eu estava com vontade de ver os possíveis desastres que eles causaram na cozinha, ou na sala de jantar.

Depois de uma longa caminhada do andar de baixo até a sala de música, nós finalmente chegamos.

Sebastian girou as maçanetas e as moveu para frente, as portas rangeram em resposta. O mesmo avaliou a porta, depois do som.

- Precisamos de óleo. Avisarei Finnian mais tarde. Por hora, vamos começar.

E então, entramos.

Acabei aproveitando os primeiros momentos para admirar um pouco o lugar, já que é um dos poucos cômodos onde não estive ainda.

Sofás de couro no centro, um grande tapete persa cobria o chão de madeira polida. As cortinas de veludo vermelho e pesado estavam abertas, e as janelas, que Mey-Rin sempre disse detestar limpar, eram imensas como as dos outros quartos e iluminavam quase toda a sala durante o dia.

As paredes eram repletas de pinturas a óleo, e em uma delas uma estante tinham partituras e livros de música, além de algumas esculturas e vasos de flores frescas.

Além de um...

- Um piano?  - Andei apressada até o instrumento! - Não sabia que tínhamos um piano na mansão.

Um grande piano de cauda, que sinceramente, demorei notar no centro da sala! Acabamento reluzente, cheio de detalhes intrincados, madeira nobre, teclas brancas impecavelmente alinhadas. Era tão lindo...

- Novecentas e cinquenta libras, não é algo que qualquer um possa pagar... - Não tinha percebido sua presença ao meu lado. Ele passava seus dedos com leveza pelas teclas, sem aperta-las ao ponto de fazer algum som. - sabe como tocar?

- Não.

- Tem vontade?

- É um plano futuro...

- Não imaginei que gostasse de músicas refinadas.

- Eu sempre amei os sons dos pianos. - Deslizei meus dedos, devagar, pelo instrumento. - Ele sempre é agradável, independente de como você escolher tocar.

Quando olhei para Sebastian, percebi que não deveria ter dito qualquer coisa sobre meu gosto.

Ele olhava para mim como se tivesse acabado de fazer uma grande confissão. Com suas sobrancelhas levantadas, olhos fixos e sorriso sutil.

Não queria nem cogitar o que ele diria.

- Aham... - Ele simplesmente limpou a garganta, arrastou o pequeno que ficava embaixo do instrumento, levantou a cauda e se sentou. - gostaria de se sentar?

Inferno!

- Ah? Não! Quer dizer, não deveríamos...

- Não se preocupe. - Ele estendeu sua mão a mim. - Sente-se, por favor.

Não sabia exatamente o que ele queria. Por que algo assim tão de repente? Estava tentando me envolver em problemas? Estaria tentando me sabotar? Diria ao Conde que, de alguma forma, tentei quebrar o piano?

Era muito suspeito, eu não deveria aceitar.

- O que está planejando?

- Pode aceitar meu convite e descobrir.

-Ah sim, como aconteceu no baile?

- Então, admite que nossa dança teve um voto de confiança, seu?

Deveria ter pensado melhor nas minhas palavras.

- N-não! Não foi o que quis dizer. - Cruzei os braços e desviei o olhar, irritada! - Quer saber? Não interessa o que quis dizer. O ponto é, eu estou no direito de recusar. Eu não confio no seu convite.

Ele insistiu em sorrir. 

"Convivência harmoniosa". As palavras ecoaram em minha cabeça.

Vamos Ayuni...tem poucos meios de melhorar as coisas!

Sebastian seguiu me encarando, afastou seus dedos das teclas e colocou as mãos sobre as cochas.

- Somos adultos, senhorita.

Ele dificulta tanto!

- Nega-lo é algum tipo de birra? Não se esqueça do que você fez naquela noite. Você foi prepotente, agiu como se pudesse ler meus pensamentos e como se estivesse completamente disposta a dançar com você...e eu não estava.

- Compreendo. - Sebastian se levantou, ajeitou seu fraque e...estendeu sua mão a mim mais uma vez, desfazendo seu sorriso. - Peço que aceite minhas sinceras desculpas, mais uma vez.

O encarei de cima a baixo, desconfiada.

Era óbvio que desconfiaria. Por que diabos ele faria tanta questão de manter tudo tão em ordem entre nós? Eu, obviamente, tenho minhas razões mas...ele? O que ele poderia querer ou ganhar com isso? Sua reputação é blindada por aqui, ao que parece.

O que ele ganha?

- Por que está fazendo tanta questão? Não me parece que toda essa situação faça alguma diferença para você.

- E para a senhorita, faz?

A pergunta me pegou de supetão. Como eu responderia sem passar a ideia errada? Afinal, eu não poderia dizer a verdade.

- Eu não gosto de inimizades.

- Pois, como mordomo Phantomhive, é inadequado que crie quaisquer inimizades. - Ele insistiu em manter sua mão erguida a mim. - Sem qualquer prepotência, podemos entrar em um acordo de paz?

"Convivência harmoniosa", "convivência harmoniosa", "convivência harmoniosa", "convivência harmoniosa", "convivência harmoniosa", "convivência harmoniosa", "convivência harmoniosa".

As palavras se projetavam e se repetiam em minha cabeça como o badalar de um relógio.

É tudo pelo plano. Apenas o plano! Eu posso usar isso a meu favor, eu preciso usar essa chance a meu favor.

- Em paz. - Apertei sua mão. - E então, continuamos a limpar?

Ele seguiu sorrindo.

- Não exatamente. - Ele voltou sua atenção ao piano e se sentou no banco mais uma vez. - Poderia me acompanhar?

- Irá nos meter em encrenca.

- Eu garanto que não.

- Como pode ter tanta certeza?

- Não costumamos contratar pianistas. Eu mesmo realizo essa tarefa.

- Achei que fosse um mordomo.

- Que mordomo Phantomhive eu seria se não pudesse tocar um simples instrumento?

- Simples?

- Vamos, acompanhe-me. Não aprecia as melodias do piano? Posso lhe mostrar algumas, s me permitir.

Com o fim de sua oferta, um silêncio absurdo se fez, como se só houvesse apenas duas pessoas em toda a casa, nós.

Respirei fundo e, mais uma vez, pensei que tudo era por minha missão, meu objetivo. Eu preciso atuar, preciso fazer meu trabalho, preciso ser excelente.

Ajeitei meu uniforme e me sentei ao seu lado. Ele sorriu, largamente.

- Coloque suas mãos sobre o teclado.

- Sebastian, eu não acho que eu deve encostar...

- Vamos, confiança.

"Confiar" é uma palavra forte demais, se referindo a ele!

Mesmo relutante, coloquei minhas duas mãos sobre as teclas.

- Perfeito. Agora, vê a tecla sobre seu dedo anelar direito? A toque, conte três segundos e depois toque de novo.

E assim fiz, apertei a tecla, o teclado fez um som grave, potente, presente. Esperei três segundos e fiz de novo.

- Excelente. Agora tente tocar a tecla preta, onde seu dedo indicador direito está. Toque, conte até dois e faça de novo. Consegue fazer os dois ao mesmo tempo.

Estava relutante. E se eu errasse? Eram apenas duas teclas, era simples, mas e se errasse?!

- Vamos, tente.

Ele sugeriu, soando quase que doce em suas palavras lentas e pacientes.

Tentei me concentrar, tocando as duas notas ao mesmo tempo, contando dois e três, dois e três, tentando repetir sem errar.

- Isso, perfeito. Agora, continue assim e me acompanhe.

E de repente seus dedos começaram a se mover pelas teclas, criando um som. Me espantei por alguns segundos, mas tentei manter o foco de minhas teclas e não errar o tempo em tocá-las.

O jeito que se movia e sua coordenação eram mesmo impressionante para um "simples" mordomo. Pelo menos isso eu deveria admitir.

Suas mãos se moviam de um lado para o outro, muito suaves, era elegante. A postura ereta e irritantemente impecável o fazia parecer um pianista. Ele não tinha o menor medo de se movimentar pelas teclas.

Eu tentava manter a concentração...dois e três, dois e três, repetidas vezes!

Seus dedos se moviam como se fizessem aquilo a décadas. Era até mesmo viciante de se assistir.

Nossas mãos, as dele e as minhas, estavam criando algo, melodias?

Então, as mãos de Sebastian pararam tão repentinamente quanto começaram a tocar, e no mesmo momento afastei meus dedos das teclas.

Foi só aí que percebi como minha respiração estava acelerada. Era o peso e o grande nervosismo de tocar em teclas de novecentas libras.

- Não imaginei que você realmente tocasse.

- Eu não digo mentiras. Além disso, ando sem prática.

É engraçado como ele escolhe aleatoriamente as horas de ser modesto e as de ser orgulhoso.

- Você tocou como se fizesse isso todos os dias e chama de "sem prática"?

- Não sou nenhum profissional, apenas um mordomo e tanto. Posso te ensinar ao menos doze músicas, se desejar.

- Eu...

- Aham! - Uma voz bem presente me desprendeu do assunto. Era o Conde, do outro lado da sala. - estou atrapalhando?

Levantei com pressa, quase que em um pulo.

- N-não, senhor! - Coloquei minhas mãos atrás das costas e ajeitei minha postura. - Precisa de algo?

Diferente de mim, Sebastian levantou tranquilo, colocando o banco no lugar e pondo as mãos atrás das costas em seguida, em sua postura de sempre.

- Estamos indo a cidade para levar Mey-Rin ao médico, fazer alguns exames e descobrir se está tudo bem.

- Certamente, senhor. Devemos ir agora mesmo, irei preparar uma carruagem.

- Não. Você e Amelia vão ficar aqui. Baldroy e Finnian me acompanharão, por tanto a mansão não pode ficar vazia. Além disso, não caberiam todos nós na carruagem, por tanto cuidem da casa. - O Conde olhou fixamente para Sebastian, seu olhar, para mim, soou particularmente estranho. Era como se quisesse transmitir algo. - Até mais tarde.

Ele fechou a porta e saiu.

- Era impressão minha, ou ele estava rindo para você?

Perguntei, genuinamente curiosa.

- Apenas impressão, acredito. Vamos terminar de limpar.






[...]






- Então se entendi bem, é isso que você faz no seu tempo livre?

- Algum problema?

Sebastian estava, praticamente, sentado no gramado, rodeados por gatos.

Fomos para os fundos da mansão, nos jardins. Eu assistia a inesperada cena, sentada em um dos bancos de pedra, próximos ao chafariz.

- Talvez. Jovem Mestre é alérgico e você é quem fica mais perto dele. Além disso, de onde esses gatos saem? Estamos a quilômetros da cidade.

- Vivem na floresta. Estes pequenos e delicados aparecem e reaparecem frequentemente.

Um deles estava, literalmente, arranhando o pescoço de Sebastian.

- Seus "amiguinhos "não parecem muito amigáveis.

- Eles são. - Um dos gatos se enroscou entre suas pernas, e ele pareceu se divertir com aquilo. - De onde venho os animais são muito mais... - Ele parou por instantes, como se pensasse em algo. - acredito que "peculiares" é a palavra.

- O que quer dizer com "peculiares"?

- Eles são maiores, bem, muito maiores, escuros...

- Ah? Como assim? Fala de lobos?

- Esqueça. Estou falando tolices.

Ele continuou brincando com os gatos, enquanto eles roçavam em seu fraque, ronronando. Um deles me encarou e miou, vindo em minha direção.

- Prefiro meu uniforme sem pelos.

Bastou falar para que um deles viesse em minha direção e se esfregasse em minha perna!

- Psiu, ei! Saia dai!

Obviamente ele mal ofereceu, na verdade, fez até pior. O pequeno simplesmente pulou no meu colo.

- Ei! Ah, é sério? Acabei de lavar minhas roupas.

- Meow!

O gatinho miava manhoso, se esfregando em minha barriga.

- Não! Não vou te acariciar.

Imaginei que se ficasse parada ele desistiria e desceria de meu colo, mas não foi exatamente o que aconteceu. O folgado se deitou!

- Ah, não acredito.

- Oh, que adorável. Ele pareceu simpatizar com a senhorita.

- Não me diga.

- Então, - Um dos gatos subiu em seus ombros, mas ele pareceu não se importar. - assumo que já possuiu algum animal de estimação antes?

- Por que assume?

- Bem, a senhorita parece ter certa familiaridade com eles.

- Ahm... - Não sabia ao certo se deveria responder, soava pessoal, muito pessoal. - não, quase nenhum.

- "Quase" e "nenhum" não podem ser a mesma coisa. Então, posso assumir que a senhorita teve?

Ele tinha que ser sempre tão persistente?

- Por que o interesse?

- Estamos conversando, não?

- Ah... - Suspirei, encarando o animal deitado em meu colo. - sim. Mas, foi há muito tempo atrás. Ele morreu de velhice.

- Meus pêsames. E o que seria?

- Um cachorro.

- Oh, um cão.

Senti uma certa rispidez nesse "cão".

- Não gosta de cachorros?

- Particularmente, não. Nenhum pouco, na verdade.

- Por que?

- Tenho minhas razões. E qual seria seu nome?

- Você realmente gosta de fazer perguntas, não é? - Ele não respondeu, apenas sorriu. - Ah, esqueça. Você não quer saber.

- Diga.

- Não. É constrangedor.

Ele ficou calado por alguns instantes, encarando os gatos. Até que levantou a cabeça de novo, como se tivesse tido uma ideia.

- Quer ouvir algo realmente constrangedor?

- Hm? O que?

- "Sebastian". Sabe de onde vem este nome?

- Se refere ao seu nome, ou ao nome em si?

- Meu nome.

- Então, obviamente não sei. - Cruzei meus braços. - De onde vem?

- Bom, esse era o nome de um cachorro.

- O que? Está querendo dizer que seu nome...

- Exatamente.

- Que?! Por deus! E-eu, hm! - Acabei por rir de forma abafada, contida, tentando disfarçar e falhando. - Perdão, eu não deveria rir de algo assim. Mas sinceramente, seus pais deveriam gostar muito do cão que tiveram para fazer algo assim.

Não pude me conter quando ele disse aquilo, era quase como uma piada pronta. Trágica, com certeza, mas ainda daria uma ótima piada, ainda mais para alguém como ele. Quem diria!

- Como eu disse, é realmente constrangedor.

Apesar das palavras e de todo o contexto da conversa, ele não parecia se incomodar com a situação, seguindo com a mesma feição tranquila.

- Se serve de consolo, não acho "Sebastian" um nome ruim.

Estava sendo quase completamente sincera.

- Devo levar como um elogio?

- Não abuse.

- Agora é tarde, considerarei um elogio.

- Seu... - Antes que pudesse respondê-lo, o gato que dormia em meu colo acordou, levantando as patinhas e agarrando minhas mãos com elas. Ele fazia o mesmo quando eu era mais nova, meu cachorro. - "Nose".

Disse, quase inaudível.

- Disse algo?

- O nome dele era Nose, fui eu quem escolheu.

- "Nose"?

- Ele tinha um focinho grande e comprido.

- Está brincando, não está?

- E você estava quando explicou o porquê de se chamava Sebastian?

- Apenas imaginei que fosse algo mais constrangedor.

- Para mim é! Eu era apenas uma criança quando tive essa ideia. Pobre Nose, não sei como me permitiram por esse nome nele.

- Um incentivo a sua criatividade, talvez.

- É, talvez tenha sido algo assim.

- Me pergunto, seus pais devem se orgulhar por saberem que se tornou uma serva Phantomhive, não?

Meus pais?

Meus pais.

Mamãe e papai, a imagem deles foi sempre tão clara em minha mente. Nunca falhou, nunca me esqueci. Os abraços, os apertos quentes e aconchegantes, os sorrisos, as palavras e os beijos.

Era confortável, seguro.

Tudo sumiu tão rápido, tão de repente, de um jeito tão horrível.

Tão cruel que fez rombos, buracos enormes.

Nunca consegui deixar de sentir que, depois daquilo, alguma coisa faltava em mim. Um buraco no peito, ou talvez, em todos os lugares do corpo.

Eles faltavam.

- Eu sinto muito.

- C-como?

- Por seus pais. Muitos foram levados pela cólera nos últimos tempos.

Talvez pelo meu olhar ou por minha reação quando ele os mencionou, já tenha assumido o porquê fiquei em silêncio.

Seria idiotice falar o que realmente aconteceu.

- Eles não faleceram. Apenas perdemos o contato e não nos falamos mais.

- Sinto muito em saber.

- E você? - Por segundos imaginei que seria uma pergunta arriscada a se fazer. Mas, independente disso, eu deveria tentar. - Perdeu os seus?

- Eu não tenho pais.

Ah?

- Besteira. Todos temos, ou pelo menos tivemos. Se é assim, como sabe seu nome?

- Eu apenas sei. - Ele simplesmente deu de ombros. - Simples assim.

Estranho, estranhíssimo.

Sinto que estamos chegando a algum lugar com essa conversa.

- E passou todo esse tempo trabalhando por aqui?

- Não. Vivi muito, antes de chegar aqui.

Muito interessante. Preciso continuar falando!

- "Muito"? Você não me parece tão velho quanto eu.

- Isto não vem ao caso. Mas, passei bons anos vivendo de forma solitária, o que é interessante. Aprendi muito sobre o mundo, e sobre os que vivem nele. A questão é que com o tempo as coisas passaram a ser entediantes.

- Está dizendo que viajou o mundo e achou entediante? Ou melhor, espere um pouco, está me dizendo que trabalho aqui por puro entretenimento?!

Se, se tratar do que estou pensando, como alguém pode viajar o mundo e acabar aqui, e como um servo?!

- Como? Não. Bem, não exatamente. A questão é que as coisas sempre foram desta forma. Vazias, entediantes e previsíveis. A questão é que demorei um pouco para perceber. E não foi tanto tempo, honestamente.

Ele parece estar se abrindo. Eu estou chegando a algum lugar?! Estou mesmo! Ele com certeza tem algo para contar, algo que eu possa usar.

Finalmente vou saber algo sobre você, Sebastian Michaelis.

- E o que aconteceu para você se sentir assim sobre, bem, essas "coisas"?

Era isso! Seria esse o momento!

- Não aconteceu. Eu nasci assim, fui feito desta forma, eu acho.

Que dramático. Aonde ele quer chegar com isso?

- Não acha que é estranho se considerar vazio? Ou dramático? Quer dizer, nunca tentou "preencher", por assim dizer?

- Sim, como muitos semelhantes. Mas, é impossível. Somos assim, entretidos por pouco e guiados por menos ainda.

"Somos"?

Por que ele está falando em metáforas? Que diabos ele quer dizer? Preciso ir um pouco mais fundo. Preciso encontrar alguma coisa, qualquer coisa que seja!

- "Guiado"? Pelo...

- Amelia, senhor Sebastian! Nós chegamos!

Pude reconhecer a voz de Finnian, gritando do outro lado da mansão. Que droga, eu estava tão perto!

- Acho que o descanso terminou. - Ele se levantou do gramado, limpando as calças e arrumando seu fraque. - Devemos retornar.






[...]






- E então? Não vai me contar?

- Se refere a o que exatamente... - Removi os anéis de seus dedos cuidadosamente, os colocando na mesa de cabeceira. - Mestre?

- Não se faça de bobo. Você e Amelia passaram a tarde toda juntos, trabalhando.

- O senhor está realmente curioso sobre esta história, não está?

- Óbvio, principalmente depois de assistir os dois engraçadinho, ou melhor você, tocando o piano para ela. Você realmente não se contém, não é? Precisava se exibir um pouco.

-De forma alguma. A senhorita Amelia tinha simples curiosidades e interesses sobre o instrumento... - Com os dedos, desfiz delicadamente os nós de seu tapa-olho. Revelando a marca de nossa conexão, nosso contrato Faustiano. - então, mostrei a ela um pouco do que sabia, nada mais.

- Então quer que eu acredito que não estava apenas se exibindo, mas sim ensinando algo a uma "pobre moça"? Não sei se faz seu feitio.

- Bocchan, estou de mãos atadas... - Passei a desabotoar seu casaco, botão por botão, revelando a camisa de seda branca que havia escolhido para ele, durante a manhã. - o que deseja ouvir de mim?

- Conte como foi... - Ele levantou seus pequenos e pálidos braços, e assim removi o tecido que tocava sua pele. - o que fizeram, e o que conversaram.

Ele não se inquietaria até que dissesse tudo que queria ouvir. Uma das regras de nosso contrato, não mentir em qualquer hipótese que seja.

- Conversamos sobre leitura.

- Leitura? Que tipo de leitura?

- "O Prefeito de Casterbridge". Inclusive, se encantou com a assinatura do senhor Hardy.

- Bons gostos literários para uma serva. É um bom ponto. Se bem que, alguém como ela saber outras línguas já é algo destacável, Mey-Rin e Finnian se quer sabiam ler quando chegaram aqui. Ou melhor, Finnian ao menos, arranha o alemão.

- Finnian é fluente. O senhor "arranha" em alemão.

- Segure sua língua! Só continue contando.

- Ela perguntou sobre minha vida.

Seus pequenos olhos bicolores se abriram um pouco mais; as finas sobrancelhas se levantaram e a pele macia e jovial não fez se quer uma linha de expressão. Mas de qualquer forma, eu sabia como meu pequeno Mestre havia se interessado muito mais pelo rumo que nossa pequena conversa noturna estava levando.

Curioso como um gato, não era tão típico de meu Mestre.

- Sua vida? Ha! Imagino que, se ela ainda está aqui e não saiu correndo pelos corredores, é porque você mentiu.

- "Mentir" é uma palavra bruta. O senhor sabe que não minto. - Peguei suas vestes para dormir, limpas, macias, longas e quentes. Primeiro o braço esquerdo, em seguida o direito. Ainda servia perfeitamente, já que "crescer" não era uma das características mais marcantes de meu Mestre. - Eu apenas "mascarei" a verdade.

- O que quer dizer com isso?

- Ela queria saber sobre minha suposta família, - Fechei o primeiro botão. - meus supostos familiares, - Segundo botão. - minha suposta "vida humana", - Terceiro botão. - antes de chegar até o senhor, Bocchan.

Quatro botões, faltam seis.

- Agora quero saber como você pôde "mascarar" a verdade de algo assim. Você mentiu, diga logo e com todas as letras.

- Eu apenas disse que nunca os tive; que conheci o mundo e que me entediei com ele, até chegar ao senhor; e que sou movido por pouco. Certamente, não menti em nenhum destes pontos, ou menti? Me diga.

Suas pequenas sobrancelhas franziram, os olhos desviaram para algo em volta e seus pequenos lábios se entortaram. Uma pequena expressão de um fedelho insatisfeito. Ele esperava estar certo, provar que menti para ela.

Eu poderia, se quisesse. Mas as coisas são mais interessantes quando deixamos os fatos nas entrelinhas, é mais interessante assistir aos seres humanos tentando desvendar as pequenas verdades em frases mal construídas.

Essa é uma das poucas graças que essa raça vazia e desprezível ainda possui.

Agora faltavam apenas três botões.

- "Movido por pouco". Não é? O que ela disse... - Abotoei o oitavo botão. - quando você disse isso a ela?

- Bem, por coincidência o senhor e os outros chegaram bem na hora e por tanto, nada mais foi dito. Mas o senhor sabe, correto? Sabe bem pelo que sou movido.

- Seria um idiota se não soubesse.

- E então... - Nono botão. - o que seria?

- Pela sua fome, demônios precisam comer.

Décimo botão.

Sorri, satisfeito. Este era meu Lorde, a alma pela qual meus milenares anos tem aguardado.

Uma alma tão pura e lapidada, tão imprevisível e fora do comum, que fugia totalmente de seus padrões humanos, suas moralidades, sua natureza.

Era tão intrigante, tão cruel, trágico, tão saboroso.

- Vestes trocadas. Tenha uma boa noite, Bocchan.

A fome poderia de fato ser uma razão fútil para fazer o que faço. Mas, por almas como a de meu Mestre, certos sacrifícios adquirem um valor inestimável. Mesmo que feitos por tão "pouco", como a fome.






[...]






" As coisas poderiam ter sido piores. Na verdade, tudo correu melhor do que eu imaginei. Pensei que dividir as tarefas domésticas com Sebastian seria algo impossível, que ele faria distribuições injustas, subestimaria minhas habilidades, me questionaria ou que me provocaria a todo tempo, mas nada disso aconteceu. Detesto como ele é imprevisível.

Me sinto cansada, e ainda derrotada. Tive de atura-lo o dia todo e, ainda por cima, ceder. Me fingindo de simpática. Pelo menos eu consegui arrancar alguma coisa. Odiá-lo não tem sido muito útil e tudo que ganhei com isso até agora foi perder, ver meus planos dando errado e problemas que eu se quer tinha envolvimento, me perseguindo.

Sebastian é egocêntrico, arrogante, áspero, instigador e atrevido. Mas, mesmo sabendo disso, minhas mãos estão atadas. Quanto mais o afasto, mais perto ele chega, quando mais o desprezo, mais ele se aproxima de mim. Não poderia deixar que as coisas continuassem desse jeito, preciso seguir com uma abordagem diferente.

Eu tenho que conseguir aturá-lo, o mínimo que seja, senão, eu provavelmente não terei paz.

Se isso significa que as coisas possam ser melhores para mim, então, eu vou dançar conforma a porra da sua música música, Sebastian Michaelis.

Enfim, de qualquer forma, acho que uma aproximação menos nociva foi, definitivamente, uma boa escolha. Conseguimos conversar e finalmente consegui o mínimo de informações sobre ele! Eu, com certeza, poderia ter feito mais, mas ter finalmente conseguido algo já foi um progresso.

Eu tenho uma teoria, é um pouco fora da curva, mas já é algo. Pelo que entendi e pelas coisas que Sebastian disse, ele foi um...viajante! Ou algo parecida! É o que dá a entender, quando ele começou a falar sobre conheceu o mundo e suas "coisas". Ainda não entendi o que ele quis dizer com "coisas" ou com toda aquela história de "vazio". Mas, o que mais martela em minha cabeça é como alguém que viajou o mundo veio parar aqui, se tornando um mordomo! Tudo isso é estranho demais. Não ter pais, não saber de onde veio seu próprio nome ou achar o mundo todo entediante, para no fim, arranjar um trabalho mais entediante ainda! Um mordomo?!

Pessoas que viajam o mundo são chamadas de aventureiras, exploradoras. Me pergunto se ele já foi assim, um aventureiro destemido. Mas, sinceramente, não consigo vê-lo fora daquele fraque, cabelos bem penteados e luvas. Não o vejo em uma taverna, bebendo cerveja barata e falando sobre aventuras. Não se encaixa.

Mas, fico feliz que as coisas tenham fluido bem, espero progredir mais nos próximos dias. Mey-Rin está muito melhor, Finny e Bard disseram que ela poderá voltar a trabalhar em breve, de acordo com os médicos.

Hoje mais cedo, enquanto eu e Sebastian estávamos ocupados, Bard e Finny colocaram fogo na cozinha. Acho que vai sobrar para mim a tarefa de limpar a bagunça.

Fazem trinta e um dias que estou na mansão Phantomhive."



























*

OI GENTE! Perdão mesmo pela demora pra postar o capítulo! Eu estava aproveitando minhas férias e acabei ficando meio off! Kkkkk!

Bom, vamos fofocar sobre o capítulo! Eu gostaria de falar um pouco sobre as coisas que Sebastian disse.

O que ele quis dizer quando se refere a "monotonia e tédio" e "coisas", são nada mais, nada menos que o mundo e os humanos. Sebastian é um demônio que anda a milênios pela terra, movido pela fome assim como seus iguais, não havia nada no mundo que o movesse além de seus sentimentos egocêntricos e sua fome, isso até conhecer Ciel e conhecer um novo tipo de fome, dando a ele um propósito.

Ou...pode? Não sei! Vamos descobrir!

Tudo que ele fez até agora, foi pro seu próprio benefício, ele não se importa com Ayuni, ou com qualquer outro, ele só quer as vantagens. Nada é pelos outros, afinal ele é um demônio, ele não pode mudar.

É sempre bom lembrar que todo o apego que Ayuni tem demonstrado pelo empregados é atuação. Ela precisa da confiança e simpatia de todos...até daqueles que odeia.

Não esqueça de deixar seu voto "⭐️" e comentário!

*

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top