Capítulo 29. Reencontros

        Enquanto Daniel esperava por Alice à porta da Universidade, ia revendo os e-mails que tinha trocado durante a semana com o Dr. James, médico especialista em doenças cancerosas dos E.U.A. E o parecer médico era unânime. Dado o histórico clínico da paciente e o resultado da biópsia, o mais seguro era remover o ovário, para evitar o reaparecimento da doença.

        Daniel também era da mesma opinião, queria que Alice marca-se a operação o mais rápido possível. Mas a decisão final era dela. E ele sabia como a questão dos filhos estava a afetá-la.  

        Daniel olhou para o relógio mais uma vez impaciente, ela estava a demorar muito. Ele bateu com os dedos no volante e resolveu ir procura-la, afinal ela apenas ia buscar uns livros à biblioteca e já tinha passado uma hora.

***

        Alice estava na biblioteca da Universidade, à procura de um livro sobre casos clínicos, para começar-se a preparar para o último ano do curso, que iria começar daqui a dois meses. Aquela hora a biblioteca estava vazia. 

        — Alice, querida que bom encontrar-te?

        A voz familiar fez estremece-la. Alice virou sobre si mesma, o seu olhar chocou com o de Sofia.

        — Professora Sofia. — Disse Alice sem saber se estava contente ou não por encontra-la. Ela e Sofia não tinham chegado a falar sobre o dia da festa ou sobre Daniel. No final das aulas Alice saia a correr, não dando-lhe tempo para conversarem e Alice tinha a certeza que ela queria falar sobre o assunto. Alice simplesmente não pensou mais em Sofia e Daniel, nem que tipo de relação eles tinham tido. Ele apenas lhe disse que se encontraram e terminaram tudo e isso bastava-lhe.

         Sofia fez um meio sorriso, e avançou na direção de Alice, colocou uma mão no braço dela, e apertou delicadamente, como se quisesse conforta-la.

        — Estás bem minha querida?

        Alice engoliu em seco, admirada com a repentina pergunta.

        — Sim, tudo bem.

        — Já soube que possivelmente tens que retirar o outro ovário. Lamento muito.

        Os lábios de Alice formaram uma linha fina. Franziu o sobrolho.

        — Como sabe sobre isso? — O coração de Alice começou a bater freneticamente.

        — Sabes eu e o Daniel somos bastante próximos. E estou muito preocupada, com a vossa relação.

        Aquela mulher era verdadeiramente inacreditável. Alice nem acreditava no que estava a ouvir, ela estava a insinuar que o Daniel contou-lhe. Como era possível. Ela recusava-se a acreditar que eles mantinham contacto.

        — Oh!... Está tudo bem não se preocupe. 

        — Acho que não lhe podes dar o que ele precisa.

        Alice começou a sentir uma leve irritação, pelo rumo da conversa. E pelo descaramento dela. E o pior é que ela estava tocar num ponto sensível para Alice. Algo que ela mesma já tinha pensado.

        — E o que a faz pensar isso?

        — Bem, para começo ele me tem a mim, porquê ficaria contigo? E depois ele quer filhos para continuar com o nome da família. Achas mesmo que os pais dele vão querer que ele case com alguém que não pode dar-lhe filhos?

        Toda a raiva que sentira a minutos atrás, evaporou, ficando apenas a tristeza e a vulnerabilidade. As palavras magoaram-na, provocando-lhe novas dores.

        Sofia estendeu a mão e segurou-lhe o ombro.

        — O melhor é deixa-lo. Cuida de ti e da tua carreira. És jovem e inteligente, sabes que é o melhor a fazer.

        Alice começou a sentir a garganta apertada e as lágrimas a escorrer-lhe pela cara. Queria poder gritar com ela, mandar-lhe embora, faze-la engolir aquelas palavras venenosas. Mas no fundo sabia que ela tinha razão.

        — Alice, o que se passa? — A voz profunda de Daniel fez-se ouvir na sala silenciosa. Alice limpou as lagrimas com as costas da mão.

        — Nada, vamos embora. — Ela tinha a intenção de ir-se embora. Mas Daniel agarrou-lhe na mão. Ela levanta o olhar e ficou estática, ele tinha um olhar sombrio e frio. Os olhos verdes faiscavam de raiva e algo mais em direção a Sofia.

        — Pede desculpa. Não tens o direito de dizer essas merdas todas.

        Sofia estava pálida, não esperava que ele aparece-se ali. Mas rapidamente recuperou a postura. Afinal só tinha que mudar o seu plano.

        — Daniel querido. Eu tinha-te dito que ela tinha problemas..

        Daniel levantou a mão, num gesto para que para-se de falar.

        — A única que tem problemas és tu.

        — Mas eu amo-te. — Argumentou Sofia, desesperada.

        — Tu não sabes o que é o amor. Não sabes nada sobre mim. Nós apenas bebemos copos. E formos àquela festa porque me pediste para ir comigo.

        Ela fez um breve sorriso malicioso.

       — E foi bastante divertido.

        Daniel, coloca um braço em torno dos ombros de Alice, de forma protetora e faz intenção de ir embora.

        — Acabou. Não te metas no nosso caminho.

        Sofia começou a faiscar de raiva, com a indiferença dele.

        — Ela está a pôr-te contra mim.

        — PARA DE DIZER MERDA! Nós nunca tivemos nada nem vamos ter. Não te quero próxima de nós. Devias procurar ajuda.

        — Mas nós somos perfeitos...

        Daniel saiu da biblioteca, deixando-a a falar sozinha. Queria sair dali o mais rápido possível. Só esperava que as palavras maldosas de Sofia, não tivessem feito muito estrago. Alice andava bastante sensível.

          Assim que Alice entrou no carro, soltou todo o ar que estava a reter. Sentia os dedos a tremer. 

        — Isto foi estranho.

        — Alice não ligues às palavras dela. — Disse Daniel passando as mãos pelos cabelos.

        — Eu nunca fiz muitas perguntas, mas estavas apaixonado por ela?

        — Não. Apenas desfrutávamos da companhia um do outro. Sempre fui claro com a Sofia, nunca pensei que ela estivesse a interpretar de outra maneira. 

        — Se calhar deviam ter esclarecido melhor as coisas ... Ela disse que os teus pais seriam contra, a estarmos juntos... — Disse Alice enquanto olhava para as calças e tentava puxar um fio imaginário, num gesto nervoso.

        Ele passou a mão pela cara.

        — Alice a minha família não é nem um pouco tradicional, como vais perceber isso. E a vida é minha, eu sou completamente autónomo, nunca deixaria que me dissessem o que fazer ou com quem devo casar.

        Ela esboçou um pequeno sorriso, apesar de triste. — Mas seria bom que eles me aceitassem... — Alice fechou os olhos e inclinou-se para trás. — Acho que vou passar o próximo fim-de-semana à casa dos meus pais. Tenho que falar com eles.

        Daniel esboçou um sorriso e colocou as mão em cima das mão de Alice, num gesto tranquilizador.

        — Será bom estares com a tua família. 

***


        Mais tarde, quando Alice e Daniel estavam deitados nos braços um do outro num silêncio confortável, Alice perguntava-se se o deveria convidar para ir para o Alentejo com ela. Em algum momentos ele teria de conhecer os pais dela. Afinal ele disse que a amava e já tinham falado no futuro e em filhos.

        — Queres ir comigo, para a casa dos meus pais?

        Ele beijou-lhe a cabeça. — Claro que sim. Adoraria conhecer os teus pais.

       Ela sorriu. Adorando o facto de ele querer conhecer a sua família.

        Alice depositou uma fila de beijos ao longo do peito nu de Daniel, até à curva do pescoço dele. — Amo-te.

        Ele pousou a mão na anca dela e virou-a de forma a ficar por cima de Alice e fixou o olhar dela. Também te amo. — Alice envolveu-o com os seus braços, e beijaram-se com desejo e paixão.









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