Capítulo 3. Estrelas
Alice olhava para a sua mão entrelaça na mão de Daniel, reparou como a mão dele era quente e grande. Ela não era propriamente baixa, e mesmo estando de saltos altos, apenas chegava à altura dos ombros dele.
Ele descia as ruas estreitas e empedradas do Bairro Alto, com cuidado, uma vez que ela estava de saltos altos. Alice deu por si feliz, por poderem caminhar juntos. Apesar da noite fria, as ruas estavam repletas de vida noturna, aquele Birro era considerado, o Bairro mais boémio da capital portuguesa.
Assim que saíram da zona do Bairro Alto, o ambiente mudou. As ruas começavam a ficar desertas e sombrias. Alice reparou que estavam próximos do seu apartamento. Por algum motivo o caminho pareceu-lhe mais rápido desta vez, relativamente ao que tinha feito no inicio da noite.
Ela pigarreou.
— O meu apartamento fica já ali — disse apontando na direção do bloco de apartamentos, cor de laranja.
Ele contraiu a mandíbula e olhou em volta. Passou a mão pelo cabelo escuro e reparou que estavam perto do rio Tejo, olhou para o relógio e sorriu, como se tivesse tido a melhor ideia de sempre.
— Vamos ver o rio. — Disse Daniel num tom decidido.
Alice estranhamente sentiu-se aliviada, por poderem ficar mais algum tempo juntos.
Eles tinham que passar pela praça do comercio, para poderem chegar junto ao rio Tejo. A praça do comercio, era um vasto espaço rodeado de restaurantes e seria também para variados eventos culturais.
Alice começou a sentir os pés a doerem-lhe, devido estar tanto tempo a caminhar de saltos altos. E mais uma vez arrependeu-se, por ter ido atrás da conversa da amiga.
— Alice os saltos altos favorecem as tuas pernas. E compras-te os sapatos para quê?
— Mas está frio e tenho que subir a rua toda do Bairro Alto com eles.— Disse Alice exasperada.
— Nós meninas temos que fazer alguns sacrifícios. E o David vai adora-los!
Alice riu-se com a lembrança da conversa que teve com a Rita, antes de sair de casa. Na verdade ela achava que o David, nem tinha reparado nos benditos sapatos. Aquela noite estava a ser imprevisível, em vários aspetos. Alice gemeu de dor ao sentir os sapatos a roçarem-lhe a pele, sensível.
Daniel parou de andar, de repente, percebendo o que se passava, olhou para os pés dela.
— Anda eu levo-te às cavalitas.
Ele abaixou-se para ela poder subir, para as suas costas.
— Eu não vou subir para as tuas costas, não sou nenhuma criança.
— Mas os sapatos estão a doer-te. Não sei porquê as mulheres insistem em usar sapatos que não são nada confortáveis.
— Se calhar é para sermos elogiadas e não estamos à espera de fazer longas caminhadas. — Disse ela com a mão na cintura. Alice mordeu a língua, a culpa era da amiga Rita. Alice era uma mulher independente, não precisava que lhe dissessem o que ficava-lhe bem. Droga!
Ele sorriu, ao vê-la enfurecida. Achando-a adorável.
— Realmente as tuas pernas ficam incríveis, já no bar tinha reparado — disse Daniel, piscando-lhe o olho.
Alice sentiu-se corar, ao vê-lo a olhar para as suas pernas.
— Agora sobe, se não nunca mais chegamos ao rio.
Ele também podia ser bastante impaciente.
Ela mordeu o lábio, deixando escapar um pequeno gemido de frustração. Deu-se conta que o vestido era demasiado curto para poder ir para as costas dele.
— Hum.. Bem... Não consigo subir. — Disse apontado para a sua roupa. — Bem, sempre posso descalçar os sapatos. Ela contraio os lábios para não rir à gargalhada, perante o olhar dele. Daniel esfregou a testa. E percorreu os corpo dela. O que fez Alice ficar com o coração acelerado, ao sentir o olhar dele.
Ele despiu o casaco, revelando os braços bem definidos, e prendeu-o na cintura dela. Alice prendeu a respiração, num gesto irrefletido assim que sentiu a respiração ele junto ao seu pescoço. — Pronto, assim está melhor. — Daniel sorrio e agachou-se para ela poder subir para as suas costas.
Alice revirou os olhos. — Bem vamos lá, então.
Ela sentia o cheiro cítrico do champô dele, teve vontade de passar a mão pelo cabelo escuro e sedoso. Alice engoliu em seco, tinha que parar com aquele tipo de pensamentos.
Ele começou a correr, o que fez com que Alice começasse a rir como uma criança. Ela já não se lembrava qual tinha sido a última vez que tinha andado às cavalitas de alguém.
Quando chegaram à margem do rio Tejo, ele coloco-a no chão, e indicou para Alice ficar à frente dele e apontou para o céu.
Alice ficou maravilhada, com o que estava a ver. Nunca tinha visto nada assim tão belo. No céu noturno de Dezembro, via-se a mais bela chuva de meteoros.
Alice olhou para Daniel, sorridente, que também estava deslumbrado, pelo espetáculo que o céu, lhes estava a oferecer.
Eles sentaram-se na margem do rio, a olhar para o céu banhados pela lua nova, que lhes permitia terem maior visibilidade para a chuva de meteoros.
— É lindo Daniel.
Ele olhou para ela, com os olhos verdes brilhantes.
— Desde pequeno que eu e os meus irmãos, costumávamos ir acampar e ficávamos horas a olhar para o céu, para vermos as estrelas cadentes. Um gosto passado pelo nosso avô. Quando íamos passar as férias na casa dos meus avos, todas as noites tínhamos histórias sobre as constelações. Apesar de hoje em dia, não ter tanto tempo, como gostaria, quando as saudades apertam, vou para algum ponto alto ver as estrelas.
Alice estava submersa das palavras dele, ele conseguia ser bastante cativante. — Então hoje sabias que ia haver a chuva de meteoros?
Ele fez um sorriso presunçoso. — Claro... Tenho uma aplicação no telemóvel, que avisa-me quando eventos assim ocorrem.
Alice riu-se.
— Então já tinhas tudo planejado.
— Tudo não. — Olhar dele ficou mais escuro, quando olhou nos olhos dela. — Pensei que ia estar sozinho, mas ainda bem que o universo tem surpresas boas.
Ela baixou os olhos.
— Fala-me sobre o que estamos a ver. — Disse olhando novamente para o céu.
Ele suspirou.
— Chama-se o enxame das Gemínidas. E neste momento estamos a ver o ponto alto da chuva de meteoros. E podemos vê-lo todos os anos, nesta altura do mês. Isto deve-se ao facto do planeta Terra cruzar a órbita do asteroide Faetonte e são os "detritos" deixados por este asteroide, os responsáveis por este exame de meteoros.
Ela cruzou os braços em cima dos joelhos e pousou a cabeça, ficando a olhar para ele. Que olhava para o céu enquanto contava o que sabia sobre a chuva de meteoros. Ele realmente gostava das estrelas, para Alice as estrelas nunca lhe pareceram tão brilhantes, ainda mais quando o olhar dele refletia o brilho das estrelas e da lua. Se Alice pudesse congelar um memento, seria aquele, nunca nada lhe pareceu tão belo.
O momento foi interrompido pelo som do telemóvel de Daniel, como se os chama-se para a realidade.
Daniel olhou para o visor, digitou uma resposta rápida e guardou o telemóvel, olhou para ela com olhos tristes, o momento foi quebrado, e Alice sentiu o coração apertado.
— Era o David. Somos amigos desde a infância, os nossos pais costumavam jogar golf juntos. E uma coisa levou à outra... Não posso meter-me no meios de vocês. Se estiverem nalgum tipo de relacionamento...
— Não. Não temos. — Apresou-se Alice a dizer. — Conhecemo-nos por acaso na biblioteca da Universidade. Saímos juntos algumas vezes, para estudar ou dar algum passeio. É divertido estar com ele, mas nunca aconteceu nada... Ele disse-me que estava a gostar de mim. E combinamos de sair a sério esta noite...mas...
— Não correu como planeado...
Ela sorriu.
— Pois não...
Ele suspirou.
Alice sabia que ela e Daniel também não poderiam ter nada, pela distância que teriam um do outro, quando Daniel volta-se para os EUA e por ele ser o melhor amigo de David. Possivelmente teriam apenas esta noite.
— Para mim também não correu como esperava. Se o David gosta de ti, então eu...
Ela calou-o colocando a mão sobre a boca dele.
— Não vamos falar sobre isso agora. Vamos apenas ficar com a recordação desde momento.
Ele assentiu, e ficaram a olhar durante mais um pouco para o céu estrelado.
O telemóvel dele voltou a tocar. — Tenho que voltar. — Ela assentiu.
Alice voltou a subir para as costas dele e seguiram o caminho de volta pensativos e perdidos nas emoções, da noite. O corpo dele era quente e confortável. Alice fechou os olhos e deixou-se levar.
Quando chegaram junto do apartamento de Alice, ele coloco-a no chão e olharam um para o outro. Daniel puxando-a para mais perto e abraçou-a, deixando que Alice se aninhasse contra o seu peito. Conseguia sentir o coração dele a bater de forma descontrolada, perguntou-se se ele também conseguia sentir o dela.
Alice inspirou fundo, sentindo o cheiro masculino dele, e teve vontade de beijar-lhe o peito, mas ficou imóvel apenas a sentir o calor dele.
Aquele momento pareceu durar uma eternidade, até que ele afastou-se ligeiramente e sussurrou-lhe ao ouvido, fazendo o pescoço de Alice arrepiar-se. — Saímos do bar os dois de mãos dada, fomos comer num fast food, perto do bar, eu comi um hambúrguer gigante porque estava cheio de fome e tu pediste ... Hum algo vegetariano.
Alice sentiu o sorriso dele no seu pescoço, fechou os olhos e entrou na brincadeira. — Eu pedi apenas um sumo, porque estava demasiado nervosa para comer. — Ele voltou a fechar o abraço, e ela sentiu os olhos a lacrimejar. — Depois falamos durante horas, eu fazia-te rir várias vezes, porque adorava ouvir a tua gargalhada que fazia os teus olhos cor de avelã brilharem...
— E depois ... — Sussurrou Alice.
— Depois... Fomos ver as estrelas, eu queria continuar a impressionar-te. Quando te levei a casa, já estavas completamente rendida então finalmente deste-me o teu número de telefone. — Alice sorriu — Resolvei tentar a minha sorte e roubei-te um beijo o primeiro de muitos e depois talvez me convidasses para entrar.
— Hum... Acho que não, ficávamos só nos beijos à porta de casa. — Os dois sorriram um para o outro, ele deu-lhe um beijo na testa. Ela afastou-se dos braços dele e dirigiu-lhe um sorriso triste — É melhor entrar, está tarde e tu tens que voltar.
Alice saiu a correr, não o deixou responder e tentou obrigar-se a não olhar para trás, de modo a não correr novamente para os braços dele. Não queria que ele visse a dor nos olhos dela. Eu sou capaz de gostar muito de ti, até demais.
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