O Ingresso do Show
Eu estava em meu quarto, deitada em minha cama e ouvindo minha playlist no meu fone bluetooth quando minha amiga Lívia entrou correndo segurando dois pequenos papeis em sua mão.
-S/n! _eu a olhei vendo que ela parecia animada_-Tu não vai acreditar o que tenho aqui.
Tirei meus fones de ouvido e franzi o cenho
-Papéis?!_Falei o óbvio e Livi revirou os olhos
-Não são apenas papéis, sua boba. São dois ingressos que vão mudar as nossas vidas!
-Ein? _Perguntei não entendo o que ela queria dizer com aquilo. Livi pulou em minha cama e balançou os ingressos na minha frente.
-Estes são os melhores ingressos que já ganhei. _disse ela muito, mais muito empolgada_-Mamãe finalmente me comprou já que passei de ano. Não é demais?
-Uhm...e de quem é o show?
-Maiara e Maraísa! E S/n, nós duas vamos!
-O quê?_Sorri irônica _-Tá de brincadeira comigo né?
-Amigaaaa...minha mãe só comprou porque eu disse a ela que você iria comigo. Você sabe que ainda sou menor de idade e mamãe confia em você.
-É bom saber disso...mais eu não vou.
-Poxa S/n! Qual é?...o quê que custa me acompanhar só desta vez, ein? Essa é minha chance de conhecer as divas do sertanejo e você fica aí fazendo corpo mole.
-Você sabe muito bem que eu odeio sertanejo. Não curto essa praia da sofrência como dizem. Sinto muito Livi, mas não vou nessa coisa não.
-Porra! Achei que podia contar com minha melhor amiga. Eu sempre tô indo pra onde você me convida, e agora que te faço um convite você simplesmente recusa.
-Eu odeio quando me faz chantagem emocional, Livi! _ela estava fazendo biquinho e olhos de gatinho. Isso era sacanagem. _-Tá bem menina chata! Eu vou com você nessa droga de show.
Ela logo sorriu
-E no camarim também, né? Mamãe conseguiu duas pulseiras douradas. Pagou um pouco mais caro, mas valeu a pena. Eu tô muito feliz!
Ela começou a pular na cama mostrando sua empolgação novamente. Lívia era maluca, mas era minha amiga. Me dou muito bem com pessoas assim pois sou pior.
Bom, agora irei contar como Livi e eu nos conhecemos.
Era início do ano de 2020 quando meus pais descobriram minha orientação sexual. Pra variar, eles não aprovaram e me expulsaram de casa quando eu disse à eles que não deixaria de gostar de garotas só pra fazer a vontade deles, já que sonhavam um outro futuro pra mim. Fiquei muito chateada quando me expulsaram, também não é pra menos, eles nem se quer olhavam mais nos meus olhos.
Enfim...saí de casa na intenção de não voltar. Eu não queria ficar perto do resto da família também, pois sabia que haveria muito preconceito da parte deles, então juntei todo dinheiro que eu tinha, saí de Minas e viajei pra Goiânia. Por que Goiânia? Não sei! Só pensava mesmo em ficar bem longe do lugar que um dia chamei de lar.
Como eu disse: Gastei tudo que eu tinha e cheguei em Goiânia de mãos abanando. Dormi uma semana no aeroporto sem saber para onde eu ia naquela cidade. Tentei pedir ajuda mas nem todas as pessoas estão dispostas a ajudar uma desconhecida. Após uma semana, fui despejada do aeroporto por dois seguranças armados e me senti como uma criminosa naquele dia. Foi a pior sensação já vivenciada por mim. Eu sabia que dali pra frente a rua seria o meu novo lar, pois eu não tinha dinheiro pra ir pra outro lugar, muito menos pra voltar, mesmo porque voltar seria a última opção.
Então fiquei duas noites ao relento dormindo em frente à um supermercado. Porém, em uma noite fria, apareceu um casal ao meu lado, seus nomes eram Antônio e Jovelina. Os pais da Lívia. Após contar minha história, eles me acolheram, me alimentaram e me deram um lar. O senhor Antônio era caminhoneiro, trabalhava fazendo entregas de mercadorias em outras cidades e depois de um dia de viagem ele não voltou mais pra casa. Dona Jovelina teve que seguir sem o marido mas com a filha e comigo ao lado. Com ajuda de conhecidos dela, consegui um emprego em uma loja de roupas e sapatos e pude ajudar nas despesas da casa. No ano de 2021 dona Jovelina me ofereceu a casa de cima da dela para morar e ter meu próprio cantinho, mas ainda sim eu a ajudo. Minhas refeições são feitas na casa de baixo junto com a Dona Jovelina e Lívia e assim temos vivido.
Livia sempre me recebeu muito bem. Ela não é filha única, tem um irmão de vinte e cinco anos chamado André e que não mora com a mãe. Eles são como irmãos pra mim. Ambos muito gente boa, porém André tem estado muito distante desde a morte do pai. São raras as vezes que nos encontramos e que ele vem nos fazer uma visita.
Enfim, eles são tudo pra mim desde que entraram na minha vida.
E foi assim que acabei aqui. Agora precisava realizar o desejo da Livi e ir neste show de Maiara e Maraísa cujo ela era fã de carteirinha.
A menina ainda pulava e dançava desengonçada, quando finalmente parou, ela colocou um dos ingressos na cama e me deu um beijo na bochecha antes de deixar o quarto toda saltitante. Balancei a cabeça com diversão, depois peguei o ingresso e o li. Era bonito e no cantinho estava escrito em dourado: Vale camarim vip.
Bom, se não tinha jeito, comecei a me preparar psicologicamente para o próximo fim de semana. O show seria em uma praça pra milhares de pessoas e aconteceria às nove da noite. Presumindo ser duas horas de show, devia terminar por volta das onze meia/meia noite. Já que sempre tinha uns minutinhos de atraso. Não! Nunca fui em um show de sertanejo, mas já fui em outros e eu sabia que era padrão os minutos de atraso dos artistas.
Como não tinha como fugir, eu iria com Lívia neste tal show das iguais.
Coloquei o ingresso na minha mesinha ao lado da cama pra ficar visível onde estava e depois voltei a colocar meus fones de ouvido para curtir mais músicas no meu dia de folga do trabalho, já que no dia seguinte eu passaria a tarde fazendo Sanduíches do Sabway no centro da cidade.
...
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