Capítulo 26. Notícia

         Alice chegou à casa da D. Abília e sentiu o cheiro familiar a lasanha acabada de sair do forno. Todos sabiam como ela adorava aquela especialidade da mãe da Débora. 

        D. Abília assim que viu Alice, envolveu-a numa abraço caloroso. Alice apercebeu-se que estava com saudades de casa, a mãe da Débora fazia-a sempre lembrar-se da sua própria mãe.

        — Como estás minha querida?

        — Estou bem. E por aqui?

        — Tudo muito bem. Tenho sentido a tua falta no Hospital. As crianças têm perguntado por ti. — Ralhou D. Abília.

        Alice sabia que estava em falta. Desde que tinha começado a trabalhar a tempo integral, que não tinha tido tempo para ir ao Hospital, fazer voluntariado.

        — Este fim-de-semana vou. Durante a semana tem sido complicado.

        — Hum.. — D. Abília fez um sorriso sábio. — Agora conta-me como vai o namoro, com o melhor partido de Lisboa?

        Alice revirou os olhos.

        — A Débora é uma língua de trapo.

        — Todo aquele incidente que se passou no dia da festa, foi desagradável, o que me alentou foi saber que o Daniel foi um príncipe encantado.

        Alice sorrio. Ela não o poderia descrever melhor. 

        — Vou ter com a Débora, ela está no quarto? — Disse Alice, numa tentativa de fugir do assunto "Daniel" e "namoro".

        — Sim sobe. Mas durante ao jantar quero saber tudo.

        Alice saiu da cozinha e foi em direção ao quarto da Débora, ela sabia que não conseguiria fugir da D. Abília, quando ela queria saber alguma coisa, fazia tudo para conseguir. Nesse aspeto mãe e filha eram muito parecidas. Alice suspirou com a ideia que durante o jantar iria sofrer um inquérito. Mas como ela adorava D. Abília, teria de contar tudo ou quase tudo.

        Alice sorrio ao lembrar-se da despedida no carro de Daniel, quando o foi levar ao aeroporto. A troca de beijos, ainda fazia-a sentir arrepios.

Eles pararam o carro, junto ao terminal do aeroporto de Lisboa, Alice iria ficar com o carro dele, enquanto Daniel estivesse em Londres.  Alice sentia o coração apertado, com a iminência de ele ir-se embora.


—Em principio só vou lá estar três dias. O suficiente para encontrar a minha irmã e trazê-la de volta para Portugal. — Os lábios de Daniel juntaram-se aos de Alice, num beijo lento e cheio de significado. Ele agarrou-a pela cintura e ergueu-a de forma a que ela ficasse sentada no colo dele. Encostou a sua testa à testa de Alice. — Vou ter saudades tuas.

Alice abraçou. — Eu também vou ter. Prometes que falamos todos os dias?

Ele sorriu. — Claro que sim.

Trocaram mais beijos apaixonados, cheios de palavras não ditas e promessas, mas ambos pensaram que quando ele volta-se falariam no assunto.


        — Terra, chama Alice. — Alice saiu do transe em que estava, quando ouviu Débora a chama-la. — O que estás a fazer ai parada na escada?

        Alice engoli-o em seco e voltou ao momento presente. — Nada ia ter contigo.

        Quando Alice chegou ao quarto de Débora, abraçou a amiga.

        — O que aconteceu ontem?

        — Acreditas que ele teve a lata de me telefonar, passado todo este tempo. Na verdade nem sabia que estava tão zangada com ele. Só quando começou a falar é que me apercebi, o quanto estava zangada. Ele esteve três anos sem dizer nada!

        Elas sentaram-se na cama. Alice agarrou numa almofada e deitou-se de barriga para cima. A cama de Débora era confortável e fazia lembrar a cama de uma princesa, como todo o quarto. A mobília era antiga e trabalhada, o ano passado tinha sido pintada de branco, para esconder o tom escuro da madeira. O quarto era amplo, com uma janela quase do tamanho da parede. Como a janela estava aberta, entrava uma brisa fresca no quarto.

        — Éramos muito novos na altura. Não sejas tão dura com ele. Vocês eram assim tão próximos?

        — Pensava que sim. Como te disse tivemos um relacionamento não oficial, que parou quando ele começou a ter interesse por ti. Mas mantivemos a amizade, ele frequentava a minha casa, jantava aqui com os meus pais e muitas vezes saiamos juntos. — Débora bufou e deitou-se ao lado da amiga.

        Alice começava a achar que David nunca tinha tido um real interesse nela. Possivelmente ele queria era chamar a atenção de Débora ou possivelmente queria obriga-la a tomar uma atitude. 

        — Podias tentar falar com ele, ouvi-lo pelo menos. 

        Débora estava com os olhos chorosos. — Talvez.

        — Sempre achei que vocês os dois tinham uma cumplicidade. Que se entendiam só com o olhar. E tinha sempre aquela sensação que se passava algo entre vocês. Se calhar vale a pena falares com ele. E conta-lha como te sentiste com a atitude dele. Podem tentar salvar a amizade.

        Débora sentiu as lagrimas a escorrer pela cara. — Não sei... isto está uma confusão.


***

        Débora acabou por adormecer sem conseguir ir jantar, possivelmente devido a todo o desgaste emocional. O que fez com que Alice passasse por todo o interrogatório sobre o namoro com Daniel sozinha. Débora iria ficar a dever-lhe, pensou.

       Quando se preparava para dormir ao lado de Débora, já que lhe tinha prometido que iria ficar com ela, enquanto Daniel estivesse em Londres. Alice reparou que tinha duas chamadas não atendidas da mãe.

        Ela ligou de volta e a mãe atendeu ao primeiro toque.

        — Filha estava preocupada.

        — Está tudo bem mãe. Estou na casa da Débora. Como está o pai?

       — Estamos bem, com saudades tuas. Se calhar vou a Lisboa fazer-te uma visita.

        Alice estranhou a mãe querer vir a Lisboa. Desde a temporada que passaram com os tratamentos de Alice, que D. Ana não queria vir à capital.

        — São sempre bem vindos ... Mãe ... Passou-se alguma coisa?

        D. Ana ficou em silêncio.

        — Mãe?

        D. Ana fungou.

        — Recebeste uma carta do Hospital, para ires fazer uma biópsia ao ovário esquerdo.

        Alice ficou em silêncio por uns segundos.

        — É apenas rotina, o médico tinha-me avisado que deveria fazer uma biópsia todos os anos, devido ao risco. Não precisas de vir. Está tudo bem.

        — Estou preocupada filha.

         — Mãe assim que tiver o resultado telefono. É só rotina.

        — Prometes? 

        — Sim mãe, manda beijinhos a todos. Vou dormir.

        Alice desligou o telefone, e deitou-se na cama, também sentido o desgaste físico e mental das emoções do dia. Ficou com o coração apertado após o telefonema da mãe e só pensava que toda aquela conversa sobre o passado, poderia ser algum tipo de mau presságio. 










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