Capítulo 14. Débora
Três anos atrás
Débora tinha vestido um vestido verde escuro, que assentava-lhe as curvas perfeitas do seu corpo, contrastando com o cabelo ruivo, perfeitamente liso. Percorria o corredor do Hospital Champalimaud, com os seus sapatos loubooutin, onde ouvia-se o clic, clic, clic, no chão impecavelmente limpo com desinfetante.
Ela dirigia-se para área hospitalar, pertencente à oncologia. À sua passagem, sentia todos os olhares postos nela, até que avistou num olhar familiar sobre ela.
Na sala de espera da oncologia estava Alice, movida pela curiosidade foi cumprimenta-la.
— Alice, que bom ver-te. Ainda não te tinha visto este semestre.
— Débora quem é que diz "Que bom ver-te", num Hospital, ainda por cima no sitio onde estamos. — Disse Alice secamente.
Alice tinha os olhos vermelhos, como quem tinha estado a chorar durante horas, Débora percebeu e sentou-se na cadeira ao seu lado.
— Pormenores querida. Estás sozinha?
— Não. Estou com a minha mãe que está a falar com o médico e a minha irmã que foi à cafetaria. E tu o que fazes aqui?
— Venho buscar a minha mãe, que está na sala dos tratamentos de quimioterapia.
— Ah... Não sabia. E como ela está? — Disse em voz baixa, clareando a voz.
— A minha mãe é uma lutadora. Descobrimos que tinha cancro da mama e desde então tem lutado contra a doença. Faz três meses.
— Lamento. — Disse olhando para o chão de mosaicos brancos e azuis.
— Não precisamos de lamentos, mas sim de força. Tenho confiança e fé que a minha mãe vai ultrapassar este obstáculo.
Alice assentiu com a cabeça. As lagrimas caiam-lhe pela cara.
Débora colocou a mão em cima das mãos de Alice, que estavam a tremer.
— Tens algum familiar, na oncologia?
— Não...Hum... Sou eu... — Gaguejou Alice, tentando pensar no que dizer.
Ela sentiu o puxão antes de Débora se mexer e momentos depois estavam nos braços uma da outra numa trapalhada de lágrimas.
— Alice, olha para mim. — Ela levantou o queixo da amiga e olhou-a nos olhos. — Vai ficar tudo bem. Vou ser sincera, não vai ser fácil. Vai haver dias que vais chorar e perguntar-te o porquê disto te acontecer, logo a ti que sempre fazias tudo correto. Mas a doença não escolhe pessoas, nem a altura para aparecer. Simplesmente acontece. Mas sabes o que podes fazer, aceitar que isto te aconteceu, não interessa o porquê e ter pensamentos positivos. Acredita no tratamento e na tua capacidade de cura.
— Obrigada. Ainda à três semanas atrás não tinha nada e hoje tenho uma doença que pode... — Respondeu Alice, limpando as lágrimas dos olhos com a mão.
— Shhh... — Disse Débora colocando a mão sobre a mão de Alice. — Vou dar-te o meu número, assim vamos falando. Todos os teus amigos vão apoiar-te. Quando voltares para a Universidade nós...
— PARA! Não vou voltar, pelo menos este ano. — Alice preparou-se para levantar-se da cadeira, mas foi parada por Débora.
— Espera! Desculpa não vou insistir mais. Contas-te ao David ou à Rita?
— Não. — Respondeu em tom seco.
Débora suspirou. — Tudo bem. Leva o teu tempo, mas sabes que podes contar connosco.
Ela deu um sorriso fraco. — Obrigada. — Ela olhou para Débora como se a visse pela primeira vez, e sem se dar conta, contou tudo. Contou sobre Daniel, sobre como descobriu que estava doente, contou como terminou tudo sem grandes explicações, e no fim sentiu-se mais aliviada. Débora apenas assentia com a cabeça como dando-lhe força para ela continuar a falar.
— O Daniel apareceu na noite da passagem de ano, na casa de David, mas limitou-se apenas a beber, como se estivesse irritado com a vida e antes do relógio bater as doze badaladas foi embora.
Alice sentiu-se culpada. — Ele deve odiar-me.
— Não odeia nada, apenas deve ter o ego ferido. Depois conversam melhor.
— Na verdade neste momento não consigo pensar em nada, parece-me tudo pouco importante...
— Sim tens razão. Concentra-te em ti. Vais ligar-me?
Alice olhou para Débora esboçou um pequeno sorriso. — Vou.
Depois de Alice prometer telefonar para Débora no final do dia, ela foi encontrar-se com a mãe, que estava à sua espera.
— Mamã como estás? — Disse ela, dando-lhe um beijo na testa.
— Um pouco enjoada, mas está tudo bem.
— Adoro-te mamã. Encontrei uma colega do curso, que está também com cancro. Quero ajuda-la. Quando ela contou-me, só conseguia pensar que podia ser eu. Temos a mesma idade.
— Convida-a para jantar em nossa casa. — Disse a mãe com carinho. — Tu tens um espirito forte, de certeza que vais ajuda-la, passando a tua força.
As duas abraçaram-se, Débora desejou transmitir toda a sua força à mãe. A mãe era a sua melhor amiga, o seu suporte, nem conseguia imaginar um mundo sem ela.
Débora não parava de pensar em David, ele não lhe tinha contado que Alice tinha acabado com todas as suas esperanças de virem a ter um relacionamento.
David e Débora continuavam com os flertes subtis, mas de alguma forma ele estava distante. Ela pensava que era por causa de Alice, mas agora sabia que a causa era outra. Algo que ele não lhe estava a dizer e ela iria fazer de tudo para descobrir. Estava a determina a reacender a paixão entre eles e principalmente agora que a história ridícula com Alice tinha terminado.
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