XII - Baile Funtom

25/02/1888 - Sábado

- Esse penteado ficou lindo, mas tem certeza de que não quer soltar seu cabelo um pouco?

Mey-Rin questionou enquanto fechava o colar em meu pescoço.

- Não, estou bem com eles presos.

- Você não gosta muito de mudar de penteado, né?

- Eu, bem...não. Não gosto.

- Bom, se prefere assim, então tudo bem! - Mey-Rin segurou meus ombros e me levou até o espelho de meu quarto. - Olha só, você ficou linda!

Me encarei no espelho e...nossa, eu nunca tinha me visto dessa forma antes.

Mey-Rin passou o dia todo me perturbando, implorando para que a deixasse me arrumar, e no fim, acabei cedendo para que ela parasse de me encher.

Mas, acho que no fim, não foi uma má escolha.

Não a deixei encostar em meu cabelo. Fiz meu próprio penteado, mas depois disso dei a ela a liberdade para fazer o resto, e funcionou.

Até que me senti bonita. Um pouco mais...feminina?

Não parecia nada mal.

- Que tal, pelo menos, uma corzinha nos lábios?

- Não, Mey-Rin.

- Por favorzinho!

- Você quer mesmo me transformar em uma boneca hoje, não quer?

- Claro! Precisamos impressionar os rapazes que lá embaixo! N-né?!

Eu me pergunto se existem outras palavras rondando a cabeça de Mey-Rin além de "romance".

- Você é realmente bem romântica, não é?

- Talvez eu seja um pouquinho! E falando em homens, queria saber como os rapazes estão. Será que Sebastian vai usar um terno diferente?! Ah, Deus! Estou tão curiosa!

Toc,toc!

- Meninas! Sou eu!

Logo ficamos aliviadas ao reconhecer a voz de Finny!

- Entre!

Ele abriu a porta devagar, assim que entrou pude ver seus olhinhos brilharem e um sorriso surgir ao ver nossos vestidos.

- Uau! Vocês ficaram muito, muito lindas! Mas olha, acho melhor vocês terminarem logo! Muita gente já chegou!

- O Jovem Mestre e o s-senhor Sebastian já estão lá?!

- Ainda não, mas muita gente já chegou! Você sabe, a gente tem que receber os convidados, além da...

- Tudo bem, tudo bem! Nós já estamos prontas! Vamos Amelia... - Mey-Rin agarrou meu braço. - precisamos receber os convidados!

Nós três saímos de meu quarto e passamos pela cozinha, os cozinheiros que o Conde havia contratado corriam de um lado para o outro, Baldroy com certeza estava se mordendo de ciúmes por outros cozinheiros estarem mexendo em suas panelas.

Passamos pela sala de jantar e chegamos ao salão principal.

- Meu deus...

De uma hora para a outra, o salão que eu trabalhava todos os dias havia se tornado algo bem diferente do normal. O lustre iluminava todo o salão. As cortinas de sempre foram trocadas por cortinas roxas e brancas com bordados.

Arranjos de flores se espalhavam por toda a decoração, todos em roxo e branco. O cheiro que elas instalavam era muito bom e se espalhava por todo lugar.

Novos sofás foram espalhados pelos salão, e neles muitos nobres já sentavam e conversavam entre si, enquanto os garçons passavam servindo bebidas e aperitivos.

Não muito longe dali, uma longa mesa com mais comidas de todos os tipos foi estendida, perto do bar que foi montado mais cedo.

Algumas mesas de pôquer e baralho já estavam cheias de convidados, aristocratas com suas esposas, fazendo apostas e bebendo.

O centro do salão virou uma pista de dança. Muitos casais já giravam, embalados pelas musicas que a orquestra, perto das escadas, tocava. Eram boas musicas.

Eu já servi mansões antes e já servi em muitas festas, mas esse lugar...

Mágico, era a palavra? Não. É bem diferente de tudo que vi antes.

- Ahhh! Ficou tudo tão lindo! O Jovem Mestre sempre dá as melhores festas!

- Ei, gente! Aqui!

Ouvimos uma voz familiar nos chamar de longe, e durante a procura no meio da multidão, encontramos Baldroy, na entrada da mansão!

- Bard!

Finny acenou de longe e foi até ele, nós duas o acompanhamos.

- Finalmente! Fiquei esperando vocês pra terminar de receber os convidados!

- Quem diria, Bard. Você ficou bem de terno.

Elogiei genuina. Nunca tinha visto Bard daquele jeito antes.
Normalmente ele vivia amarrotado, cheirando a cigarro e com cabelo bagunçado. Aquele terno fez uma grande diferença quem diria que a senhorita Hopkins conseguiria fazer isso...

- He! Se você diz... - Ele passou a mão nos cabelos, como sempre faz quando se sente sem graça. - Mey-Rin, você, é, v-você tá ótima, em!

"Ótima", Bard? É sério?

- Ahm, obrigada, eu acho. Quais os convidados que faltam chegar?

- Se eu não me engano tem a senhorita Sullivan e o tal mordomo; a senhorita Hopkins e...

- SUNDAR RAAT PARA TODOS!

- AH! - Mey-Rin deu um pulo para trás. - Ma-majestade! Que prazer revê-lo!

Ela se curvou diante do homem à sua frente.

E, ela o chamou de "Majestade"?

Os cabelos do tal garoto eram escuros e lisos, penteados para trás. Ele vestia um sherwani azul escuro, Ele usava um colar, provavelmente de ouro, com um pingente fixado na lapela da sherwani.

Um indiano?

- A quanto tempo não vejo vocês! Meus servos preferidos!

O homem passou seus braços em volta de Baldroy e Finnian, eles pareciam um pouco nervosos, mas não negaram.

- É um pr-prazer revê-lo, Majestade!

- É, eu sei, eu sei! Agora, onde está Ciel, hm?

- B-bem, ele ainda não chegou, alteza!

- Não chegou? Ora, que besteira! De onde eu venho, o anfitrião tem que receber os convidados, além do mais, isso... - Ele parou por um instante quando colocou os olhos em mim, com uma expressão curiosa. - Agni, quem é essa?

E foi só aí que reparei no homem que estava logo atrás dele.

Pele escura, assim como da tal "Majestade", cabelos brancos e olhos acinzentados. Ele parecia tranquilo; vestindo um kurta verde escuro, turbante nos cabelos e bandagens em suas mãos. "Agni", o nome também é indiano.

É, eles são claramente indianos.

- Não sei ao certo, Soma-sama! Mas descobrirei agora! Senhorita, quem é você?!

Eles são sempre tão diretos assim?!

- E-eu sou Amelia Watson, a nova serva da mansão!

- Nova serva?! Então tenho que me apresentar, formalmente... - Sem hesitar, ele se aproximou e segurou minha mão. - é um prazer conhecê-la, senhorita. Sou o Príncipe Soma Asman Kadar, herdeiro do Reino de Bengal!

Um príncipe indiano em Londres?! Que diabos ele faz aqui?

Bom, que seja, devo me comportar de acordo com o que ele espera.

- É uma honra conhecê-lo, Vossa Alteza!

Me curvei em sua frente.

- É, eu sei! E esse é meu mordomo, Agni!

- É um prazer conhecê-la, senhorita Watson.

- Igualmente, senhor.

- Agora, voltando ao que importa, temos comida indiana na festa?!

- Imagino que sim, Alteza. Gostaria de ser acompanhado?

- Hm, talvez. Ei! Você ai, baixinho... - Ele disse, chamando Finnian. - me leve até o buffet!

- A-ah, sim senhor, digo, Alteza!

Ele saiu, acompanhando o príncipe e o mordomo até o buffet.

- Alguma de vocês duas faz ideia do que significa "sundar raat"?

- É "bela noite" em indiano.

Respondi, quase que de forma automática.

- Como você sabe?

- Eu li em um livro uma vez.

Saber o básico sobre indiano é útil. Os Moretti's fazem negócios com todo tipo de pessoa. Com tanto que dê lucro, eles não se importam.

- Bom, espero que a senhorita também saiba chinês.

Um homem exótico apareceu acompanhado de uma jovem, claramente bem mais nova que ele. Ele tinha cabelos negros e olhos bem fechados, era estranho. Vestia um quimono turquesa, bordado; amarrado com um tecido na cintura.

A garota agarrada a ele usava um vestido vermelho e decorado com bordados. Diferente dele, ela usava jóias, pingentes, e um pequeno leque chinês. Era bem vulgar para um baile...

- Boa noite senhor Lau, e s-senhorita Ran-mao!

A jovem que acompanhava o chinês não tirava seus olhos de Baldroy, o que provavelmente, o deixou nervoso.

- Ela gostou de você, cozinheiro. Não se preocupe, é um bom sinal.

- O-obrigado?

- E a senhorita seria?

Ele questionou, olhando para mim.

- Sou Amelia Watson, nova serva Phantomhive. É um prazer conhecê-lo, senhor...

- Lau, e esta é minha pequena jóia, Ran-Mao. Vamos doce, a comprimente.

- Olá.

Ela obedeceu, não muito convidativa.

- E deixe-me perguntar algo, senhorita Watson. O trabalho é de seu agrado?

- Sem dúvidas. O Conde é um ótimo Mestre.

- Imagino. Deve ser muito trabalhoso, exercer tantas funções ao mesmo tempo.

- Nada que não esteja ao meu alcance como serva, senhor. Mas faço meu melhor.

- Eu imagino... - Ele me encarou por mais alguns segundos, com um sorriso sagaz. - bom, vou aproveitar o bar da festa. Até mais tarde, senhorita Watson.

Ele saiu, com a tal Ran-Mao em seus braços.

Que homem esquisito.





[...]





Os convidados que restavam finalmente haviam chegado, e nós finalmente poderíamos fazer o que quiséssemos.

Decidi que sair para fazer minhas "procuras" agora seria um risco. Afinal, o Conde ainda estava no segundo andar.

Sumirei do baile durante a valsa, quando todos estiverem distraídos, assim como planejado.

Enquanto isso, eu, Mey-Rin e Bard estávamos assistindo alguns casais dançarem as músicas tocadas pela orquestra. Finnian estava muito ocupado tendo que explicar as comidas do buffet, uma por uma, ao príncipe.

- Por que o Jovem Mestre e o senhor Sebastian estão demorando tanto?!

- Tenho certeza de que eles chegarão logo.

- É, relaxe e aproveite a festa, Mey-Rin!

- Eu vou dar uma olhada no buffet, preciso beliscar algo. Eu já volto.

Ela saiu de cabeça baixa.

- Ei, Bard!

- Hm? O que?

- "O que", o que? Não vai me dizer que não pretende chamar Mey-Rin para a valsa?

- Que?! Olha eu...

- Ah vamos, sem desculpas. Eu nunca vi você tão arrumado como hoje, precisa fazer com que esse terno valha a pena. Além disso, o que ela pode dizer que seja tão ruim quanto um "não".

- Que eu sou um americano escroto e que não me pareço nada com Sebastian?

- Uou.

- Você sabe que ela diria isso, admite.

- Mas veja, mesmo que ela não aceite, tem um monte de mulheres aqui.

- Droga, mas eu só me forcei a usar esse terno de merda por causa dela! Vesti essa bendita roupa de pinguim só pra isso!

- Não quero ficar me intrometendo, mas, você nunca vai saber se não tentar. E você não ficou tão mal nessa "roupa de pinguim".

- Eu concordo, ficou bonitão!

- A-Ah! Fi-Finnian? Quando você chegou aqui?!

- Ah, acabei de chegar. Deixa eu adivinhar, Amelia tá tentando te ajudar a dançar com a Mey-Rin?

Era óbvio até para ele.

- Finny, vamos, você concorda comigo que ele consegue, não é?

- Sim, sim! Você consegue, tenta! A Mey-Rin é legal, ela não vai ser má com você. Bom, só se você gritar com ela.

- Ah! Tá! - Ele deu dois tapas leves no próprio rosto. - Tudo bem, eu tento!

- Isso mesmo! Assim que se fala!

O incentivei enquanto dava uma leve cotovelada em seu ombro.

- Ei, ei! Calem a boca vocês dois! Ela tá voltando!

Bard disse, "nem um pouco" nervoso.

Mey-Rin voltou com vários espetinhos de queijo com azeitonas nas mãos, ela jpa mastigando um deles.

- Hm, a comida é uma delícia! Vocês deveriam provar! E então, sobre o que vocês estão falando aí?

Dei outra cotovelada em Bard, para que ele abrisse logo a boca e falasse, antes que travasse.

- A-ah, Mey-Rin, eu meio que fiquei pensando, e-eu acho que, quer dizer, eu queria saber se você não...

- Boa noite a todos! Gostaria de pedir sua atenção por um instante.

De repente todos se calaram e a orquestra parou de tocar.

Olhamos para as escadarias, e...lá estava ele.

O Conde e seu mordomo.

Jovem Mestre usava um fraque de grandes caudas, cheias de babados, em roxo e branco. Ele usava um broxe com o brasão Phantomhive e sua  uma cartola branca. Nos olhos o tapa olho branco, e nas mãos, luvas de renda roxas.

Bem colorido. E um pouco estranho, mas, o Jovem Mestre não parece ser do tipo "convencional", pelo que eu vi até agora.

Sebastian, por outro lado, parecia quase o mesmo. O mesmo fraque de sempre, mas desta vez, sua lapela era branca ao invés de preta, sua gravata que sempre foi preta, hoje era roxa, e em um dos bolsos de seu fraque, um pequeno pedaço de lavanda pendurado.

- Ah! Sebastian ficou tão lindo! - Mey-Rin dava ridículos pulinhos de alegria. - Olhe só para ele!

Não à entendo. Ele estava, praticamente, o mesmo de sempre. Nada demais.

- Shiu! O Jovem Mestre vai falar, olhem!

O salão todo estava em silêncio, aguardando pelas palavras do Conde.

- Meus sinceros agradecimentos a todos que puderam comparecer a esse evento tão importante. Fico orgulhoso de ver a empresa de minha família crescer mais a cada dia. Devo meus agradecimentos a todos os colaboradores da empresa presentes neste salão hoje, tenho certeza de que meu pai ficaria tão feliz quanto eu. Hoje a Funtom está em festa, por tanta, comemorem a vontade. Dancem, comam, joguem e bebam. E mais tarde, teremos a tão aguardada valsa. Um bom baile a todos!

Todos em volta brindaram e o aplaudiram. O Conde descia as escadas com Sebastian ao seu lado.

Ele falou sobre seu pai no discurso. Preciso descobrir o que...

-
A-ah, pessoal, eu já volto! E-eu preciso ver o senhor, digo, o Jovem Mestre! Vejo vocês mais tarde!

Mey-Rin saiu correndo na multidão, deixando eu e os meninos para trás.

- Amelia, você bebe?

Bard perguntou, quase estático, encarando Mey-Rin correndo no meio da multidão.

- Pouco, mas, sim. Por que?

- Porque eu preciso de uma bebida, tipo, muitas. E, agora. Vem comigo?

- Não se desanime, Bard. Você...

- Você vem ou não?

Acho que desde que cheguei aqui foram poucas vezes em que eu senti pena de alguém, geralmente era de Bard.

É, paixão pode ser algo bem cruel às vezes, azar o dele.

Mas, não custa nada. Pelo menos, posso matar tempo até chegar a hora da valsa. Depois disso posso sumir investigar a mansão.

- Ei, Bard... - Foi então que entrelacei nossos braços. - me acompanha para um drink?

Ele me encarou, parecia minimamente aliviado, com uma cara um pouco melhor.

- Com certeza.





[...]





- Dois copos de Gin, por favor!

- Sim senhor... - O Barman pegou dois copos e os colocou na nossa frente. - algum adicional?

- Hm, acho que sim. Quero maças. E você, Bard?

- A-ahm, acho que laranjas, talvez?

- E eu, gostaria de Framboesas.

Uma terceira voz disse, e então, nos viramos para conferir de quem se tratava...

- Oh, senhor Lau?

- Olá de novo, cozinheiro. Vejo que você e a senhorita Watson estão se dando bem.

- A-ah, não! Eu e ela não estamos...

- Vocês viram o Conde, por acaso?

- Bom, não senhor. Só o vimos no início da festa, mas não conseguimos nos encontrar ainda.

- Imagino. Muitas pessoas vieram hoje, é um pouco difícil encontrar "alguém como" o Conde... - Ele disse, fazendo referência a altura. - enfim, sabem do que estou falando. Mas em fim, em algum momento vamos nos tombar. Até mais tarde, espero vê-los na Valsa dos Amores.

- Nós não somos...

Ele saiu do balcão, antes que Bard pudesse terminar.

- Ele é sempre assim?

Perguntei, genuinamente curiosa. Que homem mais esquisito!

- Quase sempre.

- E essa Jovem que anda com ele? Ela não parece muito nova para ele?

- Olha, eu tento não pensar muito nisso, porque se eu pensar, fica bizarro.

- Suas bebidas... - O barman nos serviu dois belos copos de Gin, com as frutas que pedimos. - façam bom proveito.

- Obrigada. - Estendo meu copo. - Saúde, Bard?

- Saúde.

Brindamos com nossos copos, e então demos os primeiros goles.

As notas herbáceas e cítricas do gin chegaram à língua, junto a doçura e refrescância do morango.

Bard bateu seu copo na mesa com força.

- Ui! Isso é ótimo! Colega, me veja mais!

Essa reação não está me cheirando bem.


[...]

- Não aguento mais.

- Mas a festa acaba de começar.

- Para mim já acabou depois que tive que falar aquele bendito discurso de abertura que você escreveu.

- São formalidades, Bocchan.

- Jura? Não me diga.

- Ciel?! CIEL, AQUI! EU VIM!

Eu reconheceria esses gritos desajeitados em qualquer lugar.

- Ah, não.

Vi Soma correr em minha direção, com Agni logo atrás dele.

- Paciência, Bocchan.

- Diz isso porque não é com você.

- Ciel, Ciel!

Ele chegava cada vez mais perto.

- Olá, Soma. Que...

Quando estava perto o suficiente, ele se jogou em cima de mim, quase me derrubando na frente de todos. Como sempre, Soma estava sem a noção do ridículo.

- Ow, que graça! Você continua do mesmo tamanho!

- Soma! M-me solte!

- Olá Sebastian... - Agni estende a mão para ele - um prazer revê-lo.

Por que ele consegue ser civilizado, mas seu bendito príncipe não?!

- É sempre um prazer revê-los, Agni. Como tem passado?

- Bem, graças a Shiva! Vossa Majestade estava ansioso para vir visitá-los!

- Meu Mestre fica extremamente agradecido pela presença de sua Majestade.

Quem disse?!

- Claro que nós viríamos! As festas de Ciel são as melhores! Não é?!

Soma tagarelava enquanto bagunçava meus cabelos, quase derrubando minha cartola. Idiota!

- Arg! Eu vou pegar uma fatia de bolo!

Fiz esforço para soltar dos braços de Soma.

- Ah, não! Fique mais um pouco!

Ele me agarrou, mais uma vez! Que inferno!

- Soma, por Deus, me solte!

- M-majestade, não pode sair desse jeito! Eu os acompanharei até o buffet!

- Não se preocupe Agni, seu príncipe está seguro na mansão.

- Sempre agradecerei pela hospitalidade. Oh, e percebemos que os senhores tem uma nova contratada, não?

- Ah sim, senhorita Amelia. Tem feito um bom trabalho.

- Que ótimo! É sempre bom encontrar pessoas competentes.

- E bonita!

Soma completou. Um abobalhado, como de costume. Prestando atenção em coisas idiotas como essas.

- Sem dúvidas. Sendo uma moça tão bela, faz sentido ter chamado a atenção do cozinheiro! Não acham?

Cozinheiro?!

- Perdão, disse "cozinheiro"?

Sebastian questionou. As coisas finalmente começaram a melhorar. Sim! Era isso que faltava nesse bendito baile!

- Sim! Nós os vimos de braços dados, caminhando até o balcão de bebidas. Romântico, não acham? Ela era realmente uma bela mulher, me lembra um pouco as moças de nossas terras! Não é, vossa alteza?

- Com certeza! Ela lembra bastante!

Foi quando eu e Sebastian trocamos olhares. Entendi na mesma hora de quem Nina falava ontem, e obviamente, Sebastian também.

Suponho que isso signifique que, todo esse tempo, Amelia queria dançar com Sebastian, mas Baldroy queria dançar com ela?! É isso?!

- Baldroy?

Ele pronunciou o nome como se sua língua tivesse veneno, com a pitada de desprezo que apenas eu reconheceria.

Não sei se aquilo realmente o incomodava, talvez fosse apenas uma forma idiota e infantil que procuraria para se distrair esta noite, algo para entretê-lo, ou talvez, me entreter.

Ele sabe como me entedio fácil com bailes. Será que se tratava disso? Diversão? Vindo de Sebastian, era bem capaz.

Sebastian não era tão previsível quanto eu gostaria que fosse. Se bem que, não sei se gostaria. Talvez a previsibilidade acabasse com a diversão.

- Sebastian? Algo errado?

Agni perguntou com certa preocupação, já que Sebastian não parecia mais estar ali, distraído.

- Jovem Mestre, gostaria de um aperitivo de camarão?

- Ah? Não, do que você está...

- Esplêndido. Trarei um para o senhor agora mesmo, com licença.

Sem mais nem menos, Sebastian desapareceu tão rápido quanto aparece quando o chamo. Não o vi entrar na multidão, ou descer as escadas, acho que Agni e Soma também não.

Odeio quando ele faz isso enquanto falo com ele.

- E-espera! Q-que?! Ah, que se dane! Soma... - O puxei por suas roupas, o afastando dali. - quero um pedaço de bolo. Vamos!

- C-claro! S-só, ah você pode parar de puxar minhas...

- Vamos logo!

- Ai! Tá, tá!

- Majestade, espere!





[...]





- Hahaha! Ó, escuta essa, escuta!

- Hahaha! Conta logo!

A aquele ponto Baldroy já estava contando piadas de péssimo gosto, com as bochechas rosadas, bafo de gin e sessenta por cento alcoolizado. Mas, pelo menos, ele estava de bom humor.

- Olha só, v-você sabe o que o menino sem mãos ganhou de natal?

- O que?

- Não sei, diabos! Ele não tinha braços para abrir! HAHAHAHA!

- Bard! I-isso, ai Deus! Isso n-não, não tem graça!

Disse tentando conter a risada.

Ele passou o braço em volta de meu ombro, ainda rindo de forma histérica.

- Ah! Caramba, essa foi muito boa! Olha, você é muito boa ouvinte de piadas! Queria que a Mey-Rin ouvisse as minhas!

- Você já contou alguma a ela?

- Ah, nunca tentei, tenho medo de ofender ela, ou alguma coisa assim. Ela é toda certinha, correta e não sei mais o que!

- Bom, hoje pode ser a chance. Com tanto que você não faça nenhuma piada criminosa.

- Isso diminui bastante meu leque de opções.

- Por Deus, Bard!

Apesar das piadas de péssimo gosto, estávamos nos divertindo juntos. Bard era uma boa companhia, não era tão intelectual ou culto, mas era engraçado, simpático e gentil. Me lembra o Toby e os outros caras, apesar de que Bard não era "escroto" como eles.

Tudo parecia ótimo, afinal com ele alcoolizado; Mey-Rin correndo atrás de Sebastian; Finnian brincando pelo salão e o Conde ocupado, eu teria todo o tempo que preciso para explorar seu escritório durante a valsa.

- Ai, merda!

Bard disse quando, por acidente, derrubou seu copo no chão.

- Que coisa!

- Não se preocupe, eu pego.

Me virei de costas para pegar o copo, que rolava pelo chão, já que por sorte não havia quebrado.

Me abaixei sobre o banco para pegá-lo e me levantei lentamente, parando para observar um pouco da festa. Todos pareciam estar se divertindo! Alguns jogavam, outros bebiam, muitos dançavam e...

Sebastian?

Foi quando o vi do outro lado do salão, parado ao lado de uma das janelas, olhando fixamente e seriamente para mim. Tive certeza de que era para mim.

Senti seus olhos bordô me queimando, de tão fixos.

O que há com ele? Tsc! Ou melhor, por que me importar?

Está apenas sendo estranho, como sempre.

O ignorei e me virei para frente, mais uma vez. Devolvendo o copo para Baldroy.

- Obrigado, Amelia. Ai, você já provou os petiscos lá do buffet?

- Ainda não, e você?

- Nem eu. Quer ir provar?

- Tudo bem, acho que pode ser. Inclusive, antes de irmos, que horas você acha que a valsa vai começar?

- Não sei. T-talvez umas...

De repente as luzes se tornaram mais baixas, quase se apagando; a orquestra parou de tocar Beethoven, mudando completamente o ritmo da música; todos que antes estavam jogando e bebendo, se levantaram ou saíram de onde estavam, para ir ao centro do salão.

O maestro da orquestra subiu os degraus das escadas, chamando a atenção de todos.

Por acaso isso era...

- Anunciaremos agora, o início da valsa dos amores! Procurem seus pares, ou aqueles por quem estão apaixonados, esse é o momento de se confessar!

Ele barrou a multidão.

Merda! Que língua maldita a minha!

- Bard, é agora! Vai atrás dela!

- Q-que?! Eu não! Moço, me vê ma-mais um copo de Gin!

- Deixe de ser frango... - O agarrei pelo braço, o obrigando a levantar. - vá procurá-la!

Precisava dar um jeito de colocar esses dois juntos para que não me atrapalhassem.

- Tá bem, tá bem! Já entendi! Estou indo!

Foi então que o vi se perder no meio da multidão, olhando para um lado e para o outro, procurando por Mey-Rin.

Era minha chance. Finalmente!

Agarrei as pontas de meu vestido e andei apressada, tirando proveito do grande tumulto que o amontoado de burguesas criavam ao irem para o centro do salão, já que logo a música começaria!

Cada vez mais perto, só mais alguns metros. Faltava pouco.

Acabei pisando no pé de um ou outro, talvez uma cotovelada aqui, ou ali, mas estava perto!

E depois de tanto tumulto, alcancei o início do corrimão. Finalmente! Eu irei...

- Arg!

Senti algo agarrar minha cintura, não com força, mas com certa pressão. E então, senti uma sombra crescente atrás de mim, que me puxou para, o que quer que fosse, onde minhas costas bateram contra.

- Vai a algum lugar, senhorita?

A voz grave chamou, tão clara que parecia estar no pé de minha orelha.

Sebastian?!

Eu estava com o corpo em seu peito. Torcia meu pescoço para cima, pela grande diferença de tamanhos.

Sem que pudesse contestar, ele me rodopiou para longe do corrimão, me deixando zonza! Tropecei em meus saltos, perdi o equilíbrio e senti perder o controle, e foi quando achei estar prestes a cair...

Uma mão sobre minha cintura, e a outra agarrando meu punho.

- Me daria a honra desta dança?

E foi quando, por mórbida coincidência, o maestro deu início a música.

- O que?! E-eu, eu não...

Antes que pudesse contestar, ele entrelaçou seus dedos nos meus e firmou mais ainda sua mão em minha cintura.

- Não me diga que iria deixar a festa tão cedo? Acabamos de começar.

Ele questionou calmo, dando os primeiros passos. Esquerda, direita, esquerda e direita novamente. Ele era mais forte, já havia me mobilizado em suas mãos. Eu não poderia fugir em plena multidão, não poderia fazer um escândalo tão de repente, sem motivos. Mas, ao mesmo tempo, não poderia ficar ali parada. Maldição!

Eu não tinha outras opções. Eu teria que acompanhá-lo nesta dança.

Sebastian, é sempre ele. A pedra em meu sapato, o tropeço em meu caminho, a sombra que está sempre ali quando penso estar sozinha.

Em anos, imaginei ter entendido homens como ele, tive a certeza de ser mais astuta que eles.

Egocêntrico, sarcástico, cínico, irreverente, obstinado e fingido. Homens assim são idiotas, fáceis de desdobrar, de encontrar um padrão, são burros e previsíveis.

Mas não com ele, não com Sebastian. Ele era o que queria, na hora que queria.

Sua imprevisibilidade era irritante, quando imaginava que faria "A", fazia "D". Procurei a "dificuldade de aprender" ou de "reconhecer os próprios erros" em seu egocentrismo, mas os perdi de vista quando o presenciei fazer ambos como se não fossem nada, mesmo que falsamente. Seu sarcasmo e cinismo eram selvagens e apareciam quando queriam, ele poderia estar ao seu lado, e em seguida, acima de você, com toda a convicção de que era superior. Era bom em esconder isso de todos e amava a imagem polida e impressionante que havia criado para si como mordomo.

A aura sombria que o rondava era um total mistério, aqueles olhos vermelhos guardavam coisas que eu não compreendia, eu não conseguia lê-lo, estudá-lo como fiz com os outros.

Sebastian era um completo mistério, e o pior de tudo, ele estava sempre no meu caminho.

Infelizmente, eu não suporto que fiquem no meu caminho.

- Quem disse que eu estava pensando em sair?

- Talvez por não ter encontrado seu par? Pobrezinha.

- Par?! Mas... - Nos movemos lateralmente pela pista, deslizando nossos pés suavemente pelo chão, conforme a música e os outros casais. - do está falando?

- Aparentemente Baldroy estava bêbado demais para convidá-la... -  Voltamos ao passo básico, um passo esquerdo para frente, e um passo para o lado direito. - quanta falta de cavalheirismo.

- O que?! Você está totalmente louco.

- Eu? Bom... -  Realizamos o "Dip" da dança, ele me segurou firmemente pela cintura, enquanto me inclinei para trás, estendendo as pernas e mantendo a postura. - não foi o que Senhorita Hopkins nos disse.

- Ah? E o que ela disse?

Tomei impulso e me levantei novamente.

- Nada demais, apenas uma tal dama que estaria sendo "disputada" esta noite, e que gostaria de dançar comigo... - Realizamos o passo de cruzamento, nossos pés se cruzaram ligeiramente enquanto deslizávamos lateralmente. - fico feliz por ter chego antes.

- "Chego antes"? Do que você está falando?! Essa conversa está muito estranha para meu gosto!

Nos descruzamos e voltamos aos passos primários.

- Para uma serva, a senhorita dança perfeitamente bem. Poderia lhe perguntar quem a ensinou?

- Não fuja do assunto. Esta "história" me parece muito estranha. ... - Realizamos o passo de lançamento, onde Sebastian me elevou no ar, girando-me brevemente, antes de me levar de volta ao chão. - por acaso está assumindo que eu queria dançar com você?

- Bom, não vejo outras possíveis opções por aqui, além da senhorita. E não precisa negar ou se envergonhar, eu já imaginava.

- "Já imaginava"?! Não estou gostando das coisas que está assumindo!

- Nada a não ser o óbvio. Além disso, seria absurdo permitir que alguém como a senhorita bailasse com alguém como ele.

- Está falando de Baldroy? Se quer saber, está passando uma impressão completamente errada... - Realizamos o "Dip" da dança novamente, desta vez Sebastian se inclinou junto a mim quando me inclinei para trás. - ciúmes.

Você quer jogar, seu maldito? Continua com suas brincadeiras ousadas e egocêntricas, eu posso aguentar, patife!

Ele levantou as duas sobrancelhas, seu sorriso cínico se fez ainda mais presente, aparentemente, desejava passar um ar de confiança.

- Ciúmes? Oh, por favor. Com todo respeito, não conheço sentimento mais inútil.

- Então por que me impediria de dançar com Bard? Ele é uma companhia agradável.

Ele fez uma expressão não muito satisfeita com o que ouviu.

- Acredito que existam opções melhores, talvez alguém...- Ele me rodopiou, e antes de permitir que o passo terminasse, me trouxe de volta a seus braços, com mais força, mais próximo. Esse asqueroso, metido, nojento! - de outro nível.





[...]





- Ah, Ciel?

- O que foi dessa vez? Se for sobre o baralho, já disse que não estou com vontade de jogar. Agora fiquei quieto, deixe comer meu bolo em paz.

- Ma-mas, não é isso! É que...

- Eu já disse que quero comer meu bolo em PAZ!

- Ma-mas o Sebastian!

- Inferno! O que tem ele?!

- Ele está DANÇANDO!

- Como é?!

Soma apontou para a pista de dança. O procurei na multidão, e não era mentira. O maldito estava mesmo dançando.

Dançando com Amelia. E pelo visto, estavam roubando a atenção de várias pessoas, estavam todos olhando.

E o que eles estavam falando?! Parecia que estavam sussurrando um para o outro.

- Veja só, Soma... - Peguei mais um pedaço do bolo com meu garfo e o coloquei na boca. - as coisas acabaram de ficar muito mais interessante.

- Ciel...

- Hm?

- Me dá um pedaço?

Olhei rapidamente para ele, que encarava meu bolo.

- Não.





[...]



- Você realmente se considera melhor que as outras pessoas, não é? Como alguém como você pode ser tão arrogante?

- Acho que "confiante" é a palavra ideal. Modéstia a parte, sou apenas um mordomo e tanto.

- "Modéstia"? Para um mordomo você anda "confiante" demais. Acha que nosso Mestre aprovaria esse seu comportamento?

- Eu gosto de ser um exemplo de confiança para os outros servos. E se me permite dizer, senhorita Hopkins fez um ótimo trabalho em seu vestido. Está estonteante.

Ele estava fugindo do assunto, de novo!

Tudo bem Ayuni, se acalme. Você consegue! Jogue o jogo dele.

- Sei que reparou, suas encaradas estavam me queimando no bar.

- É inevitável, está hipnotizante.

- Chega, tem algo errado aqui. O que você tem hoje? Me trazendo tantos assuntos estranhos, me arrastando para uma valsa dessa forma e assumindo que queria dançar com você! O que quer dizer com tudo...

- Não quero te interromper, mas parece que temos alguns espectadores.

Ao olhar em volta, percebi que todos à volta estavam nos assistindo.

- Talvez sejamos um colírio pros olhos.

- Você deve estar febril ou algo do tipo.

- A senhorita tem uma língua bem comprida, não acha?

- Talvez com aqueles que mereçam ouvir.

- Interessante. Me impressiona que alguém como você fosse bailar com alguém como ele. Gostos são coisas realmente peculiares, não acha?

- Não sei exatamente onde está sua cabeça, mas para seu governo, Bard não queria dançar comigo, e eu não queria dançar com ninguém. Não que isso lhe interesse!

- Oh, é mesmo? Admito que não era bem o que imaginei, ou melhor, que ouvi. Se é assim, sobre quem é toda essa história?

Acho que entendi. Srta.Hopkins disse alguma besteira! Disse que havia uma dama interessada em Sebastian e simplesmente não disse quem! Ela com certeza sabia do interesse de Baldroy e confundiu totalmente as coisas.

Deus, qual o problema dessa mulher?!

- Não sei se esse assunto é de sua conta.

- Ah, vamos. Deveria saber que eu descobrirei de um jeito ou de outro. Mas sinto que a resposta parece óbvia

- Óbvia?

- Que tal um chute. Mey-Rin?

Assim?! De primeira?!

- Por que respondeu tão rápido?

- Vocês são as únicas mulheres da casa, Baldroy não convive com outras além de vocês, é óbvio. Agora, deixe-me ver se entendi. Em tese, eu e Baldroy estaríamos disputando por Mey-Rin? Arg, Senhorita Hopkins é mesmo uma tola.

- Por acaso está desmerecendo Mey-Rin?

- Está pondo palavras em minha boca. Eu apenas, bem, não acredito que seríamos o par ideal, simples assim.

- Não deveria dizer estas coisas pelas costas de uma dama, não acha?

- Eu diria o mesmo a ela se me perguntasse, sou um homem sincero.

- Existe um grande penhasco entre ser sincero e, simplesmente, ignorante.

- Ignorante? Tenho gostos. Que eu saiba, isso não é nenhum crime.

- E o que eu teria a ver com seus benditos "gostos"?! Inclusive, seria muita prepotência sua assumir de cara que eu seria a tal dama. Me pergunto o por que!

- Bem... - Ele soava tranquilo, como se a resposta fosse óbvia. - não seria nada cavalheiro de minha parte permitir que uma dama ficasse sozinha em uma noite como esta.

Ele desviou completamente da pergunta, mais uma vez!

O maestro finalmente chegou ao ápice da música. Realizamos os passos de fechamento e os repetimos até chegarmos ao fim da música.

E finalmente chegou ao fim. Todos aplaudiram, comemoraram e muitos amantes que dançavam agora se abraçaram e se emocionavam com suas declarações.

- Tire as mãos de mim... - Fugi de suas mãos em minha cintura, me afastando o mais rápido que pude, cortando qualquer contato que ele ainda tivesse com meu corpo no momento. - serei bem franca "senhor" Sebastian. Não é porque tem bons passos de dança, um vocabulário extenso ou um fraque de seda, que isso faça de você um grande homem ou cavalheiro. Na verdade, te acho o homem menos cavalheiro, mais descarado, arrogante e atrevido que conheci nos últimos tempos. Agora, com sua licença!

Agarrei as pontas do meu vestido e sai contrariada.

Estava irritada, totalmente possessa. Ele acabou com meus planos, com o único momento que teria para avançar o mínimo que fosse na minha maldita investigação! Eu não queria dançar, não queria chamar a atenção daquela forma, e diabos, não queria que ele se quer me tocasse! Esse maldito!

E se Baldroy tivesse visto?! Por Deus, e se Mey-Rin tiver visto isso?!

Preciso encontrá-los!

Os procurei por todo o salão, mas não encontrei nenhum dos dois. Isso até ir procurá-los na cozinha.

Bard estava sentado na mesa, onde costumávamos comer juntos e fazer nossas refeições todos os dias.

- Ei, Bard! O que aconteceu?! Ela recusou?!

- A-ah, é você. N-não nada disso, na verdade, ela foi pra cama um pouco antes da valsa começar.

- O que? E por que?

- Ela comeu alguma coisa com camarão e teve uma crise alérgica. Estou aqui desde então.

- COMO?!

- Ei, ei, não precisa surtar. Eu e Finnian já cuidamos dela. Eles estão lá nos quartos, dormindo. Não é a primeira vez que ela faz isso.

- Não? Quantas vezes ela já fez isso?

- Pelas contas de Finnian, mais ou menos umas seis vezes.

- Nossa.

- É, acontece.

Ele parecia desanimado, acabado, e principalmente bêbado.

- Não fique assim, você vai ter outra chance.

- Baboseira... - Ele deitou a cabeça na mesa, parecendo derrotado. A aquele ponto, sua gravata já estava frouxa, os cabelos bagunçados e o fraque jogado em um canto. - de que adianta ter várias chances se nem é de mim que ela gosta? Mey-Rin nunca ia gostar de um cara que nem eu. Eu sou só um velhote americano na casa dos trinta. Ela com certeza merece alguém que nem o Sebastian.

- Não, não merece.

- Ah?

- Olha, não diga que te falei, mas eu e Sebastian meio que conversamos agora a pouco e...

- Vocês dançaram?!

Eu devia ter ficado quieta!

- Q-que?! Não, nada disso! O-olha, eu só...

- "Só"?

Não adianta, eu não poderia contar a Bard sobre a dança, muito mais a maneira como Sebastian desmereceu Mey-Rin. Do jeito que ele está bêbado, iria atrás de Sebastian só para socá-lo.

Não suporto consolar bêbados. Já basta todas as vezes em que tive de consolar Toby e Charles a cada bebedeira que os idiotas se envolviam.

- Bard, eu te entendo, todos nós sabemos como ela gosta de Sebastian. Mas, se você continuar gaguejando e fazendo elogios vazios a ela, então as coisas não vão mudar nunca. Mey-Rin é cega por Sebastian, você tem que mostrar que ela tem outras opções. Que você é tão bom quanto ele. Você é homem, se imponha!

Tomara que seja o suficiente.

- É, talvez tenha razão, eu deveria fazer isso. Mas por onde eu começo?!

Eu espero que o pagamento por esse trabalho seja realmente tão grande quanto me falaram, porque consolar um cozinheiro bêbado e melancólico definitivamente não fez parte do meu treinamento!

- Você pode começar cuidando dela, passando essa noite dando suporte pra ela, tenho certeza que amanhã ela vai ser muito grata pelo serviço.

- É, talvez eu deva começar a me mover. Obrigada Amelia, você é uma boa amiga.

- Não tem de que. Agora, vai!

Bard levantou confiante, de peito estufado, bêbado e tonto. Ridículo, mas ainda é melhor que melancólico.

Ele pegou suas coisas, me desejou "boa noite" e foi em direção ao corredor dos nossos quartos.

Eu não imaginei que a noite seria assim. Foi tudo tão caótico, tão confuso.

Preciso de ar fresco.





[...]



As escadas, de pedra fria, me proporcionaram um lugar de descanso solitário.

As noites de inverno em Londres sempre foram lindas. O céu estrelado brilhava, e a lua iluminava tudo ao redor. Aproveitei para respirar fundo, sentindo o ar fresco trazendo um pouco de alívio.

O ruído da música e das vozes abafadas chegava até mim, mas eu tentava ignorar.

Abaixei os olhos e olhei os degraus sob meus pés. Tão sólidos, tão reais, enquanto a sensação de surrealismo do baile ainda martelando na minha cabeça.

Era algo tão simples. Eu só precisava subir, só precisava ser rápida. Como eu fui tão idiota de ter deixado que ele me encurralasse daquele jeito?! Sou uma total incompetente!

Por que nada pode sair como venho planejando?! Por que tudo tem sido tão incerto?!

"Idiota, incapaz, insolente, inútil".

Minha cabeça repetia como se fosse um mantra.

"A melhor assassina do submundo de Londres.", é o que sempre ouço, e mesmo assim, não tenho conseguido fazer o que eu, literalmente, fui criada para fazer.

Mas que inferno! Se eu não presto nem para o meu propósito, então por que eu sequer existo?! Por que ainda estou aqui?!

Senti minhas mãos começarem a tremer, discretamente.

- Não, não, não...

Apertei os punhos, senti meus olhos começarem a arder e as lágrimas se acumulando nas minhas pálpebras.

Não posso fazer isso agora. Voltar a chorar que nem fazia quando era garotinha?! Estou sendo estúpida, fraca, totalmente inutil!

Pressionando meus lábios com força e agarrei meus punhos com mais força, como se fosse adiantar de alguma coisa. As palavras ásperas que repetia a mim mesma só ecoavam e sumiam no vento frio.

Estava muito frio.

Renk...

Ouvi o ranger das grandes portas, de entrada da mansão, se abrindo.

Parei de apertar meus pulsos e levei minhas mãos a meus olhos o mais rápido que pude, tentando evitar que aquelas lágrimas começassem a escorrer.

Não precisava me virar para saber de quem se tratava.

- Honestamente, a essa altura você já está me perseguindo.

Os passos se aproximaram, descendo alguns degraus, até chegar aos que estava sentada. Primeiro vi os sapatos de couro preto, depois as pernas longas na calça de alfaiataria, o fraque, as mãos enluvadas e um sorriso que eu, particularmente, detestava.

- Não acha inadequado que uma dama fique sentada sozinha nas escadarias de uma mansão? Além disso, ainda é inverno.

- Tudo bem, eu vou ao jardim dos fundos me sentar nos bancos. Só me deixe em paz.

- Poderia me juntar a você?

- Você sequer ouviu o que eu disse? E, não. Você não pode.

- Insisto que uma dama não deva ficar desacompanhada durante uma noite como esta.

- Eu recomendo que você volte. Caso não tenha sido clara, eu não quero sua companhia.

Eu estava cansada demais para levantar minha voz. Desanimada.

Ele desceu mais alguns degraus, ficando frente a frente comigo, parado. E não parecia ter a intenção de se mover.

- Você é sempre tão insistente e teimoso?

- Sinceramente, - Ele fez uma pausa silenciosa. - não.

- Então é só a mim que quer perturbar? Que "sorte". - Disse áspera, e exausta. - Escute, por que não volta ao baile? Que eu saiba, não deveria estar longe do Jovem Mestre por tanto tempo.

O encarei, erguendo meu pescoço para cima, já que nossa diferença era grande e ele estava de pé. Eu não queria discutir, não queria brigar, só precisava de sossego.

Ele parecia sério.

- Sei que a senhorita não deseja minha companhia, e certamente sairei assim que ouvir o que tenho a dizer... - Ele soou calmo. - sinto muito se a companhia e, meu comportamento, lhe desagradou esta noite, não era o que eu pretendia. E quero que saiba que não estava desprezando Mey-rin. Fui, apenas, honesto.

Ah?

Estranho.

Olhei para os lados, desconfiada, conferindo se realmente não havia mais ninguém em volta.

- O Jovem Mestre lhe mandou aqui, por acaso?

- Não. Estou por conta própria.

- Eu duvido.

- Eu não conto mentiras, senhorita Amelia.

- Se não conta, me responde uma coisa! Você achava mesmo que eu queria dançar com você?! O que estava pensando quando me arrastou daquela forma?!

Ele ficou em silêncio por um tempo. Me encarando como se estivesse histérica.

- Não me parecia certo vê-la fugindo da festa e presumi que envolvesse alguma negação por parte de seu par em dançar. E, sinceramente, imaginei que seria diferente. Pensei que desejava dançar.

- "Diferente"? Você é inacreditável. Já ouviu falar de "arrogância" ou "delírios"? Além disso, eu já disse, Bard e eu não planejávamos... - Parei no mesmo momento em que percebi que estava me "explicando" para ele. - não, esqueça. Não quero seguir com isso.

Evitei olhar em seu rosto. Estava começando a me irritar, e fiz questão de deixar claro!

Uma grande frente fria se fez presente de novo, fazendo meu corpo arrepiar. Abracei meus braços, tentando diminuir o incômodo.

- Novamente, peço minhas sinceras desculpas... - Mal o vi se movimentar, mas, ele subitamente estendeu sua mão a mim. Nela, estava seu fraque. O deixando apenas com sua blusa de seda e seu colete. - posso pedir que tenhamos uma relação amigável?

Já chega.

- "Relação amigável", você diz? - Me levantei, soltando meus braços, mesmo sofrendo com o frio. - Eu não confio na sua falsa simpatia, não confio em nenhuma de suas atitudes e, mesmo que eu queira paz, eu não vou fazer isso nos seus termos. Não quando você quer ou como você quer, Sebastian. Porque, acredite, mesmo que você se enxergue como o mordomo perfeito, que pode controlar qualquer coisa e qualquer um que esteja "abaixo"... - Me inclinei em sua direção e o encarei cínica. - eu não estou no seu controle.

Enfim, eu dei as costas e sai. Para mim, a noite já havia acabado.















*

PRIMEIRO CAPÍTULO DE 2024! IRRAAAA! Eu espero muito que tenham gostado!

Eu queria muito que esse cap tivesse uma ilustração do Seb e da Ayuni dançando, mas infelizmente não deu tempo.

Eu ameeei escrever esse cap! Lá no final, quando o plano da Ayuni, de invadir o escritório no meio do baile, não dá certo, vemos que ela se frustra de várias formas.

Ela não gosta da forma que Sebastian a atrapalha, não gosta da forma com que ele se sente superior a todos e não gosta de ver seus planos dando errado. Ela tem um grande trauma com "cometer erros" ou fazer as coisas da forma errada.

Enfim, espero que tenham gostado tanto quanto eu!

Não esqueça de deixar seu voto "⭐️" e comentário!

*

Shiva: Um dos deuses supremos do hinduísmo, conhecido também como "o destruidor e regenerador" da energia vital; significa o "benéfico", aquele que faz o bem.

Sundar raat: "Bela noite", em indiano.

Soma: É o jovem príncipe indiano de dezessete anos de idade. Soma e Agni encontram pela primeira vez Ciel Phantomhive e Sebastian Michaelis quando estavam por East End. Vemos ao longo do mangá ele suprir grande afeto e amizade por Ciel, que não necessariamente, corresponde da mesma forma, apesar de quase sempre recebê-lo, mesmo que relutante


Agni: Um brâmane que renunciou ao seu antigo estilo de vida para servir o príncipe Soma. Ele é uma mestre na culinária indiana e nas artes marciais, e suas capacidades podem rivalizar com as de Sebastian


Lau: Nobre, gerente da filial britânica da empresa comercial de Xangai Kong-Rong. Conhecido de longa data de Ciel Phantomhive


Ran-Mao: É a assassina pessoal de Lau, de acordo com a Wiki oficial de Kuroshitsuji. Eles também possuem um tipo de aproximação mais sexual, mas ninguém sabe ao certo o que esses dois tem.

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