Capítulo 2. Aposta
Que ideia mais idiota que fui ter, sim definitivamente uma ideia idiota... mas divertida. Alice sabia que estava a brincar com o fogo, afinal não foi para isto que se tinha aperaltada toda para sair à noite. O plano era outro, mas de repente o plano era ganhar uma aposta e dar o seu número de telefone a um desconhecido que daqui a alguns dias iria para o outro lado do mundo.
Mas só se tinha 18 anos uma vez na vida, é verdade que ela o David tinham saído algumas vezes, mas não tinham nenhum compromisso e ela sempre tinha deixado claro que eram apenas amigos. Tentou afastar os pensamentos que lhe invadiam a mente e pensar no momento presente.
E o momento presente tinha uma aposta para ganhar. Tinha que pensar uma estratégia, afinal ela não fazia ideia do que fazer. A amiga Rita é que seria boa com estas situações. Das poucas vezes que tinham saído à noite, ela conseguia sempre bebidas de borla.
Alice olhou-o pelo canto do olho, e reparou na forma confiante como andava pelo bar, também reparou como todas as raparigas olhavam para ele. Realmente era um belo exemplar masculino. Ele trazia vestido uma camisa branca que estava aberta no colarinho, o que ainda o tornava mais atraente.
Ela não podia demonstrar medo de uma aposta sem sentido. Afinal era apenas uma pequena brincadeira, ou era o que tentava dizer assim própria.
— Nem penses em fugir. — Disse sussurrando-lhe ao ouvido.
Alice estremeceu, com a proximidade dele.
Ela humedeceu os lábios, tirou o casaco preto que trazia vestido, revelando um vestido preto justo de alças finas, soltou o cabelo longo e sentindo-se mais confiante disse-lhe — nunca me passaria tal coisa pela cabeça. — Piscou-lhe o olho e dirigiu-se para o bar onde estava o barman, transmitindo uma confiança, que não tinha. Talvez pudesse fingir que era a amiga Rita.
Assim que o barman olhou para ela, Alice fez um grande sorriso de forma a atrair a sua atenção, e rezou para que ele repara-se nela.
— Linda o que vai ser? — Alice debruçou-se sobre o balcão. — Uma água por favor. Uma água... Quem pede água hoje em dia num bar. Boa Alice! — De certeza que não queres algo mais forte. Posso oferecer-te o que quiseres. — Ele fez-lhe um sorriso sexy. — Alice continuava a tentar flertar com o homem, mas sentia-se a ficar cada vez mais corada.
— Ela só quer a água. — Ele falou com uma voz dura e fria. Alice olhou para o seu rosto, e os olhos verdes dantes brilhantes, agora estavam escuros e frios.
Um arrepio escaldante trespassou Alice, deixando todo o seu ser hiperconsciente.
Ele tirou a água do barman e entregou-lhe. — Vamos sair daqui.
Sem olhar para ela, agarrou-lhe na mão levando-a em direção à saída. Alice sentiu a eletricidade a percorre-lhe o corpo, quando as suas mãos tocaram-se. A mão dele estava quente, ele acariciava o seu pulso com o polegar, provocando-lhe arrepios na pele.
Ela tentou dizer que tinha ganho a aposta, brincar com a situação, mas as palavras não saiam. A Garganta estava seca e incapaz de formar palavras.
A consciência de Alice impediu-a de avançar mais, parou no meio do caminho, a brincadeira tinha ido longe de mais. Alice sentia o rosto a aquecer e a garganta a fechar-se, uma reação instantânea que parecia ter àquele homem. Ela só sabia que tinha que dizer-lhe que não podia ir com ele, antes que fosse tarde de mais.
Ela parou de andar e olhou para ele.
— Eu ... Desculpa. Não queria ... hum mas ... — O momento foi interrompido por uma voz familiar a chama-la, no meio da multidão. Merda.
— Alice!... Andava à tua procura. — Alice fica branca, os olhos azuis olham para ela sorridentes. Mas algo desvia a sua atenção. — Daniel também estás aqui? — David alterna o olhar entre Alice e o homem à sua frente.
— Hum ... conhecemo-nos por acaso... — Disse Daniel com o olhar preso em Alice.
David sorriu com a casualidade. — Este é o meu melhor amigo, Daniel Cooper que está a estudar Direito em Harvard, chegou hoje. Era por ele que estávamos à espera. — Alice sentiu a cabeça andar à roda, como o destino podia pregar-lhe tamanha partida.
— Daniel, esta é a rapariga que estou a tentar convencer ser a minha namorada, Alice Sousa. Talvez possas ajudar-me. — Disse piscando o olho a Alice. — Ela fungou, emitindo um som meio engasgado, involuntário e nervoso. Alice esboçou um sorriso rasgado, tentando ultrapassar o desconforto.
Daniel tinha os olhos fixos nos dela, foi pego de surpresa tanto quanto Alice. David continuava a falar, mas Alice já não ouvia-o, só pensava na loucura daquela noite, na confusão que aqueles olhos verdes refletiam. Alice queria poder dizer-lhe que sentia-se da mesma maneira, e que ela e David não tinham nada, mas simplesmente não conseguia. Tudo parecia meras desculpas.
Ela estava presa nos olhos verdes dele como uma mosca numa teia. E achava que nunca mais iria conseguir sair.
Definitivamente hoje não devia ter saído de casa.
Nesse instante chega Débora, sorrateira. Com uma voz melosa diz ao mesmo tempo que se agarra ao braço de David. — Não me apresentas o teu amigo. — Ela olha para Daniel de forma sedutora, enquanto piscava os olhos com os seus cílios postiços.
Alice revirou os olhos ao ver toda aquela cena ridícula.
— Claro linda, Daniel esta é a Débora, uma amiga e colega de curso de Alice. Tenho a certeza que vocês os dois vão dar-se bem.— David sorriu de forma cúmplice para Daniel.
Ele aproxima-se de Débora e dá-lhe dois beijos na cara, o que faz com que ela soltasse uns gritinhos irritantes de satisfação. Alice desviou o olhar, sentido talvez um pouco de ciúmes, sem saber bem do quê.
Foi salva pela amiga Rita que arrastou-a para a pista de dança, que já estava ao rubro.
— Parecia que precisavas de ajuda.
Alice abraçou a amiga. — Obrigada.
— Já agora quem era aquele jeitoso, com quem tiveste a noite toda a falar?
— Longa história. Falamos em casa.
A música era contagiante. Alice deixou-se guiar por Rita, para o meio da pista. E no meio da multidão deixou-se ir ao som da música. Tentando não pensar nos acontecimentos das ultimas horas. O que demonstrou ser uma tarefa difícil. Alice não conseguia desviar o olhar de Daniel e de Débora. Tanto que não deu pela presença de David na pista de dança.
David era bom a dançar, fazia sempre danças engraçadas, era impossível não rir ao pé dele.
Mas para Alice a noite tinha terminado.
Sentia-se que estava em falta com David. Era certo que não tinham nenhum compromisso assumido, mas tinham saído algumas vezes, e ela sabia que ele tinha interesse em algo mais. E agora sabia que não poderia corresponde-lo nem sair com o seu melhor amigo porque seria algo desonesto. Por isso achou que o melhor era voltar para os livros. Já tinha tido animação suficiente, para uma noite.
Deu um beijo na amiga Rita e despediu-se de David. — Vou para casa, já está a ficar tarde. Amanhã tenho que terminar o trabalho do final do semestre.
— Não Alice. Combinamos de sair hoje. — Ele tenta agarrar na mão dela. Mas Alice retirou-a repentinamente. Estava a começar a sentir-se sufocada.
— Amanhã falamos melhor. Agora tenho mesmo que ir. — Alice abraça-o e por cima do ombro de David, conseguiu vislumbrar Daniel. Débora estava praticamente pendurada no pescoço dele, a falar qualquer coisa ao seu ouvido.
Alice sentiu o frio a percorre-lhe o corpo, quando saiu da discoteca. Sentir a brisa fresca no rosco, fez Alice suspirar de alivio. Apertou o casaco junto ao corpo e resolveu ir a pé para casa, tudo o que queria era dormir e fazer desaparecer o aperto da barriga, que insistia em não desaparecer.
Já se via nas ruas lisboetas os primeiros efeitos de Natal. Alice sentiu saudades de casa, do cheiro a canela dos abraços da mãe e das discussões com a irmã. Apesar da diferença de idades, trocavam confidencias e a irmã tinha sempre uma palavra de encorajamento, quando Alice sentia-se triste.
De repente Alice, sentiu alguém a agarra-lhe o braço, assustou-se pensando que seria algum bêbado, virou-se sobressaltada mas viu que era Daniel que estava à sua frente, ofegante, possivelmente por ter vindo a correr atrás dela.
— Eu levo-te a casa, já está tarde.
— Posso ir sozinha, não está assim tão tarde. Volta. Parecias estar-te a divertir...
— Eu levo-te. Achas mesmo que me estava a divertir?
Ela forçou um sorriso tímido e começou a saltar de um pé para o outro.
Daniel agarrou na mão de Alice e começaram a caminhar sobre o céu estrelado e frio de Dezembro, num silêncio confortável. Com todas as perguntas que queriam fazer um ao outro, mas não se atreviam a perguntar.
Daniel pensava sobre os acontecimentos daquela estranha noite. Nos quase beijos e nos tristes olhos cor de avelã, perante o desfecho da noite. Pensava que não era justo ser logo ela, a pessoa que o melhor amigo gostava. Pensava em todas as coisas que queria dizer-lhe, mas não podia, não naquele momento. Era estranho a ligação que sentiu com uma estranha num bar. Como se tivessem destinados a conhecerem-se. Algo que fugia do controlo de Daniel. E ele sempre gostou de controlar as suas emoções. Tinha sido uma das poucas coisas que o pai lhe tinha ensinado. As emoções poderiam ser traiçoeiras.
Decidiu que em primeiro lugar teria que saber que tipo de relacionamento eles tinham. O amigo de infância, não era dado a relacionamentos sérios e sabia que ele já tinha tido um pequeno affair com a Débora. E queria ter a certeza que Alice tinha sentido o mesmo que ele.
Alice também sentia-se perdida e confusa com os sentimentos que ele despertava-lhe.
Daqui a uma semana estaria de férias na sua cidade natal. Esperava conseguir colocar a cabeça no lugar, porque neste momento só pensava em olhos verdes a olharem para ela com luxuria.
E com estes pensamentos caminharam pelas ruas de Lisboa, sem se aperceberem da teia que se tinha começado a formar entre eles.
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