Capítulo 18. Fora de Horas

          Daniel teve de se controlar, enquanto conduzia para longe da discoteca com Alice ao seu lado. Com o subtil odor do seu perfume a flores. Ela não fazia ideia do quão perto do limite o deixara nessa noite. Vê-la a dançar com Carlos, as mão dele sobre ela... Daniel quisera reclamar Alice para si ali mesmo, como qualquer homem das cavernas.

         Ele não a queria partilhar com ninguém. Ele estava a tentar ir com calma, durante a semana, tentou corteja-la, mas neste momento ele não queria ir devagar.

         Ele olhou para ela, tinha a cabeça encostada ao vidro e os olhos fechados.

         — Estás cansada?

        — Um pouco. — Disse olhando para ele.

         — Queres ir comer alguma coisa? Estou com fome.

         Ela riu-se, ele queria ir sempre comer.

         — Pode ser.

         Daniel manteve os olhos fixos nas ruas da cidade.

       Passado alguns minutos, pararam num Drive in. Daniel pediu um hambúrguer e batatas fritas, Alice apenas pediu batatas fritas. Foram comer para o apartamento dela, como estavam mais perto. 

          Eles estavam sentados em cima do tapete da sala, a comer e a ver televisão. Estava a passar a repetição de um jogo sobre futebol americano.

          — Hei! Estás a comer as minhas batatas. — Disse Daniel.

          Alice riu-se.

         — As minhas já acabaram. — Disse enquanto colocava uma batata na boca.

          — Gulosa. O teu apartamento é confortável e cheiroso.

        Alice riu-se, tinha descoberto uma pequena mania por velas aromáticas, desde que esteve internada no Hospital. Talvez para afastar o cheiro a desinfetante que insistia em não abandona-la, mesmo depois de ter regressado a casa. Tinha ficado viciada em cheiros perfumados e colocava várias velas espalhadas pela casa.

          — Gosto realmente de estar aqui, mas vou ter que sair do apartamento na próxima semana.

          — Já tens para onde ir?

          — Possivelmente vou para a casa da Débora, até encontrar outro apartamento. Todos os apartamentos que tenho visto, são muito caros, ou estão muito longe do centro da cidade.

          — Hum... Se calhar posso ter uma solução.

          — A sério! Qual?

          — Amanhã digo-te. É para evitar assustar-te. 

          Alice empurrou-lhe o ombro. 

          — Hã? O que queres dizer.

          — Poderá ser uma surpresa.

         Alice ergueu uma sobrancelha 

         — Não gosto muito de surpresas.

         — Não faças essa cara, porque não vou dizer-te. Terás de esperar por amanhã.

          Alice suspirou, ele era teimoso, não adiantava insistir.

          Ele acabou de comer limpou a boca no guardanapo. Colocou o braço nos ombros de Alice e puxou-a para si. 

          — Cheiras bem. — Disse enquanto mexia no cabelo dela.

          Ela sorriu.

          Alice apontou mentalmente, para comprar mais shampoo frutos do bosque. Era uma edição limitada, que tinha saído, recentemente.

          — Aquilo que falei na discoteca foi a sério.

          Alice sentiu o corpo a ficar tenso. 

         — Repete. — Pediu ela num sussurro.

         — Tenho saudades tuas, quero que fiquemos juntos. 

          Ela mordeu o lábio. 

          — E isso faz de nós o quê? 

         — O que tu quiseres. Podemos ser namorados, amantes. Desde que estejamos juntos.

         O coração de Alice aqueceu.

         Ela olhou para ele. — Acho que não precisamos de rótulos. Mas quero ir com calma. Manter as coisas casuais. Principalmente, no trabalho, não quero que as pessoas, saibam. Afinal és o meu chefe.

         Alice poderia estar com medo de assumir um relacionamento sério. Ainda havia a sombra da doença que pairava sobre ela. Não queria arrastar Daniel, para o caos, que a sua vida podia transformar-se, se a doença voltasse.

         — Compreendo, mas ninguém tem nada haver com a nossa vida pessoal. Sei separar bem as coisas. 

        O polegar dele deslizava pelo rosto dela. Alice desejava beija-lo mais do que desejava qualquer outra coisa há muito tempo. Humedeceu os lábios.

          — És linda. — Sussurrou ele. 

          Ele aproximou-se dela, mas no mesmo instante ouviram o toque estridente da campainha da porta de entrada.

         — Trim Trim Trim.

          Daniel saltou para trás, baixando a mão. Alice franziu o sobrolho. Não fazia ideia, quem poderia estar a bater à sua porta às duas da manhã. 

          — Estás à espera de alguém? — Perguntou ele surpreendido.

          — Não. Bem é melhor ir ver quem é.

          Daniel foi com Alice até à porta de entrada. Alice antes de abrir espreitou pela janelinha da porta.

          — Débora. — Ela abriu a porta e no mesmo instante, Débora jogou-se nos braços de Alice.

          — Venho dormir contigo. Noite de meninas.

          Alice olhou para ela sem jeito, nesse momento ela olhou para Daniel, que estava parado ao lado de Alice.

         — Daniel. Tudo bem? — Disse ela, dando-lhe um abraço. — Espero não estar a interromper nada. Mas hoje quero a minha amiga — disse ela abraçando os ombros de Alice.

          Alice encolheu os ombros e olhou para Daniel, que estava claramente aborrecido, por a noite deles ter terminado, mais cedo do que previa.

         — Interrompeste — disse num tom seco. 

        Débora  fez um ar matreiro e agarrou no braço de Daniel.

        — Não tenhas mau feitio, podemos ficar os três.

        — Eu vou para casa, vou deixar as meninas a conversarem. 

        Débora sorriu triunfante.

        — És um querido. Temos que combinar um jantar.

          Ele assentiu. 

          — Levo-te até à porta. — Disse Alice levando-o até à saída do prédio.

           — Desculpa, não sabia que ela vinha aqui. — Alice saltou de um pé para o outro.

           — Tudo bem. Ela parece ter algo importante para falar contigo. E teremos mais oportunidades — Disse sorrindo.

          — Obrigada. — Ela sorriu docemente.

          — Amanhã venho-te buscar para almoçarmos juntos.

          Ela assentiu com um sorriso nos lábios. 

          Ele deu-lhe um beijo na testa e afastou-se.

          Ela suspirou.

          Alice entrou novamente em casa e bateu a porta atrás de si.

          Débora ergueu os olhos do lugar onde se encontrava no sofá, tinha aberto uma garrafa de vinho branco e estava a servir dois copos. — Quero saber tudo.

          Alice foi para o lado da amiga e afundou-se no sofá.

          — Ele ia beijar-me, mas tu apareceste.

          Ela riu-se.

           — Assim ele fica mais desejoso. 

          — Não tem graça. Afinal o que aconteceu para apareceres a esta hora. E logo no momento do meu beijo. — Disse atirando a almofada do sofá para Débora.

          Débora revirou os olhos dando o copo de vinho a Alice.

          — Será que algum dia vais perdoar-me — disse dando um gole no vinho.

          — Parva. Agora conta-me o que aconteceu.

          — Não minha menina, primeiro tu.

          Alice estremeceu e recostou a cabeça de novo no sofá.

          — Depois do jantar fomos para uma discoteca. Um Colega do trabalho o Carlos é um pouco provocador e chamou-me para dançar. Daniel não gostou muito. Quando estava a sair da casa de banho das senhoras, agarrou-me e disse que queria ficar comigo. — Alice deu um gritinho de satisfação e enterrou a cara na almofada do sofá.

          Débora deu mais um gole no copo de vinho. — Uau! Ele é possessivo. De certeza que é ótimo na cama, mas isso já tu sabes. Oh Meu Deus! Se eu não tivesse vindo, sabe-se lá o que poderiam estar a fazer...

          — Débora. — Repreendeu Alice com olhos brincalhões. — Tenho tantas saudades de estar com ele. Achas que posso estar feliz? Está tudo acontecer tão rápido.

          — Alice, precisas de começar a viver novamente. És uma lutadora um pessoa linda por fora e por dentro, mereces estar feliz, mereces tudo de bom. Acredita em ti.

          — Sim. Viver um dia de cada vez. Mas sabes que ainda corro risco. 

        Débora agarrou a mão de Alice. — Vai ficar tudo bem, o risco é mínimo. E o Daniel é um Deus grego e gosta de ti. — Disse com um sorriso malicioso.

         Ela gemeu e inclinou-se para frente para agarrar na garrafa de vinho e encher os copos. — E apareces hoje aqui, porquê?

         — Hum... meninas antes de rapazes.

         — Sim, meninas primeiro. — Disse Alice fazendo um brinde com Débora.

         Débora suspirou e fechou os olhos cansada.

         — Acho que gosto do Roberto. Temos saído algumas vezes, tem sido divertido. Estávamos na casa dele, a ver um filme e ele beijou-me.

         — Pelo menos alguém deu um beijo. Hum... E o que aconteceu depois?

          — Inventei uma desculpa e sai da casa dele a correr.

         — Débora, porquê foges do amor. Se estás a gostar dele é um sentimento bonito. Aproveita.

         — Por vezes somos muito parecidas, não achas?

          Alice assentiu e abraçou a amiga. Débora era uma mulher confiante e destemida. Mas quando começava a gostar de algum homem, terminava tudo antes mesmo de começar algo. Alice desconfiava, que poderia estar relacionado com David, ou com alguém do seu passado, mas não se atrevia a tocar no assunto. 



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