Capítulo 7. Alentejo
Alice estava com saudades de casa, do cheiro familiar dos cozinhados da mãe, dos irmãos, até do gato malhado que estava sempre a deixar pelos na cama dela, quando dormia as sestas, no final da tarde.
A viagem de autocarro era tranquila e relaxante. Alice adorava ver como a paisagem mudava à medida que se afastava da grande cidade. Os edifícios altos de betão, ficavam para trás, e começava a aparecer as planícies de perder de vista, onde a paisagem combinava com sol, calor e um ritmo compassado. Assim é o Alentejo.
Alice deu por si a pensar em Daniel, fechou os olhos e reviveu todos os momentos passados juntos, estes últimos dias, tinham sido apaixonantes. Tinham decidido tentar manter o relacionamento, mesmo à distância. Poderia não resultar mas iriam tentar.
Daniel tinha ido deixar Alice na paragem do autocarro e combinaram de passarem a passagem de ano juntos, e no dia seguinte ele teria de regressar aos E.U.A.. O problema era contar aos pais de Alice que teria de regressar a Lisboa, logo a seguir ao dia de Natal.
Resolveu ler uma revista, para afastar os pensamentos. Alice escolheu uma revista sobre os grandes poetas de Portugal. Um dos poemas que saltou logo à vista de Alice, foi o poema do poeta Luís de Camões.
"Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;"
Alice ficou a pensar no poema que tinha lido, e em como o amor é um sentimento que nos leva a ter ideias controversas. Para Alice, o amor poderia ser um jogo de dualidades e ambiguidades, que faz parte do ser humano. Os sentimentos, nem sempre podem ser explicados de forma clara e simples e muito menos o amor.
***
Ao sair do autocarro, Alice avistou a irmã e o pai que esperavam-na junto ao carro, ela foi a correr na direção deles, abraçando-os. — Estava com tantas saudades.
— Nós também filha. — Disse o pai carinhosamente.
Quando chegaram a casa, o céu estava a escurecer, os dias estavam cada vez mais pequenos, e anoitecia cada vez mais cedo. O tom alaranjado e suave dos candeeiros banhava a rua ladeada de casas vitorianas. Alice adorava as fachadas elegantes, os pórticos pintados de branco e os carreiros enfeitados com mosaicos azuis e brancos que contrastavam com o barulho e a modernidade da vida em Lisboa.
D. Ana, mãe de Alice estava no meio da cozinha toda de aço inoxidável, preparando o frango no forno, para o jantar em família.
— Alice, minha querida, que saudades. — Exclamou D. Ana, contornando o balcão e abraçando a filha. Esta retribuiu, sentindo, de olhos cerrados, as saudades que tinha da mãe.
Alice era a filha mais velha do casal, tinha mais dois irmãos, Mariana de 15 anos e Vasco com 10 anos. Quando Alice nasceu, os pais ainda frequentavam o liceu, foi uma gravidez inesperada. A mãe amou o bebé desde o primeiro momento. Os pais acabaram por não frequentar a Universidade, e ficaram no Alentejo a criar uma família e a tomar conta do negócio familiar que os avôs maternos tinham.
Alice tinha a certeza que o amor é o que mantinha a família única, após tantos anos juntos.
Após um delicioso jantar preparado por D. Ana, a família juntou-se junto à lareira, onde colocavam a conversa em dia. O pai estava preocupado, com os cultivos, pois este inverno estava a chover menos, metade da produção de favas, poderia ficar perdida. Os pais tinham hortas de produtos biológicos, que vendiam para todo o pais. Alice agarrou a mão da irmã e foram para o quarto de ambas, para conversarem, sobre assuntos, que nada tinha haver com hortas e chuva.
Alice e Mariana para além de irmãs eras também as melhores amigas e confidentes. Apesar de Alice estar a viver em Lisboa, falavam diariamente. A irmã lia livros como se não houvesse amanhã e gostava de desenhar o que lia. O que deixava Alice cheia de orgulho e confiante que a irmã seria uma artista de sucesso no futuro. Alice sabia que a irmã estava com um namorico na escola. E queria saber as novidades, por isso deitaram-se as duas na mesma cama, entregues a confidencias ao som de Ed Sheeran.
— Ele é lindo mana ... Pediu-me em namoro, quando fomos passear ao parque depois das aulas, antes das férias. - Disse Mariana, com um sorriso feliz e as maças do rosto ligeiramente coradas.
— Quero conhece-lo. Combina qualquer coisa com ele.— Disse Alice, decidida.
— Amanhã vamos estar juntos, depois digo-te.
Alice estava feliz pela irmã, pelos vistos as irmãs Sousa, tinham encontrado o amor ao mesmo tempo.
Como sempre a irmã sentia, que Alice também tinha novidades para contar, o sorriso radiante a denunciara, sempre que recebia uma mensagem no telemóvel, Alice ficava com ar de boba. Ao contrario do que Mariana pensava, as novidades não eram sobre David, mas sim sobre outro rapaz. As irmãs ficaram até de madrugada a conversar sobre como a vida de Alice tinha dado uma reviravolta de 360º.
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