Capitulo 27. Daniel
Daniel passou a mão pela cara cansada, havia 24h que não dormia. A falta de sono já se notava pelos olhos fundos. Tinha chegado a Lisboa com a irmã Lisa pela manhã e dirigiu-se de imediato para a Clinica Holística, para interna-la. Ela precisava de receber tratamento psicológico. Dr. Joel, Diretor do Hospital e médico da sua irmã, estava confiante que Lisa ultrapassaria o episódio traumático que sofrera. A estadia em Londres tinha sido mais longa do que aquela que ele previra inicialmente.
Daniel não estava apenas preocupado com a irmã, mas também com Alice. Durante os primeiros dias da semana tinham falado todos os dias. Mas havia dois dias que não conseguia entrar em contacto com ela. Daniel estava a ficar desesperado, com a falta de noticias. Sentia saudades dela, como nunca. E com este pensamento dirigiu-se para a casa de Débora, porque Alice só poderia estar lá, e ele iria descobrir o motivo dela estar a evita-lo.
7 dias antes
Era de noite cerrada quando Daniel aterrou em Londres, assim que saiu do avião o frio fez-se notar. Fechou mais o casaco com as mãos e seguiu em direção à porta das chegadas do aeroporto, assim que saísse pela porta ia ter à sua espera o pai.
Não via o pai à pelo menos dois anos. Dos três irmãos a relação de Daniel com o Pai era a mais conflituosa. O pai sempre tentou orientar o percurso profissional dos filhos. E o pai queria que ele ficasse responsável pelo gabinete jurídico das empresas dos Estado Unidos.
Mas assim que Daniel se apercebeu que tipo de negócios o pai tinha, resolveu sair, e abrir a sua própria empresa em Portugal. A saída não foi pacifica, o pai não tinha visto da melhor forma a saída do filho. Para o irmão mais velho tinha sido mais fácil, nunca permitiu que o pai interferir-se totalmente no seu trajeto profissional e foi inteligente ao escolher uma área que o pai não poderia controlar.
Lisa, a irmã de Daniel, sempre mostrou interesse pela arquitetura moderna, uma área que o pai também não poderia interferir, por isso quando soube que ela iria estudar para Londres a pedido do pai, descartou que o motivo tivesse segundas intenções. Mas após conversar com a mãe, ficou apreensivo.
— Filhos estou preocupada com a vossa irmã. Vai fazer três dias que tem o telefone desligado e na última vez que falamos, pareceu-me triste, e... — A mãe fechou os olhos sentindo as lágrimas a caírem.
— O que se passa mãe? — Perguntou Theo aflito, por ver a mãe a chorar.
— O vosso pai foi várias vezes a Londres ter com a Lisa, ele arranjou-lhe um estagio numa empresa de renome.
As palavras da mãe tinham sido o suficiente para Daniel ficar em alerta, oferecendo-se para ir procurar a irmã e trazê-la de volta para Portugal. Theo tinha sido da mesma opinião.
Assim que saiu do aeroporto viu o pai com um fato cinza escuro, feito por medida, encostado ao carro a fumar um charuto. No rosto do pai já se notava os traços do tempo, o pai sempre lhe pareceu imponente mas agora parecia-lhe abatido e mais de acordo com a idade que tinha.
Quando viu o filho assentiu e indicou apenas que entrasse no carro. O motorista iria leva-los ao hotel.
— Filho à quanto tempo. Sei que estás a sair-te bem na tua empresa, tenho falado com a mãe.
— O que se passa com a minha irmã? — Disse Daniel de forma rude.
O pai de Daniel suspirou pesadamente.
— Ela começou a fazer um estágio numa empresa de arquitetura à três meses, aparentemente tudo estava a correr bem. Mas a semana passada fui contactado pelo Diretor da empresa a dizer que fazia tês dias que Lisa não aparecia no trabalho e ninguém sabia dela. Coloquei um detetive à procura da tua irmã pela cidade toda. Mas até agora nada.
Daniel esfregou a cara, pensando que o assunto poderia ser mais sério do que aquilo que pensava inicialmente. Qualquer pessoa normal contactaria de imediato a policia, mas o pai não era uma pessoa normal, por isso recorria a detetives.
— Diz-me que não tens nada haver com isto.
— Filho, nunca faria nada que magoasse a tua irmã, nem à envolveria nos negócios da família. Ela é a minha menina.
Por algum motivo, Daniel acreditou no pai.
— Como ela arranjou o estagio?
— Bem.. na verdade fui eu que arranjei. Mas a Lisa não soube de nada. Ela foi contactada através da escola.
— Amanhã vou à empresa falar com todos os funcionários, e quero o telefone do detetive privado.
— Vou tratar disso. Mas temos que ser discretos.
— Vou tentar. Mas se não obtiver resultados rápido. Entro em contacto com a policia.
Daniel chegou ao Hotel e enviou uma mensagem a Alice a dizer que já tinha chegado e tinha saudades. Possivelmente ela estaria a dormir, afinal já era de madrugada. Daniel sentiu saudades do cheiro dela e da sua pele macia e quente. Afastou o pensamento, e resolveu telefonar ao detetive privado, sem se importar com as horas tardias. Tinha que encontrar a irmã o mais rápido possível. O homem atendeu ao terceiro toque.
— Wesly falando?
— Boa noite, sou o irmão da Lisa, Dr. Cooper. Como está a investigação.
O homem pigarreou no outro lado da linha.
— Boa noite Dr. Cooper. Como já falei com o seu pai. Estive a investigar os Hospitais e Clinicas e ninguém deu entrada com a descrição da sua irmã.
Daniel fechou os olhos, contendo a fúria que sentia, só de imaginar a irmã ferida.
— Investigue o dono da empresa, para qual a minha irmã trabalhava.
— Mas o seu pai disse...
— ESQUEÇA. Quem manda sou eu. Agora investigue a empresa. Mantenha-me atualizado de hora a hora.
Daniel, deligou o telefone sem esperar a resposta do detetive. Ele sabia que algo estranho se passava. A irmã era uma menina doce e inteligente mas sabia-se defender e para ela ter fugido, é porque alguma coisa séria tinha acontecido.
***
Daniel estava junto ao carro no parque de estacionamento da empresa onde a irmã trabalhava, queria falar com a colega de estágio e amiga da irmã, fora da empresa.
Ele tinha passado os últimos dois dias a entrevistar os funcionários da empresa de arquitetura, onde a irmã estagiava. Aparentemente todos gostavam dela, mas ela era tida como muito reservada, não saia com ninguém e apenas ia do trabalho para casa ou para a Universidade. O que deixou Daniel intrigado, pois a mãe tinha-lhe dito que achava que a Lisa tinha um namorado e ela sempre foi uma miúda extrovertida.
Houve apenas uma colega de trabalho, que pareceu-lhe suspeita, pela forma como olhava nervosa para todos os cantos da sala, enquanto falava com ele. Daniel podia apostar que Mary sabia mais do que dizia, mas por algum motivo recusou-se a falar.
Daniel reparou que Mary saia apressadamente da empresa, antes dela entrar carro intercetou-a. A rapariga ficou em pânico, quando viu que era Daniel quem estava à sua frente.
— Preciso de falar consigo.
— Não tenho mais nada a dizer, por favor. — Disse enquanto olhava para todos os lados.
Daniel tirou um cartão do bolso e entregou à rapariga.
— Estes são os meus contactos. Pode falar comigo a qualquer hora. A minha família está desesperada. Se não conseguirmos noticias, teremos de envolver a policia.
Mary arregalou os olhos. — A policia?
Daniel assentiu e voltou-lhe as costas, para se ir embora, mas foi barrado pela rapariga que agarra-lhe o braço.
— Espere. Não quero problemas... — Mary parecia desesperada.
— Pode confiar em mim. O seu nome não será envolvido. E podemos ajuda-la se quiser sair daqui.
— Só sei que Lisa começou a sair com o Dr. William, filho do dono da empresa. E na última semana começou a aparecer no escritório com cara de choro e parecia bastante apática.
— Que tipo de pessoa era esse William?
Mary suspirou nervosa.
— Não sei bem ... Ele ia pouco ao escritório.
— Quando é que eles começaram a sair?
— Não sei ... Desculpe. A Lisa falava pouco sobre a vida privada. Mas ela no inicio era animada e chegamos a sair algumas vezes. Mas passado algumas semanas começou a ficar mais retraída. Perguntei-lhe o que se passava, mas apenas me disse que poderia estar a ser vigiada. Achei estranho mas houve uma noite que sai tarde do escritório e vi-a a entrar no carro do Dr. William e compreendi que poderia ser ele... Agora tenho que ir ...
— Obrigado. Se lembrar de mais alguma coisa, pode entrar em contacto para o meu número.
Daniel dirigiu- se para o carro apressadamente e telefonou ao detetive Wesly. Ele nem esperou que o homem falasse
— Investigue o filho, William Weekly. E uma rapariga chamada Mary estagiava com a minha irmã. Tem algum contacto na policia?
— Sim senhor... Tenho alguns contactos.
— Fale com alguém de confiança e peça ajuda. Podemos estar perante alguma situação de rapto.
Daniel desligou o telefone. Apertou as mãos com força no volante, sentindo-se impotente. Ele sabia que passava-se alguma coisa muito errada nesta história toda. A irmã não iria sumir do nada. A hipótese do rapto passou pela sua cabeça, quando falava com a Mary, se fosse apenas um caso de amor mal resolvido com o chefe, não haveria motivo para ela estar tão nevosa.
Ele suspirou exasperado e telefonou ao pai, para o colocar ocorrente do que descobrira e solicitou que o pai falasse com os contacto que tinha em Londres. Ele sabia que eram contactos obscuros, mas neste caso, sabia que era a melhor solução.
No dia seguinte de manhã, Daniel resolveu telefonar a Alice, já não falavam a algum tempo.
— Bom dia Baby. — Disse Daniel com um sorriso nos lábios ao ouvir a voz de Alice, no outro lado da linha.
— Bom dia. Estás bem?
— Sim, apenas cansado. E tu?
— Tudo bem. Como está a investigação.
— Fizemos alguns progressos. — Daniel fez um pequeno sorriso. — Tenho saudades tuas.
Ela suspirou. — Eu também, devia ter ido contigo. Mas o meu chefe não me deu folga.
Ele riu-se baixinho.
— Tenho que ter uma conversa séria com o teu chefe. Também gostava que tivesses aqui. Não nunca pensei que as coisas estivessem tão descontroladas. Espero estar logo em casa.
— Tem cuidado e vai correr tudo bem. Tenho que desligar, estão a chamar-me, vou a uma consulta.
— Consulta? Estás doente? — Franziu o sobrolho.
— Não é apenas rotina. Não te preocupes.
— Manda-me mensagem quando saíres. Beijos adoro-te.
Daniel pode sentir o sorriso dela, do outro lado da linha e com uma voz tímida disse — eu também.
Ele ia dar em louco com tantas saudades, não via a hora de poderem formar uma família. Nesse instante o recebeu um telefonema do pai. A voz do pai era aflitiva.
— Daniel, vou enviar-te umas coordenadas GPS. Encontramos Lisa num Hospital fora de Londres
— Ela está bem?
— Não sei filho, estou a caminho do Hospital.
Daniel saiu a correr do quarto de Hotel e foi para o carro.
Conduziu como um louco, foram quase duas horas de caminho. O Hospital ficava num zona bastante afastada da cidade. Quando lá chegou, o pai veio na sua direção.
— Como ela está? — Perguntou Daniel.
— O médico diz que ela teve um aborto espontâneo, foi encontrada na beira da estrada. Está em choque mas não tem nenhum dano físico.
Daniel deu um pontapé num pedra, estava furioso.
— Mas que raio se passou aqui. Assim que possível levo a minha irmã para Portugal. Quero que encontres os responsáveis. De certeza que foi esse namorado. Ele tem que pagar pelo que aconteceu.
— Filho podes ter a certeza que vou encontrar os responsáveis e se saírem vivos é uma sorte.
Daniel assentiu, sabia que o pai falava a verdade. Lisa era a sua irmãzinha não merecia passar por todo este sofrimento.
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