Capítulo 10. Três Anos Depois
— Recebi uma foto de pau. Mas este até não é nada de mais. — Sussurrou Débora, olhando ao redor do pequeno restaurante Italiano, onde almoçava com Alice.
— O Quê?! — Ela olhou incrédula para Débora.
— Sim, aquele cara, com quem sai a semana passada, acabou de enviar-me uma foto do pau dele. - Disse mostrando a imagem a Alice.
Ela pestanejou.
— Mas quem é que manda, esse tipo de mensagem?
Débora dirigiu-lhe um pequeno sorriso.
— Querida nem queiras saber...
— Vais voltar a sair com ele?
— Acho que sim. Eu podia dizer-lhe para levar um amigo. E assim... hum... ias comigo.
— Nem pensar, não quero receber mensagens com paus de ninguém. E além do mais, se ver o cara da foto, só vou imaginar o pau dele.
As duas amigas começaram a gargalhar.
— Como estão a correr as aulas? — Perguntou Débora.
— Está tudo bem. Estou a gostar bastante das aulas de psicologia clínica. A professora Sofia é muito boa.
Débora franziu o sobrolho.
— Mas ela nunca trabalhou no terreno. É apenas uma investigadora.
— Ela faz terapias no Hospital que pertence à Universidade.
Débora suspirou irritada.
A professora Sofia era apenas dois anos mais velha que elas. Quando terminou o curso, foi convidada pela faculdade para dar aulas. Débora sempre achou estranho, terem convidado alguém sem experiência nenhuma.
— Tenho que voltar para a Biblioteca. Ainda faltam-me duas horas para acabar o meu turno — disse Alice olhando para o relógio de pulso e levantando-se na mesa.
— E eu tenho que voltar para o consultório. Queres ir jantar hoje lá em casa. A minha mãe vai fazer lasanha de legumes, a tua preferida.
Alice ficou animada com o convite.
— Claro que vou.
— Falei com minha mãe, talvez consiga-te arranjar-te um trabalho novo. E já sabes em relação à casa, podes ir morar connosco, a minha família adora-te.
Ela sorriu. Abraçou a amiga agradecida.
— Obrigada, a sério. Se não conseguir arranjar outro apartamento em um mês, acho que vou aceitar o convite.
Alice seguiu para a Biblioteca da Universidade, onde fazia um part-time, como rececionista. Ela e Débora costumavam almoçar juntas pelo menos duas vezes por semana. Alice precisava mesmo de um trabalho novo, pelo menos um que pagasse três vezes o seu salário atual.
Os pais tinham hipotecado a casa no Alentejo, para poderem pagar os tratamentos da filha. Desde que voltou a estudar em Lisboa, para completar o curso, acordou com os pais que estudaria à noite para poder trabalhar durante o dia, assim ajudaria nas despesas, afinal Alice tinha mais dois irmãos que também estavam a estudar.
A faculdade era dispendiosa e morar em Lisboa não era propriamente barato. Alice mal conseguia manter-se à tona com o seu modesto salário como rececionista.
O seu senhorio tinha-lhe feito uma renda bastante aceitável no Inverno. Mas durante o Verão queria o apartamento disponível, para poder arrendar pelo triplo do preço que Alice pagava, já que as férias do Verão era a melhor altura. A cidade ficava repleta de estrangeiros. Ela era obrigada a ir procurar outro apartamento para morar, mas era tudo demasiado caro. Raios. Ela iria conseguir, sem ter que pedir ajuda aos pais. Sempre podia ir morar com a Débora, não era o ideal, mas pelo menos não ficava na rua.
***
Quando chegou à casa da mãe da Débora no final da tarde, foi recebida por um abraço bastante caloroso. Abília era como uma segunda mãe para Alice. Tinham-se apoiado uma na outra durante os tratamentos de quimioterapia. Apesar dos tratamento de Abília terem sido prolongados, Alice continuou a acompanhar a amiga aos tratamentos. Depois de ambas terem vencido o cancro, decidiram fazer voluntariado no Hospital, para dar apoio psicológico às crianças que estavam internadas na ala oncológica, o que era bastante gratificante para ambas.
— Que bom ver-te querida. Como estás? - Disse Abília, enquanto pegava nas mãos de Alice, levando-a para a cozinha.
— Estou bem. A Débora contou-lhe, estou novamente à procura de casa, e de um novo trabalho ou mais um part-time, que possa conjugar com o da Biblioteca.
— Bem em relação a casa está resolvido, vens para cá morar, sei que queres a tua independência, mas neste momento temos de ser práticas e sabes que não vou andar atrás de ti. Os meus filhos, têm total liberdade.
Alice sorriu. Abília era uma pessoa bondosa, sempre pronta a ajudar. E dava total liberdade aos filhos. Por vezes Alice perguntava-se a quem Débora tinha puxado aquele feitio irritante. Com Débora não havia meio-termo, ou a amavam ou a odiavam. E ela tinha aprendido a amar a amiga.
— Obrigada - disse dando-lhe um beijo na face.
— Vou abrir uma garrafa de vinho, temos novidades para comemorar.
Alice levantou a sobrancelha.
— E que novidades serão essas?!
— Tens uma entrevista de trabalho agendada para a próxima segunda-feira. — Abília abriu um grande sorriso. — Vou enviar-te um e-mail com todos os pormenores.
Alice saltou da cadeira e abraçou Abília com gratidão. — Obrigada.
— Querida, tudo o que poder fazer para ajudar-te, podes contar comigo. — Ficaram abraçadas durante alguns segundos, era reconfortante para Alice, poder contar verdadeiramente com Débora e a mãe dela. — Agora vamos fazer mais um brinde, porque a nossa festa de beneficência, está lotada. Todas as pessoas influentes que convidei, aceitaram o convite.
Alice ficou realmente feliz, faltava apenas quadro dias para a festa e era importante terem a casa cheia, pois era única maneira que tinham para obterem donativos, para o Hospital. Alice brindou com Abília e sentiu o gosto rico do vinho, na sua garganta.
— Esta noite também vai ser muito animada. A Débora vai trazer um amigo para jantar. Um estagiário que também está no mesmo consultório que ela.
— Oh Meu Deus! Ele nem sabe onde se vai meter — disse Alice sorridente.
As duas riram-se, ia ser bastante interessante.
Débora não tinha filtro, quando levava companhia para jantar, eles acabavam sempre o jantar envergonhados, porque ela contava sempre de mais. Débora estava a estagiar num consultório privado de aconselhamento familiar. E tinha o péssimo hábito de comentar com a família as consultas que assistia, principalmente quando o assunto era terapia sexual. As histórias eram sempre hilariantes. Claro que ela nunca revelava os dados pessoais dos pacientes. Débora pretendia seguir a área da terapia sexual e Alice tinha a certeza que ela seria bem sucedida nessa área, pois não havia pessoa mais entendida no assunto.
As duas continuam a bebericar o vinho e a conversar sobre o dia-a-dia. Alice sentia-se em casa.
Débora chegou pouco depois a casa com o seu convidado.
— Olá meninas. — Disse dando um beijo na mãe. — Este é o Roberto, o meu colega de estágio.
— Roberto esta é a minha melhor amiga Alice e esta é a melhor mãe do mundo, Abília.
Roberto acenou timidamente. Era um rapaz alto com cabelo encaracolado, tinha um rosto fino, mas bonito.
Eles sentaram-se no balcão da cozinha, junto a Alice a beber um copo de vinho, enquanto a mãe terminava de preparar o jantar.
— Nem sabem, quem voltou hoje ao consultório. — Débora riu-se. — Aquele casal que já vos tinha falado, em que a mulher quer experimentar troca de casais, mas ele não aceita. A secção de hoje foi...
— Débora, não podes comentar... — Repreendeu Roberto, dando um encontrão ao de leve no ombro de Débora.
— Não faz mal Roberto, temos todas um acordo de confiabilidade, não é meninas? — Disse Débora piscando o olho a Alice.
Alice e Abília, beberam um gole de vinho reprimindo o riso que se queria soltar e assentiram. A noite prometia ser bastante interessante. Com Débora nunca sabia-se como noite poderia terminar.
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