II - Mansão

27/01/1888 - Sexta-feira

- Então, tu vai embora hoje?

- Aham.

Terminava de arrumar minhas malas enquanto Tobias me perseguia de um lado pro outro como um cão carente.

- E o que você conseguiu até agora?

- Com alguns arquivos e informações que o senhor Benedict me enviou, - Coloquei meus dois vestidos, já dobrados, dentro da mala. - eu descobri alguma das habilidades dos tais servos Phantomhive, além de que um dos antigos empregados se aposentou, então eles provavelmente estão precisando de um substituto - Comecei a dobrar alguns pares de meia. - já consegui um currículo falso com passagens por outras instituições que elogiam meu trabalho excepcional e registros com minha nova "identidade" no governo. Ah! Também enviei uma carta e meu currículo ao Conde.

- Ele respondeu?!

- A três dias atrás. - Coloquei os pares dobrados na mala. - Ele me convidou à mansão e marcou uma data. Dia vinte e sete de janeiro, ou seja, hoje.

- Uau. E quanto tempo demorou pra fazer tudo isso aí?

- Uma semana.

- Uma semana?! Eu não sabia que dava pra arranjar tantos documentos em tão pouco tempo.

- Óbvio. Você acha mesmo que a máfia não tem contatos com o parlamento?

- Claro que sei, é! Eu só tô um pouco...

- Um pouco?

- Curioso.

- Com?

- E se esses servos doidos te pegarem? E se esse mordomo esquisito te descobrir?! Eles podem desconfiar! Q-quer dizer, você não não tem cara de britânica, e nem é uma! Eles podem acabar...

Coloquei minha mão em sua boca, o fazendo parar de falar.

- Ei, pare com isso. Se acalme, - Tirei minha mão de sua boca e me sentei ao seu lado, na cama. - eu sei exatamente o que estou fazendo.

- E o que vai acontecer se você não voltar?

- Bom - Me inclinei para o chão, pegando meus saltos baixos e os calçando. - provavelmente, significa que eu falhei.

- É sério que você não se sente nem um pouco em pânico com isso?

- Não o suficiente para ficar como você. - Já calçada, me levantei e comecei a procurar por minhas luvas. - Eu sou uma profissional, vai dar tudo certo, precisa dar.

- Ayay, pensa direto! Pode ser a maior desgraça! Vai que você sobe de cargo de outro jeito e...

- Não! Já me cansei disso, de esperar. Não vou desperdiçar uma chance desse tamanho! Quantas vezes você viu o próprio Don solicitar um serviço a nós?!

- Ahm, e-eu...

- Exatamente. - As encontrei na mesa de cabeceira, e então as vesti. -  Vai funcionar! Imagine a quantidade de dinheiro que posso ganhar com isso?! A quantidade de poder...

- Prefiro te ver pobre, que nem a gente, do que morta.

- Olha, - Acabei sorrindo. Eu podia ver a singela preocupação no seu rosto. - é um bom jeito de dizer que se importa.

- Tsc, para de drama! E, j-já que você tem outra identidade, como vai se chamar?

- "Amelia", - Disse, empolgada. - "Amelia Watson"! Essa será a mulher que servirá a mansão Phantomhive.

- Um ano sendo essa mulher ai? Eu vou sentir falta da "Ayay".

- Talvez eu também sinta a sua, "Manco"... - Me aproximei e dei a ele um abraço apertado. Ele era um grande ignorante, bruto e muitas vezes infantil, mas ainda era meu amigo, o único. - tenta aprender a ler e escrever enquanto eu estiver fora. O que acha?

- Sou burro demais para fazer isso sem a tua ajuda.

- Eu sei, mas sempre vale tentar.

- Posso te pedir uma coisa, antes de você ir?

- Não vou roubar garrafas da adega de ninguém para você, aquela foi a última vez e...

- Para com isso! Tô falando sério!

Toby falando sério. Algo que não se vê todos os dias.

- É, tem algo de errado com você hoje.

- Para com isso! Olha, só por favor, toma cuidado com aquele moleque e o tal mordomo - Ele disse enquanto me abraçava forte, como quem não queria me deixar ir. - eu já vi uns caras que voltaram vivos. O negócio é sempre muito feio. Promete que vai fazer direito? Que não vai voltar doida que nem eles?

Mesmo prometendo eu não poderia garantir, dessa vez eu realmente não poderia dar a certeza de que voltaria. Era arriscado, perigoso e fatal, não que não tenha sido em meus outros trabalhos, mas isso era diferente. O risco parecia maior, era muito maior.

Mas ainda assim, essa era minha única chance, e eu precisava agarrá-la.

- Eu prometo.

Sinto muito, Toby.






[...]






Mexia em meu brinco enquanto observava os campos ficando para trás, na estrada de terra.

Eram duas da tarde e eu já estava a caminho da mansão Phantomhive. O senhor Benedict ofereceu uma de suas carruagens para que eu chegasse o mais rápido possível. O local era bem afastado da cidade, na área mais rural de Londres, perto da floresta.

No inverno as estradas ficam difíceis de serem atravessadas à carruagem, e por isso optei por sair um pouco mais cedo, já que demoraria mais que o normal.

Enquanto esperava a chegada, abri minha bolsa e peguei um espelho de mão. Fiz questão de estar o mais apresentável possível. Cabelos sempre presos, um vestido de gola alta e mangas compridas para suportar o frio. Tecido liso, sem estampas e simples, luvas rendadas cobrindo minhas mãos e nos pés saltos baixos. É assim que uma boa moça deve ser, é assim que Amelia deve ser.

- Senhorita, estamos chegando - Avisou o cocheiro que conduzia a carruagem. - se prepare para descer!

- Ah, sim! Obrigada pela viagem!

- Às ordens, senhorita.

Paramos alguns metros à frente, pude ver que os grandes portões já estavam abertos. Saí e agradeci ao cocheiro mais uma vez. A partir dali eu estaria por conta própria.

Finalmente, lá estava ela. A grande mansão Phantomhive.

Andei pelo caminho de pedras e mantive meus olhos fixos na casa. Era tão grande, bela, conservada! Era comprida e parecia se estender até os limites do terreno, sabe-se lá quantos quartos deve ter, quantas coisas ela pode esconder.

É um lugar muito grande para tão poucas pessoas, já trabalhei em casas com mais de vinte nobres e servos.

O terreno em volta era tranquilo, as árvores e arbustos bem podados, a estrada de pedras bem asfaltada. Ali não havia tumulto, barulhos, lixo pelas ruas ou cheiros de fumaça como em East End, era o mais puro sossego. O silêncio me causava agonia, mas com certeza, só por ter me acostumado com o ruim, por ter me acostumado com a caótica Londres.

Finalmente cheguei à entrada. Subi os degraus da escadaria de pedra e bati na grande porta de madeira, esperando a resposta. Me mantive distraída com a vista que aquela pequena varanda poderia me proporcionar. O vento estava gelado e fazia com que as árvores e arbustos balançassem.

Nascer em um berço de ouro deve ser bom, que privilégio.

Meus pensamentos se perderam quando ouvi passos rápidos e alguns resmungos vindo de dentro da casa. E em poucos segundos depois a porta se abriu.

- Olá, s-senhorita! Desculpe a demora! E-eu, eu perdi meus óculos e não consigo acha-los em lugar nenhum! Não enxergo nada sem eles!

Uma moça, que aparentava ter minha idade, atendeu a porta. Cabelos castanhos-avermelhados presos por um penteado, um vestido de empregada manchado de algo que cheirava a sabão, e mal pude enxergar a cor de seus olhos, já que ela os mantinha semicerrados, tentando forçar sua visão. Inclusive, seus óculos estavam pendurados na gola de seu vestido!

- D-desculpa, mas quem é a senhorita? Só estou enxergando um borrão! Hehe!

- Eu sou Amelia Watson. O Conde Phantomhive solicitou minha presença.

- Ah, sim, sim! Me lembrei! Nós ouvimos falar de você! Eu gostaria de ajudá-la, mas não posso deixar que entre se nem entrar consigo vê-la. E-entende?

- Se me permite, seus óculos estão em sua gola.

- Minha gola?

Ela começa a tatear sua roupa, todos os pontos possíveis, menos onde está o objeto.

- Com licença.

Me aproximo e removo os óculos de sua gola, os colocando em seu rosto. A moça abre seus olhos lentamente, como se adaptasse sua visão, em seguida fixando seu olhar em mim.

- Ah, muito obrigada! E desculpa pela confusão! - Ela pega minha mão e a aperta, animada. Quase me balançando! - É um prazer te conhecer, Amelia! E-eu fiquei muito curiosa sobre você! E nossa, a senhorita é tão bonita! Nem imagina como fiquei contente com a chance de outra mulher na casa!

- Ah, s-sim, fico feliz em saber. É um prazer conhecê-la, senhorita...

- Mey-Rin! Sou parte dos servos da mansão!

Essa é Mey-Rin?! A atiradora profissional?!

Não pude ver o rosto dos outros empregados, além do mordomo, mas estudei as habilidades dos servos. Mey-Rin era conhecida por ser uma atiradora incrível, pelo que ouvi, ela tem uma visão impressionante. Dizem os boatos que ela pode atirar sem uma mira de precisão, e ainda assim, acertar um pássaro em movimento. Ainda não descobri como ela chegou às mãos do Conde Phantomhive. Isso é tudo que sei.

- Obrigada por me receber, senhorita Mey-Rin!

- De nada! Espero que possamos ser boas amigas.

Ela respondeu com um sorriso simpático.

- Com certeza! Se o Conde quiser me contratar, claro.

- Ah, não seja modesta! Se ele te chamou, com certeza foi com boas intenções! Agora vamos, vamos entrar! Está congelando aqui fora!

- Está bem, eu só preciso carregar essas malas e...

- Ah, eu te ajudo! - Mey-Rin pegou minhas duas malas e encostou suas costas na porta para que a mesma não se fechasse, ela parecia um pouco, ou melhor, muito atrapalhada. -  Ai! Nossa! Q-que malas, em!

- Tem certeza que quer carregá-las? Estão pesadas.

- Imagina! N-não precisa se preocupar!

Dizia, meio destrambelhada, enquanto seus óculos escorregavam de seu nariz.

Entramos na casa. O som da porta rangendo ao se fechar ecoou por todo lugar. Era tão grande e belo por dentro, quanto por fora. O salão de entrada era imenso, com pisos que alternavam entre preto e branco; uma grande escadaria no meio do local, que se dividia na metade, com caminhos para a ala esquerda e direita dos andares de cima da mansão; logo acima das escadas estava um grande quadro emoldurado, dois adultos e uma pequena criança, provavelmente o conde quando mais novo com seus pais.

O cômodo era iluminado por um grande e luxuoso lustre. Demorei um pouco para perceber as diversas portas espalhadas pelo local, já que estava com a cabeça erguida, olhando para a grande peça que iluminava todo o lugar.

- Nossa é tão...

- Sim, eu sei. Eu amo essa decoração! Nosso Mestre tem bom gosto!

- Sim, sem dúvida. Mas, nossa, esse lugar parece ser imenso!

- E, é! No início você pode se perder algumas vezes, mas vai se acostumar com o tempo! Vem, vamos para a sala de jantar, logo o Jovem Mestre vai chegar.

- "Jovem Mestre"?

- Sim, é como chamamos o Conde por aqui. - Mey-Rin seguiu para o lado esquerdo do salão e abriu uma das portas. - Vem comigo!

- Estou indo.

A alcancei e juntas entramos na sala de jantar. Era um cômodo extenso, a mesa era longa, com mais de trinta cadeiras; as grandes janelas estavam cobertas por cortinas verdes, que combinavam com o extenso tapete e o forro das cadeiras.

- Fique à vontade, e pode se sentar onde quiser! Posso deixar suas malas aqui?

- Sim, deixe comigo! Mais uma vez, obrigada pela ajuda.

- Não há de que. - Ela dizia enquanto ajeitava os óculos em seu rosto. - Eu vou avisar ao Jovem Mestre que você chegou. Até mais tarde!

Mey-Rin saiu a passos apressados do cômodo, me deixando sozinha.

Olhando em volta é obviamente luxuoso, não há nada de estranho ou incomum, mesmo assim algo me incomoda. Uma sensação estranha aperta meu peito e cria um frio em minha barriga, como se o silêncio daquele cômodo gritasse algo inaudível, como se o fato de que não a ninguém além de mim nessa sala fosse uma mentira, o ar parecia mais pesado.

Notei também que ao lado esquerdo do cômodo à uma porta fechada, me pergunto onde elas podem le...

- Senhorita Amelia Watson, correto?

Acabei por dar um pequeno pulo da cadeira por ouvir uma voz, que surgiu do nada, ao meu lado.

Era ele, Ciel Phantomhive, o próprio. Um jovem bem baixo, de cabelos azuis-acinzentados caindo sobre seu misterioso olho direito, coberto por um tapa-olho, enquanto seu olho direito azul pavão me fitava. Sua expressão era séria, muito séria para alguém tão jovem. Se vestia elegantemente, com um grande casaco azul Prússia, bermudas e sapatos mais escuros, complementados por dois anéis um tanto chamativos em seus dedos, que se apoiavam em sua bengala de madeira bem polida.

- S-sim senhor! É uma honra conhecê-lo.

Disse enquanto me levantava para reverenciar ao mesmo. Era estranho chamar alguém tão novo de "senhor", considerando que o garoto sequer chegou à maioridade ainda.

- Não há necessidade disso. Pode se sentar.

- Obrigada.

Voltei à cadeira e me sentei.

- Sebastian, horas.

"Sebastian"?

Estava tão fixada na figura do conde que se quer percebi na grande sombra negra atrás dele.  Um homem alto, cabelos pretos como carvão, usando um fraque trespassado, calças pretas e luvas impecavelmente brancas. Era ele, com certeza era ele...

O homem colocou a mão no bolso de seu fraque e retirou um relógio de bolso, banhado a prata e com o brasão Phantomhive cravado no mesmo.

- Duas e meia, Mestre.

- Veja só, a senhorita chegou bem na hora.

- Levo a pontualidade muito a sério, senhor.

- Admiramos isso na mansão Phantomhive. Não é, Sebastian?

- Sem dúvida.

O Conde se quer fez questão de apresentar o homem atrás dele, como se realmente fosse sua sombra. Com certeza era ele, o tão temido mordomo. Sua forma chamava tanto a atenção que dispensava apresentações.

Ele mirou em mim, com suas pupilas escuras e íris vermelhos bordô, um tom que eu nunca havia visto nos olhos de alguém antes. Esse mesmo homem cortês, de boa aparência e poucas palavras, matou mais de dez assassinos, além dos que não conheço. Tudo para proteger seu Mestre.

Então, Sebastian é seu nome.

- E então, vamos começar - O jovem caminhou até a cadeira que escolheu sentar, e seu mordomo de prontidão a puxou para ele. O mesmo se sentou, e estendeu a mão a seu mordomo, que lhe entregou uma carta e logo voltou suas mãos para trás das coisas. Era a minha carta. - eu fiquei interessado no seu histórico, é bem vasto. De acordo com o que li, a senhorita diz ter experiência com defesa pessoal.

- Sim! Trabalhei em instituições que exigiam algumas habilidades a mais, senhor.

- Compreendo. E que tipos de instituições seriam essas?

- Hospícios. Posso lhe garantir que já lidei com todos os tipos de homens e mulheres.

Minha penúltima vítima foi um médico aposentado que cuidava de homens e mulheres insanos.

- Interessante. Entende de manuseio de armas?

- Um pouco. Tive patrões que adotavam caça como hobby, então já fiz muitos polimentos e limpezas de cano.

Trabalhei com cinco atiradores no assassinato de um farmacêutico.

- Uma habilidade útil, com certeza. E pelo que me escreveu já trabalhou em orfanatos, hospitais e restaurantes. Então a senhorita entende de cozinha e limpeza?

- Limpeza, com certeza senhor, entendo de receitas algumas e preparos, como limpeza de carnes, manuseamento de temperos e preparo de doces e chás. Se me permite dizer, também sou familiarizada com manuseamento de remédios.

Tive de aprender o básico para sobreviver morando com meus nojentos colegas de quarto.

- Doces e chás, é? - O Conde disse com interesse nessas duas palavras específicas. Seu mordomo o olhou em um sutil tom de reprovação, mas ele pareceu não se importar. - Aham, - Ele limpou a garganta, voltando a ler o currículo. - voltando, bom saber sobre o manuseamento de remédios. E você tem experiência com trabalhos domésticos em mansões como esta, imagino.

- Sim senhor. Não tanto quanto nas instituições, mas trabalhei para muitos nobres enquanto viajei.

- Viajou? Onde esteve?

- França, senhor.

- Então entende de outras línguas?

- Bien sûr Monsieur.

Simplesmente gosto de aprender, de ler. Porém, não muito tempo atrás, trabalhei em uma residência de franceses um tanto esnobes.

- Belle prononciation. - Ele sorriu de canto, parecia estar gostando do que via e ouvia. - Não me surpreendo tanto, mas devo dizer que seu currículo me causou um certo interesse.

- Muito obrigada, senhor. É uma honra receber seus elogios.

- Mas, tem uma última coisa que eu gostaria de saber. Por que deseja fazer parte da minha equipe de servos? Pelo que seu histórico a senhorita me parece muito bem encaminhada, de certa forma poderia escolher a dedo. Então, por quê?

Inferno! Eu não esperava esse tipo de pergunta.

- B-bom, senhor eu gostaria de um, como posso dizer, u-um trabalho estável.

- Estável? Prossiga.

- Me desculpe se parecer insensível, mas estive com muitos patrões abusivos ao longo dos anos, tantos homens esnobes e sem caráter que maltratam seus funcionários, simplesmente porque podem. Ouvi de alguns colegas que os empregados são sempre muito bem recepcionados em sua casa. Eu gostaria de um trabalho digno, um chefe de respeito e um ambiente tranquilo. E se me permite dizer senhor, sua relação com seus funcionários é admirável, pelo que me disseram.

Procurei por amaciar o ego do Conde, esperando conseguir algo positivo com isso. Tem que funcionar.

- Hm, - O jovem me encarou por alguns segundos, usando sua mão enluvada para brincar com uma mecha de cabelo sua. - de fato. Conheço muitos homens que possuem uma conduta deplorável com seus servos. Sempre repudiei esse tipo de comportamento.

O mordomo olhou soslaio o Conde. Ele estava concordando ou discordando?

Mas não importa. O importante é que consegui me esquivar!

- Bom, "Amelia", se me permite chama-la assim...

- É claro.

- Ótimo. Bom, recentemente um de nossos servos mais antigos se aposentou e eu realmente venho procurando por alguém para substituí-lo, mas os trabalhos na residência Phantomhive não são como em qualquer outra, aqui as coisas são diferentes, um pouco mais intensas. Para ficar aqui é necessária um pouco de força física e esperteza, se é que me entende.

- Compreendo totalmente.

- Mas, eu realmente me interessei no seu currículo. Por isso, se me der mais algumas horas para pensar eu certamente te darei uma resposta amanhã.

Merda, não achei que precisaria esperar! Do que mais ele precisa? Meu currículo é impecável, minhas fontes são perfeitas, sem nenhuma agulha fora do lugar! O que mais ele poderia querer?

- Com certeza senhor, eu não me importaria em esperar. Vou reservar um quarto em um hotel próximo para pernoitar e...

- Isso não será necessário. Sebastian, prepare um quarto de hóspedes. O deixe impecável para nossa convidada.

- Sim, Jovem Mestre.

- M-mas senhor, eu não quero lhe...

- "Eu não quero lhe incomodar", não faz ideia de quantas vezes já ouvi isso. Enfim, saiba que na mansão Phantomhive ninguém é empecilho, todos são convidados - O jovem se levantou e o mordomo seguiu na frente para abrir a porta para o mesmo, que parou antes de sair e olhou para mim. - até mesmo os inimigos.

Ele e seu mordomo se retiraram.

"Até mesmo os inimigos"? É alguma desconfiança ou um blefe?! Não, ele não poderia desconfiar tão rapidamente. Poderia? Eu fiz tudo corretamente!

Se for esse o caso, serei uma presa fácil nesse lugar. Preciso ficar atenta!






[...]






- Obrigada por me guiar até aqui.

Assim que terminamos a conversa, o Conde chamou o mordomo mais uma vez e pediu para que o mesmo me guiasse até o quarto de hóspedes. No caminho pude ver um pouco da mansão.

Todas as paredes pintadas de branco com detalhes em dourado, itens de coleção como armaduras, vasos gregos e pinturas a óleo com paisagens exóticas e realistas. Nada que eu já não tenha visto nos lugares que trabalhei, mas ao mesmo tempo tão belo quanto todos eles, com tanta riqueza em detalhes e perfeita limpeza e organização.

Se tivesse que imaginar um corredor qualquer do Palácio de Buckingham, seria como o desta casa.

- Sem problemas, senhorita. - O mordomo colocou minhas malas em frente a porta de meu quarto. - Espero que o curto percurso até aqui tenha sido de seu agrado.

O homem de terno preto tinha uma expressão tranquila, até mesmo simpática. Tinha que ser, afinal ele era um mordomo. Mas ainda assim, havia algo naqueles cabelos negros, olhos vermelhos e sorriso que me soava estranho.

Talvez fosse apenas para mim, apenas porque sei sobre a verdade, sobre o sangue que já derramou. Talvez não, com certeza. Para qualquer outra mulher ele seria uma figura bela, charmosa, sedutora, atraente e simpática.

Isso se eu realmente estiver correta, mas acredito que sim.

- É claro. A mansão é realmente belíssima, parabéns por todos os cuidados.

- Agradeço pela gentileza, mas não é nada demais. Apenas minha função.

- Um trabalho árduo deve ser sempre notado. Mas, enfim, - Abri a porta de meu quarto e peguei minhas malas, pronta para fugir da companhia daquele homem. - agradeça ao Conde por mim, pela grande hospitalidade.

Tão grande e detestável hospitalidade.

Em um último sorriso simpático, adentrei ao quarto e...

- Senhorita.

A voz suave do homem cortou o silêncio.

- Ah, sim?

- Perdão, mas devo lhe informar sobre algumas regras.

- Regras?

- Para manter a ordem na casa, o toque de recolher é às onze da noite, pedimos que evite a saída de seu quarto após o mesmo, a não ser que seja algo de cunho emergencial. A adega é restrita à circulação de empregados e a cozinha se fecha às dez. Por último, não trancamos as portas por aqui.

O que?!

Olhei para a fechadura da porta...não tinha chave alguma.

Droga.

Meu corpo se enrijeceu e meu peito apertou levemente. Minhas mãos se fecharam e as unhas começaram a apertar a carne de pele, quase de maneira involuntária.

Se controle, Ayuni. Não é nada.

Não é nada, não é nada.

- Esperamos que a senhorita compreenda.

- É claro, sem problemas. Mas se não for incômodo perguntar, por que não trancam as portas?

- Alguns cômodos em específico são trancados, mas apenas durante a noite ou ausência do Mestre. As portas de entrada e saída são trancadas durante a noite por questões de segurança, fora estas, nosso Mestre exige que todos os cômodos possuem livre acesso em qualquer situação que seja. Mas não se preocupe, a senhorita está completamente segura conosco.

- Ah, sim. Eu compreendo.

- Esplêndido. Se precisar de algo estaremos à disposição, não hesite em chamar. - O homem reverencio. - Tenha um bom descanso, senhorita.

Por fim, fechou a porta do cômodo e saiu.

Minha primeira reação foi jogar-me na cama.

- Ah, que delícia. - Sussurrei a mim mesma. - Tão confortável.

Não queria que fosse verdade, mas esse simples quarto de hóspedes é melhor do que qualquer quarto que tive minha vida toda. Uma cama de casal grande e macia, com lençóis tão leves e travesseiros tão aconchegantes, tão confortável.

Mas de longe o quão bem vou dormir não é minha preocupação, e sim se vou dormir.

Deitar-me de portas destrancadas não era opção, fora de cogitação, de jeito nenhum. De longe, as coisas não saíram exatamente como planejei! Que inferno! "Esperar até amanhã", que coisa! Esse pirralho me paga!

Toc, toc!

Pouco tempo se passou até que ouvi batidas na porta. Deus, que não fosse o mordomo de novo!

Me sentei, arrumando meus cabelos e vestido.

- Entre!

- Ei, boa noite! Sou eu!

Era a tal serva desajeitada de mais cedo.

- Ah, senhorita Mey-Rin. Tudo bem?

- Pode me chamar só de Mey-Rin! Percebi que você não apareceu depois de conversar com o Jovem Mestre. - Ela tomou a liberdade de entrar e se aproximar um pouco mais. - Está tudo bem?

- Ah, sim! Só estou pensativa.

- Com medo de não ser contratada?

- Talvez um pouco.

Portas destrancadas, vulnerabilidade e mais portas destrancadas!

- Não fique assim, - Ela entra e se senta ao meu lado na cama. - eu compreendo o Jovem Mestre querer um tempo para pensar. Ele gostava muito do senhor Tanaka, deve estar triste por ele ter ido embora.

- Senhor Tanaka?

- Ele era o antigo mordomo da mansão, isso quando o Jovem Mestre ainda era uma criança. Uns anos depois o senhor Sebastian apareceu, porque ele já estava muito velho! Mas, mesmo assim, ele ficou aqui na mansão, porque queria poder ver o Mestre de perto! Um tempo atrás ele ficou preocupado com a saúde do senhor Tanaka, e resolveu que ele deveria descansar.

- Ele o demitiu?

- Ah, não! Ele nunca faria isso. Eles fizeram um acordo em que Tanaka se aposentaria, e então o Jovem Mestre cederia a ele uma das casas da família Phantomhive, lá em Brighton! Para que ele tivesse onde viver e pudesse ser visitado. Adorável, não é?

- É realmente bem gentil. Vocês parecem gostar bastante do Conde, não?

Gentil até demais. Quem entrega uma casa dessas a um servo?

- Com certeza! Não diga a ninguém que te disse, mas o Jovem Mestre pode parecer um pouco sério demais ou rabugento às vezes, mas garanto que é uma boa pessoa, vocês vão ver!

Pagaria para ver.

- Se você está dizendo, vou acreditar! Afinal, preciso ser otimista se quero continuar aqui.

- Esse é o espírito! Agora, na verdade, eu vim aqui porque quero saber se você não quer jantar conosco!

- "Conosco"?

- É! O Bard e o Finny! Você vai gostar deles. Vamos!

- A-ahm, n-não sei se estou com tanta...

- Não precisa se envergonhar, vamos! - Ela me puxou pelo braço, me arrastando para fora do quarto. - Os meninos estão muito curiosos sobre você!






[...]






- E então Mestre, o que acha?

- Investigue-a, agora. Descubra se as informações desse documento são verídicas. E se descobrir qualquer coisa, uma agulha fora do lugar, livre-se dela.

- Talvez estejamos exagerando, não? Precisamos apenas de alguém que faça, de maneira minimamente competente, o que os três não conseguem, trabalhos domésticos.

- "Exagerando"? Com todas as tentativas de invasão que sofremos no ano passado, você está mesmo fazendo essa pergunta?

- Sabe que está muito bem protegido conosco, senhor. Principalmente comigo.

- Pare de questionar e siga a ordem. Investigue-a.

- Só estou garantir seu bem estar, senhor. Afinal, estresse não é saudável. Lhe proteger e garantir seu bem estar é meu propósito.

- Comer é o seu propósito.

- E se vingar é o do senhor, não?

Não estou com paciência para joguinhos de provocação.

- Tsc! Saia logo daqui e comece a procurar. Vou ver o que posso descobrir sozinho.

- Yes, my Lord.

Sebastian reverenciou e saiu do escritório. Detesto quando ele questiona minhas ordens.

Mesmo que seja algo da minha cabeça, mesmo que não tenha nada de errado com ela, eu preciso ter certeza. Nenhum traidor sai vivo da mansão Phantomhive, eu não posso deixar.

Não fecharei os olhos até saber tudo sobre ela, e até Sebastian voltar.






[...]






- Jovem Mestre? Vamos, acorde.

A voz de Sebastian parecia ecoar em minha cabeça, e foram em poucos segundos que percebi que não eram ecos, ele realmente estava por perto.

Levantei minha cabeça rapidamente.

- A-ah, o q-que? C-como é que, espere, eu dormi?!

- Sim, com o rosto na mesa do escritório, pela quinta vez nesta semana. Francamente Mestre, já conversamos sobre como isso pode prejudicar sua coluna.

- Besteira. Agora me fale logo, - Esfreguei meu olho, ainda esperando minha visão voltar ao normal. - o que você descobriu?

- Nada.

- Nada?! Como assim "nada"?!

- Mestre, quando digo "nada", quero dizer absolutamente nada. Não há nada de errado com a moça. Tudo que ela disse pode ser comprovado.

- Em que orfanato ela trabalhou?

- Orfanato London Brigde. A dona da instituição confirmou a passagem dela por lá.

- E o hospício?

- Faliu um ano atrás, mas pelo que consta nos arquivos da Scotland Yard, ela fazia parte da equipe de funcionários.

- E os nobres que ela serviu na França?

- Senhor Adrien Piquet, senhora Antonieta Furquim, e outros dois senhores enviaram cartas em nome da senhorita, agradecendo seus serviços.

- Como ela pode falar francês tão, ah espere, esqueça! - Joguei-me para trás na poltrona. - Mas que coisa!

- Se não quiser contratar a moça, basta apenas dispensá-la. Apesar de, particularmente, acreditar que ela agregaria na casa.

- Dê seus argumentos.

- Vejamos, Mey-Rin é uma perfeita atiradora, Baldroy um excelente soldado e líder de ataque, enquanto Finnian extremamente forte, com certeza são ótimos no que realmente foram criados para fazer. Mas no quesito doméstico, se me permite, são três incompetentes.

- Eles não podem ser tão ruins, é um exagero.

- Mestre, lembra-se de quando retirei Baldroy da cozinha por uma semana por estar utilizando uma escopeta para cozinhar? Ou quando Mey-Rin quebrou metade da prataria francesa?  Ou quando Finnian quebrou uma parede tentando pendurar um quadro? Ah é claro, como esquecer quando...

- Chega! É o suficiente.

- Com uma pessoa realmente competente na casa pode ser que as tarefas fiquem mais balanceadas e menos desastres sejam causados.

- Ha! E por que pensa isso? Por acaso não dá conta dos três, sozinho?

- Está tarde para piadas, senhor. Mas ainda assim, acredito que a moça mereça, ao menos, a oportunidade de tentar. Afinal de contas, ela não será nada demais, apenas alguém para manter a limpeza. E caso ela tente o tocar, eu estarei aqui.

- Eu vou pensar no assunto.

- Pense bem. Ela deve aguardar ansiosamente até amanhã.

- Amanhã? Inferno! Eu esqueci que tinha dito isso!

- Francamente, Mestre, preste um pouco mais de atenção às entrevistas. Agora vamos, está extremamente tarde. Deve descansar.

- "Tarde" quanto?

- Já passa da meia-noite.






[...]






Teto. Estou encarando o teto desde as onze da noite. Porta destrancada, podendo abrir a qualquer momento. Um simples giro na maçaneta e está feito.

Quase duas da manhã e meu corpo não relaxa. Duro feito pedra, tenso. Eu preciso fazer alguma coisa.

Olhei em volta, prestando um pouco mais de atenção na mobília do quarto. Nada demais além de uma mesa de cabeceira ao lado de minha cama, um armário de duas portas, um espelho e uma cadeira, perto de onde deixei minhas malas.

Uma cadeira? Espere, mobília! Era isso!

Me levantei e corri até o objeto, o peguei sem arrastá-lo pelo chão.

Será que seria mesmo uma boa ideia? E se descobrissem que tentei trancar? O que fariam?

Não, não tem como descobrirem. O que viriam fazer aqui em plena madrugada? Nada muito "acolhedor", imagino. E mesmo se não fossem com más intenções, ainda seria inapropriado.

Ninguém precisa saber, ninguém vai saber.

Apoiei bem o encosto da cadeira sobre a porta, até ver a maçaneta empenar um pouco, o suficiente para que não fosse possível abri-la.

Testei e funcionou.

Soltei um longo suspiro de alívio, um peso me deixou. Talvez assim eu teria sossego para descansar.






[...]






- Bom dia, Jovem Mestre!

Sebastian bradou, com sua irritante disposição matinal, abrindo as cortinas e perturbando meus olhos.

- A-ahm? Feche as cortinas, maldito!

- Veja só, quanto bom humor. Infelizmente não posso deixar que o senhor durma o dia todo. Há muito o que fazer! Vamos levantar.

Com uma certa resistência, me levantei.

Sebastian pegou roupas recém passadas de meu armário, e se ajoelhou para me vestir.

Por fim, trocou meu tapa-olho e pôs em meus dedos os anéis Phantomhive.

Ele se levantou, e esperou que fizesse o mesmo da cama.

Enquanto me levantava e esticava meus braços, ele ia até a porta do quarto, já a abrindo e esperando por mim.

- Vamos falar da sua decisão, Bocchan?

- Depois. Estou com fome. - Passei pela mesma e desci as escadas, com o demônio logo atrás de mim. Como sempre segui direto para a sala de jantar, estava morto de fome e queria algo para o café da manhã. - Qual o menu de hoje?

- Para o desjejum teremos...

De repente, nos deparamos com Mey-Rin e a senhorita Amelia na sala de jantar.

- Ah! Ele acordou! Bom dia, Jovem Mestre! A-ai!

Disse Mey-Rin, com as mãos repletas de pratos e copos.

A mesa estava forrada com uma toalha branca, farta de café da manhã.

Ovos, panquecas, frutas e pães com geleia.

- Bom dia, senhor! - Foi quando reparei em Amelia, com um bule de chá em mãos. - Nós encontramos o café da manhã pronto na cozinha, mas a mesa não estava posta. Então, tomei a liberdade de montar com a ajuda de Mey-rin, espero que não se importe.

Ela colocava chá na xícara, se atentando para que não enchesse muito. Olhei para Sebastian, que estava com aquela expressão insuportável, sempre a usava que queria mostrar que estava "certo", sobre algo.

- A-Amelia, e-esses pratos são muito, a-AH! - De repente Mey-Rin escorregou, com todos aqueles pratos em mãos. Antes que eu pudesse ver Sebastian se mover, Amelia agarrou as costas de Mey-Rin com sua mão esquerda e agarrou a prataria com sua mão livre. - Ah?! E-eu não cai! Jo-Jovem Mestre os pratos não quebraram!

- Sim, eu percebi, Mey-Rin.

- Realmente impressionante, senhorita Amelia. - Disse Sebastian, batendo palmas lentas para a moça, com aquele sorriso que quase sempre me dá nervos. Esse descarado, só quer tentar provar seu ponto, na minha frente. - Mey-Rin, pode se retirar. O Jovem Mestre deseja falar com a senhorita Amelia, certo senhor?

Inferno! Só queria tomar meu café da manhã!

Mas agora que foi dito, não posso simplesmente dispensá-la para a cozinha. Sebastian, seu...

- Claro, certamente. Sente-se, por favor.

Sugeri, enquanto me sentava em frente a todas aquelas pratarias repletas de comida. Comecei a beliscar pouco a pouco, enquanto a mesma se sentava à mesa

- Me desculpe senhor, não tinha intenção de causar um acidente com Mey-Rin.

- Não se desculpe, você apenas evitou o acidente. - Estiquei minha mão até a xícara recém posta de chá quente. - Afinal, não podemos ter servos acidentados o tempo todo.

- Sim, é claro. Pude conhecer todos ontem. São adoráveis.

- Uhum.

O chá estava amargo. Precisava de um pouco mais de açúcar.

- inclusive, se não for incômodo, gostaria muito de saber mais sobre sua decisão, senhor.

Droga. Pense em algo Ciel. Pense!

Não. Eu não estou convencido! Isso não é tempo o suficiente, eu preciso investigar mais. Preciso ter a certeza absoluta de que não há nada de errado com ela.

- Ah, sim. O que me deixou pensativo ontem foram algumas questões específicas. Como disse antes, ser um servo Phantomhive não é fácil em nenhum aspecto. Mas eu vejo um certo potencial em você, e por isso tive uma ideia.

É isso. Já sei!

- Perdão senhor, que tipo de "ideia"?

- Você passará por um período de testes. Trabalhará um mês em minha mansão, assim como todos os empregados, com os mesmos recursos, horários e direitos. E se você se sair bem, poderá ficar aqui, de forma definitiva.

- Ah! Muito obrigada, senhor! Irei lhe mostrar que posso ser excepcional neste trabalho!

- Assim espero. E por enquanto, - Disse estendendo minha mão a mesma. - bem vinda a mansão Phantomhive.

- Obrigada, senhor!

Ela retribuiu meu aperto.

Vamos ver se ela realmente será útil.

Olhei para Sebastian e apesar de parecer sempre enigmático, eu o conheço com a palma de minha mão! Ele achou mesmo que eu iria ceder e aceitar tão facilmente seu ponto? Muito enganado.

Eu preciso saber mais sobre ela, não tenho o suficiente para permitir que fique. Enquanto isso, só posso esperar que seja mais útil e menos caótica que os outros três trapalhões no quesito doméstico. Veremos o que ela pode fazer.






[...]






- Uau! Sebastian deixou o quarto um brinco!

Mey-Rin estava no quarto de hóspedes, comigo. Ela havia se oferecido para me ajudar a arrumar algumas roupas que haviam ficado nas malas.

- É, deixou mesmo. Agora, o que acha de...

- Ele é incrível. Tão fino e educado, ah!

- "Ele"?

- Ah! Nada! Deixe pra lá! Estava apenas divagando, bobagem a minha! E então, o que mais falta ser arrumado?

Estranha.

- Na verdade estou um pouco cansada. Quer descansar um pouco?

- Ah, sim! Além disso, eu poderia te mostrar um pouco da casa se... - De repente Mey-rin tropeça em seus próprios pés, se embolando, quase indo direto para o chão. Por sorte, antes que quase caísse, mais uma vez corri até ela e agarrei seu quadril. - A-ah! Mas que coisa! Já é a segunda vez hoje!

- Acontece, não se preocupe.

Não, não acontece. Quem é tão desleixada assim, durante quase todo o tempo?!

A ajudei a levantar mais uma vez. Ela parecia envergonhada.

- Sorte minha você estar aqui, caso contrário, quebraria meus óculos, de novo!

- Quantas vezes isso já te aconteceu?

- Ahm, a-algumas...

- Algumas?

- Quinze, pelas contas do senhor Sebastian.

- Quinze?

- Haha! É, pois é! Mas veja, eu tive uma ideia! Posso te servir um chá com biscoitos para agradecer?

- Jura? Eu agradeço a gentileza mas acho que...

- Perfeito! Vamos lá!

Ela agarrou meu braço e começou a me guiar para o andar de baixo.

- Ei! E-espera! Você sabe preparar chá?

- Mais ou menos!

Ela era animada, com certeza bem atrapalhada e desastrada. Como alguém pode ter tanta dualidade em seu comportamento? Ora grande atiradora e outra, serva totalmente desastrada.

Se todos forem tontos como ela, talvez este longo ano, dentro desta enorme mansão, não seja tão tortuoso, ou tão difícil.



























*

OI GENTEEE!

"Ai Jc, você não disse que os capítulos só saem na sexta, às 21:00?"

Sim meus amigos, PORÉM, para comemorar o lançamento de Serva Infernal, eu resolvi fazer uma "Semana especial", em comemoração ao lançamento da fanfic! Por tanto, nesta semana, teremos capítulos novos todos os dias até ESTA SEXTA FEIRA! Gostaram???

Depois disso, nossa rotina de capítulos toda sexta voltam ao normal.

E aí, curtiram o capítulo? Seis mil palavras, nada demais na minha opinião, mas se preparem para o próximo capítulo, esse sim vai ser dos GRANDES! Mas sinceramente, eu não tenho muito o que falar sobre esse capítulo, o máximo que posso falar são duas coisas.

A primeira é que eu estou tentando ser o mais fiel possível a personalidade dos personagens originais, quero fazer o nosso querido Ciel Phantomhive totalmente fiel, o mesmo com Sebastian e os outros empregados. Ainda está cedo pra perguntar, mas mais lá na frente vou perguntar a vocês o que estão achando da personalidade deles e se acham que estão fiéis aos originais.

Segunda coisa, acho importante ressaltar que Ayuni vai seguir se fingindo e entrando no papel de "Amelia". Então vai ser comum que ela diga coisas com as quais não concorde internamente e que ao longo dessa jornada ela acabe "saindo do personagem" vez ou outra. Logo, logo, vocês entenderão.

Podemos usar o próprio Ciel Phantomhive como exemplo dessa situação.

( Quem já leu o mangá sabe do que estou falando, hehe)

Bom, foi isso! Até a próxima! Não esqueça de deixar seu voto "⭐️" e comentário!

*

"Bien sûr Monsieur": " Claro senhor."

"Belle prononciation": "Bela pronúncia."

Submundo de Londres: Na história de Kuroshotsuji o submundo de Londres é tratado como algo para representar a parte mais obscura de Londres, as coisas mais estranhas, mais perigosas, mais complexas que a própria Scotland.Y não consegue resolver. Máfias, crimes organizados, tráfico de drogas e humanos, contrabando, assassinatos em série e outros. Normalmente os casos do Submundo Londrino são tratados pelo próprio Ciel Phantomhive a comando da rainha.

East End: Desde o início, East End sempre possuiu uma das áreas mais pobres de Londres, grande concentração de pessoas pobres e imigrantes na época.

Brighton: Cidade inglesa litorânea a cerca de duas horas de Londres.

Faustiano: Relativo a Fausto, personagem literária e dramática que vende a alma ao diabo em troca de poder e privilégios, inspirada num astrónomo e necromante alemão do século XVI e celebrizada pelo escritor Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832).

Scotland Yard: A Scotland Yard é a sede central ou quartel general da Polícia Metropolitana de Londres

Palácio de Buckingham: Residência oficial e principal local de trabalho da Monarquia do Reino Unido em Londres. O palácio é frequentemente o centro de ocasiões de estado e hospitalidade real. Originalmente conhecido como "Casa Buckingham" foi construída em 1703 para John Sheffield.

Tanaka: Sr. Tanaka é o antigo mordomo dos Phantomhives, e um velho amigo e fiel assistente da família.

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