Capítulo II
Desde ontem eu não consigo deixar de segurar aquela carta. Todos os meus sentimentos e certezas que eu tinha não são mais apalpáveis como antes. Tudo está um completo caos.
Minha cabeça trabalha todo momento buscando uma resposta de onde essa carta surgiu, porém nada consegue responder.
No final não há nenhuma outra pessoa no mundo que possa ter escrito o que está naquele pedaço de papel além de Ethan. Aquelas memórias são nossas. Apenas nós sabemos daquilo.
Chega a ser perturbador, tudo o que eu quis esquecer ao longo do tempo bateu em minha porta novamente. Tudo o que eu lutei para guardar veio átona. E agora não sei mais como lidar com tanta saudade reprimida, com cada lágrima que reprimi. Não sei mais lidar com a presença dele.
E sinceramente, estou com medo.
[...]
Deixo a água cair sobre o meu corpo por alguns minutos. Tento me focar naquele barulho e esquecer tudo o que ronda os meus pensamentos. Me aprisiono em pensamentos banais já que não ouso pensar nada além disso, não consigo derramar mais uma lágrima que seja sem sentir a dor me preencher novamente.
Termino o banho e me seco, coloco um pijama velho qualquer e saio do banheiro. Caminho até meu quarto, pego a escova para pentear meus cabelos e encaro meu reflexo. Estou acabada.
Separo meu cabelo e pego uma mecha qualquer, a penteio vagarosamente para que não puxe. Faço isso algumas vezes até com que eu acabe. E sem nem mesmo perceber, acabo fazendo o penteado que ele gostava. Ao observar a trança no espelho, me lembro de todas as vezes que ele disse que ela me fazia parecer como algo divino.
Eu sempre soltava algumas risadas sem graça e pedia para ele parar, Ethan sempre negava com a cabeça e continuava com os elogios. Apesar de pedir para que ele parasse todas as vezes que ele fazia, eu nunca desejei verdadeiramente que ele parasse. Eu amava como ele reparava em mim.
Encaro o chão ao sentir todo o peso em minhas costas novamente.
Apenas queria você de volta, Ethan.
Ding Dong.
Paraliso ao ouvir o som da campainha novamente, pelo segundo dia seguido. Mesmo sabendo que não é certo, eu sinto esperança novamente. Sabendo que mesmo sendo impossível, tenha a chance de ser algo dele.
Meus passos são rápidos até a porta. É como se eu estivesse correndo até ele novamente.
Assim que abro a porta e me deparo com o mesmo envelope e com a mesma tulipa azul eu travo. Dessa vez nem olho ao redor para ver se vejo algo ou alguém, só pego a carta. Fecho a porta e me sento no sofá. Minha respiração está descompassada.
Como no dia anterior, não há nenhuma identificação na carta, a única coisa escrita é o número dois em algoritmo romano. Sem pensar muito, abro a carta rapidamente.
"Querida Clare,
Espero que tenha dormido bem, e que a minha carta de ontem não tenha te assustado. Mas você sempre me chamava de louco, pelo motivo de eu sempre arranjar algum meio de fazer algo, até para as coisas consideradas "impossíveis". Você me dizia que isso era o que me tornava diferente dos outros caras.
Ainda me lembro daquele dia, quando te beijei pela primeira vez. Acho que você nunca pensou que o seu primeiro beijo seria em um show do Coldplay, você sempre detestou músicas assim. Já disse que você estava linda? Nunca pensei que você poderia ficar mais linda que aquele dia do parque, mas sim, você me surpreendeu outra vez.
Seus longos cabelos estavam soltos, e os seus olhos reluziam por causa das luzes. Naquele momento eu poderia me afogar neles, e eu não reclamaria.
Já tinha alguns meses que nos conhecíamos, mas eu poderia jurar que parecia uma eternidade. E naquele dia eu planejava mudar tudo. Abriria o meu coração para a menina mais linda que já tinha conhecido.
Ainda me lembro do seu semblante cheio de confusão quando segurei o seu pulso e saímos no meio da multidão, em direção as escadas. Naquele momento apenas queria que fossemos apenas eu e você, no nosso mundo particular. Subimos até o telhado, e durante todo o caminho você ria e me chamava de louco diversas vezes, mas valeu a pena, pode acreditar.
Pois quando estávamos lá em cima, longe de tudo e todos, com nossos olhos conectados, com apenas as estrelas nos observando, eu sei que valeu a pena.
Porque foi a primeira vez que a beijei.
Sempre seu,
Ethan."
Fecho os olhos ao passo em que todas as memórias me atingem com força.
Não consigo acreditar que realmente seja você, Ethan.
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