SEMENTES DE MARGARIDAS

Amélia olhava para Romeu indo até a lanchonete do mercado fazer os pedidos do que comeriam naquela espécie de encontro romântico de dois jovens desengonçados naquele tipo de sentimento, entender todo o cladograma das fanerógamas poderia ser bem mais confortável. Ele havia lhe presenteado com um bullet journal e um belo cacto com uma flor bela branca toda escancarada, ela tinha lhe dado um livro autoral, mas ainda estava confusa com aquilo, até fez uma dedicatória por escrito além do autógrafo bem na entrada ao rapaz que há alguns dias era apenas um colega distante, também era a primeira vez que deixava uma coisa estranhas daquelas acontecer.

De fato a ideia inicial era conversarem sobre a possibilidade de escreverem um livro educativo para crianças sobre biodiversidade, porém sabe-se lá como, mas aquela relação vinha tomando outros rumos, para ambos, expressar aqueles sentimentos que soavam perigosos a dois graduandos que apenas queriam contribuir para e com as Ciências Biológicas e da Saúde era complicado demais.

-Bom! Ah! Você gosta bastante de botânica e de cultivar a jardinagem, é bobo, mas achei que pudesse gostar. -Disse ela toda sem jeito, criando coragem para entregar o pacotinho de sementes de Margaridas ao Romeu.

-Quanta bondade de sua parte! Se for preciso hei de cultivá-las na estufa lá de casa, se pegar lhe dou mudinhas!-falou Romeu com um discreto sorriso à Amélia.

-Oh! Não precisa se preocupar, é realmente simples, mas de coração!-disse ela agora toda corada percebendo as bobagens que acabara de dizer ao Romeu.

-Ah! Imagine, não é todos os dias que se consegue encontrar belas Margaridas em um coração. -correspondeu ele olhando para as esfirras e as xícaras de Capuccino com creme que o garçom dispunha na mesa.

Amélia não sabia o que fazer com aquela situação, não tinha mais tempo a perder, retirou o tablet e um caderno de bloco de notas da mochila e poucas canetas para dividirem espaço com os pratos, Romeu repetiu o gesto retirando seus materiais da mochila também, no entanto acabou por derrubar sua xícara de Capuccino que estilhaçou-se ao chão.

-Está tudo bem, não precisa se sentir culpado, acontece com todo mundo. -disse Amélia colocando a mão no ombro de Romeu, e já levantou-se indo em direção ao balcão pedir por outro Capuccino para Romeu, aproveitando já foi logo pagando a conta, seria bem menos desconfortável a ele em seus ideais.

Sorrindo ela sentou-se novamente em sua em sua cadeira e iniciaram a conversa breve sobre o futuro livro, e ali foram surgindo divertidas coleções de contos educativos sobre biodiversidade, saúde, botânica, zoologia, neurociência, e tantos outros assuntos divertidos.

A conversa estava tão mais saborosa do que a comida, muitas ideias ali afloraram, mas a dona da lanchonete do mercado já os olhava com reprovação, e quando preparavam para despedirem-se um senhor já com os cabelos brancos vinha recolhendo restos de comida pelas mesas.

-Desculpem-me jovem casal, mas seria de muito incômodo pegar esses pedaços para matar a fome?-indagou o homem de forma polida apontando para os pratos.

-Espere um momento aqui, se não for muito incômodo irei ali lhe comprar algo para comer. -disse Romeu desconcertado já deixando o homem em companhia de Amélia.

-Oh! Belo casal de escritores. Conheci minha bela e já falecida esposa quando cursava licenciatura em Letras, e adorava fazer-lhe poesias e desenhos, no entanto nunca tivemos essa brilhante ideia de escrevermos juntinhos. -falou o bom que era ou foi professor.

-Quanto talento, o senhor até desenha, ela deveria sentir-se uma princesa.- disse sorrindo observando Romeu, um jovem bastante altruísta, realmente lhe parecia uma bela companhia para trilhar a jornada da vida.

Sem dar-se conta Romeu voltou com uma sacola com bastante comida para o homem que depositou dois belos desenhos retratando Romeu e Amélia como se já os observasse por algum tempo, encantada Amélia deu ao professor um bloco de notas acompanhado de um lápis grafite em forma de agradecimento.

Com breves lágrimas nos olhos o idoso agradeceu aos dois jovens que nem mesmo sabia o nome, já tinha educado muitos dos quais já estariam naquela faixa etária, embora sua vida estivesse complicada era gratificante lembrar que um dia tentou contribuir para com a educação ou jovens e crianças por meio das letras.

-Não tem nada com que agradecer, nós é quem agradecemos por sua contribuição para com a educação do país. -disse Romeu tentando deixar o ambiente confortável.

-Oh! Como se chama, meu querido rapaz?-perguntou o velhinho.

-Romeu. -respondeu ele sem entusiasmo com o nome que era fruto de livros literários dos quais a mãe amava, ela havia partido durante a pandemia, e toda vez que ouvia seu nome ou o dizia lembrava-se dela.

-Minha nossa Senhora! O nome da protagonista do romance favorito de minha já falecida e eterna namorada. Sendo assim, a encantadora companhia só pode ser Julieta?!-disse o idoso entusiasmado ao lembrar-se de sua esposa que recentemente partiu.

-Oh! Não, meu nome é Amélia. -respondeu a moça gentilmente.

O homem não demorou-se em despedir-se, e juntos Amélia e Romeu seguiram para o estacionamento, sem saber muito bem com despedir-se Amélia combinou de ver Romeu na faculdade no outro dia, o que era óbvio demais, rindo Romeu deu-lhe um rápido abraço, e cada qual seguiu por destinos diferentes pensando na companhia um do outro.

ARGUILERA,C

14/03/2024

860 palavras. 

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