Capítulo 5. Surpresa
— Alice como correu o teste? — Perguntou Rita visivelmente ansiosa, quando saíram da sala, onde tinha decorrido o teste.
— Correu bem. E a ti?
Rita começou a roer as unhas, um tique nervoso que tinha sempre que as coisas não corriam como ela esperava.
— Mal. Vou ter que ir a exame. — Rita estava uma pilha de nervos. Tal como Alice a amiga era bolsista e tinha que passar a todas as disciplinas, para manter a bolsa para o próximo ano letivo.
— Eu ajudo-te a estudar. Amanhã é o meu último teste.
Rita não cabia em si de felicidade, pois estava mesmo a precisar de ajuda. De repente ela parou junto à saída do edifício da Universidade, fazendo com que Alice batesse nas suas costas.
— Aconteceu alguma coisa? — Perguntou Alice surpreendida.
— Olha quem está no portão da Universidade. É aquele rapaz do sábado à noite.
— Quem?
Alice ficou sem palavras quando ergueu os olhos e viu Daniel junto ao portão. Estava descontraidamente encostado a um carro que parecia ter saído dos anos 70. Tinha vestido um blusão verde escuro, estilo aviador e umas calças de ganga. Ele era como Alice se lembrava, de tirar a respiração a qualquer mulher.
Ela começou a sentir as mãos a soarem, à medida que se aproximava dele. Sentia os olhos dele presos nela, mais uma vez estava hipnotizada. Quando chegou perto dele, tinha o coração quase a sair pela boca.
—Oi. — Disse sorrindo como uma boba.
— Oi. — Respondeu Daniel também sorrindo como um bobo. — Pensei em passar por aqui e convidar-te para almoçar. Tens tempo?
— Sim, já terminei por hoje.
Alice despediu-se da amiga e entrou no carro com Daniel.
Ela pensou que seria desconfortável, estar no carro com ele, mas para seu espanto o desconforto não chegou. A conversa era fluida e animada. Discutiram sobre a música que queriam ouvir. Alice acabou por ganhar, e ficou concluído que Daniel tinha um gosto antiquado, quando se tratava de música. O que deixou-o ligeiramente aborrecido.
— Acho que é a primeira vez que ando num carro considerado um clássico.
— Agora é que não me livro da fama de velho — ambos riram — este carro era do meu avô paterno. Estou a restaurá-lo, passei estes últimos dias a arranjar o motor. — Disse Daniel visivelmente orgulhoso de si.
— Uau! Fiquei impressionada. Então és advogado e mecânico. — Disse Alice com humor.
— Gosto de carros antigos por causa do meu avô. Ele geria um pequeno negócio de arranjo de carros clássicos e em criança costumava ir com o meu avô para a oficina e fica horas a vê-lo desmontar os motores.
— Ainda têm a oficina?
Daniel riu-se secamente.
— Quando o meu avô morreu, o meu pai fechou a oficina. E dedicou-se exclusivamente aos negócios que tinha nos EUA.
— E tu pretendes um dia voltar a abri-la?
— Sim um dia — disse com um voz sonhadora — neste momento estou a dedicar-me ao curso de direito e os carros são apenas um hobby.
Alice estava maravilhada com o que ia descobrindo sobre Daniel.
— Onde vamos ? — Perguntou Alice, tomando conta que se afastavam da cidade. E o tempo estava a ficar cada vez mais escuro.
— Vamos almoçar a um chalé, que fica nos arredores de Lisboa.
Alice ficou entusiasmada, era raro sair do centro da cidade. O tempo é que parecia que não queria ajudar, as nuvens estavam a ficar cada vez mais escuras.
Daniel pigarreou tentando chamar a atenção de Alice.
— Estive ontem com o David. Ele disse-me que vocês falaram... — Daniel deixou a pergunta não feita no ar. Alice estava a suster a respiração sem se aperceber.
— Sim almoçamos no domingo e disse-lhe que ficávamos apenas amigos, como temos sido. — Ela franziu o sobrolho e acrescentou — por isso convidaste-me para almoçar...
Ele suspirou impaciente. — Não fiques zangada. — Queria ter a certeza que o assunto com David estava esclarecido...
A conversa foi interrompida quando o carro começou a fazer um barrulho estranho, que os deixou em alerta.
— Não acredito o motor vai gripar. — Disse Daniel com um ligeiro tom irritado.
Alice olhou pela janela do carro, a chuva começava a cair. Estavam no meio de um laranjal e não se via ninguém a passar por aquela estrada estreita.
Daniel tentava rodar a chave do carro para coloca-lo a trabalhar, mas sem sucesso.
Alice olhou para Daniel que continuava a tentar arrancar com o carro. — Parece-me que advocacia é mesmo a tua área, porque arranjar carros parece que não. — Ela riu-se com a expressão da cara dele. Possivelmente tinha ido longe de mais na brincadeira, mas não deixava de ser divertido.
Ele coloca a testa no volante, desanimado.
— Parece que não. Vou ligar para o reboque.
Depois de Daniel ter telefonado para o reboque, saiu do carro para tentar movê-lo para fora da estrada. Assim que voltou a entrar no carro tinha o cabelo e a blusa completamente encharcados.
— Estás todo molhado. — Disse Alice com uma voz preocupada.
— Tenho uma t-shirt limpa no saco da ginástica. — Daniel pegou no saco e retirou uma t-shirt preta. Assim que ele começa a despir a blusa molhada, Alice virou o rosto ligeiramente corado. Não é que nunca tivesse visto um rapaz sem blusa, mas nunca tinha visto Daniel Cooper sem blusa e era algo bom de se ver.
— Estou a ficar com fome. — Disse ele.
— Acho que tenho na mala uma barrita de cereais. — Respondeu Alice começado a procurar na mala.
— Estamos perto do chalé, podíamos ir a correr. Possivelmente até terei um guarda-chuva aqui dentro do carro.
Alice olhou para ele, como se estivesse louco mas era melhor do que ficarem ali, no meio do nada.
— Ok. Vamos lá então.
Daniel retirou um guarda-chuva da parte de trás do carro e veio abrir-lhe a porta para poder sair sem se molhar. Ela apertou o casado e saiu. Começaram os dois a correr. Mas a chuva estava a ficar cada vez mais intensa. Ele deu-lhe a mão para correrem mais rápido. Apesar do frio a mão dele era quente.
Assim que entraram no chalé foram acolhidos pelo doce aroma de bolos com canela e chá. O ambiente era quente e confortável. Alice ficou admirada com o espaço. Era amplo e as paredes eram em vidro, com várias mesas em ferro espalhas pelo salão principal e uma lareira gigante, no centro.
Eles dirigiram-se para junto da lareira e esticaram as mãos geladas, para poderem receber algum calor das chamas. Resolveram-se sentar numa mesa próxima da lareira, assim sempre podiam secar os casacos molhados. Depois de fazerem os pedidos para o almoço, o som abafado de uma música dos anos 80, começou a evadir o ambiente.
Quando a empregada lhes veio trazer o almoço, Alice perguntou-lhe de onde vinha a música.
— É uma festa de despedida de solteira, o tema é os anos 80. Estão numa sala ao lado do salão principal. Se quiserem podem ir dar uma espreitadela. — Disse a empregada baixinho, como se fosse uma confidência.
O som da música "Be my baby" do filme Dirty Dancing, começou a fazer-se ouvir. Alice ficou empolgada. Ela adorava aquele filme, já tinha perdido a conta das vezes que o tinha visto com a irmã. Elas sabiam todas as músicas de cor e salteado e até sabiam as coreografias.
— Temos que entrar naquela festa. — Disse Alice empolgada. Antes mesmo que Daniel pudesse responder, ela agarrou-lhe na mão e puxou-lhe em direção da festa.
Assim que entraram foram evadidos pela decoração típica dos anos 80. No meio da pista de dança estava um grupo de mulheres e a noiva a fazer a coreografia do filme.
— Vamos dançar. — Disse Alice indo na direção da pista de dança.
— Acho que sou o único homem aqui. — Disse Daniel num sussurro, olhando para todos os lados.
— Ninguém repara. Estão todas bêbedas.
Alice descobriu que Daniel não tinha nenhum sentido de ritmo mas estava a tentar. Ela não conseguia parar de rir, com o jeito dele desajeitado.
Mas quando começou a tocar uma música com um ritmo mais lento, que também era do filme "She's like the wind". Daniel puxou Alice para um abraço apertado.
Alice ficou em pele de galinha assim que sentiu a respiração dele, no seu pescoço.
— Cheiras bem. A chuva e baunilha.
Ela riu-se baixinho, mais por nervosismo. Ele também cheirava maravilhosamente bem. Mas viu-se incapaz de pronunciar qualquer palavra.
Alice sentia a respiração de Daniel junto a à sua bochecha. Seria tao fácil beija-lo. Na verdade que mal faria um beijinho. Alice virou o rosto e ficou a um milímetro de distancia da boca dele. Ainda poderia recuar, mas ela queria aquele beijo, talvez desde o primeiro instante que se viram. Ela sentiu-o suspirar. As palparas dela tremeram e depois fecharam-se completamente, mal a boca dele encontrou a dela.
O beijo a principio foi suave e ternurento, mas rapidamente passou para algo urgente, profundo, no segundo em que a mão dele percorreu o cabelo dela e deslizou a sua língua entre os seus lábios. Esquecendo-se do sitio onde estavam.
Ele agarra as mãos dela e entrelaça os dedos nos dela, e encosta a testa à dela quando o beijo chega ao fim.
— Esperava por este momento desde a primeira vez em que os meus olhos te viram — sussurra Daniel.
Alice sentia que nunca ninguém à tinha feito sentir assim, com um simples beijo. Talvez beija-lo tenha sido uma má ideia, agora como ela ia fazer quando ele se fosse embora.
O momento mágico foi interrompido quando alguém gritou.
— O que está aqui um homem a fazer?
Eles olharam sobressaltados para um grupo de mulheres a olharem para eles com o sobrolho franzido e antes de poderem dizer ou fazer alguma coisa, Alice e Daniel saíram da sala a correr.
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