Capítulo 22. De Olhos Bem Fechados
Assim que os primeiros raios de sol apareceram, Alice saiu de casa com os fones nos ouvidos, ao som de Rihanna e foi correr.
O bater do seu coração era audível nos seus ouvidos, e mantinha-se ao mesmo ritmo dos pés. Ela gostava de sair para correr aquela hora da manhã, as ruas estavam silenciosas. Sabia-lhe bem e era libertador, ainda mais depois de uma semana desgastante de trabalho.
Desde que começara a fazer terapia, ela descobriu o gosto pela corrida, que proporcionava-lhe bem-estar físico e mental. E era melhor do que ficar deitada na cama, perdida no passado. Alice ainda se sentia assombrada pelos dias em que ia fazer os tratamentos, às vezes acordava a meio da noite suada e com o sabor do liquido que lhe punham nas veias, para matar as células doentes. A corrida era um meio para esquecer essas noites. Hoje tinha sido uma noite dessas. A terapeuta de Alice costumava dizer que por vezes Alice tinha medo, quando surgiam mudanças na sua vida, o medo aparecia, como lhe lembrando que a vida de repente podia-lhe fugir.
Alice também descobriu o gosto pelo yoga, quando a insónia começou a querer ser sua companheira permanente e a ansiedade também quis vir fazer companhia. A solução dos médicos era a medicação. Mas Alice estava farta de medicamentos e procurou alternativas que não a deixassem grogue. Encontrou na medicina alternativa e no desporto o equilíbrio que procurava.
Na noite passada, Alice tinha tomado uma decisão do calor do momento de ir morar para a casa que era da irmã de Daniel. A verdade é que a decisão teve influencia da amiga Débora.
A Débora tinha passado a noite na casa de Alice, e entre uma garrafa de vinho rosé e a conversa analítica de Débora, Alice tomou coragem e acabou por enviar uma mensagem a Daniel a dizer-lhe que aceitava a sua oferta. E logo de seguida recebeu uma mensagem de resposta a indicar que ele viria busca-la no dia seguinte, para fazerem a mudança.
Tudo estava a correr demasiado rápido, mas não era mau era só diferente do que se tinha acostumado.
Tirou os fones dos ouvidos e abrandou a corrida e decidiu entrar na sua padaria preferida para comprar pão e uns biscoitos para o pequeno-almoço. Débora tinha ficado a dormir e quando acordasse iria estar esfomeada.
***
— Como é que consegues correr a esta hora da manhã? — Disse Débora sonolenta, deitada no sofá, quando Alice entrou em casa.
— Força de vontade. Devias ir comigo de vez em quando.
— E perder o meu sono de beleza. Obrigada mas não. — Disse com sarcasmo.
— O sarcasmo é a pior forma de humor.
Débora fez uma careta.
— Então o que temos para pequeno almoço?
Gritou Débora para Alice que estava na cozinha a mexer nas panelas.
— Ovos mexidos com torradas. E uns biscoitos, para comermos durante a limpeza.
Débora levantou-se do sofá.
— Limpeza?
— Claro. Vais ajudar-me a arrumar as minhas coisas. Acho que ontem fui tramada por ti.
— Só ajudei-te a fazeres o que querias, mas não tinhas coragem.
— Hum-hum... Claro que sim.
Depois do pequeno almoço, as duas amigas passaram o resto do dia a arrumar as roupas que Alice iria levar consigo, todas as loiças seriam guardadas em caixas na garagem de Débora, uma vez que ela não ia utiliza-las. A cozinha da nova casa, estava totalmente equipada.
Quando Daniel chegou a casa de Alice, já estava praticamente tudo arrumado.
— Olá linda — disse dando-lhe um beijo suave nos lábios.
Alice sorriu. Ele cheirava a sabão e tinha o cabelo molhado.
— Entra. Já acabamos de arrumar. As caixas que estão na sala podem ir.
— Sim Senhora. — Disse piscando-lhe o olho. — Oi Débora. — Gritou Daniel, para Débora que estava no quarto de Alice.
— Ainda bem que chegas-te, tenho que ir para casa, tomar banho.
Débora manda um beijo a Alice com a mão e sai de casa, antes de Alice ter hipótese de contestar.
— Parece que somos só nós baby. — Disse Daniel sorrindo.
Ela dirigiu-lhe um sorriso cintilante e jogou-lhe o pano do pó na cara.
— Vamos acabar com isto. Tenho fome.
— A senhora manda. — Respondeu-lhe com um sorriso brincalhão nos lábios.
***
Alice estava deitada na sua cama nova, tinha acabado de sair do banho. O quarto era incrível e confortável. Ela perguntou-se se a irmã de Daniel também ficava no quarto deitada na cama a olhar para as estrelas, o quarto tinha uma clarabóia* no teto. Alice não tinha reparado na primeira vez que viu o quarto. Mas estada a adorar. As mudanças tinham acabado tarde e ela sentia-se cansada, mas feliz por estar ali.
Ela estava quase a deixar-se dormir, quando foi despertada pelo som do telemóvel. levantou-se da cama e viu que era uma mensagem de Daniel, dizendo que o jantar estava pronto. Alice sorriu e vestiu uns calções de ganga e um top e foi em direção à casa principal, pelo caminho de pedras. A noite estava quente, soprava apenas uma aragem suave.
Quando Alice chegou à cozinha, sentiu o cheiro a pizza.
— Espero que gostes de pizza, tenho uma vegetariana e uma de fiambre e ananás.
— Hum... Era mesmo isso que apetecia-me.
Ele colocou as pizzas na mesa e sentaram-se a comer.
— Estás confortável, na nova casa?
— Sim tudo ótimo. O quarto tem uma linda clarabóia, foi ideia da tua irmã?
— Sim. Ela quando projetou a casa, desenhou o quarto com uma clarabóia. Quando era pequena ficava horas a olhar para as estrelas. Quando fez 12 anos eu e o meu irmão oferecemos-lhe um telescópio. Nunca a tinha visto tão feliz com um presente.
— Vocês gostam os três de observar estrelas?
— Sim, o nosso avo, passou esse gosto para os netos.
— E o de carros também.
— Sim, com os carros ele tentou, mas fui apenas eu que fiquei com o bichinho.
— Ainda queres reabrir a oficina do teu avo?
— Sim ainda. Simplesmente está em stand by. Acho que quero ganhar dinheiro suficiente para depois só fazer o que gosto realmente.
Depois do jantar, deram um passeio pelo jardim de mãos dadas, sob o céu estrelado. Parando ocasionalmente para Daniel lhe apontar alguma constelação. Ele deixou-a à porta de casa.
— Adorei o jantar, obrigada — disse ela com um sorriso nos lábios.
— Adorei a companhia e estou feliz que estejas aqui. — Disse Daniel inclinando-se para a frente e deslizando a mão pela parte de trás do pescoço dela. Puxou-a para mais perto e deixou que as pontas dos dedos da outra mão deslizassem pela base do pescoço dela. Desenhou um circulo com a ponta do detono pescoço dela, provocando-lhe um arrepio.
Alice estava a ficar louca com o toque dele, queria beija-lo, mas ele continuava a torturá-la. Ele continuava a desenhar aquelas círculos nela.
Ele curvou-se para a frente, fechou os olhos e deslizou os lábios contra a orelha dela, depositando um beijo mesmo atrás da orelha dela e sussurrou:
— Bons sonhos.
A respiração de Alice foi como uma rajada de ar contra o cabelo de Daniel. Ele adorava-a provoca-la. Mas Alice aprendia rápido. Ergueu o braço e tocou-lhe no rosto ao de leve, ele fechou os olhos, ela aproximou a boca do ouvido dele e enquanto dava-lhe pequenos beijos sussurrava.
— Convidava-te para entrar... mas estou cansada. — Ela riu-se e quando ia fugir para dentro de casa, ele agarra-lhe o pulso e puxa-a para si, junta os lábios aos dela, num beijo cru e agarra-a pela parte trás das coxas e içando-lhe até à cintura. Ela aperta as pernas em volta da cintura dele e ergue os braços para lhe agarrar o pescoço. O beijo é urgente, apaixonado.
Alice sentia-se nas nuvens cada vez que beijava Daniel, tinha sempre vontade mais. Era como se tivesse a comer um doce irresistível. Ela afastou-se um pouco quebrando a magia que os rodeava. Com os olhos brilhantes disse.
— Queres ficar aqui.
Ele deu pequenos beijinhos na ponta do nariz de Alice e relutantemente, colocou Alice no chão.
— Precisas de descansar. Ainda tenho que rever uns documentos, para o julgamento de segunda-feira.
— Quando terminares podes vir. — Ela sorriu perdidamente apaixonada e entrou dentro de casa.
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Clarabóia: Parte envidraçada de um telhado para entrar claridade
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