Não sei que horas eram, mas depois de me acalmar, levantei-me do chão e fui até a pia, lavei meu rosto e respirei fundo antes de sair do banheiro.

Assim que saí, vi Maraisa encostada na cabeceira, ela estava mexendo no celular. Quando percebeu minha presença no quarto, ergueu seu olhar em minha direção, então pude ver seus olhos vermelhos e úmidos. Assim como eu ela também havia chorado.

-Cê tem uma proposta de contrato com a Records de Nova York. Eu sabia que você chegaria longe, S/a. _ela sorriu minimamente e eu olhei para o contrato que parecia não ter sido tocado desde que eu o deixei em cima do criado mudo.

-Você leu? _cruzei meus braços encostando-me na parede ao lado da porta do banheiro.

-Apenas à primeira folha. Eu queria dizer que estou orgulhosa de você. De verdade.

Assenti e respirei fundo. Maraisa levantou após apagar o celular e veio até mim, ela suspirou e olhou em meus olhos.

-Cê devia assinar.

Franzi o cenho e Maraisa levantou a mão que estava o anel e começou a tira-lo do dedo.

-Eu não vou te prender à mim, S/a. Cê sonha em crescer profissionalmente, sonha em casar e ter uma família e eu ainda vivo de incertezas, não poderei realizar um desses sonhos com você.

-O quê?_Ela pegou minha mão e deixou o anel no palmo fechando meus dedos em seguida_-Você não tem o direto de decidir isso por mim, Maraisa. Se estou com você é porque eu te amo e porque quero que fique comigo. Casamento é só um complemento em um relacionamento.

-Casamento é um elo eterno, S/n. Ambas devem está cem por cento de acordo, o que não é o meu caso. Mas também não quero te prender em um relacionamento que certamente não vai dar certo. Cê tem coisas pra viver. Aquele contrato é o seu sonho e eu acho que não deveria recusar uma proposta dessas.

-Maraisa, eu...

-Eu estou terminando com você, S/n.

-O que? Por -por que está dizendo essas coisas agora? Porque leu o contrato?

-Não! _Maraisa olhou para o chão e de volta pra mim com uma expressão seria_-Porque o que vivemos até agora foi apenas um lance.

Balancei a cabeça e sorri com ironia.

-Eu não acredito em você

-Sinto muito. Cê pode lidar com isso e superar ou simplesmente continuar acreditando em uma mentira.

-Então é assim? Tudo que vivemos foi uma mentira pra você? Todos os beijos, os abraços, todos os momentos divertidos e até mesmo todos os Eu te amo, foi tudo uma mentira? Poxa, horas atrás a gente fez amor, isso também não significou nada pra você?

Maraisa se afastou de mim

-Me responde!

Ela nada disse, mas caminhou até a porta, colocou a mão na maçaneta e me olhou

-Cê merece viver sua vida. Realizar seus sonhos e eu vou torcer por isso, mas não posso ficar ao seu lado. Sinto muito S/n.

-Não!_Fui até ela e segurei seu pulso a virando rapidamente pra mim. Bati minha mão esquerda na porta e voltei a fecha-la bloqueando a passagem da morena.

-Me deixe ir.

-Maraisa...

-O Bruno tá lá embaixo, S/n. Ele veio me buscar, me deixe ir, por favor.

-Sua reação não tá fazendo nenhum sentido.

-Nosso relacionamento é que não faz sentido!

Isso foi como um tapa na cara. Eu me afastei da porta e Maraisa me olhou ainda mantendo a expressão seria, mas nada além disso. Ao dar conta de estar livre do meu bloqueio, Maraisa abriu a porta e saiu deixando-me sozinha no quarto.

Naquele momento a raiva tomou todo o meu corpo. Eu abri a mão direita vendo o anel, depois o joguei longe. Comecei a chutar tudo que via à minha frente. Eu nunca havia sentindo tanta raiva antes. Aqueles papéis em cima do criado mudo foi o causador de toda essa merda. Eu sabia que era por causa deste maldito contrato que Maraisa leu, que a fez desistir da gente.

-Merda! Merda! Merda!...

Isso não podia estar acontecendo. Eu não queria perder o meu amor. Não queria viver sem ela... o casamento não me importa mais, nada é importante sem a Maraisa.

Eu chorei. Chorei além do que eu havia chorado no banheiro. Uma pergunta! Uma única e simples pergunta foi o fator que gerou uma discussão que ocasionou a nossa separação. Mas eu ainda não tava aceitando isso.

Peguei meu celular, fui aos contatos e liguei varias e varias vezes pra ela, mas Maraisa simplesmente havia desligado o celular. Liguei pro Bruno mas ele também não atendia, liguei pra Paulinha pra Maiara e nada. Que pesadelo, meu deus! E pior de tudo, eu era a unica culpada.

Pov Maraisa

Cheguei em casa aos prantos e fui correndo para o quarto da Maiara. Assim que bati na porta, minha irmã atendeu, mas o sorriso que ela tinha nos lábios desapareceu quando me viu chorando.

-Metade? Que foi?

-Eu-Eu a deixei Balala. Eu terminei com a S/a.

-Você o quê?

Maiara perguntou mas eu a abracei e chorei no ombro dela enquanto confusa, Mai tentava me consolar.

Quando fiquei calma, contei tudo pra minha irmã. É claro que ela não concordou com minha escolha, mas o que eu podia fazer? S/n tinha uma oportunidade única em mãos e não poderia perde-la. Eu não seria um empecilho pra ela.

-Eu a amo tanto, Mai. _falei voltando a chorar no colo da minha irmã _-E eu casaria com ela hoje mesmo.

-Cê nem sequer perguntou se ela estava disposta a deixar tudo, Maraisa. Você agiu pela emoção e não devia ter feito isso. Devia ter dito que casaria com ela...

-Pra ela deixar o sonho mais importante dela passar? Eu sei o quanto é valioso um sonho, Maiara e a S/n merece realiza-los.

-Talvez você seja o sonho mais importante dela, metade.

Maiara falou baixinho enquanto acariciava meu coro cabeludo.

Talvez Maiara estivesse certa, mas sou orgulhosa demais pra admitir que seja verdade. Eu só sabia chorar e me senti horrível por te-la deixado.

Pensando nisso e recebendo o carinho da minha irmã, acabei adormecendo em seu colo.

Pov Maiara

Isso não tava certo! Minha irmã e S/n se amam e elas estavam tão bem.
Eu precisava fazer alguma coisa, então liguei pra minha cunhada após colocar Maraisa deitada em minha cama.

Eram duas da madrugada e eu torcia para que S/n atendesse.

Eu vi que ela tinha me ligado alguns minutos atrás mas meu celular estava carregando no andar de baixo da casa e eu não o ouvi tocar.

-Atende S/a" por favor. Atende.

E alguns segundos depois ela finalmente atendeu.

-S/a"... onde cê tá? Tá me ouvindo? Tem muito barulho aí!

Pov S/n

Após deixar o quarto uma bagunça e quase rasgar os papéis do contrato, liguei para a única pessoa que poderia me ajudar a acalmar naquele momento. Em poucos segundos, Julia estava em meu quarto.
Ela me ajudou a arrumar tudo e me convenceu de ir à um viaduto onde havia uma disputa de hip hop e rap.

Julia tinha nascido em São Paulo mas foi morar em Goiânia com sete anos de idade, porém seu irmão ainda vive em São Paulo e também dançava Street Dance foi por causa dele que ela começou a dançar. Seu irmão era o Dj da disputa naquela noite, então Júlia quis lhe fazer uma surpresa, ela achou que eu iria gostar, por isso fomos e eu pude me distrair um pouco.

Eu estava fascinada pelos passos. Estavam acontecendo debaixo de um viaduto e isso me lembrou de quando eu tinha meu grupo de dança em BH.

Haviam muitas pessoas ali e o barulho das caixas de som estavam altos. O evento era permitido pelas autoridades a cada quinze dias, tanto que tinha uma viatura ali fazendo a ronda para controlar as pessoas.
Era raro algo assim dá certo, ainda mais no Brasil e na cidade Paulista, mas as pessoas que realmente curtiam o som e a cultura davam o melhor de si pra manter o evento na cidade.

-Vamo! Meu irmão tá lá!_Julia me puxou pra direção do palco, havia pessoas dançando no centro da pista.
_-Julio! _Julia tocou no ombro do irmão dela que tirou os fones e abriu o maior sorriso quando viu ela. Eles se abraçaram e Julia nos apresentou.

-Oi. Seja bem vinda. Eu te sigo no Tik Tok.

Disse ele praticamente gritando em meu ouvido.

-Obrigado. Julia fala muito de você.

Gritei no ouvido dele também por conta da música alta.

-Ela fala muito de você também. Tá curtindo o som?

-Muito!_Assim que falei, senti meu celular vibrar no meu bolso o peguei e vi que era uma chamada da Maiara. _-Licença. Eu preciso atender.

-Beleza!

Julio me mostrou o polegar e eu saí indo pra detrás do palco.
Atendi a ligação, mas não conseguia ouvir a Maiara, então saí detrás do palco e me afastei mais da pista indo para uma parte mais abafada. Ali pude ouvir melhor.

-Ok. Pode falar, Maiara...consegue me ouvir agora?

"Sim. Onde cê tá?"

-Vim num evento de dança de rua. Tá acontecendo debaixo de um viaduto.

"Cê tá sozinha aí? Toma cuidado menina, São Paulo é muito perigoso"

-Relaxa. Aqui tem uma viatura com dois policiais. E eu tô com a Julia. Então... por que você me ligou agora?

"Eu vi sua ligação agora à pouco. Meu celular tava carregando...enfim, te liguei porque eu queria te dizer algo sobre a Maraisa"

-A Isa terminou comigo, Maiara. _senti minha garganta arranhar quando a lembrança me veio à mente

"Eu sei. Mas preciso consertar isso. O que tenho pra dizer é que não foi sobre casamento, S/n. Minha irmã te ama. "

-Ah, isso eu sei! Só não entendo porque ela desistiu de nós de uma hora pra outra.

"Porque ela não queria que você perdesse a oportunidade de ir para os Estados Unidos realizar seu sonho. Maraisa leu o contrato e pensou que estava sendo um empecilho pra você, S/n. Mas a verdade é que minha irmã sonha em casar com você num futuro próximo. Ela não queria terminar e foi a própria que me disse isso quando veio procurar meu consolo. Então agora está em suas mãos, você é quem tem que decidir o que vai escolher... pense com carinho e se cuida, viu?... tchau."

-Pera aí ...Maiara? Alô?

Ela tinha desligado a chamada sem se quer me deixar falar que eu não assinaria aquele contrato.

...