Tarde de Domingo

Era tarde de Domingo na fazenda. Maraisa tinha ficado um pouco indisposta por causa da noite de ontem onde ela exagerou um pouco no Potiguar, então a deixei descansando no quarto lendo um bom livro de sua coleção.

Já eu fiquei sentada perto da cocheira vendo a boiada pastar enquanto dedilhava algumas notas na viola que Fernando me emprestou. O resto da família estava pela fazenda, Maiara e Fernando haviam ido à cachoeira junto com Maraiso, uma prima e seu César. Eles me convidaram pra ir, mas decidi ficar caso Maraisa precisasse de mim.

-"Toda vez que eu viajava pela estrada de ouro fino
De longe eu avistava a figura de um menino
Que corria, abria a porteira depois vinha me pedindo:
"Toque o berrante seu moço que é pra eu ficar ouvindo"

Quando a boiada passava e a poeira ia baixando
Eu jogava uma moeda e ele saia pulando
"Obrigado boiadeiro que Deus vá lhe acompanhando"
Pra aquele cartão à fora o Meu berrante ia tocando

Nos caminhos desta vida
Muito espinho eu encontrei
Mais nenhum calou mais fundo do que isto que eu passei
Na minha viagem de volta qualquer coisa eu cismei
Vendo a porteira fechada o menino eu não avistei

Apiei do meu cavalo num ranchinho beira à chão
Vi uma mulher chorando quis saber quando a razão
"Boiadeiro veio tarde, veja a cruz no estradão
Quem matou o meu filhinho foi um boi sem coração"

Lá pras bandas de Ouro Fino levando gado selvagem
Quando passo pela porteira até vejo a sua imagem
O seu rangido tão triste mais parece uma mensagem
Daquele rosto trigueiro desejando-me boa viagem

A cruzinha do estradão do pensamento não saí
Eu já fiz um juramento que não esqueço jamais
Nem que meu gado estoure, que eu precise ir atrás
Neste pedaço de chão, berrante eu não toco mais

Quando terminei de cantar a música "menino da Porteira " do Sérgio Reis, ouvi aplausos e olhei sorridente para o lado esquerdo onde encontrei Dona Almira e tia Maria me observando.

-Uau! Pra quem não gostava de sertanejo, tá arrasando demais nas canções, ein, nora.

Sorri com timidez enquanto apoiava meu braço na viola.

-Essa menina é de um talento sem igual.

Disse tia Maria toda orgulhosa me deixando ainda mais tímida, só que neguei com a cabeça, afinal eu não me achava isso tudo.

-Você adora puxar o saco dela, né Maria?!_Minha sogra disse nos fazendo rir

-É ué! Adoro mesmo. Essa menina me conquistou de um jeito materno. Sinto um carinho muito grande por ela e se eu tiver que defende-la eu irei defende-la. Conte sempre com meu apoio viu filha.

Tia falou me lançando um sorriso em seguida que eu retribui e agradeci

-Muito obrigado pela consideração tia Maria.

Ela veio até mim com minha sogra e sentaram cada uma de um lado me deixando entre elas.

Voltei a dedilhar mais algumas notas, até que senti tia e minha sogra me encarando. Eu parei de tocar e olhei de um pra outra parando em tia Maria que tinha um olhar bastante curioso em minha direção.

-O que eu fiz? _perguntei divertida. Ouvi Dona Almira rir e sorri junto

-Então filha... nos tire uma pequena dúvida.

-Uhm...pode perguntar, tia. Sou toda à ouvidos.

-Cê já deitou com a Maraisa, não já?

Tirei rapidamente o sorriso dos lábios. Aquela pergunta era constrangedora mas me fiz de boba.

-Ah bem, costumamos dormir na mesma cama quando estamos juntas e...

-Isso é óbvio. _disse Tia Maria revirando os olhos_-O que quero saber é se rolou algo além disso... Você e a minha sobrinha já transaram?

Arregalei os olhos sentindo minhas bochechas queimarem com certeza estavam vermelhas como uma pimenta malagueta.

-B-b-bem eeeeu...

-Iiiih se tá gaguejando é porque já fizeram coisas. Eu te disse Almira! Eu falei com você! Eu te disse!

-Tá bom Maria. Já entendi. Você constrangeu a menina com essa sua pergunta, coitada. Desculpa S/n ela apostou comigo sobre isso e quis ter sua confirmação.

-Tudo bem..._sorri um pouco sem jeito por ainda esta constrangida. _-Eu só não tava esperando essa pergunta. Mas sim! Eu e a Isa já fizemos amor algumas vezes e foi inesquecível.

-Uhm...minha filha te ama, e se foi consentido, então está tudo bem pra mim.

Disse minha sogra com sinceridade e eu lhe agradeci com os olhos e um sorriso.

-Cê me deve 50 reais, Almirinha. Tu perdeu a aposta.

Fiquei chocada por isso

-Eita!

-Ela apostou que ocê e a Mara não fizeram nada além de dormir.

-Apostei nada. Cê tá mentindo, Maria. Para com isso, sua velha fofoqueira.

-Cê tá braba comigo agora!? Foi ocê que jurou de pé junto que sua filha não tinha feito sexo com a S/n.

-Ai, meu senhor ... quer parar com isso, Maria? Chega de conversa fiada e pergunta logo a outra pergunta que cê falou que iria fazer pra S/n. Anda rápido!

-Tá bom mulher, oxi! _eu não sabia se ria da discussão das duas ou se chorava no meio das duas sem ter um buraco pra enfiar a cara.

-Então menina...aqui vai a última pergunta, mais não menos importante... cê tá pensando em pedir a Isa em casamento? Porque pelo que ela nos contou, cês tão perto de conseguir a guarda de um garotinho de quatro anos.

-Ele tem três e meio, na verdade. _falei pra elas que sorriram_-E sim, tia Maria, eu estou planejando pedir a Maraisa em casamento. Já estou elaborando um plano para esse pedido. Quero que seja inesquecível pra ela. Algo um pouco diferente. Tenho uma idéia de como será o pedido e pedi pra Mônica, minha assessora, cuidar de uma parte importante pra mim. Enfim...espero que dê certo, se não entro com o plano B.

-E ocê não pode adiantar pra gente qual idéia teve? Hum...eu tô curiosa

-É uma surpresa. _falei sorridente

-Deixa como tá S/n, se cê conta pra Maria ela vai contar pra todo mundo.

-Ah! Já vi quem a Maiara saiu puxando.

Brinquei recebendo um tapa no ombro o que me fez rir

-Pra sua informação a Maiara só puxou minhas qualidades tá.

-Até mesmo a boca de sacola.

Disse minha sogra o que me fez rir e Tia Maria me fitar com tédio

-Foi minha sogra que disse. Eu sou inocente.

Me defendi e Dona Almira gargalhou comigo.

E assim ficamos ali por mais alguns minutos conversando. Até que decidi voltar pro quarto e encontrei Maraisa concentrada na leitura. Sorri e peguei meu celular tirando uma foto da morena que tirou sua atenção do livro e me olhou

-Oi bebê. _disse ela com a voz manhosa

-Ei linda. Faz uma pose aí... sua beleza merece ser registrada. _ela sorriu pra foto mesmo ainda se sentindo indisposta.

Após tirar a foto, bloqueei o celular e Isa fechou o livro colocando um marcador na página que estava lendo, logo ela colocou-o em cima da mesinha ao lado da cama.

-Como está se sentindo, minha linda? Tá melhor?_coloquei o celular na mesinha no meu lado da cama
me deitei ao lado da Isa que me abraçou e colocou a cabeça em meu peito.

-Eu tô carente, mô.

-Oh meu bem. _deixei um beijo em sua cabeça e comecei a lhe fazer cafuné._-Te amo muito viu. Eu tô aqui contigo.

-Também te amo muito bebê. Obrigado por estar aqui comigo.

Disse ela baixinho quase que pegando no sono. Pouco tempo depois Maraisa dormiu e eu acabei cochilando também só acordando a noite quando todos já estavam de volta à fazenda e se preparando para o jantar.

...


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