33. Um Duro Coração!

Oii leitores, sejam bem-vindos a mais um capítulo. Espero que gostem! 😉
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ANTES

•°• Rubén •°•

Abro a porta do closet e Celine me encara surpresa. Ela se sacode na cadeira e eu me agacho de frente para ela.

-- Calminha, o Gabriel já foi pego e logo o pessoal vai querer vir atrás de você também, mas eu vou trair os meus amigos e te dar a chance de fugir, mas tem uma condição. -- ela murmurar algo, mas não consigo entender por conta da fita em sua boca -- Eu vou te soltar, mas antes você tem que me explicar uma coisa, ok?

Celine balança a cabeça e puxo a fita.

-- Ah, como é bom conseguir falar de novo! -- ela balbucia -- O que você quer?

-- Algo simples, quero saber... Como você soube que o Gabriel e a Daphne eram aliados? Porque eu nunca desconfiei, já que eles mal falavam.

Ela fecha os olhos por alguns segundos como se estivesse tentando lembrar de algo, e depois os abre.

-- Você sabe aquele cofre que a sua irmã esconde atrás do espelho da penteadeira?

-- Sim, o que tem ele?

-- Bom, uma vez eu a vi colocar a senha e decorei por conta da música que surgia quando ela tocava nas teclas. Então eu achei que lá tinha dinheiro, o que seria muito bom para que eu saísse daquela situação deplorável de servir de capanga, só que quando eu abri não havia nada além de fotos, algumas cartas, sei lá esse tipo de baboseira. -- ela umedece os lábios -- E entre essas fotos antigas, eu vi uma dela com um garoto que no início pensei ser você, mas depois encontrei outras com um garoto diferente e descobri que as outras fotos eram com o Gabriel. Eu acabei sabendo que a mãe dele foi amiga da mãe dela, então foi fácil matar os dois coelhos apenas com uma cajadada. O Gabriel teve problemas onde morava com a mãe por ter quase assassinado um colega de classe, pelo que entendi ele empurrou o menino escada abaixo. Bem sinistro.

-- Caralho, põe sinistro nisso.

-- Pois é, então quando ele retornou se aproximou da Daphne novamente e quando descobriu sobre a sociedade dos pais de vocês na empresa, começou aquele papo de ser espião e os dois fingiram esse tempo todo que não tinha nenhum relacionamento.
Pode me soltar agora? -- pego a chave em cima da penteadeira e abro as algemas -- Mas sabe o que eu não entendo, como você não sabia que eles eram amigos? Vocês é irmão dela.

-- A Daphne e eu só crescemos na mesma casa quando eu tinha sete e ela oito anos. Nós não tínhamos a mesma mãe. -- digo para tentar evitar dizer a mentira que sempre nos fizeram contar sobre sermos meio-irmãos, sendo que nem isso nos somos. -- E eu também nunca prestei tanta atenção na minha irmã.

-- Ah, tá. Agora eu posso ir embora? -- ela se levanta.

-- Só mais uma coisa e eu te libero. Qual é a senha do tal cofre?

-- Hum, eu não me lembro direito, mas acho se eu me engano era uma data. 05... 11... 20...12. É, 05112012. Essa é a senha.

Arregalei meus olhos e minha boca se entreabriu ao escutar aqueles números.

-- V-Você tem certeza... de que esses eram os números?

-- Claro, se quiser eu repito. 05112012. Quando se digita toca uma musiquinha viciante. Você sabe o porque dessa data?

Permaneço calado, em choque e com um milhão de pensamentos.

-- Rubén? Eu tô falando com você! -- Celine estala os dedos.

-- É por conta de um motivo pessoal. -- minto para que ela me deixe em paz -- Pode ir embora agora.

Celine assente e sai do quarto.

Me sento na cadeira que ela estava tentando raciocinar aquela nova informação, mas na medida que os minutos vão passando percebo a besteira que acabei de fazer, e aproveitando que ninguém chegou ainda, vou embora.

Vou para o lugar onde algum dia já chamei de lar, então vejo pela parede de vidro próxima a escada uma das empregadas regando as poucas flores que tinham no jardim, enquanto eu sentia a melancolia que aquele lugar trazia.

A porta é batida com força acompanhando o som de um grito raivoso. É ela. Minha querida irmã que dizia palavras ofensivas para aqueles que são meus amigos, e logo em seguida arremessando seu celular contra a parede.

-- Pelo visto você já ficou sabendo da novidade, maninha? -- debocho.

Daphne percebe minha presença e me encara com aqueles olhos azuis que lançam as chamas da sua fúria.

-- O que você está fazendo aqui?! -- ela grita.

-- Vim rir da sua desgraça. -- digo me sentando no sofá e pondo meus pés na mesinha de centro -- É maninha, você perdeu. Acabou.

Daphne jogou seu cabelo para trás e cruzou os braços ao caminha lentamente até mim.

-- Acabou? Não. Nada terminou, Rubén. Você acha mesmo que eu vou deixar tudo isso assim? Você e seus amiguinhos não perdem por esperar.

-- Sabe Daphne, eu me pergunto quando você vai enfim tomar juízo.

-- Juízo eu tenho de sobra, agora você não tem um pingo de decência. Por acaso resolveu voltar para casa, bastardinho?

-- Não. -- me levanto -- Eu nunca nem ao menos cogitei isso.

-- Então, o que você está esperando para ir embora?

-- Uma única coisa. A Celine, sua espiã acabou falando demais a respeito de um certo cofre. -- me aproximei e o olhar de Daphne permaneceu inquieto ao me encarar -- Porque a senha do cofre é exatamente a data de quando eu fui adotado?

Com o seu jeito frio de lidar com tudo que acontecia, minha irmã apenas soltou uma risada debochada ao me olhar com desprezo.

-- Ai Rubén, você deveria se tornar comediante. -- ela põe as mãos na cintura -- Bem, nessa data eu percebi que poderia ser quem eu quisesse. Eu poderia escolher entre estar mandando nos outros ou ser uma rata igual a você. -- ela me dá as costas -- Já lhe dei a sua resposta, agora vá embora da minha casa.

Agarro seu braço a fazendo voltar a olhar para mim.

-- Eu quero a verdade, Daphne. Você me deve isso! -- ela puxa o braço.

-- Eu não devo nada a você!

-- Tem certeza, Daphne?! -- olho profundamente nos seus -- Ou você esqueceu do que eu fiz pra livrar a sua pele?

Ela põe a mão sobre a minha boca e olha em volta para ter a certeza de que estamos sozinhos.

-- Shiii, quantas vezes eu já falei que esse assunto morreu, Daniel?!

Afasto sua mão.

-- Não, ele não morreu e se você não quer que eu abra a minha boca, então é melhor me falar a verdade.

A expressão dela mudou rapidamente, seus olhos sempre tão carregados de fúria e ambição agora se encontravam amedrontados, me fazendo lembrar daquela vez... a única vez que a vi assustada de verdade.

-- Você me prometeu, Daniel. Você prometeu que nunca falaria nada. -- ela sussurra.

Ela diz meu nome na vaga tentativa de me comover.

-- É, mas promessas podem ser quebradas.

-- Você nunca quebra uma promessa!

-- E você nunca fala a verdade! -- rebati -- Estamos quites, Daphne. Você tem noção do que eu fiz? Tem noção de que eu menti pra polícia, pro nosso pai e para o meu melhor amigo? Eu escondi de todos esse tempo todo que você estava naquele carro. Que você foi a culpada pelo acidente, e que se não fosse por mim, se eu não tivesse ido até lá e ligado para uma ambulância, o Fábio teria morrido naquela rua e não anos depois no hospital. E ele nem ao menos recebeu uma única visita da pessoa que quase tirou sua vida.

-- Cala a boca! -- ela grita -- Eu não tive culpa!

-- Claro que teve, e é por isso que está sozinha!

-- Cala a boca, Rubén! -- ela grita mais uma vez.

-- É por isso que todos se afastam. Até os seu espiões se entregaram na primeira vez que foram intimidados, porque nem eles quiseram te acobertar!

-- CALA A BOCA! -- ela grita mais alto ao dar um tapa na minha cara.

Por um momento tudo fica em silêncio. Eu tento raciocinar o que está acontecendo, mas um murmúrio me fazem voltar para a realidade. Daphne desaba no chão, abraçando os joelhos ao tentar evitar que suas... lágrimas? Ela está chorando?

Me ajoelho ao seu lado e ela evita olhar para mim.

-- O que tanto você me esconde, hein? -- pergunto com compaixão, ainda tocando na minha bochecha -- Sabia que se você não fosse tão cruel, talvez a nossa vida teria sido bem mais feliz?

Ela funga um pouco e passa as costas das mãos nas bochechas.

-- Não tem como ser feliz. Não existe felicidade... Essa é só uma palavra idiota que as pessoas inventaram para fingirem que está tudo bem, mas não existe felicidade, pelo menos não para mim. É como maldição sem fim.

-- Então tenha coragem de me dizer o que tanto quero saber. -- me sento e me encosto na parede -- Eu vou te perguntar mais uma vez. Por que a senha é...

-- Porque fui eu quem te escolheu! -- ela fixou os olhos nos meus -- Eu quis você!

-- O-O quê?

-- Quando eu tinha 8 anos, a minha mãe e o meu irmãozinho morreram no parto e na mesma época o meu único amigo se mudou. Eu passava a maior parte do meu tempo sozinha e triste, não demorou muito até que me diagnosticaram com depressão. -- ela passa as mãos mais uma vez nós olhos -- Você sabe, o que é uma criança de oito anos ser diagnosticada com depressão, Rubén?

Balanço minha cabeça em negação. Eu nunca soube de fato o porque uma família tão rica iria me querer, um pobre órfão maltrapilho e sozinho.

-- Então, a idiota da psicóloga que o meu pai pagava por não ter um pingo de paciência para conversar comigo e me dá atenção, cismou que se tivesse uma outra criança para me fazer companhia, o bebê talvez como era o que eu teria, poderia me fazer bem e por algum motivo também idiota eu concordei com essa ideia. -- ela suspira -- Eu fui com o Tyler naquele orfanato e enquanto ele conversava com a diretora, eu perambulei pelos corredores para matar uma curiosidade que havia surgido, foi então que eu... Vi você. -- ela olha para o chão -- Você estava sentado sozinho em uma mesa de concreto, usando um walkman enquanto todas as outras crianças brincavam. De início eu nos achei parecidos, embora não fossemos nem um pouco. Os seus cabelos eram pretos e os meus ruivos, os nossos olhos eram azuis, mas os seus eram mais escuros, o meu rosto era repleto de sardas enquanto o seu era completamente liso. As minhas roupas eram novas e as suas pareciam de segunda mão. Mas, o fato de você estar solitário me consolou. -- ela engoliu em seco -- Não demorou muito até que um assistente social me encontrasse e eu perguntasse para ela sobre você. A mulher me contou a sua história. E apesar de tudo percebi que nós éramos mais parecidos do que eu imaginava. Você não tinha mãe nem eu, você não conhecia o seu pai e eu mal via o meu, você era solitário e eu mais ainda, o seu nome começava com a letra D e o meu também. Nós éramos como dois pedaços quebrados que de alguma maneira se encaixavam, como peças de um quebra-cabeça.

-- E o que mais?

-- Eu fui atrás do meu pai e disse que queria você, te apontei como se você fosse uma peça de roupa em uma loja. Depois voltei com o motorista para casa enquanto ele ficou lá resolvendo toda papelada para que te trouxesse naquele dia. -- ela sorri levemente -- Eu lembro no resto da tarde passei importunando os empregados para que a casa estivessem perfeita, que eu perguntei diversas vezes para minha babá se eu aparentava ser uma garota simpática. Eu treinei durante horas de frente para o espelho sorrisos e maneiras de te dizer "Oi", para que você me achasse legal, que gostasse de mim o bastante para não querer ir embora e me deixar sozinha de novo. -- ela se levantou, mas dessa vez seu rosto ficou sério como já estava acostumado a ver -- Mas não adiantou muito. Você foi embora de qualquer forma! -- ela me deu as costas.

Solto uma risada debochada que sei que a irritava e também me levanto.

-- Essa é a sua versão dos fatos, mas sabe o que eu me lembro? De encontrar um homem que eu nunca tinha visto na vida dizendo que me levaria com ele, que eu conheceria a sua filha que seria minha irmã e de me convencer a me chamar como seu avô, outro homem que eu também nunca conheci. E quando eu pisei aqui pela primeira vez e te vi no topo dessa escada, me olhando dos pés à cabeça com tamanho desprezo que eu torcia para que de alguma maneira vocês gostassem de mim o bastante para não me devolverem para aquele lugar. Porque apesar de tudo, eu tinha uma família.

-- Talvez eu não tenha conseguido transparecer o que queria. -- ela balbucia me encarando pelo espelho.

-- Não Daphne, você transpareceu realmente o que queria. Porque é da sua natureza ser assim. A sua dor não te transformou na vilã que você é. Você é má e a palavra escrúpulos não existem no seu vocabulário. -- caminhei até ela -- Você nunca vai mudar e não adianta nem ao menos tentar me comover com essa sua história triste, até porque eu te conheço bem demais para saber que você não é assim e isso não é culpa da criança solitária que você foi.

Ela não se move e continua a me olhar pelo espelho.

-- Pense o que quiser, Rubén, mas saiba que eu não menti. Agora que você já sabe o que queria saber, saía da minha casa!

Ergo minhas mãos.

-- Com todo prazer.

Passo por ela rapidamente, mas não olho para trás e vou embora.

Pessoas más são difíceis de serem mudadas, principalmente aquelas com almas feridas.

(2.342 palavras)
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Qualquer comentário é válido pessoal, seja ele bom ou não! 😉

Tchau e até o próximo capítulo! 👋🏻💕

Ass: May ✨ 🌸

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