5

(1226 palavras)

[— Capitã Foz, compreendemos bem o que disse e concordamos, mas temos uma condição: queremos enviar duas pessoas e não uma. E, se dois entram, dois devem sair.]

E Rael, muito eficiente, fazia com que a fala do Primeiro-Ministro fosse também ouvida por todos, na esplanada.

Gerbius acompanhava tudo e supôs que falando em seu comunicador, uma vez que o Primeiro-Ministro o contatara novamente, todos ouviriam o que ele tinha a dizer. Experimentou:

— Capitã, concordo com o nosso governante. — E achou muito curioso, sua voz ressoando no ar como se estivesse em um grande ginásio, embora ele não entendesse como, pois não conseguia vislumbrar nenhum tipo de autofalante. — Todavia, não sabemos como são, se nossa atmosfera e ambiente irão lhes dar suporte de vida.

[— Já verificamos isso, Sr. Gerbius. A bem da verdade, até agora não compreendemos como, mas somos fisicamente muito parecidos.]

— Talvez não somente parecidos, pois conhecem nosso idioma, mas... Não compreendo o porquê do tradutor, se o nome da nave está em nossa língua.

[— Ah, sim... É que a nave leva um nome em grego, pois é hábito, na Terra. Na Terra há vários idiomas. Bem, haverá tempo para explicações. Sobre as condições, um par de nossos tripulantes irá sair, enquanto você entra com mais alguém, mas será necessário que permaneçam quarenta minutos em uma sala de descontaminação.]

Gerbius não sabia o que vinha a ser a tal sala:

— Sala de descontaminação?

[— Sim, é o que chamamos "sala de quarentena". Tem a finalidade de eliminar microrganismos que vocês possam carrear para o interior da nave. Assim também, iremos sair com trajes espaciais.]

Zander julgou que fora muito prudente da parte da capitã associar os trajes espaciais a apenas evitar levar bactérias para um mundo novo — ou mesmo, entrar em contato com elas, quando o principal motivo dos trajes, se sabido, revelaria uma fraqueza a ser explorada: o calor e o ar rarefeito. Gerbius estava confuso:

— Não compreendo bem o que sejam quarenta minutos...

[— É uma medida de tempo. Tem em mente quanto se passou, desde que entramos em órbita, até pousarmos?]

— Sim, tenho. Foi monitorado.

[— Pois bem, isso são pouco mais de quarenta minutos. E uma hora corresponde a sessenta minutos, compreende?]

— Sim, mas... o que são microrganismos?

Foz olhou para Atticus, com cara de espanto, fazendo um sinal para Rael desligar a saída de áudio:

— Não sabem o que são microrganismos?

— Devem conhecer por outro nome — sugeriu Atticus. — Ou então a Inteli não verteu corretamente.

Foz retorceu o cenho, depois fez novo sinal para Rael:

— Retorne o áudio...

["Sr. Gerbius, microrganismos são pequenos organismos vivos, bactérias, vírus, que podem contaminar seu mundo."]

Gerbius estava confuso:

— Não compreendo... Organismos vivos?

Vendo que não se fazia entender, Foz buscou encerrar a conversa:

[— Bem, isso são detalhes, o importante é que confiem e mim. Ficará na sala de quarentena?]

Gerbius fez um sinal de positivo, perguntando:

— Conseguem nos ver?

[— Sim, conseguimos.]

— E por onde entramos?

[— Dirijam-se a estibordo da nave.]

— Estibordo?

[— Para o seu lado esquerdo, por favor.]

Gerbius voltou-se para mim:

— Vem comigo, Gautius?

— Eu?

— Não consigo pensar em outra pessoa.

*

— E quem vai? Vamos escolher no palitinho? — perguntou Vega, jocosa.

Dessa feita, até Foz riu:

— Não, Vega, isso quem decide sou eu... melhor, somos nós, em conjunto.

Vega insistiu:

— Está bem, mas está aceitando voluntários? Eu vou!

— Pensei mesmo em você, mas nossos amigos podem não ter seu senso de humor. Na verdade, quero você acompanhando o conserto dos propulsores.

Vega assentiu, mesmo contrariada:

— Está bem.

Atticus observou:

— Eu posso ir.

— Preciso também de você aqui, Atticus, pois, ao que suponho, trataremos com um cientista deles, o tal Gerbius.

Zander gargalhou:

— Decisão em conjunto, sei... Vê-se que será mesmo por livre e espontânea 'ditadura'.

Foz devolveu a gargalhada:

— Decisões democráticas, meu caro.

— Monocráticas, você quer dizer. Aposto como vai me escolher...

— Sem dúvida que sim, é o meu imediato, não? Vai me representar lá fora, acompanhado da chefe de segurança, naturalmente.

Lina bufou:

— Sempre sobra pra mim. Devia ter escolhido especialidades médicas, em vez de segurança.

Foz levantou-se da poltrona, feito um raio:

— Então, está decidido, Zander e Lina saem. E nada de falar de nossos problemas e debilidades ou demonstrar fraquezas. Bico calado, ok? Quanto menos dissermos, melhor.

*

Um momento único na história, ao mesmo tempo de grande tensão: o primeiro contato com seres extramundanos. Ao menos para Gerbius, tratava-se de algo muito especial — e não importavam mais nossas divergências, eu tinha de reconhecer, estivera equivocado o tempo todo (e agora ciente da arrogância de pensar sermos os únicos no Universo). Tal ideia com certeza não partira de Deus e sim de mim mesmo — e de meus pares, tão presunçosos quanto eu.

Passaram por nós os dois terrestres e fomos informados de seus nomes: Lina e Zander. Trajavam belas roupas, em tom azul claro prateado, com capacetes ovalizados, que permitiam visualizar seus rostos, embora o reflexo do sol nos visores por vezes atrapalhasse. Não possuíam diferenças em relação a nós, a não ser um deles, cujos traços mais delicados chamaram-me logo a atenção. Nunca tinha visto igual. Segundo viria a saber, tratava-se de Lina, a chefe da segurança. Regulavam conosco na altura e não havia, até então, diferenças cruciais na aparência física, o que realmente era um assombro, a não por esse aspecto: havia na Terra dois tipos de seres humanos biológicos, que se dizia, "masculino" ou "feminino", muito embora o gênero não se definisse apenas por questões físicas.

Gerbius comentou:

— Já começo a acreditar na existência de Deus — afirmou, tamanha era a semelhança dos visitantes conosco. — Não pode ser, tanta coincidência. — E diante daquela experiência, ambos, eu e meu amigo, necessitávamos rever nossos conceitos.

Enquanto Lina e Zander afastavam-se às nossas costas, adentramos um pequeno corredor, desembocando numa sala de mais ou menos dois metros quadrados. A porta para a área externa fechou-se e logo ficamos no escuro. Isso preocupou meu amigo:

— Meu caro, não contava com esse escuro...

— Quarenta minutos é bem pouco, fique tranquilo.

Mas logo as luzes se acenderam e então ouvimos uma voz:

— Por gentileza, tirem suas roupas. É necessário que fiquem nus, para que a descontaminação seja completa.

Estranhamos a solicitação, porém, fizemos o que pediram. A essa altura já estávamos sem os trajes de proteção térmica, importantes tão somente quando do pouso da nave, vestindo agora apenas nosso uniforme de trabalho: calças e camisa na cor cinza, meias e sapatos.

— O que haverá nessa descontaminação, Gerbius?

— Perguntei-me o mesmo. Em nenhum momento pensamos, será que essa tal descontaminação não poderá nos afetar de algum modo? Parece haver uma preocupação deles com microorganismos vivos, que possamos trazer aqui para dentro da nave, mas não sei ainda do que se trata. O que sei é que eles salvam a si, mas nos matam, e esse seria um 'bom começo' para nossas relações interplanetárias.

— Uma armadilha?

— Não, não acho que haja má fé. Por mais que seus torpedos fotônicos sejam destruidores, não devem desconsiderar que há quatro tanques de guerra lá fora, e que podem fazer um bom estrago. Apenas imaginei que essa descontaminação, ao passo que os protege, pode nos expor a algum perigo. Eles não conhecem nossa constituição física.

— Ah, sim... Mas você sente algo?

— Nada. Deve ser algum tipo de irradiação. E microorganismos devem ser coisas bem pequenas.

— Seremos as cobaias, então?

— Tudo em nome da Ciência.

— Ou da Diplomacia.

— Bem, Gautius, aproveite o momento e relaxe.

— E nos resta mais alguma coisa a fazer?

— Creio que não.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top